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Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

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Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

CARTA DO EDITOR

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s notícias mais recentes sobre o fracassado golpe de Estado contra o governo do Presidente democraticamente eleito Lula da Silva revelam mais um facto vergonhoso e comprometedor. É que, foi descoberta em casa de Anderson Torres, (um dos principais colaboradores do ex-Presidente Jair Bolsonaro), uma minuta, em que supostamente se viabilizava a organização de um movimento popular tendente a impedir a tomada de posse e, por fim, o assalto aos três poderes instalados em Brasília, no passado dia 8 de Janeiro.

O Tribunal Supremo Federal tem poucas dúvidas sobre o envolvimento directo ou indirecto do ex-Presidente. Vai daí, decorre um inquérito apertado contra si, tendo-se movido um processo-crime ao ex-Chefe da Segurança Federal, entretanto já entre as grades, a par de mais de 130 pessoas envolvidas nos actos de invasão e depredação do património dos edifícios mais representativos do poder legislativo, judicial e executivo. Enquanto se engorda o pacote de suspeições, Jair Bolsonaro encontra-se nos Estados Unidos, em férias prolongadíssimas, aguardando ao mesmo tempo um pedido de novo visto de permanência. Veja maior desenvolvi-

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mento deste processo em "Dossiê". Alguns dos factos mais marcantes da despedida de Pelé, o futebolista aclamado por unanimidade como Rei em todo o mundo, preenchem as páginas de "Destaque" desta edição da nossa/vossa revista, onde poderá acompanhar outras realidades sócio-económicas, políticas e tecnológicas do país e do mundo. ...Damos nota com enorme tristeza a morte do decano do jornalismo angolano, colega, conselheiro, amigo e nosso colaborador, Siona Casimiro. À familia enlutada, os nossos mais profundos sentimentos de pesar. PAZ À SUA ALMA!

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10 PÁGINA ABERTA PAULA CRISTINA ROQUE "É UNICAMENTE A PRESIDÊNCIA QUE DETÉM O PODER REAL EM ANGOLA" 3. CARTA DO EDITOR 7. PONTO DE ORDEM ÁFRICA O NOSSO BERÇO 16. NOTAS DE IMPRENSA 24. FIGURA DO MÊS CAROLINA CERQUEIRA: MENTORA DA RECONCILIAÇÃO NO PARLAMENTO

64. POLÍTICA 66. CULTURA 70. DESPORTO 80. FIGURAS DE LÁ 86. MUNDO 92. SAÚDE & BEM-ESTAR

27. NA ESPUMA DOS DIAS 28. SOCIEDADE 34. FIGURAS DE CÁ 38. ECONOMIA & NEGÓCIOS 42. CIÊNCIA & TECNOLOGIA 46. DOSSIÊ 58. CONJUNTURA

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18 PAÍS COM 117 VOTOS A FAVOR, 80 CONTRA (DA UNITA) E QUATRO ABSTENÇÕES OGE PARA 2023 FOI APROVADO NA GENERALIDADE

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72 DESTAQUE FILHA DE PELÉ FAZ HOMENAGEM AO PAI "UM MÊS DE MUITOS ABRAÇOS APERTADOS E MUITO CHORO"

84.

ÁFRICA

96. MODA & BELEZA 100. LIFE STYLE 104. RECADO SOCIAL Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

Figuras&Negócios Revista de Economia, Negócios & Sociedade. Ano 22.nº 217, Janeiro - 2023; Número de Registo:13/B/97 Propriedade: Etnia-Comunicação Lda. Administrador: Victor Aleixo Conselho de Redacção: Victor Aleixo, Carlos Miranda, Juliana Evangelista, Armindo Dallas e Sebastião Miguel Assessoria: Bruno Senna e Luís Cerqueira. Redacção: Victor Aleixo - Editor Carlos Miranda - Chefe de Redacção Juliana Evangelista - Editora de Economia Suzana Mendes, Venceslau Mateus, Sebastião Mateus, João Marcos e Manuel Muanza. Colunistas, Édio Martins e Sousa Jamba. Fotografia: George Nsimba e Adão Tenda Colaboradores: Ana Kavungo, D.Dondo, David Viegas, Conceição Cachimbombo,Crisa Santos e Ramiro Aleixo Correspondentes: Refinaldo Chilengue (Moçambique) Alirio Pina (Cabo Verde) João Barbosa (Portugal) Leonel Mendes (S.Tomé e Príncipe) Fernando Jorge (Guiné Bissau) Wallace Nunes (Brasil) Publicidade: Klaus Carvalho. Design & Paginação: Armindo Dallas e Sebastião Miguel. Revisão: Baptista Neto Secretariado e Assinaturas: Yola Haitaleseni e Katila Garcia Tiragem: 10.000 exemplares Produção Gráfica: Imprimarte Estrada de Catete, Km 36, Viana, Luanda - Angola Direcção e Redacção: Condomínio Dolce Vita Edificio 1E, 2º Andar-A Tel: 222 397 185 / 222 335866 Fax: 222393020 Caixa Postal 6375 E.mail: [email protected] Site: www.figurasenegocios.co.ao FaceBook: Revista Figuras&Negócios Angola

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ÁFRICA, O NOSSO BERÇO

Á

PONTO DE ORDEM

Victor Aleixo [email protected]

frica, sem dúvidas, é o berço da humanidade; menos dúvidas ainda se tem, quando se constata que são os africanos os que mais sofrem dentro do seu próprio berço. Existe em cada um de nós este sentimento, apesar de se conhecerem os enormes recursos que a natureza divina foi capaz de proporcionar ao continente. Há já a certeza que é por isso mesmo que a África continua na agenda dos países mais industrializados do mundo, com vista a depredação concertada das suas riquezas. Séculos após séculos, a sangria continua, a "compra" dos cérebros mais brilhantes do continente se intensifica e hoje cada vez mais descarada, mais organizada, de forma mais institucionalizada pelos estados desenvolvidos. Para piorar a situação de África, surgiram ao longo da sua história - mesmo depois de a maior parte dos seus estados terem conquistado as respectivas independências - os herdeiros do império colonial, uns instalados dentro do continente, outros fora. Os que convivem com esta realidade vergonhosa; os que servem os antigos "donos", têm as suas fortunas depositadas na Europa e nas Américas ou no Médio Oriente. São fortunas que poderiam tirar da miséria centenas de milhões de seres humanos, grande parte dos quais forçada a emigrar em busca de uma vida mais decente. Os dirigentes dos países que integram esta África sofrida deviam aproveitar a oportunidade para, em fóruns próprios como a Assembleia Geral da ONU ou em sede da União Africana e tantas outras, repudiar, a uma só voz, as acções estrategicamente bem organizadas nas antigas sedes dos antigos impérios coloniais, que visam travar o desenvolvimento do chamado "berço da humanidade". Não é ficção nenhuma, mas, sim, o desejo de muitos desta geração de jovens africanos que, com os olhos mais abertos, mais conhecedores da verdadeira história civilizacional de África; mais globalizados e intelectualmente mais bem preparados, pretendem abrir uma nova etapa de luta pela reconquista dos valores mais nobres dos povos africanos, visando sempre e sempre a sua prosperidade, a bem da própria humanidade. Os dirigentes políticos devem ser firmes e escorreitos com aqueles que pretendem dividir para melhor reinar no continente. E o pior dos males é a corrupção e o nepotismo que grassa na maior parte dos nossos estados. Em alguns estados, parece que as coisas vão mudando neste aspecto e o caso mais evidente é o do Presidente João Lourenço que apostou forte no combate a este mal terrível para o desenvolvimento económico-social de Angola, preocupando-se ao mesmo tempo com a instabilidade político-militar instalada em várias regiões do continente.. "Infelizmente, o egoísmo e o desrespeito das normas do direito internacional e particularmente a ingerência nos assuntos internos de outros Estados por países mais fortes são factores que geram instabilidade, tensão e conflitos armados com consequências políticas e sociais graves, pondo em risco a segurança internacional", afirmou o Chefe de Estado, quando se comemorava 40 anos de independência do seu país. Importa relembrar aqui neste apontamento um extracto do discurso proferido por Barack Obama, quando esteve na sede da União Africana, em 2015: " Quando vim para a África subsariana como Presidente, disse que a África não precisa de homens fortes, precisa de instituições fortes. E uma dessas instituições é a União Africana. Aqui, vocês podem estar juntos, com um compromisso comum, em prol da dignidade humana e o desenvolvimento. Aqui, as 54 nações africanas devem prosseguir uma visão comum de uma "África integrada, próspera e pacífica". Sim, no nosso "berço" devemos estar mais unidos!

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NACIONAL

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Paula Cristina Roque

"É UNICAMENTE A PRESIDÊNCIA QUE DETÉM O PODER REAL EM ANGOLA!" 12

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Paula Cristina Roque, académica, trabalha há muitos anos em Angola, e tem como amor muito especial o país, onde agora é directora da organização não-governamental "Chang", que apoia vários projectos no sul de Angola, a fim de combater a fome e, ao mesmo tempo, desenvolver trabalhos sociais com as mais diversas comunidades locais em vários países africanos. Figuras & Negócios esteve em conversa com esta antropóloga que fez o mestrado em direitos humanos em Inglaterra e aqui também doutorou-se no departamento de desenvolvimento internacional. Com Paula Roque, tratamos de abordar de tudo um pouco, com especial destaque sobre assuntos relacionados com a realidade política actual, especialmente em relação ao período pós-eleitoral e suas consequências, numa entrevista muito intensa em que a nossa interlocutora, por um lado, defendeu a Unita e a sua liderança, disparando "forte feio" contra a governação do MPLA, por outro.

foi quando a UNITA foi expulsa do Huambo. F&N - Mas no seu histórico, consta que para além de ter feito o doutoramento em ciências políticas, vem da antropologia. A que se deve esta migração?



Foi muito bem vindo este combate à corrupção que João Lourenço instou. Mas o problema, é que foi um combate muito direccionado, muito personalizado, para apagar a influência política do seu predecessor e ele conseguiu afunilar todo o poder.



F

iguras & Negócios (F&N) - O nome de Paula Roque remete-nos o nome de Fátima Roque. Sabe-se que tem uma tese que estuda sobre a UNITA... A sua ligação à UNITA, parte exactamente por ser filha de Fátima Roque ou a busca investigativa encaminhou-a até aí? Paula Cristina Roque (P.C.R.): Eu acho que é a ligação a Angola, à UNITA. E vem devido à minha mãe e o percurso dela dentro da UNITA. A minha mãe, desde muito cedo, ensinou-me a ter um afecto muito especial pela justiça social e por um povo que ainda não chegou à sua liberdade e prosperidade; uma nação que está por se criar. E, sem dúvidas, o que sou hoje devo muito à minha mãe que me ensinou muito e eu tenho uma admiração imensa pela história da UNITA, especialmente quando a UNITA, nos anos 80, ter o seu estado paralelo e que conseguiu criar do nada de uma derrota quase derrota em 76, para conseguir governar milhões de angolanos nos anos 80. Foi, aliás, dos movimentos de libertação mais bem sucedidos e mais resilientes, eu diria de África. F&N - A derrota que está a referir é aquela de 8 de Fevereiro de 76, na altura em que a UNITA foi supostamente expulsa do Huambo? PCR - Sim, sim exactamente

Por: Cláudio Fortuna / Fotos: Arquivo NET

PCR - Sabe, eu fiz antropologia, porque, lembro-me outra vez da minha mãe que me falou há muitos anos de um ditado que vem do expresidente Leopold Sédar Senghor do Senegal que dizia que quando um mais velho em África morre, é como se uma biblioteca ardesse e isso tocou-me muito. Eu fui para antropologia exactamente para não deixar a história das pessoas morrer, para dar voz à história, aonde há um legado de tradição moral que tem dado um importantíssimo contributo. Mas depois, fui fazer o mestrado

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em direitos humanos em Inglaterra porque na antropologia tudo é uma questão de relatividade natural. Na antropologia social, eu fui estudar direitos humanos porque quis perceber mais sobre o direito à vida, o direito à dignidade. Depois, fui fazer o doutoramento também em Inglaterra, no departamento de desenvolvimento internacional e aí estudei o movimento UNITA, movimento SPLM do Sudão do Sul, e como estes dois movimentos de libertação conseguiram criar um estado paralelo nos seus países, nas suas zonas livres, respectivamente, e como a UNITA conseguiu ultrapassar a derrota militar de 2002, para construir um partido político - hoje com o mesmo poder - e o SPLM, que chegou a governar em 2011, após a independência e hoje a enfrentar uma guerra fratricida de genocídio muito complicado. Foi exactamente a constituição dos órgãos políticos da UNITA, o desenvolvimento das estruturas partidárias e de liderança dentro da UNITA que a ajudou a essa sobrevivência política. Isto deve-se muito também à velha guarda da UNITA e do mais velho presidente fundador Jonas Savimbi que muito apoiou a criação de quadros, muito ensinou também os princípios ideológicos, o centralismo democrático que ainda se pratica na UNITA.(...) F&N - A UNITA fez sempre um grande investimento na missão

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erros também em Angola, nunca se deve isolar nenhuma força bélica. Tem que criar espaço para o diálogo, mesmo que há pouca esperança de entendimento mútuo. Tem que haver sempre um espaço político neutro que possa negociar a paz, porque nós não podemos esquecer que há milhões de angolanos que sentiram que perderam uma guerra também. Nem foi unicamente a liderança, os militares da UNITA também.



Não é o Executivo, não é o poder Legislativo, não são as próprias estruturas partidárias do MPLA que têm o poder. É unicamente a presidência que tem o poder real. A isto chamo de governo das sombras.



externa. Investiu em gente que soube vender exactamente a sua imagem ao mundo exterior. Mas houve alturas em que quando a imagem da UNITA estava um bocado desgastada, sobretudo nas questões das sanções internacionais, havia um apelo dos seus representantes no exterior ao presidente Savimbi, no sentido de alterar o estado de coisas em que ele simplesmente continuou a seguir à sua vontade ou pelo menos naquilo que ele achava que era justo! Isto também não prejudicou a própria imagem da UNITA? PCR: Sem dúvidas, sem dúvidas. Fez-se muitos erros nos anos 90, até a própria forma como as cidades do Huambo e a do Cuíto ter sido difícil consolidar o legado histórico da UNITA, porque as populações que ainda estão lá e sobreviveram da guerra das cidades, lembram-se muito bem das atrocidades que viveram e isso digo no Huambo e no Bié, mas também foi espalhada noutras províncias. Foram atrocidades que ocorreram em ambos os lados. Os aspectos desenvolvidos para que a guerra acabasse foi muito difícil. As sanções decretadas pela primeira vez, sobretudo as sanções da ONU, implementadas contra o partido político, no caso de Angola, provou que sem dúvidas elas têm um poder de asfixia em termos logísticos ,em termos de tranquilidade internacional ; Aliás, nos anos 90, a Unita foi, pela primeira vez na história das Nações Unidas, derrotada como partido e deve-se dizer também, especificamente, que os impulsionadores foram os EUA. A UNITA foi classificada como uma ameaça à segurança nacional dos EUA, e como grupo (...) não sei se foi denotado como grupo de terrorismo... Foi uma conotação em termos de níveis internacionais que levou com que a UNITA ficasse cada vez mais isolada diplomaticamente. Foi um erro. As Nações Unidas fizeram muitos

Eu, na altura, em 2002 - 2004, estava em Angola e fiz alguns trabalhos para organizações de direitos humanos. Fui às áreas de aquartelamento dos ex - combatentes da UNITA, fui aos campos de refugiados que saíam do Congo para o Moxico e a várias zonas do Moxico, bem como aos campos de acolhimento de deslocados internos. E lembro-me, senti das muitas entrevistas que eu fiz (...).Estas populações disseram: "nós agora somos apenas visitas, esta terra já não nos pertence". E eu pensei: meu Deus! o quê que isso quer dizer?! E fui reflectindo que esta população que é a população da UNITA não se revia na governação do MPLA, a nação, o projecto político, o projecto de uma sociedade destruído quando a UNITA perdeu a guerra e as pessoas sentiam-se sem pátria e sem noção, ou seja, responsabilidade de as integrar. Foram descartadas totalmente tanto do lado da UNITA que mais tarde foi criticada, como também do MPLA. Eu diria que em Angola ainda

não houve uma reconciliação nacional e que esta dificuldade de unir todas nações dentro de Angola, ainda está-se por fazer.(...) F&N - Reconciliação interna que fala da UNITA, depende do MPLA ou depende sobretudo da UNITA? PCR: A reconciliação interna da UNITA? F&N - Exactamente... PCR: Eu estava a falar da reconciliação interna do MPLA. Eu acho que ambos os partidos têm que fazer a paz com as suas histórias. (...)O 27 de Maio de 77 do MPLA foi muito marcante deixou muitas fissuras. Agora há ainda mais divisões dentro do MPLA por causa das facções originadas por João Lourenço e José Eduardo dos Santos, e isto não é bom para Angola. Partidos fragilizados são partidos onde facilmente entra o radicalismo. Nós vimos um partido fragilizado dentro e agora em relação a João Lourenço está-se a criar um grupo muito mais securitário. Nós vimos um grupo de generais que tem muito poder em Angola e são cada vez mais autocráticos. Isso não é bom Angola. Por isso, o MPLA tem um trabalho a fazer, o de reconhecimento interno deles e a Unita também, porque a Unita também tem um passado difícil. Todos os partidos o têm, mas tem que haver reconciliação porque é na união que a força surge. (...) F&N - A Unita de 2002, depois da morte do Dr. Savimbi, teve pelo menos o condão de alguma franja na sociedade, sobretudo em Luanda, encará-la de forma diferente. Esta foi uma panaceia milagrosa ou resultou exactamente duma liderança com alguma elevação ou foi um processo natural? PCR: Eu acho que o trabalho que o presidente Samakuva fez contrariou muito a ideia da Unita como partido bélico, com imagem militarizada. O presidente Samakuva fez um trabalho excepcional em mudar a

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perspectiva, mudar as ideias de que a Unita representava e isso é um mérito que é dele e dos líderes da Unita que na altura ajudaram a transição. Foi um trabalho que não foi fácil e durou muito tempo. Não se esqueçam que a demografia política sempre pôs Luanda dentro da influência do MPLA e hoje quem domina Luanda é a Unita. Muito por parte do trabalho da liderança e dos quadros da Unita, mas muito também pelos anti-corpos criados pela governação do MPLA; uma má governação em Luanda, onde há níveis de pobreza urbana que só existiram durante a guerra. As pessoas começaram a saber que de facto, toda a retórica da Unita em termos de que nós temos que combater o elitismo, temos que combater a desigualdade... são questões reais na sociedade. Por isso, sem dúvidas que o trabalho que foi feito pela Unita em Luanda tem muito mérito, mas a exposição da imagem, da decadência do MPLA também con-

tribuiu para que a população em Luanda, fosse à procura de alternância política. F&N - O facto de ter havido o divisionismo entre o Eduardismo e Lourencismo entre aspas, também ajudou a fragilizar a própria imagem do MPLA? PCR: Eu acho que a imagem do MPLA já estava fragilizada. Acho que as pessoas entraram com muito apoio ao João Lourenço, na altura, porque ele veio com o combate à corrupção e as pessoas pensaram que isto era uma forma de renovar. Até a própria Unita. Lembro-me de dizer que se a Unita tivesse feito este combate à corrupção, diriam que era vingança política em relação aos corruptos do MPLA. Mas como foi feito por um deles, pelo João Lourenço, era um processo tão importante... Foi muito bem vindo este combate à corrupção que João Lourenço instou. Mas o problema é que foi um combate muito direccionado, muito

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personalizado e foi um combate para apagar a influência política do seu predecessor e ele conseguiu afunilar todo o poder, centralizar o poder nos seus quadros. Na altura do Eduardismo havia, o José Eduardo dos Santos, tem o mérito também de ter sido mais apaziguador, mais conciliador, o João Lourenço não é. (...) F&N - Diz que não há democracia em Angola. Em termos de ciências políticas, como é que classifica o regime angolano? PCR: Autoritário !! Securitário, aliás, tenho um livro que argumenta muito que um regime que tem medo da mudança, encontra e cria, inventa, ameaça a segurança nacional para conter as mudanças políticas, naturais de qualquer processo politico. A população angolana cresceu muito em termos de perspectiva política e em termos de querer mudar de rumo. Por enquanto, hoje, nós temos um país mais autocrático.Há quem diga que é um autoritarismo competitivo! Porquê? Porque há eleições, mas isso é um processo. Eu diria que é um regime securitário onde o sector de segurança é um dos pilares que segura o presidencialismo autocrático no MPLA de João Lourenço... F&N - Porquê que diz que a governação angolana é de uma sombra? PCR: Porquê que a governação angolana é de sombra? Porque é sombra que existe o poder real, na presidência. Não sei se se lembra... Quando se falava muito do Futungo de Belas, não é o que se chama agora, mas na altura do JES... É nas sombras que existe o poder real, é na presidência, nas duas superestruturas da Casa Civil e da Casa de Segurança que são os portfólios, os pelouros mais estratégicos de Angola. São geridos na presidência. Não é Executivo, não é poder legislativo, não são as próprias estruturas partidárias do MPLA que têm o poder. É unicamente a presidência que tem o poder real. A isto chamo de governo 15

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cesso político em maturação. Acho que as pessoas não têm que carregar os legados dos pais. Têm o direito de pensarem por si próprios. Acho que foi interessante ouvir a Tchizé dos Santos e a Isabel dos Santos, como também um dos filhos do mais velho Savimbi. É importante no pluralismo político que haja divergências de pensamento. É natural que isso aconteça. Não vejo mal nisto. F&N - Este pluralismo político não pode ser também um caderno de reconciliação nacional entre angolanos?



Acho que foi interessante ouvir a Tchizé dos Santos e a Isabel dos Santos, como também um dos filhos do mais velho Savimbi. É importante no pluralismo político que haja divergências de pensamento.



das sombras. F&N - Quando dizia que as eleições em Angola foram ganhas pela oposição... no caso Unita, o elemento de reforço resultou do facto desta vez a Unita ter arregimentado ou pelo menos federado um grupo de partidos políticos de tal Frente Patriota esta é a panaceia milagrosa que as coisas se alterem no futuro? PCR: Acho que sim, acho que a coligação, a Frente Patriótica Unida, foi uma estratégia muito potente, muito forte. Acho também louvável o que o presidente Adalberto da Costa Júnior fez em termos de incluir a sociedade civil, incluir jovens activistas, e ele próprio ter um discurso apaziguador, dizendo que estava pronto para trabalhar com o MPLA, que está pronto para trabalhar com todos que querem uma Angola diferente. Isso foi muito importante porque não se esqueça também que, dentro do MPLA, muitos votaram na Unita e estamos a falar de elites, estamos a falar de forças de segurança que votaram pela Unita; ou seja, foi muito importante a coligação da FPU, sem dúvidas; mas também foi importante ver a Unita com uma alternância credível e uma Unita que estava a auscultar a sociedade civil, que estava a auscultar os jovens e que também era aberta para falar com quadros do MPLA e que eles pudessem se juntar a uma governação em termos de ajudar a governar o país (...). Eu acho que é muito importante, porque para Angola vencer, todos temos que trabalhar juntos. F&N - As eleições de 2022 tiveram alguns aspectos que vão desafiar exatamente a ciência política, nomeadamente o facto curioso, se quisermos de, pela primeira vez, os filhos dos antigos líderes tenham feito apelo ao voto ao contrário, chamemos assim. Como avalia exactamente esse tipo de posicionamento? PCR: Acho que faz parte do pro-

PCR: Sem dúvidas, sem dúvidas... Aliás, democracia é um pressuposto importante do pluralismo; pluralismo dos pensamentos de identidades, ideologias, de projectos políticos, projectos sociais e é nas diferenças que nós encontramos as respostas todas. Não pode haver assimilação de pensamentos. F&N - 2022 foi também marcado por um movimento que agora vou desafia-lá na condição de antropóloga. O movimento cultural que foi o óbito do Nagrelha, um kudurista angolano. Se tivesse que fazer exactamente uma espécie de observação, quais seriam os ângulos de análise e abordagem que faria por causa daquele movimento que arregimentou muita gente? Nem sequer em determinadas circunstâncias os partidos políticos na altura da campanha conseguiram arregimentar tanta gente como aconteceu no funeral do Nagrelha... PCR: Não sei, mas agora analiso a questão doutra forma. Não será que a onda da população que vimos em Luanda no funeral do Nagrelha, não foi resultado de uma frustração que adveio do silêncio da Unita e da FPU, depois das eleições? Porque a Unita fez aquela marcha de liberdade, depois daquelas eleições e nós vimos aquela mesma adesão. Mas não será que a população está a precisar de uma escapatória para conseguir libertar toda a frustração e a desilusão que sentiram? Porque elas votaram pela mudança na sua vasta maioria. Luanda lutou contra o MPLA e não tiveram um momento de libertar esses sentimentos e, se calhar, o funeral do Nagrelha deu-lhes uma plataforma pacífica onde pudessem fazê-lo. Não sei, eu diria mais na base, mas porquê? Porque eu não duvido que se a Unita tiver que amanhã chamar uma manifestação, as pessoas vão aderir se a causa for real.

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NOTAS DE IMPRENSA

Rei de Espanha em visita a Angola

Foto: Arquivo NET

ESPANHA VAI APOIAR DESENVOLVIMENTO DE ANGOLA

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Rei de Espanha disse que Angola pode e deve aproveitar para relançar o crescimento, fortalecer o desenvolvimento económico e social, objectivos para os quais o Governo espanhol pode desempenhar papel importante com apoio empresarial e financeiro. Felipe VI, que cumpriu uma visita de setenta e duas horas a Angola, discursou na abertura do fórum empresarial Angola-Espanha, que contou igualmente com a presença do Presi-

dente de Angola, João Lourenço. Segundo o monarca espanhol, Angola e Espanha cooperam em várias áreas há vários anos, desde as infra-estruturas eléctricas ao ensino universitário, saúde, transportes, geologia, tratamento de águas, pesca, tecnologias de informação, turismo e indústria. As empresas espanholas, prosseguiu o Rei Felipe VI, podem apoiar o Plano de Desenvolvimento Nacional de Angola com a sua experiência, profissionalismo, podendo gerar melhores resultados a curto, médio e longo prazo.

Decano dos jornalistas angolanos

MORREU SIONA CASIMIRO

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aleceu, no passado dia 9 de fevereiro, em França, o decano dos jornalistas angolanos, Siona Casimiro, vítima de doença. Siona Casimiro (tio Sona) nasceu a 12 de Maio de 1944, em Matadi, na República Democrática do Congo. Diplomado pelo Centro de Formação Profissional de Jornalistas (CFPJ) de Paris, recebeu a

carteira profissional pela primeira vez em 1969, após estagiar na Agência Congolaise de Presse (ACP). Trabalhou na Angop, na PANA e na Associated Press. Foi chefe de Redacção do Jornal Apostolado, membro do Conselho Editorial da Rádio Ecclésia. Membro fundador do Sindicato dos Jornalistas Angolanos e do MISA-Angola. Siona Casimiro foi igualmen-

TIRADAS DA IMPRENSA "É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo"

"Eu sei que não sou nada e que talvez nunca tenha tudo. À parte isso, eu tenho em mim todos os sonhos do mundo"

- Fernando Pessoa

"Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão" - Clarice Lispector

- Clarice Lispector

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NOTAS DE IMPRENSA

"Angola atravessou um período muito complicado em termos económicos nos últimos anos num contexto, em 2018, de profunda recessão, com o preço do petróleo atingiu mínimos históricos tendo-se chegado ao acordo com o FMI e a execução de um estrito programa de estabilização macroeconómica", lembrou Felipe VI, destacando ainda os progressos de Angola no saneamento das contas públicas, baixa da inflação e uma balança de pagamentos equilibrada, bem como reservas internacionais estáveis. O chefe de Estado espanhol sublinhou que Angola foi sempre importante para Espanha, frisando a sua enorme riqueza cultural e social.(DN/Lusa). te formador de pelo menos três gerações de jornalistas, fruto da sua longa experiência profissional, carácter e dedicação às causas sociais mais nobres em defesa dos direitos humanos. A Revista "Figuras & Negócios", onde foi um dos seus mais brilhantes colaboradores, lamenta profundamente a sua morte, endereçando à família enlutada em particular e à classe jornalística em geral os mais sentidos pêsames. PAZ À SUA ALMA!

"Qualquer ideia que te agrade /Por isso mesmo... é tua/O autor nada mais fez que vestir a verdade/Que dentro em ti se achava inteiramente nua..." - Mário Quintana

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BOCAS SOLTAS

O Presidente João Lourenço considerou que a visita de Estado dos reis de Espanha a Angola eleva ao patamar mais alto as relações que a República de Angola e o Reino de Espanha vêm edificando de forma sólida e consistente, através de uma interacção regular entre entidades de diferentes níveis dos nossos dois países. "Este facto favorece a concretização dos objectivos traçados para alcançarmos níveis de excelência nas nossas relações", disse. João Lourenço proferiu tais declarações no decorrer da cerimónia de condecorações dos dois chefes de Estado, em Luanda. A seguir, alguns extratos do seu discurso: .................................................................... O Presidente João Lourenço considerou que a visita de Estado dos reis de Espanha a Angola eleva ao patamar mais alto as relações que a República de Angola e o Reino de Espanha vêm edificando de forma sólida e consistente, através de uma interacção regular entre entidades de diferentes níveis dos nossos dois países. "Este facto favorece a concretização dos objectivos traçados para alcançarmos níveis de excelência nas nossas relações", disse. João Lourenço proferiu tais declarações no decorrer da cerimónia de condecorações dos dois chefes de Estado, em Luanda. A seguis, alguns extratos do seu discurso: .................................................................... "A nossa satisfação com a Vossa presença em Angola é ainda maior, por se tratar da primeira visita que Vossas Majestades realizam a um país da África ao Sul do Sahara, facto que reflecte, em nosso entender, a relevância que atribuímos às relações diplomáticas, económicas, comercias, culturais e científicas existentes entre os nossos países" .................................................................... "Agradeço a Vossas Majestades, em nome de todos os angolanos, no da minha esposa e no meu próprio, a decisão tomada pelo vosso país, de nos outorgar a Ordem "Gran Collar de Espanha” e a Ordem de Mérito "Gran Cruz”, pois representa um estímulo para continuarmos a servir cada vez melhor os anseios do povo angolano e contribuir para o contínuo reforço das relações entre a República de Angola e o Reino de Espanha" .................................................................... "Como sinal de reconhecimento do Vosso contributo no reforço das relações de amizade e cooperação económica crescente entre Angola e o Reino de Espanha, decidimos agraciar Suas Majestades os Reis de Espanha com a outorga da mais alta distinção angolana, a Ordem Agostinho Neto" .................................................................... "Registamos, com agrado, a intensificação da cooperação no domínio empresarial nas últimas décadas, com o aumento da presença de empresas espanholas no mercado angolano. Por este facto, deveremos encarar a possibilidade de traçarmos um novo quadro de prioridades estratégicas, que nos permita dinamizar as parcerias e obtermos, consequentemente, maiores benefícios da nossa relação bilateral, que se reforçou um pouco mais com a assinatura há instantes de 3 importantes instrumentos jurídicos". 19

PAÍS

O Orçamento Geral do Estado (OGE) para o Exercício Económico de 2023 foi recentemente aprovado, em Luanda, na generalidade, com 117 votos a favor, 80 contra (da UNITA) e quatro abstenções. O debate contou com a intervenção de 15 parlamentares, enquanto 24 solicitaram pontos de ordem. Por: Garrido Fragoso In J.A. Fotos: Arquivo NET

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sessão plenária, que aprovou em termos genéricos o principal instrumento de programação da política económica e financeira do país, foi testemunhada pela ministra de Estado para a Área Social, Dalva Ringote, que agradeceu, em nome do Titular do Poder Executivo, as recomendações e contribuições feitas ao documento. Ao lembrar que as questões técnicas da Proposta do OGE-2023 serão avaliadas nos próximos dias pelas comissões de trabalho especializadas, com vista ao aprofundamento e enriquecimento do conteúdo, a ministra de Estado manifestou inteira disponibilidade do Executivo "para aportar informações complementares onde for possível e necessário”. O diploma legal, que comporta receitas estimadas em 20.104, 207, 404,872.00 (vinte biliões, cento e quatro mil, duzentos e sete milhões, quatrocentos e quatro mil e oitocentos e sessenta e dois kwanzas) e despesas fixadas em igual montante para o mesmo período segue, nos próximos dias, para a discussão na especialidade, no sentido de (...) ser submetido à sessão plenária, para votação final global. 20

Com 117 votos a favor, 80 contra (da UNITA) e quatro abstenções

OGE PARA 2023 FOI APROVADO NA GENERALIDADE Em resposta às várias preocupações levantadas pelos deputados, em relação ao OGE-2023, a secretária de Estado para o Orçamento e Investimento Público reafirmou o compromisso do Executivo na melhoria da arrecadação das receitas e rigor da qualidade na execução das despesas, argumentando serem "desafios essenciais", para a defesa da sustentabilidade e asseguramento do crescimento económico. Jociane de Sousa recordou que a Proposta do OGE-2023 assenta nos

princípios da estabilidade fiscal e orçamental, bem como da sustentabilidade da dívida pública. Sublinhou, a propósito, que o rácio da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) passou de 133 por cento, em 2020, para 82, em 2021, e 64 por cento em Outubro de 2022, salientando que a estratégia de redução da dívida prossegue este ano. A governante informou ainda que a inflação vem sofrendo uma "redução gradual” ao longo dos últimos anos. Indicou que em Dezembro do

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aumentar a capacidade do Executivo, na arrecadação da receita não-petrolífera, através do aumento da base tributária. "A política fiscal da Proposta do OGE-2023 visa buscar a justiça fiscal e a desoneração dos custos da cadeia de abastecimento em bens e serviços, como políticas de alívio aos impactos da inflação dos últimos tempos”, salientou a secretária de Estado, apontando como exemplo, a manutenção da redução das taxas do IVA nas operações de importação de bens de amplo consumo e do sector produtivo.

“ da Saúde assinalou uma evolução de 45 por cento em relação ao ano transacto. "Vamos continuar a garantir a mobilização de recursos financeiros suficientes e, sobretudo, sustentáveis, para atender as necessidades urgentes e prementes da população”, indicou a governante, que manifestou "inteira disponibilidade” do Executivo em trabalhar com os parlamentares, com vista a uma melhor hierarquização e priorização das despesas públicas, consubstanciadas, sobretudo, no pagamento da despesa com o pessoal, serviço da dívida, fornecimento e acesso dos cidadãos à energia eléctrica e água potável, saneamento básico e construção de infra-estruturas para facilitar a mobilidade. Receitas não-petrolíferas - No quadro da receita fiscal, a secretária de Estado disse que o objectivo, no presente orçamento, é continuar a

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ano passado a mesma registou 13 por cento contra 41,95 em 2016. Referiu que ao longo deste ano a inflação pode atingir 11 por cento e a médio prazo um dígito. No OGE deste ano, o Executivo pretende garantir o mínimo de condições para as populações mais vulneráveis, bem como promover e executar medidas de estímulo à produção e capacitação dos cidadãos, informou Jociane de Sousa, acrescentando que a aposta na diversificação da economia e no investimento público estruturante também consta do leque de prioridades do orçamento para o presente ano. "Tomamos boa nota das recomendações dos deputados sobre as despesas sociais, mais concretamente nos sectores da Educação e da Saúde”, declarou a secretária de Estado, realçando que o sector Educativo registou um incremento de 25 por cento relativamente a 2022, enquanto o

Tomamos boa nota das recomendações dos deputados sobre as despesas sociais, mais concretamente nos sectores da Educação e da Saúde”, declarou a secretária de Estado, realçando que o sector Educativo registou um incremento de 25 por cento relativamente a 2022, enquanto o da Saúde assinalou uma evolução de 45 por cento em relação ao ano transacto.

A secretária de Estado do Orçamento e Investimento valorizou a proposta apresentada por alguns deputados, consubstanciada no aumento dos benefícios fiscais. Salientou, a propósito, que no Código de Benefícios Fiscais estão previstos alguns incentivos, sobretudo, direccionados às empresas que empregam estagiários. "Vamos nos próximos tempos procurar analisar, de forma profunda, a tributação das pequenas e médias empresas, por forma a garantir o desenvolvimento das mesmas”, indicou a governante. 21

PAÍS

PAGAMENTOS ATRASADOS

No capítulo da Dívida Pública, Jociane de Sousa informou que o pagamento dos atrasados deve obedecer aos princípios de verificação e certificação. "Mesmo depois de certificada, a receita que deve cobrir a despesa presente e a passada obrigam a que se faça uma gestão de tesouraria, com base num conjunto de compromissos a honrar”, declarou.

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olicitou, por isso, o apoio dos deputados e dos cidadãos, em geral, na denúncia de tentativas de distorção, ao mesmo tempo que manifestou disponibilidade dos técnicos do departamento ministerial, na discussão dos aspectos técnicos do OGE-2023, durante as

discussões na especialidade. Em relação à produção agrícola, recordou que o Plano Nacional de Fomento para a Produção de Grãos (PLANAGRÃO) foi concebido para atender as componentes de investimento privado na produção, e de construção de infra-estruturas públicas.

BEM-VINDAS AS CONTRIBUIÇÕES

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á no final da sessão, e em jeito de recomendação, a presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, sublinhou a necessidade de o documento central da condução das políticas públicas do país para o presente ano não ser apenas elaborado pelo Executivo, salientando que a elaboração do mesmo deve contar com as contribuições apresentadas pelos diferentes partidos políticos nos debates anteriores. Carolina Cerqueira disse que os cidadãos esperam que os seus representantes consigam um documento responsável, com os consensos possíveis e que responda, de

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forma gradual, as suas preocupações, das famílias e das empresas. "Acredito que o OGE-2023 sairá melhorado após a discussão, na especialidade, que contará com o contributo de todos”, vaticinou a líder parlamentar, que disse esperar maior empenho, compromisso e diálogo entre os deputados das diferentes bancadas para garantir que o OGE-2023 responda ao momento actual do país. A próxima reunião plenária da Assembleia Nacional, que deverá votar, em definitivo, o Orçamento Geral do Estado para o Exercício deste ano, está prevista para 13 de Fevereiro próximo.

O orçamento da Saúde, um dos sectores que mais atenção tem merecido do Executivo, saiu de 388 mil milhões 465 milhões 188 mil e 31 Kwanzas, em 2018, para um valor indicativo de cerca de 1.3 biliões na proposta do OGE 2023, assugurando a saúde dos cidadãos e as acções contra as grandes endemias. Por: César Esteves * In J.A. Fotos: Arquivo NET

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informação foi avançada pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, durante um encontro (...) com os deputados da 6ª, 8ª e 10ª comissões do Parlamento, em torno do principal instrumento da política económica e financeira do Estado. A ministra da Saúde, que estava acompanhada, na altura, das homólogas da Educação, Luísa Grilo, e da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Ana Paula do Sacramento Neto, destacou que o sector que dirige regista um peso percentual que varia de 4.1, em 2018; 5.6, em 2019; 6.7, em 2020; 5.7, em 2021; 4.8, em 2022; e 6.66 na proposta do OGE para este ano, o que, para si, representa um incremento. "O sector da Saúde tem merecido uma atenção especial, através dos investimentos feitos pelo Orçamento Geral do Estado aprovados desde 2018”, realçou a ministra. Sílvia Lutucuta salientou que o sector da Saúde é "assumidamente” prioritário e estratégico no Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN), com vista à garantia do bem-estar de todos os cidadãos. "Não se trata, obviamente, de um estado de alarme provocado pela Covid-19, mas, sim, de um compromisso Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

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OGE 2023

AUMENTO DA VERBA PREVÊ IMPACTO POSITIVO NO SECTOR DA SAÚDE assumido pelo Programa do Governo 2018-2022, para reforçar o Serviço Nacional de Saúde, aumentando, deste modo, a qualidade do acesso e a motivação dos profissionais de saúde”, esclareceu a ministra Sílvia Lutucuta. De uma maneira geral, a ministra da Saúde fez saber que, comparativamente ao ano de 2022, houve um incremento no orçamento da Saúde, para este ano, que se vai reflectir, de forma directa, na vida das populações, em geral, e, em particular, dos profissionais de saúde, na melhoria dos indicadores de saúde, do combate às grandes endemias e nas admissões de mais profissionais para o sector. Mais oito mil profissionais - No que diz respeito à admissão de mais profissionais para a Saúde, a ministra revelou que o sector prevê realizar, ainda este ano, um novo concurso público para o ingresso de um total de 8 mil profissionais. "Vamos continuar a admitir novos profissionais e dar continuidade aos

programas de formação”, assegurou a ministra da Saúde, para quem a ideia é suprir a necessidade do sector, para este ano, que ronda, "no mínimo”, os cerca de 16 mil profissionais, para garantir o funcionamento das novas unidades sanitárias. Sílvia Lutucuta deu a conhecer que o orçamento atribuído ao sector, este ano, vai permitir, em todo o país, a construção, reabilitação e apetrechamento de várias unidades sanitárias dos três níveis de atenção, com maior foco para os cuidados primários de saúde, que, como adiantou, já conta com 233 projectos financiados pelo PIIM, e a reversão gradual das Juntas Médicas para o exterior do país. A ministra da Saúde acrescentou que o orçamento destinado ao seu pelouro vai permitir, igualmente, o aumento do acesso aos serviços de saúde primários, combate às grandes endemias, outras doenças transmissíveis, melhoria dos programas de nutrição, melhoria de tratamento e diagnóstico da hidrocefalia, construção, reabilita-

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ção e apetrechamento de laboratórios. Em relação às doenças crónicas não transmissíveis, como a Tuberculose, a ministra da Saúde deu a conhecer que foi feito um aumento considerável no seu orçamento para uma melhor resposta aos casos. De recordar que prestar uma atenção mais especial às doenças crónicas não transmissíveis, como a tuberculose e a hipertensão, faz parte dos anseios da classe médica de nefrologia do país. Numa entrevista concedida, este mês, ao Jornal de Angola, o presidente do Colégio de Nefrologia da Ordem dos Médicos de Angola, José Malanda, revelou que muitos doentes de diabetes e hipertensão só chegam ao estágio da diálise por falta de dinheiro para comprar os remédios. "Eles podiam prevenir-se da diálise se tomassem a medicação”, realçou o especialista, sublinhado que 80 por cento destes doentes não dispõem de capacidade financeira para comprar os remédios. 23

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No Pólo de Desenvolvimento Diamantífero de Saurimo.

SOBE NÚMERO DE LAPIDADORAS NO PAÍS



Numa entrevista concedida, este mês, ao J.A., o Presidente do Colégio de Nefrologia da Ordem dos Médicos de Angola, José Malanda, revelou que muitos doentes de diabetes e hipertensão só chegam ao estágio da diálise por falta de dinheiro para comprar os remédios.



"Na sua maioria são pessoas de classe baixa”, reforçou José Malanda, que defende a aprovação de uma lei que permita a distribuição gratuita de remédios para os diabéticos e hipertensos. O médico nefrologista referiu, nesta entrevista, que a diabetes e a hipertensão arterial são as duas doenças crónicas não transmissíveis que mais concorrem para o aparecimento da insuficiência renal crónica nos doentes.

Combate à Malária - Em relação à Malária, uma das principais causas de mortes no país, a ministra da Saúde disse ter sido feito um incremento considerável no seu programa, sublinhado haver um total de 11.5 mil milhões de Kwanzas para o combate da doença. "Em relação à Malária, nós temos no programa 7.5 e na CECOMA, entidade responsável pela aquisição dos medicamentos, mais de 4 mil milhões”, concluiu. *In J.A. 24

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ollaro é a nova unidade de lapidação recentemente inaugurada, no Pólo de Desenvolvimento Diamantífero de Saurimo (PDDS) pelo Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, em trabalho na capital da Lunda Sul. Antes, Diamantino Azevedo presenciou a entrega de certificados a 114 jovens formados em lapidação e avaliação de diamantes pela SODIAM. "Alegra-nos ouvir que grande parte dos finalistas conseguiram emprego na nova fábrica que acabámos de inaugurar", disse, visívelmente satisfeito, o ministro. A fábrica de lapidação, segundo o governante, "é um empreendimento de um grupo privado angolano e que reforça o Pólo", contando agora com 4 lapidadoras e uma unidade de formação. Referiu que os esforços para criar melhores condições em termos de incentivos fiscais vão continuar, de modo que surjam muitas outras fábricas no espaço e criar-se mais emprego para a juventude da província da região. "O Polo não é só importante para o sector diamantífero, mas para o sector económico de todo o país", assinalou. Acto contínuo, o Ministro Diamantino Azevedo foi convidado a inaugurar

uma agência bancária que vem agregar serviços financeiros ao Pólo de Desenvolvimento Diamantífero, "conferindo agilidade e segurança em questão de serviços bancários", de acordo com o governante. O Centro de Formação Técnico-Profissional da Endiama, vocacionado a áreas que abrangem toda a cadeia dos diamantes foi o ponto culminante da agenda diária do Ministro que deve visitar, sábado, 25.02, a Sociedade Mineira de Catoca e o Projecto Luaxe. Recorde-se que o Pólo de Desenvolvimento Diamantífero de Saurimo (PDDS),com a capacidade para albergar 26 fábricas ligadas ao sector mineiro e diamantífero, foi inaugurado em Agosto do no passado , em Saurimo, pelo Presidente da República, João Lourenço. A infra-estrutura, cuja construção foi suportada pela Sodiam, ocupa uma área de mais de 300 mil quilómetros quadrados, e está localizada ao norte do centro urbano da capital da província da Lunda Sul. O objectivo é congregar empresas com foco na cadeia de valores dos diamantes, oferecendo assim instalações físicas e tecnológicas adequadas à dinamização do desenvolvimento desta actividade.

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COMBATE À IMPUNIDADE VAI DANDO "FRUTOS"...

(...) Angola subiu 19 lugares no ranking internacional dos países que combatem a corrupção, a impunidade e promovem o respeito pelos Direitos Humanos. A informação foi recentemente prestada pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queirós, em declarações à imprensa. O ministro esclareceu que, de um universo de 180 países avaliados pela organização Transparência Internacional, em 2019, Angola passou da posição 165 para 146.

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itado pela Angop, Francisco Queirós justificou o posicionamento pelas políticas que o Executivo está a aplicar no combate à corrupção e à impunidade, bem como na promoção dos direitos humanos, com efeitos positivos. A avaliação positiva, acrescentou, se deveu ao facto de terem sido levados a tribunal muitos casos de corrupção, sem se ter em conta os desenvolvimentos recentes ligados à investigação jornalística denominada “Luanda Leaks”. O ministro disse acreditar que as políticas, em curso, contribuirão para a recuperação da dignidade e do bom nome de Angola a nível internacional, bem como o resgate do respeito da comunidade internacional e da sociedade angolana. "Tudo isso será importante em termos de ética e boas

práticas, bem como na melhoria do ambiente de negócios, com a finalidade de proporcionar aos cidadãos melhores condições de vida", salientou. Francisco Queirós considerou que “o ambiente está a melhorar profundamente porque a política do Executivo está correcta e no bom caminho”. No entanto, o governante reconheceu haver ainda um longo caminho a percorrer neste processo. “Mas os passos dados em dois anos confirmam que as organizações internacionais consideram bem sucedidas as políticas implementadas”, sublinhou. O ministro descartou a existência de perseguição a certas individualidades, pela qualidade das dezenas de processos, dos agentes implicados e dos casos em julgamento, que demonstram a abrangência da actuação dos órgãos de Justiça. Reiterou que “quem comete irregularidades cai nas malhas da Justiça”.

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A avaliação anual promovida pela organização Transparência Internacional (TI), com sede em Berlim, assinala que Angola conquistou mais sete pontos do que na edição de 2018, tendo agora 26.



Angola sobe 19 lugares no ranking contra corrupção

Melhorias significativas - A avaliação anual promovida pela organização Transparência Internacional (TI), com sede em Berlim, assinala que Angola conquistou mais sete pontos do que na edição de 2018, tendo agora 26. Esta conquista de pontos, numa escala em que zero corresponde a países com altos níveis de percepção da corrupção e 100 a países livres de corrupção, catapultou o país da 165ª para 146ª posição. Angola melhora, assim, pelo segundo ano consecutivo, a avaliação em matéria de percepção da corrupção, depois de, em 2018, ter subido dois lugares, passando do 167º para o 165º, com uma pontuação de 19. Classificando como “significativos” os progressos conseguidos, o relatório assinala, no entanto, que dado o baixo nível geral de pontuação, o país mantém-se abaixo da média global (43 pontos) dos 180 países analisados.

O relatório coloca Angola entre os países a monitorizar e assinala as reformas introduzidas pelo Governo liderado pelo Presidente João Lourenço para combater a corrupção depois da mudança eleitoral de 2017, revelando expectativas de que “a corrupção seja o tema dominante nos debates eleitorais para as eleições locais de 2020”. A classificação divulgada ontem, relativa a 2019, consolida a melhoria já observada em 2018, quando Angola subiu dois lugares no ranking que identifica os países mais corruptos do mundo. 25

Figura do Mês 26

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Carolina Cerqueira

MENTORA DA RECONCILIAÇÃO NO PARLAMENTO Na história política de Angola, Carolina Cerqueira, Presidente da Assembleia Nacional, é referenciada como mentora do “arranjo” entre os deputados das bancadas do MPLA e da UNITA conciliarem sobre a formação da mesa da presidência do hemiciclo. Explique - se: após as eleições gerais, o MPLA ganhou seguido da Unita e decorridos quatro meses de trabalho na Assembleia, os deputados sob o comando de Adalberto Costa Júnior, não estavam na Mesa da presidência, prática regulamentada desde há muito tempo. Os deputados do MPLA não permitiram que tal acontecesse e Carolina Cerqueira "repôs a legalidade", fruto da sua já longa experiência política, sobretudo pela sua grande capacidade de negociação.

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FIGURA DO MÊS

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ntrigas políticas à parte, Carolina Cerqueira, a primeira mulher que dirige a Assembleia Nacional, burilou os seus papéis, conversou com os presidentes das bancadas desavindos e organizou um plenário para redefinir a Mesa presidencial do Parlamento. Jornalista de profissão, Carolina Cerqueira funcionou na RNA e depois esteve na OMA, organização feminina do MPLA e depois foi nomeada ao cargo de directora de quadros do seu partido e daí o guindar na governação. Primeiro, na governação de Eduardo dos Santos foi Ministra da Cultura, depois da Comunicação Social e com a presidência de João Lourenço, Carolina Cerqueira foi catapultada como Ministra de Estado para a área Social . Agora, ela, depois das eleições gerais que o MPLA ganhou, foi eleita como Presidente da Assembleia Nacional, a primeira mu28

lher que dirige o órgão legislativo de Angola. “A partir de hoje, a Casa da Democracia está institucionalmente completa quanto aos seus órgãos para trabalhar de forma coesão em nome do interesse nacional” - assumiu Carolina Cerqueira para afirmar que “a eleição por unanimidade da Mesa do

Parlamento, demonstrou ser possível encontrar um denominador comum entre os partidos políticos, prevalecendo sempre o bom senso, moderação e a responsabilidade.” É dela a seguinte frase: ”Os cidadãos esperam um Parlamento mais disponível, presente e que seja de todos os angolanos”.

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LEIA COM O NARIZ... BEM-VINDO AO LOBITO

Bem-vindo ao Lobito. À medida que a estrada recém-(re)alcatroada alcança a entrada da cidade, há uma parede pintada com um mural. A parede exala à lama, lixo, urina e sal. Tudo no Lobito tem o leve odor de sal, uma vez que está localizada à beira-mar numa “cama” de cloreto de sódio.

Por: Édio Martins ([email protected])

NA ESPUMA DOS DIAS

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á, também, um cheiro fraco de plástico quente deixado ao sol, vindo dos placards colocados para marcar a contagem regressiva para o aniversário de cem anos da cidade em 2013. Eles não funcionam mais, excepto pela faixa de luz piscante a meio caminho do chão, uma indicação precoce, ao embrenharmo-nos na cidade, se há ou não electricidade. Seguindo o nosso caminho, nós passamos pelo porto, onde a maquinaria para as plataformas de petróleo que bombeiam a economia é fabricado ou reparado e que sempre cheira a óleo e a fumaça de escape dos camiões, que carregam equipamentos para dentro e para fora. Nossos narizes entopem com a poeira do cimento e não podemos evitar a tosse. Ao longo da estrada principal está a Rotunda do Africano, marcada por uma estátua, em cimento rosa, do símbolo da cidade: o flamingo. As “Hiace” azuis e brancas, chamados candongueiros, transportam pessoas entre a cidade formal, próxima ao mar, e os morros acima dela, onde as construções são aleatórias e as “mansões” inclinam-se sobre casas feitas de blocos de cimento e cobertas com chapas de zinco. Dentro dos candongueiros, as geografias do movimento humano misturam-se num ensopado fétido criado por corpos compactados uns ao lado dos outros. Tácticas subtis de batalha são utilizadas por muitos, no esforço de evitar ficar colocado ao lado do quase inevitável balde plástico de peixe fresco (ou não tão fresco assim). Na zona mais alta da cidade, um enorme elefante de betão com uma tromba que funciona como um escorrega, oferece sombra aos madiés, aos moto-táxis e às crianças sorridentes que correm como formigas pelas suas costas. Aqui, a respiração da cidade sobe às manhãs e noites, quando se cozinha em casa onde bué de serpentinas anti-mosquito “leão” repelem a ameaça sempre presente da malária. Os vizinhos descansam juntos, bebendo cerveja, comendo funge e frango com ginguba, temperado com gindungo. A poeira obstrui as narinas com o cheiro da terra desidratada. Ela está em todo lugar: novas escolas sendo construídas, andar por andar, além de novas casas. Cada saco de cimento lançado ao chão deixa uma nuvem no ar a ser inalada. No centro da cidade, trabalhadores reabastecem os seus corpos na mágica pastelaria (e tudo o mais…) Áurea, onde o odor do açúcar permanece no ar a quarteirões de distância. Durante a guerra, o velho Almeida nunca parou de produzir bolos. Isso foi considerado um acto de heroísmo cívico. Dizem-nos que ele “é mais angolano que os angolanos” aos olhos da população da cidade, e Portugal é uma nota de rodapé na sua história. Agora, vamos para o mercado Chapanguela, onde está o cheiro de roupas velhas, lama e suor dos vendedores sentados sob o sol, de carne e vegetais fermentando, de camadas de comércio global sobrepondo-se: óleo de palma e atum enlatado de Jacarta, artigos electrónicos de Guangzhou, partes de motor de Déli – todos cheiram a metal quente. Mais pungentes são os odores de abacaxis e cabras… Notas húmidas de kwanzas retiradas de bolsos próximos à pele entregam o odor subtil de centenas de pontas de dedos, e dezenas de palmas das mãos. Estamos juntos

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SOCIEDADE

Pelo Presidente João Lourenço

AUTORIZADA EXPLORAÇÃO COMERCIAL DO ANGOSAT-2 O Presidente angolano autorizou a exploração comercial do satélite, Angosat-2, cujas receitas inerentes à exploração do mesmo deverão reverter 40% a favor do Tesouro Nacional e 50% a favor do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional.

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e acordo com o Despacho Presidencial nº 11/23, de 23 de Janeiro, consultado hoje pela agência Lusa, os restantes 10% das receitas provenientes da exploração do Angosat-2 deverão reverter a favor do Fundo de Apoio Social dos Trabalhadores das Comunicações. O titular do poder executivo angolano autorizou a exploração comercial do Angosat-2, enquanto decorre o processo de criação das condições para a atribuição da sua gestão e ex-

Presidente João Lourenço, com o lançamento deste satélite e a sua entrada em funcionamento, Angola ganha em todos os pontos de vista” 30

ploração a um ente público. O documento sublinha que há necessidade de se dar início ao processo de exploração comercial e garantir os serviços para os quais foi projectado, no seu prazo de vida útil, em benefício da economia nacional e do desenvolvimento tecnológico do país, da região e a salvaguarda de uma adjudicação segura do ponto de vista da valoração socioeconómica, soberania tecnológica, defesa e segurança nacional na exploração do engenho. O despacho salienta que o Angosat-2 foi lançado com sucesso e encontra-se na sua posição orbital,

Angola conta com Centro de Controlo de Satélites Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

SOCIEDADE

e nos municípios sem cobertura de serviços de telecomunicações, refere ainda o despacho. A Rússia lançou, em Outubro do ano passado, o segundo satélite angolano, o Angosat-2, do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. O primeiro satélite nacional de Angola, o Angosat-1, foi lançado por um fo-



O despacho salienta que o Angosat-2 foi lançado com sucesso e encontra-se na sua posição orbital, enviando sinais do seu pleno funcionamento à estação de controlo, constituindo um marco importante para o Programa Espacial Angolano.



enviando sinais do seu pleno funcionamento à estação de controlo, constituindo um marco importante para o Programa Espacial Angolano. O Angosat-2, destaca ainda o documento, é uma infra-estrutura de importância essencial para o Estado angolano, estratégica e de domínio exclusivo, que integra a rede básica de telecomunicações do país, cuja exploração comercial insere-se no setor de actividade de reserva relativa do Estado. A infra-estrutura constitui um elemento fundamental no cumprimento dos objectivos fundamentais do programa de desenvolvimento do país no contexto das comunicações, observação da terra, posicionamento, navegação, tráfego terrestre e marítimo, investigação, inclusão digital, controlo da migração e da criminalidade, agricultura de precisão e combate a desastres naturais, em especial no atendimento às áreas rurais

guete russo do cosmódromo de Baikonur, em Dezembro de 2017, mas a Rússia anunciou inicialmente que perdeu o controlo assim que foi colocado em órbita. Especialistas russos conseguiram restabelecer contacto alguns dias depois, antes de perdê-lo definitivamente no espaço. Sob um acordo com Angola, a Rússia construiu outro satélite, o Angosat-2, para substituir o engenho perdido. Construído na sequência de um acordo assinado entre Angola e a Rússia, em 2009, o Angosat-1 custou 360 milhões de dólares (sensivelmente o mesmo em euros) ao Estado angolano, mas tinha um seguro de 121 milhões de dólares, que, em caso de acidente ou desaparecimento, cobriria a totalidade dos custos da sua substituição, segundo a agência noticiosa angolana Angop. O ministro das Telecomunicações, Tecnologia de Informação e Co-

Quadros superiores angolanos no Centro de Controlo de Satélites Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

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SOCIEDADE

Para facilitar o tráfego internacional de embarcações

PORTO DO LOBITO BREVEMENTE COM SISTEMA DIGITAL MARÍTIMO

municação Social (Minttics), Mário Oliveira, por altura do lançamento do Angosat-2, sublinhou que a infra-estrutura, com capacidade para cobrir o continente africano, com ênfase na região sul, e parte significativa do sul da Europa, faz parte do ecossistema de telecomunicações que o país pretende, já que Angola tem o objectivo de ser um 'hub' africano de telecomunicações. "O nosso país é extenso e as comunicações via satélite ajudam a que cheguemos aos pontos mais recônditos do país de forma mais célere", afirmou, destacando os impactos positivos desta solução tecnológica que vai contribuir para o desenvolvimento socioeconómico de Angola em várias áreas. Trata-se de um satélite de Alta Taxa de Transmissão (HTS, na sigla em inglês), com peso total de duas toneladas, preparado para disponibilizar 13 gigabytes em cada região iluminada (zonas de alcance do sinal do satélite). O Angosat-2 começou a ser construído em 28 de Abril de 2018, nas instalações da Airbus em França, e a estrutura foi depois transferida para a fábrica da ISS Reshetnev, na cidade de Zheleznogorsk, próximo de Krasnoyarsk (Sibéria), onde foi produzida a carcaça e instalado o mecanismo de arranque, refere a agência angolana. (Notícias ao Minuto / LUSA) 32

O sistema digital de tráfego marítimo entra em funcionamento este ano e vai facilitar o tráfego internacional de embarcações que servirá de modelo para outros países africanos. De acordo com um comunicado divulgado pela empresa portuária angolana, o sistema digital de tráfego marítimo, denominado Janela Única Marítima (MSW), vai permitir a submissão electrónica, mediante um único portal online, de toda a informação exigida pelos organismos governamentais quando um navio atraca no porto.

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experiência faz parte do projecto IMO-Singapura Single Window for Trade Facilitation (SWiFT) e servirá como um "modelo para mais portos na África no futuro", revela a Organização Marítima Internacional (IMO). Segundo o documento, a Janela Única Marítima do Porto do Lobito está, em fase inicial de desenvolvimento. Uma delegação da IMO visitou no final de Janeiro deste ano, o local e a sua conclusão está prevista para Julho deste ano. O projecto SWiFT foi criado para apoiar os portos de média dimensão no cumprimento dos requisitos da Convenção de Facilitação (FAL),

iniciativa que visa acelerar a digitalização da navegação marítima, que entrará em funcionamento no próximo ano. A partir de 1º de Janeiro, portos de todo o mundo devem estar preparados para trocar dados por meio de uma “Janela Única”, onde estarão contidas informações sobre chegada, permanência e saída de navios. O Porto do Lobito situa-se na província de Benguela, a sul de Luanda. O corredor do Lobito estende-se desde o Porto do Lobito e atravessa Angola de oeste a leste, passando pelas províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico, e abrange as zonas mineiras da província congolesa de Catanga e Copperbelt da Zâmbia. D.V.

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SOCIEDADE

Aterros sanitários entre os grandes desafios

GOVERNO VAI ATACAR A MAKA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS A melhoria no tratamento dos resíduos sólidos continua a ser das principais metas do Ministério do Ambiente, disse há dias, em Luanda, a titular da pasta, por ocasião a Conferência Nacional dos Resíduos, que decorreu sob o lema “Reutilizar o passado, reciclar o presente e salvar o futuro”. Por: Manuela Gomes / Fotos: Arquivo F&N

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ara Ana Paula de Carvalho, a falta de um aterro sanitário qualificado tem sido um problema, pois "o que temos são, apenas, alguns iniciados e um espaço adequado precisa ter, também, um centro de valorização de resíduos”. Na zona dos Mulenvos, em Viana, referiu, há um aterro sanitário, com as células revestidas, que não permitem a contaminação dos solos. "No local existe ainda a lagoa dos lixiviados, que precisa de um tratamento digno, para ser anexada às linhas de água”. A ministra adiantou que estão a construir, no Namibe, um aterro sanitário condigno, "que já tem duas células, sem uma lagoa de lixiviados, mas com um sistema de tratamento de resíduos, ligado a uma estação de tratamento de

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águas”. "Um terceiro está a ser feito na província do Huambo”, disse. No momento, acrescentou, está em preparação um concurso de parceria público-privada, para a construção do aterro da província do Namibe que, actualmente possui, apenas, células de deposição de resíduos e uma estação de tratamento das águas resíduas. "Porém, há necessidade de ter um local para reutilização e reciclagem de resíduos, assim como centros de valorização ou separação selectiva”. Nas outras províncias, avançou, vão ser realizadas, também, obras de construção de aterros sanitários paulatinamente. "Vamos começar a trabalhar naquelas de maior produção de resíduos, pois estes precisam ser tratados para não contaminarem os solos”, referiu. A legislação angolana sobre o Am33

SOCIEDADE



É preocupante o tratamento dado à questão dos resíduos a nível do país, porque a maior parte das províncias do país tem os resíduos acondicionados em lixeira a céu aberto.



biente, lembrou, precisa ser usada em aplicações práticas. "É preocupante o tratamento dado à questão dos resíduos a nível do país, porque a maior parte das províncias do país tem os resíduos acondicionados em lixeira a céu aberto”, disse. Actualmente, salientou, existem em algumas províncias, iniciativas para execução de aterros sanitários. "Um local para ser considerado aterro sanitário tem de ter o buraco revestido com uma membrana geo-têxtil (reforço de estruturas de pavimentos e muros) e também ter o mecanismo para tratamento dos seus lixiviados (líquidos que provém dos resíduos)”.

Por outro lado, disse, constitui um dos maiores desafios do ministério, melhorar o tratamento dos chamados resíduos limpos, como papel, plástico, vidro e metal. "A meta é que estes tenham um procedimento di-

ferenciado, com base na Estratégia Nacional para Educação Ambiental”. Apesar disso, disse, já se registam algumas melhorias no tratamento dos resíduos e iniciativas privadas, para a valorização, reutilização e reciclagem dos resíduos. "Muitas pessoas têm nisso um emprego. Por isso, queremos dar uma ideia às pessoas de que o lixo pode ser um recurso, desde que bem aproveitado. Pois, até, os orgânicos podem ser transformados em adubos orgânicos utilizados, maioritariamente, na agricultura familiar e teremos desta forma menos resíduos a irem para o aterro”, explicou.

PROVÍNCIAS COM MAIOR PRODUÇÃO

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maior parte dos resíduos sólidos no país, sem precisar a quantidade, de acordo com a ministra, são produzidos em Luanda, seguida de Benguela. "Luanda por ser a que tem a maior população produz, em média, por pessoa, quase um kilo de resíduos/dia”. Quanto ao lixo hospitalar, explicou, os mais perigosos deveriam ser incinerados, embora ainda não seja uma realidade concreta no país, as mudanças deveriam acontecer, pelo facto de algumas terem beneficiado de novas estruturas de saúde com incineradoras.

Consciencialização - A consciencialização do consumidor para solucionar os problemas que o país vive relacionados com os resíduos deve ser o principal objectivo para os próximos anos, disse a ministra do Ambiente. O Executivo angolano, destacou, aprovou a estratégia de educação ambiental que deve atender 34

a consciencialização como caminho para a prevenção da produção dos mesmos. A estratégia, referiu, prevê ainda o desenvolvimento de campanhas para apelar os cidadãos em relação ao impacto da acção humana sobre o ambiente, cujos efeitos tem impulsionado a economia verde, definida como aquela que resulta numa melhoria do bem-estar e da equidade

social, reduzindo os riscos para o ambiente e a escassez ecológica. "O investimento e a inovação deverão ser incentivados, sustentando, deste modo, o crescimento e favorecendo o aparecimento de novas oportunidades de negócios e de criação de emprego, com uma crescente utilização eficiente dos recursos”, reiterou. In J.A.

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SOCIEDADE

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FIGURAS DE CÁ

Palmira Barbosa

DISCIPLINA E ORGANIZAÇÃO Pela primeira vez no governo, Palmira Barbosa, antiga atleta internacional e vencedora de vários campeonatos nacionais de andebol, é considerada ícone na modalidade. Como Ministra da Juventude e Desportos, vai marcando golos na sua função, fundamentalmente por estar constamente a interagir com atletas de outras modalidades desportivas, com especial destaque com os integrantes da selecção de futebol de amputados que se classificaram em segundo lugar no recentemente terminado campeonato mundial realizado na Turquia. Observadores dizem que Palmira entrou e venceu como atleta no Desporto: Hoje, tenta a todo o custo vencer como ministra e a sua aposta está especialmente virada na implementação de uma disciplina organizacional rígida e transparente no sector.

Presidente João Lourenço

APOSTA

João Lourenço, como Presidente da República, dá aos seus coadjutores o exemplo de planificar e realizar contactos mais frequentes com os países irmãos no nosso continente. Na verdade, Angola tem um défice de relacionamento e cooperação, fundamentalmente no domínio económico neste contexto regional. Hoje, a procura de parcerias com outros estados do continente começa a ser mais factual. A cooperação com a vizinha Zâmbia é um exemplo acabado, para além de outros estados, onde a presença da diplomacia angolana, não só política como económica, mais cedo que tarde irão certamente resultar em bons frutos nos termos da cooperação mutuamente vantajosa.

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FIGURAS DE CÁ

Yola Semedo

MAGISTRAL

A cantora Yola Semedo lançou no mercado um novo disco no final de 2022 e aproveitou fazer actuações televisivas para brindar aos seus fãs e interessados a sua mais recente performance musical. "Sou Kizombeira” é o título do disco que tem feito muito sucesso, quer no país como no exterior. Mas Yola aproveita os espectáculos para que os telespectadores apreciem o material videográfico, para além dos números musicais do seu vasto repertório, numa actuação em palco absolutamente magistral.Yola Semedo é, sem dúvidas nenhumas, a eterna "Diva da música angolana".

Bispo Afonso Nunes

TOCOÍSMO No ano do centenário do profeta Simão Toco, que criou a religião tocoísta,os fiéis da vestimenta branca continuam a realizar inúmeras campanhas sociais para atingir as populações mais necessitadas no país . O mentor destas actividades é o Bispo Afonso Nunes, considerado como sucessor de Simão Toco, e líder indiscutível da catedrais tocoístas que se têm espalhado pelo país e o mundo, com realizações de apoio social e cultuiral nas suas múltiplas facetas. Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

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FIGURAS DE CÁ

Marcos Nhunga

EXEMPLO Governador Provincial de Malanje, Marcos Nhunga, engenheiro agrónomo de profissão, mobilizou a população para a limpeza e embelezamento da capital da província. Experiente na agricultura, Nhunga não deixou de dar os seus créditos à jardinagem em torno do palácio provincial e os moradores da cidade aceitaram o repto. Na verdade, não se deve orientar somente a partir do gabinete, mas também dar o exemplo. E Marcos Nhunga fê-lo.

Avelino Miguel

SINDICALISTA! Já algum tempo que o jornalista Avelino Miguel tem os pés bem assentes no sindicalismo, representando especialmente os trabalhadores da comunicação social. A.M. exerceu a profissão durante muitos anos na Angop, onde se destacou na área internacional, no país, tendo mais tarde funcionar como delegado da agência em Portugal e Espanha. Oxalá que o sindicalismo dê bons frutos ao Avelino,tal como o fez no jornalismo.

NAVITA NGOLA

RANÇOSA Navita Ngola,deputada da Unita não esconde o seu espírito rançoso sobre as práticas do parceiro inimigo da casa das leis,o MPLA. De facto, a filha de Eugênio Manuvakola sempre tem opiniões contrárias, o que é natural, sobre as políticas do governo da base MPLA e profere 38

críticas acintosas a governação do executivo de João Lourenço que se acostumou ao debate das mulheres “Conversas no Feminino” em que ela participava. Acintosa ou não, afinal, a prática dos deputados da oposição é está de concordar ou discordar com o opositor.

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FIGURAS DE CÁ

Dalva Ringote

CALOIRA Dada como "Ministra de Estado para as Relações Sociais", Dalva Ringote tem dado trunfos neste domínio, desdobrando-se em várias actividades, quer acertando interesses profissionais, quer concedendo inúmeras audiências a embaixadores que a procuram com o fito de reforçar a cooperação existente entre Angola e os países que representam. Enfim… Dalva Ringote demonstra que, afinal, no governo de João Lourenço, é um trunfo a considerar.

Maria do Rosário Bragança

PROJECTAR O FUTURO Maria do Rosário Bragança é Ministra do Ensino Superior e pelo menos se interessa pelos planos dos estudantes que frequentam as universidades do País, tendo em vista as suas formações para contribuir no desenvolvimento sustentável do País. De facto, Rosário Bragança, no país e no exterior, procura sinergias para que os jovens se formem Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

cabalmente, uma vez que saem do ensino primário com défices, fundamentalmente na disciplina Português. Afinal, é também tarefa dela, não obstante os docentes dizerem que "apertam" na referida disciplina em diversas escolas primárias. Ao mesmo tempo, reinvindicam a aprendizagem cabal dos alunos, a partir do ensino básico. 39

ECONOMIA & NEGÓCIOS

União Europeia

MELHORA OU NÃO MELHORA; SEMPRE LIGEIRAMENTE... A saúde da economia da Zona Euro conhece prognósticos não totalmente coincidentes. Desde sinais ligeiramente positivos a dúvidas sobre a saúde das contas. Eurostat, Comissão Europeia, Banco Central Europeu, Banco Mundial e instituições privadas não prevêem exactamente o mesmo. O novo ano trouxe a Croácia para o grupo de países que usam o Euro.

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Por: João Barbosa / Fotos Arquivo NET

Direcção-Geral dos Assuntos Económicos e Financeiros, da Comissão Europeia, reporta uma melhoria da confiança económica na União Europeia, em Dezembro. O Indicador de Sentimento Económico (ISE) avançou 1,5 pontos, colocando-se em 94,2, no conjunto do bloco, e 1,8 na Eurozona, passando para 95,8 – numa tabela de 100 pontos. O avanço alavancou-se em todos os sectores, mas especialmente no comércio de retalho, serviços e consumo. O melhor desempenho verificou-se na Alemanha (dois pontos) e em França contraiu 1,3 pontos. 40

Segundo o Fundo Monetário Internacional, metade dos países da União Europeia vai entrar, este ano, em recessão. A razão deriva da situação na Ucrânia. A directora-geral da instituição refere que o embate acontecerá igualmente nos Estados Unidos e na China, afectando também todo o planeta. Kristalina Georgieva prevê uma desaceleração de 2,7% este ano, contra 3,2% de 2022. Numa entrevista à estação televisiva norte-americana CBS, a chefe do FMI aconselhou os responsáveis de bancos centrais: «é preciso ter uma queda credível da inflação e só depois pensar em reequilibrar os juros». O Banco Mundial prevê uma desaceleração «brutal» do crescimento da

Eurozona. No Global Economic Prospects, para 2023, a instituição refere que não se verificará uma recessão, mas uma estagnação. O mau desempenho sentir-se-á também nos EUA e na China, mas o pior acontecerá no bloco europeu. Por seu turno, o Goldman Sachs prevê um crescimento económico na Zona Euro, afastando a hipótese de recessão. Este banco antecipa um crescimento de 0,6%, contra 0,1% adiantado num relatório anterior.

Atenção à inflação - O Eurostat, na estimativa rápida, calcula uma variação homóloga da inflação, em Dezembro, de 9,2%. A confirmar-se, esta será a segunda vez e consecutiva. Face a Novembro, a taxa compara com 10,1%. O instituto estatístico europeu indica que as menores variações verificaram-se em Espanha (5,6%), Luxemburgo (6,2%) e França (6,7%). As maiores aconteceram na Letónia (20,7%), Lituânia (20%) e Estónia (17,5%). Em Portugal foi de 9,6%, abaixo 0,3 pontos percentuais. A performance justifica-se sobre-

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ECONOMIA & NEGÓCIOS

tica monetária restritiva. Em entrevista à Zeitschrift für das gesamte Kreditwesen, revista alemã especializada em economia e finanças, o presidente do Bundesbank refere que pesquisas mensais, às empresas e famílias, apontam para uma melhoria significativa das expectativas da inflação a longo prazo. Isso justifica a manutenção da política monetária para travar a inflação.



No terceiro trimestre do ano passado situou-se em 10,1%. A situação deveu-se ao ritmo mais lento da formação bruta de capital fixo (0,6%) face ao rendimento bruto disponível (2,3%).



tudo nos preços da energia. A subida foi em Novembro, em termos homólogos, de 34,9% e em Dezembro 25,7%. Nos alimentos não transformados, álcool e tabaco passou de 13,8% para 13,6%; nos bens industriais não energéticos sucedeu de 6,4% para 6,1%; bens e serviços evoluiu de 4,4% para 4,2%. O governador do Banco de Portugal vê sinais positivos relativos à inflação na Zona Euro. Mário Centeno – antigo ministro das Finanças do primeiro governo de António Costa e membro do Conselho do Banco Central Europeu – refere que em Dezembro o valor ficou abaixo do previsto. O Goldman Sachs considera que o pico da inflação já é passado, devendo fechar o ano em 3,15%, contra previsão anterior de 4,5%. «Esperamos que a inflação subjacente abrande, devido ao arrefecimento dos preços dos bens, mas antecipamos pressão ascendente continuada na inflação dos serviços, devido ao aumento do custo do trabalho». A taxa de inflação subjacente deverá abrandar para os 3,3% até ao final de 2023. Este banco de investimento norte-americano prevê ainda que o Banco Central Europeu (BCE) volte a contrair significativamente a sua política monetária nos próximos meses. Classifica como «muito prováveis» aumentos de 50 pontos-base nas reuniões de Fevereiro e Março. Seguir-se-á um abrandamento do ritmo de subida para os 25 pontos-base, até parar nos 3,25% em Maio. Quanto a juros, o Goldman Sachs adianta que as perspectivas de crescimento mais sustentadas tornam improvável que o Banco Central Europeu comece a cortar taxas. «Não prevemos o primeiro corte até ao quarto trimestre de 2024». Joachim Nagel, presidente do banco central alemão, garante que a Eurozona não está a viver um momento de espiral salários/inflação. Porém, considera que o Banco Central Europeu deve manter uma polí-

A taxa de poupança das famílias da Eurozona baixou para 13,2%, no terceiro trimestre de 2022. Este foi o sexto recuo consecutivo desde o primeiro trimestre de 2021, quando se situou em 21,5%. O Eurostat explica este movimento com o crescimento mais rápido das despesas de consumo (2,5%) face ao rendimento disponível (2,3%). A taxa de investimento das famílias da Zona Euro regrediu 9,9% no quarto trimestre de 2022. Em igual período de 2021 situou-se em 9,6%. No terceiro trimestre do ano passado situou-se em 10,1%. A situação deveu-se ao ritmo mais lento da formação bruta de capital fixo (0,6%) face ao rendimento bruto disponível (2,3%). Tanto a Eurozona quanto o conjunto da União Europeia conheceram, em Novembro, uma estabilização da taxa de desemprego – informações do Eurostat. Nos países da moeda única situou-se em 6,5% e no bloco europeu em 6%. Em Portugal fixou-se em 6,4%. As mais elevadas verificaram-se em

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Espanha (12,4%) e na Grécia (11,4%). As mais baixas aconteceram na Alemanha (3%) e Dinamarca (2,7%). Os preços da produção industrial caíram 0,9% em Novembro face ao mês anterior, tanto na Eurozona quanto no conjunto da União Europeia. O Eurostat estima aumentos homólogos de 27,1%, na Zona Euro, e 27,4%, na globalidade do bloco europeu. Em Portugal verificou-se um recuo de 0,3% mensal e 12,2% na comparação com igual período de 2021. Na Eurozona, por sectores e comparação homóloga, o preço da energia progrediu 55,7%. Os bens de consumo não duráveis registaram subida de 16%; bens intermédios aumentaram 15,3%; bens de consumo duráveis avançaram 9,4%; e bens de capital cresceram 7,6%. A globalidade, sem a energia, valorizou-se 13,1%. No conjunto da União Europeia, no sector da energia os preços avançaram 56%; os bens de consumo não duráveis 17,1%; bens intermédios 15,5%; bens duradouros 9,7%; bens de equipamento 7,7%. Sem a energia, a progressão foi de 13,6%. A produção industrial subiu, em Novembro passado, tanto na Eurozona quanto no conjunto do bloco europeu. Nos então 19 países da moeda única, progrediu 1% em comparação com Outubro e 2% em variação homóloga. Já na globalidade da União Europeia, o avanço foi de 0,9% em cadeia e 2% face a Novembro de 2021. O Eurostat revela que as melhores performances, em variação homóloga, aconteceram na Irlanda (34,9%), Malta (15,5%) e Dinamarca (9,3%). As piores verificaram-se na Estónia (-12,2%), Eslováquia (-10,7%) e Roménia (-4%). Em Portugal recuou 0,3%. Já em cadeia, o organismo estatístico revela que as melhores performances verificaram-se na Irlanda (6,4%), Luxemburgo (5%) e Malta (4,6%). No lado oposto ficaram a Estónia (-3,7%), Suécia (-3,3%) e Croácia (-1,9%). Em Portugal cresceu 2,7%. 41

ECONOMIA & NEGÓCIOS

O Presidente do Conselho de Administração da Sonangol disse que a empresa petrolífera planeia realizar a oferta pública inicial (IPO) de até trinta porcento do capital na Bolsa da Dívida e Valores de Angola (BODIVA) até 2027 bem como uma subsequente listagem de ações numa bolsa de valores internacional.

SONANGOL PROJECTA ALIENAÇÃO DE ACÇÕES NUMA PRAÇA INTERNACIONAL

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de consultores especializados.” Importa realçar que o capital social reflecte apenas o montante investido pelo accionista,o Estado,ao longo dos anos sem ter em conta a Projecção da valorização da empresa no futuro”.



A Sonangol tem um capital social de 12 mil milhões de dólares e realiza-se estudos sobre a valorização que estão a ser actualizados com o apoio de consultores especializados.



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e acordo com Sebastião Gaspar Martins, está concluído o diagnóstico da empresa e definido o roteiro necessário para o processo de cotação da empresa em bolsa até um total de trinta por cento. O PCA adiantou que a “estratégia do IPO passa também,numa primeira fase, por abrir o capital na bolsa nacional BODIVA e posteriormente numa bolsa internacional. A Sonangol está em contacto com vários bancos de investimento e instituições financeiras nos principais mercados de capital que demonstram um forte interesse em participar e apoiar a empresa no processo de listagem. A emissão de 150 milhões de dólares de dívida obrigacionista que está a ser lançada na BODIVA servirá igualmente de ensaio à exigência de preparação de um prospecto,embora com exigências menos rigorosa comparado a um IPO”. A Sonangol tem um capital social de 12 mil milhões de dólares e realiza-se estudos sobre a valorização que estão a ser actualizados com o apoio

A Sonangol vai divulgar os seus resultados de 2022 em Fevereiro e Sebastião Martins vê indicadores mantendo “a tendência de melhoria depois de o lucro líquido ter subido 152 por cento, para 2,1 mil milhões de dólares,em 2021, revertendo perdas anteriores e atingindo o melhor resultado em oito anos. Sonangol no Banco Millennium BCP - A Sonangol admite a possibili-

dade de fusões no Banco Comercial Português (BCP), admitiu Sebastião Martins quando questionado sobre a união entre o BCP e o Novo Banco que o governador do Banco de Portugal considerou que traria “sinergias benéficas”. “Acreditamos que a medida em que qualquer movimento de fusão reforce a nossa posição no que diz respeito ao aumento de vantagens competitivas e diversificação do risco, vamos continuar a prestar atenção ao comportamento dos mercados e as nossas decisões serão baseadas em avaliações a serem feitas antes de qualquer movimento. Acreditamos sim,que uma potencial fusão do Banco Millennium BCP deverá ser com outra instituição que promova o aumento do valor do banco e melhore as suas cotações na bolsa”, pontualizou Sebastião Martins, PCA da Sonangol que detém 19,49 por cento do capital do BCP, abaixo apenas dos 29,95 por cento detidos pelo grupo chinês Fosun. Recorde-se que a Sonangol detém participações no Millennium BCP e na Galp, petrolífera portuguesa por interesses estratégicos,como considerou Gaspar Martins.

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

O poder da computação

A VIAGEM QUE NOS LEVOU À “NUVEM” Por: *Daniel Castanho Paes *

É quase difícil de acreditar que os primeiros Routers de utilização comercial (equipamento que permite a interligação de diversas redes locais distintas por protocolo IP - Internet Protocol , possibilitando assim a existência e contínua expansão da maior rede de dados mundial - a Internet); só foi inventado em 1984 (protótipo) e lançado em versão comercial, em 1986 pela empresa Cisco Systems. Ainda não fez 40 anos, e já Angola era independente quando tudo começou nesta frente tecnológica, que hoje é tão importante na forma como vivemos, trabalhamos, aprendemos e nos entretemos!

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a sequência do trabalho pioneiro feito nos Estados Unidos pela DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency) nos anos 70, o conceito inicial do que veio a ser o Router IP, foi descrito pela primeira vez em 1981 por Vint Cerf e Bob Kahn no artigo académico "A Protocol for Packet Network Intercommunication". O documento delineou os princípios básicos do Protocolo de Internet (IP) e do Protocolo de Controle de Transmissão (TCP), que formam a base da internet moderna. Mas mesmo antes de haver o protocolo IP e Routers para encaminhar entre redes e possibilitar a Internet, já unidades centrais de computação , que se conheciam como “Mainframes”, que no fundo eram para a altura uns “super-computadores” onde todo o processamento acontecia, e

com as quais se comunicava com uns terminais constituídos por teclado e monitor, onde se fazia o “input” dos dados ou consultas, recebendo depois a resposta ou “output” nos limitados e pequenos ecrãs monocromáticos de fósforo verde. Muito usado na banca, por exemplo, com os terminais nas agências, e o Mainframe na sede. A comunicação remota era feita dos terminais para o Mainframe (unidade de computação central), ponto a ponto, por protocolos anteriores ao protocolo IP e já obsoletos hoje em dia como por exemplo o SNA (Systems Network Architecture) desenvolvido pela IBM, ou o DECnet, desenvolvido pela Digital Equipment Corporation (DEC), empresa já extinta, pois foi comprada nos anos 80 pela Compaq, tendo esta última, por sua vez sido adquirida em 2002 pela HP (Hewlett-Packard). O Protocolo IP, não sendo proprietário, como o

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

das comunicações não acompanhou tão rápido... Assim o poder de computação ficou distribuído, e era preciso haver em cada escritório ou agência/ filial não só os PCs, bem como os servidores locais. Com a informação distribuída desta forma, a gestão de backups era muito complexa, pois não se podia (ainda) fazer de forma expedita pela rede (não havia capacidade de largura de banda para tal). Estes sistemas distribuídos, tinham um maior custo de manutenção, implementação e gestão e dificuldades acrescidas, bem como as dificuldades em gerir e manter salvaguarda toda a informação da empresa.



Com a evolução dos computadores para os PCs (Personal Computers), que surgiram em força nos anos 90, o poder de computação democratizou-se e distribuiu-se. Agora cada funcionário tinha um PC na sua secretária.

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SNA e o DECnet eram, permitiu, com a ajuda da ISO (International Standards Organization) uniformizar e estandardizar o protocolo a usar, possibilitando assim uma rede global de dados como é a Internet. Os grandes limitadores de outras alternativas na altura, eram o elevado custo, peso e tamanho dos computadores existentes (tinham que existir apenas de forma central os tais “Mainframes”) bem, como a limitação nas comunicações de dados, que na altura aconteciam “em cima” da rede de voz, ou seja na infra-estrutura que existia e se usava para as chamadas de voz do serviço telefónico fixo, e com a ajuda dos já há muito ultrapassados Modems (Modulator/ DEModulator) que permitiam passar comunicações digitais de dados, “em cima” de redes e infraestruturas analógicas desenhadas e concebidas inicialmente para Voz analógica. Com a evolução dos computadores para os PCs (Personal Computers), que surgiram em força nos anos 90, o poder de computação democratizou-se e distribuiu-se. Agora cada funcionário tinha um PC na sua secretária. Mas a velocidade

Avançando depressa para irmos ao tema que nos propomos abordar, foi exactamente a evolução das redes de dados, em disponibilidade (tanto geograficamente, como também em serviço móvel e não apenas fixo), bem como em largura de banda aumentada, e cada vez com menor latência (tempo de resposta da rede) que permitiu, concentrar de novo o poder de computação e os serviços que precisamos de usar num ponto central, que chamamos milagrosamente e simplesmente, de “nuvem”. Para a maioria dos utilizadores, empresariais ou particulares, é completamente indiferente se o servidor de e-mail que precisam de contactar para receber o seu e-mail do Gmail ou Outlook.com (o antigo Hotmail) ou até do e-mail da empresa, se encontra num Data Center, em Luanda, em São Paulo, ou em Miami. O importante para o utilizador e para as empresas é que os serviços que os seus funcionários precisam de aceder, estarem disponíveis, e que os custos de manutenção, implementação e operação sejam optimizados (o que é possível pela centralização das operações e sistemas).

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Como vimos em cima, existem várias vantagens de usar serviços na “Nuvem”, e podemos sumarizar

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as mais importantes: . ECONOMIA DE CUSTOS: O Cloud Computing, pode reduzir o custo da infra-estrutura e das operações de TI, a empresa pode pagar apenas pelos recursos que usa e aumentar ou diminuir conforme necessário, de forma mais ágil e célere (pois os servidores virtuais no fornecedor de serviço são simples de implementar) sem ter os custos de compra de hardware e software a nível permanente, e ter de gerir as implementações e actualizações bem como as renovações de Hardware.

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Para a maioria dos utilizadores, empresariais ou particulares, é completamente indiferente se o servidor de e-mail que precisam de contactar para receber o seu e-mail do Gmail ou Outlook.com (o antigo Hotmail) ou até do e-mail da empresa, se encontra num Data Center, em Luanda, em São Paulo, ou em Miami.

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Então, temos que o “Cloud Computing” ou mais simplesmente e em Português, a “Nuvem” refere-se à entrega de serviços de computação – incluindo servidores, armazenamento, bases de dados, serviços de rede, software, backups, entre outros – pela Internet (“a nuvem”) para possibilitar pelo facto de ser implementado centralmente em grandes Data Centers, usados por diversas empresas e particulares; actualizações mais rápida, recursos flexíveis e grandes economias de escala. Podemos usar a nuvem para aceder a recursos de tecnologia, como máquinas virtuais e armazenamento, pela Internet, pagando apenas o que se usar. Isto permite que se aumente ou diminua conforme necessário com agilidade operacional, e pague apenas pelo que se usar. Os serviços de Cloud Computing (a tal Nuvem) mais comuns são Infra-estrutura como Serviço (IaaS), Plataforma como Serviço (PaaS) e Software como Serviço (SaaS). Assim, podemos ter uma empresa, que para cada funcionário define que Infra-estrutura esse funcionário precisa de ter disponível, bem como quais as plataformas e Software precisa de usar, pagando a empresa apenas os recursos (capacidade e licenças) que forem consumidos e podendo ter a sua informação centralmente protegida em backups, em um ou mais Data Centres, inclusivamente geograficamente separados (Geo Redundancy) para garantir a disponibilidade dos dados mesmo em casos de fatalidade e falha num site físico em particular. Alguns exemplos de fornecedores de serviços global de “Cloud Computing com, oferta de serviços públicos e generalizados na Nuvem, são os conhecidos, Amazon Web Services (AWS), Microsoft Azure e Google Cloud Platform (GCP) para referir os mais populares.

. ESCALABILIDADE: Os recursos de nuvem são altamente escaláveis e flexíveis, permitindo que as empresas se ajustem facilmente às necessidades de negócios em constante mudança e gerir melhor a flutuações operacionais concretas a cada momento.

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. AGILIDADE: A computação em nuvem permite a implantação mais rápida de novos Softwares/ Aplicações e serviços, bem como inovação e experimentação e teste mais rápidos. O Go to Market, pode ser em muito reduzido, com significativa vantagem em custos e tempo de resposta.

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. FLEXIBILIDADE: A computação em nuvem permite o acesso remoto aos recursos, permitindo que os funcionários trabalhem de qualquer lugar com conexão à internet.

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. CONFIABILIDADE: Os fornecedores de serviços na nuvem, geralmente possuem vários Data Centers, oferecendo redundância e backups permitindo alta disponibilidade para as aplicações e dados das empresas clientes.

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. COLABORAÇÃO FACILITADA: Os serviços em nuvem podem ser facilmente compartilhados entre equipes e partes interessadas, facilitando a colaboração e a partilha de informações.

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. AMIGO DO AMBIENTE: Através da partilha centralizada e mais eficiente de recursos, resulta em menor consumo de energia e menores emissões de carbono Ora, se por um lado há vantagens, também é importante rever que desvantagens pode haver neste modelo operacional.

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. PREOCUPAÇÕES DE SEGURANÇA: Armazenar dados e executar aplicações em servidores remotos pode gerar preocupações de segurança, como o risco de violação de dados ou acesso não autorizado a informações confidenciais. Para minimizar este risco, precisamos de usar encriptação end-to-end, e garantir que os dados e os backups também são guardados de forma encriptada. O armazenamento de dados confidenciais em servidores externos pode aumentar as preocupações com a privacidade, principalmente se houver localização de dados num país diferente.

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. CONTROLE LIMITADO: Ao usar serviços em nuvem, de-

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

parte dos seus dados e aplicações.

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pendemos da empresa de serviços para manutenção e actualizações, o que pode limitar o nosso controle e agilidade sobre o ambiente de produção (sobretudo nos casos de empresas que precisam de um uso mais avançado e personalizado de sistemas de tecnologia).

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. DEPENDÊNCIA DA INTERNET: A computação em nuvem requer uma conexão estável e fiável à Internet, o que pode ser um problema em áreas com conectividade limitada. Claro que neste modelo a comunicação com os fornecedores de serviço é mandatória e deve haver redundância de alternativas , mas é um risco e um factor a ponderar, dependo do nível de serviço de da-

dos que os utilizadores têm acesso na zona onde precisam de usar os sistemas na nuvem.

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. LIMITAÇÃO DO FORNECEDOR: Dependendo da empresa escolhida e dos serviços usados, migrar para um fornecedor diferen-

te ou solução local pode ser difícil, caro ou impossível.

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. PROBLEMAS DE CONFORMIDADE (COMPLIANCE): Determinados sectores de actividade ou regiões podem ter regulamentos que proíbem ou limitam o uso de serviços na nuvem, por questões de compliance, por exemplo, o que pode afectar sua capacidade de usá-los, ou apenas poderem usar para

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. PROPRIEDADE LIMITADA: Nas utilizações de fornecedores de serviços na Nuvem, a empresa não possui a infra-estrutura e o software (que já vimos ter vantagens a nível de custos), apenas os aluga e, se o provedor fechar ou alterar suas políticas, você poderá perder o acesso aos seus dados e aplicativos (sendo um risco neste caso) Em suma, vimos de onde começamos e como a evolução de tecnologias em paralelo (sistemas e redes de comunicação) nos permitiu chegar à possibilidade, que faz em muitos casos, sentido (económico e operacional) de usar serviços de fornecedores de Plataforma, Infa-estrutura e Software como serviços disponibilizados na nuvem (o tal “Cloud Computing”) Por questões de disponibilidade, compliance, estratégia e segurança, pode ser preferível usar modelos híbridos (parte dos serviços na nuvem, outros em infra-estrutura própria, ou seja uma mistura de Public e Private Cloud), ou no limite, e em casos muito específicos, a opção (apesar das possibilidades e ganhos possíveis em agilidade e custo das opções na nuvem ou até de modelo Híbrido) de optar por uma clássica Private Cloud, que no fundo é equivalente às estruturas associadas ao passado, onde cada empresa planeia, implementa e mantêm a sua própria infraestrutura mesmo com custos mais elevados de implementação e operação, e menor agilidade operacional. Cada caso é um caso, e por isso a importância de saber de onde viemos e para onde caminhamos, para adequadamente planear e aplicar o modelo que fizer mais sentido, a cada circunstância e desafio operacional. *Daniel Castanho Paes Consultor em Estratégia, Digitalização e Inovação. [email protected].

47

DOSSIÊ Terrorismo em Brasília: Sedes dos 3 poderes foram destruídas num ataque sem precedentes na história do Brasil. Lula decretou intervenção na segurança do DF, e Alexandre de Moraes afastou governador por 90 dias.

O DIA EM QUE DEPREDARAM

B

olsonaristas radicais, golpistas e criminosos invadiram e depredaram no passado dia 8 de Janeiro o Congresso Nacional , o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, sede da Presidência da República, em Brasília. O ataque às sedes dos 3 Poderes e à democracia é sem precedentes na história do Brasil. Os terroristas quebraram vidraças e móveis, vandalizaram obras de arte e objectos históricos, invadiram gabinetes de autoridades, rasgaram documentos e roubaram armas.

O prejuízo ao património público, de todos os brasileiros, ainda não foi calculado. Até o fim da noite daquele dia fatídico, mais de 500 pessoas haviam sido presas. O presidente Lula, que estava em SP no momento dos atentados, voltou a Brasília à noite e decretou intervenção federal para assumir a segurança pública do Distrito Federal, onde está Brasília. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, afastou do cargo por 90 dias o governador do DF, Ibaneis Rocha. Dias mais tarde, o ex-ministro da Justiça do Brasil detido quando aterrou em Brasília na sequência da tentativa do golpe de Estado. Anderson Torres era à data dos ataques secretário de Segurança de Brasília. O responsável pelo esquema de segurança da Esplanada dos Ministérios é suspeito de ter actuado de forma a não evitar invasão. O ex-governante foi ouvido du48

rante a tarde por um juiz para que fosse avaliado se existiam eventuais ilegalidades em relação à sua detenção. A sessão, conduzida pelo desembargador Airton Vieira do gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Morais, terminou

oito horas depois para mais tarde ser levado para uma unidade da Polícia Militar, conforme revelou a Folha de S. Paulo, que acrescentou que o ex-governante deverá prestar novos depoimentos. Anderson Torres foi "recebido" à

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DOSSIÊ

OS BOLSONARISTAS M OS PODERES

chegada ao Brasil pela Polícia Federal, para que pudesse ser detido na sequência da invasão aos Três Poderes no passado dia 8, em Brasília. Torres era à data dos ataques secretário de Segurança do Distrito Federal, responsável pelo esquema de segurança da

Esplanada dos Ministérios. Segundo as autoridades, esse esquema de segurança não foi preparado de forma proporcional, tendo havido uma conivência e omissão por parte do então secretário de Segurança, que acabou exonerado no próprio

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dia. Recorde-se que as autoridades tinham informação antecipada de que este ataque iria acontecer — foi, por isso, também detido o comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, o coronel Fábio Augusto Vieira. Foi por tais indícios que Alexandre 49

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tempo para que ele se apresentasse às autoridades voluntariamente e assim aconteceu . Caso a apresentação não se confirmasse, por intermédio dos mecanismos internacionais, vamos deflagrar (...) os procedimentos voltados à extradição, uma vez que há ordem de prisão”, ameaçou o actual ministro.

Documentos comprometem

TORRES: O GOLPISTA

N

Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, decretou a prisão do ex-governante do Executivo de Jair Bolsonaro. Anderson Torres viajou na madrugada deste sábado a bordo de um aparelho da companhia brasileira GOL, vindo da Flórida, EUA, onde estava de férias com a família, tal como



Segundo as autoridades, esse esquema de segurança não foi preparado de forma proporcional, tendo havido uma conivência e omissão por parte deo então secretário de segurança, que acabou exonerado no próprio dia.



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o ex-Presidente. Assim que chegou ao Brasil,mas antes de ser detido formalmente foi levado ao Instituto Médico-Legal da capital brasileira para fazer o “exame corpo delito”, para que depois fosse formalizada a prisão decretada pelo Supremo. Segundo noticiado pela imprensa brasileira, Anderson Torres ficou detido no Complexo Penitenciário da Papuda, numa ala destinada a agentes da Polícia Federal (a sua profissão de origem) — conhecida como a “Papudinha”.

as buscas realizadas à casa do ex-ministro, após o ataque a Brasília, as autoridades encontraram uma minuta de um decreto que teria o objectivo de instaurar o estado de defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral e, assim, conseguir alterar o resultado das eleições de 2022. No seu Twitter, Anderson Torres chegou a reagir às buscas, no dia 12, dizendo que os documentos foram revelados “fora de contexto, ajudando a alimentar narrativas falaciosas contra [si]”.

Regresso após ultimato - O regresso do ex-ministro aconteceu horas depois de o actual titular da pasta ter deixado claro que o tempo estava a esgotar-se. Flávio Dino, actual ministro da Justiça e Segurança Pública, disse que as autoridades aguardariam um curto espaço de

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No Palácio do Planalto

TERRORISTAS URINARAM E DEFECARAM Paulo Pimenta, ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, conversou com jornalistas logo após ao assalto à Brasília e revelou que terroristas bolsonaristas urinaram e defecaram no Palácio do Planalto, um dos alvos da onda de depredação a prédios dos Poderes públicos no passado dia 8 de Janeiro.

"

O pessoal [que testemunhou o ataque] disse que parecia um bando de pessoas com ódio, fora de si, um bando de zumbi", afirmou. "Corriam pelos corredores, quebravam tudo, urinavam, defecavam nos corredores, dentro das salas". Nas redes sociais, o ministro já havia revelado que radicais roubaram armas e

munições de dentro do Palácio do Planalto. Além disso, algumas obras de arte foram danificadas e outras completamente destruídas. No dia 8, apoiadores de Bolsonaro invadiram as sedes dos Três Poderes - o prédio do Congresso Nacional e o do Supremo Tribunal Federal também foram vandalizados - e deixaram um rastro de destruição.

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O presidente Lula (PT) decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal. Já o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou o afastamento por 90 dias do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e remoção de acampamentos bolsonaristas em todo o País. Entretanto, um dia depois, um grupo de bolsonaristas radicais colocou fogo em pneus, madeiras e lixo para provocar um bloqueio na Marginal Tietê, uma das principais vias expressas de São Paulo, complicando o trânsito . Motoristas parados pelo bloqueio publicaram vídeos nas redes sociais, que mostram o trânsito interrompido e a barreira de entulhos incendiados.

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Imprensa internacional reage

FOI UM "ASSALTO À DEMOCRACIA, "UM GOLPE" !! Os ataques feitos por terroristas aos prédios do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF), foram destaque na capa dos principais jornais do mundo. Na maior parte dos veículos de comunicação internacional, o assunto foi a manchete - título da notícia mais importante do dia. Em todos, é destacado que os actos criminosos foram realizados por um grupo de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A manchete do The Washington Post, jornal dos Estados Unidos, afirma que "Repartições do governo do Brasil foram atacadas".

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A

imprensa brasileira continua a destacar que mais de 1500 pessoas terão sido já detidas, inquiridas e prontas para serem julgadas proximamante em diferentes regiões dos estados da República. A Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal informou que 904 homens e 494 mulheres presos nos ataques aos prédios

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(...) A maioria das pessoas levadas à academia da PF estava no acampamento montado em frente ao quartel-general do Exército em Brasília. Segundo os cálculos da polícia, 300 foram detidos na Praça dos Três Poderes no domingo e 1.200, no QG, no dia seguinte.



dos Três Poderes foram encaminhados para penitenciárias. Os presos homens foram levados para o Centro de Detenção Provisória do Complexo da Papuda e as mulheres para a Penitenciária Feminina do DF. A maior parte dos bolsonaristas foi presa no acampamento em frente ao quartel-general do Exército de Brasília —desmontado por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), um dia após os ataques. Audiências de custódia devem ser encerradas até domingo (15). O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) informou que o ministro do STF Alexandre de Moraes autorizou que os juízes façam audiências em sistema de mutirão. Segundo o conselho, outras 599 pessoas foram liberadas após serem fichadas. (...). Como são os presídios? A Papuda é o maior complexo penitenciário de Brasília, formado por quatro unidades, com capacidade de 5.300 detentos, mas reúne 12 mil pessoas, enfrentando superlotação. O complexo já abrigou presos famosos, como Marcola, considerado líder do PCC (Primeiro Comando da Capital), e os ex-deputados José Dirceu e José Genoino, presos após investigação do Mensalão. Já a Colmeia possui dois blocos — um para prisão provisória e outro para regime semiaberto. Os detidos pela Polícia Federal foram levados à Academia Nacional de Polícia para uma triagem de investi-

gação do órgão. Instalados dentro de uma quadra poliesportiva coberta e com amplo gramado aberto, os detentos e seus advogados reclamam de falta de direitos humanos. A advogada Nalva Brito afirmou que o local está "parecendo um campo de concentração nazista". "É co-

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mida estragada, maus-tratos", disse a respeito do tratamento da PF, que disponibilizou bicicleta ergométrica aos detentos. (...) A maioria das pessoas levadas à academia da PF estava no acampamento montado em frente ao quartel-general do Exército em Brasília. Segundo os cálculos da polícia, 300 foram detidos na Praça dos Três Poderes no domingo e 1.200, no QG, no dia seguinte. O agrupamento no Exército começou no fim de Outubro, quando Bolsonaro perdeu as eleições. Manter milhares de pessoas durante mais de dois meses exigiu infra-estrutura para garantir o atendimento de necessidades básicas. O acampamento se mantinha com um esquema que envolvia caminhões-pipa enchendo as caixas d'água todas as manhãs, geradores garantindo energia eléctrica e serviço de limpeza. 53

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Apontado por Lula

QUEM É O NOVO COMANDANTE DO EXÉRCITO?

Segundo um levantamento da Defensoria Pública da União, em ao menos seis casos, Moraes estabeleceu a prisão preventiva, contrariando a posição do Ministério Público, que havia recomendado a liberação da pessoa ou outras medidas, como prisão domiciliar.

N

um relatório sobre os direitos humanos desses presos, a Defensoria Pública da União argumenta que a lei 13.964/2019, ao alterar o Código Processo Penal para eliminar a possibilidade de prisão "de ofício" pelo juiz, na prática "vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva, ou imposição de me54

didas cautelares diversas da prisão, sem o prévio requerimento do Ministério Público, seja no curso da investigação criminal ou do processo". No entanto, a decisão de Moraes não é totalmente inovadora nesse ponto, pois há um precedente de 2022 do STJ, estabelecendo que, se houver pedido do Ministério Público por outras medidas cautelares mais leves que a prisão, o juiz poderá op-

tar por prender o investigado, sem que essa decisão seja considerada de "ofício". Há ainda, porém, outras controvérsias na detenção massiva dos suspeitos de crimes no 8 de Janeiro. Na avaliação da DPU, a acção contra centenas de pessoas a partir da decisão genérica de Moraes resultou em prisões que não cumpriram os trâmites previstos na lei e deveriam ser ime-

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diatamente revertidas. "No decorrer das audiências de custódia realizadas, observa-se uma grande quantidade de autos de prisão em flagrante deficitários, isto é, não instruídos com a documentação indicada no artigo 304 e seguintes do Código de Processo Penal, tais como oitiva do condutor (autoridade que efectua a prisão), testemunhas e exame de corpo de delito", destaca o relatório da Defensoria. "Assim, em atenção à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que reconhece o auto de prisão em flagrante como acto de formal documentação, a manutenção das privações de liberdade mesmo diante dos autos de prisão sem os documentos exigidos por lei, configura quadro que deve ser sanado pelo imediato relaxamento das prisões efectuadas em desacordo com a legislação", diz ainda o documento da DPU. Já Rafael Mafei, da USP, considera que as centenas de prisões foram necessárias para identificar os potenciais criminosos, já que houve uma "turba de milhares de pessoas tentando um golpe de Estado". Se não houvesse uma acção imediata, diz, as pessoas retornariam para suas casas em diferentes cantos do país, dificultando a acção da Justiça na apuração e punição dos graves crimes cometidos no 8 de Janeiro. "O correcto a se fazer nesse caso, quando há suspeita de uma pessoa que está cometendo um crime ou que acabou de cometer o crime, é recolher essa pessoa, levar até um lugar onde ela fique à disposição das autoridades, até que se possa avaliar a participação dela naquele episódio, minimamente, e decidir se ela precisa ficar preventivamente presa ou não", afirma Mafei. "O que você não pode é, depois de avaliar a participação daquelas pessoas, manter preso quem a lei manda que seja solto, que responda o processo em liberdade", acrescentou. Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

CONTROVÉRSIAS ANTERIORES

A

pesar de defender a actuação de Moraes na reação ao 8 de Janeiro e, de modo geral, na condução dos inquéritos que passaram a investigar ataques à Corte e ao Estado Democrático de Direito desde 2019, o professor da USP critica algumas decisões do ministro, como a operação contra empresários bolsonaristas em agosto de 2022. Na ocasião, Moraes autorizou a apreensão de celulares e o bloqueio de contas bancárias e de perfis dos empresários nas redes sociais após uma reportagem do portal Metrópoles revelar que eles teriam apoiado um possível golpe de Estado em conversas em um grupo de WhatsApp. Para Mafei, as medidas "parecem excessivas", já que não houve uma investigação prévia à operação que indicasse uma articulação concreta dos empresários para de facto empreender um golpe de Estado. "Teve gente que sofreu restrições ou coações por condutas no grupo de Whatsapp que eram absolutamente insignificantes. Pareceu-me uma medida principalmente com papel intimidatório em relação a pessoas que estivessem cogitando algum tipo de apoio mais explícito a iniciativas

golpistas o que não é o uso próprio daquelas medidas legais", analisa o professor da USP. No geral, porém, Mafei considera que a actuação de Moraes tem sido correcta no enfrentamento de sérios ataques e ameaças ao Estado Democrático de Direito. E, na sua avaliação, há um apoio das instituições a essa actuação, já que o plenário do STF têm confirmado decisões do ministro e o Congresso não tomou medidas para contê-lo, como instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigá-lo ou abrir um processo de impeachment, embora haja dezenas de pedidos nesse sentido apresentados no Senado. "Então, existiu uma ameaça real, a grande ameaça que já houve à ordem democrática de 1988, porque ela tem estrutura, tem financiamento, tem liderança política, tem uma articulação comunicacional, tem pessoas dispostas a agir e, inclusive, se submetendo às consequências mais graves", avalia o professor. "E há um conjunto de dispositivos legais que está sendo interpretado não pelo Alexandre de Moraes (isoladamente), mas pelo Supremo, com apoio das outras instituições, de maneira a reagir a esses ataques", reforçou. 55

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Condenação veio de todos os cantos do globo

LÍDERES MUNDIAIS CONDENAM TENTATIVA DE GOLPE Líderes de diversos países condenaram a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, ocorrida recentemente. Em postagens nas redes sociais, chefes de Estado e de Governo manifestaram solidariedade e ofereceram apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.



A vontade do povo brasileiro e as instituições democráticas devem ser respeitadas! O presidente Lula pode contar com o apoio incondicional da França”, escreveu, na rede social Twitter, o primeiro ministro francês, Emmanuel Macron. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também condenou os ataques. "Condeno o ataque à democracia e à transferência pacífica do poder no Brasil. As instituições democráticas do Brasil têm todo o nosso apoio e a vontade do povo brasileiro não deve ser prejudicada. Estou ansioso para con-

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden

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Primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez

tinuar a trabalhar com @LulaOficial", escreveu no Twitter. O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, também se pronunciou. “Todo meu apoio ao presidente Lula e às instituições eleitas livre e democráticamente pelo povo brasileiro. Condenamos veementemente o assalto ao Congresso brasileiro e pedimos o retorno imediato à normalidade democrática”, postou. Presidentes latino-americanos também repudiaram os actos antidemocráticos em Brasília. “Toda minha solidariedade a Lula e ao povo do Brasil. O fascismo decide dar um golpe. As direitas não puderam manter o pacto da não violência. É hora urgente de reunião da OEA [Organização dos Estados Americanos] se quiser seguir viva como instituição e aplicar a carta democrática”, escreveu o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que fez a postagem poucos minutos após a invasão ao Congresso Nacional. O presidente do Chile, Gabriel Boric, considerou “inadmissível” a ocupação da Praça dos Três Poderes. “Ataque inadmissível aos três poderes do Estado brasileiro pelos bolsonaristas. O governo

brasileiro tem todo o nosso apoio diante desse covarde e vil ataque à democracia”, postou Boric nas redes sociais. “Como presidente da Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos] e do Mercosul, ponho em alerta os países membros para que nos unamos nesta inaceitável reacção antidemocrática que tenta se impor noBrasil. Demostremos com firmeza e unidade nossa total adesão ao governo eleito democraticamente pelos brasileiros que encabeça o presidente Lula. Estamos junto do povo brasileiro para defender a democracia e não permitir nunca mais o regresso dos fantasmas golpistas que a direita promove”, escreveu Fernández.

Presidente do Chile, Gabriel Boric,

ONU - Em nota, a Organização das Nações Unidas (ONU) também condenou os ataques em Brasília e manifestou preocupação diante do ocorrido. "A ONU condena veementemente qualquer ataque dessa natureza, que representa uma séria ameaça às instituições democráticas. A ONU pede às autoridades que priorizem o restabelecimento da ordem e que defendam a democracia e o Estado de direito", diz o texto.

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Antigo aliado diz que golpe de Estado foi debatido em reunião com Bolsonaro

MARCOS DO VAL DISSE QUE BOLSONARO QUERIA SABOTAR A ELEIÇÃO O senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse numa transmissão ao vivo nas suas redes sociais que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo a participar de um golpe de Estado. Em entrevista à revista Veja, o parlamentar detalhou que Bolsonaro o procurou em 9 de Dezembro do ano passado propondo uma forma de tentar impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se manter no poder.

A

ideia de Bolsonaro, segundo contou o senador, era que Do Val gravasse uma conversa sua com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moares, com o objectivo de descredibilizar o ministro. Isso seria o pretexto para executar o golpe. "A ideia era que eu gravasse o ministro falando sobre as decisões dele, tentar fazer ele confidenciar que

agia sem observar necessariamente a Constituição. Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República. Fiquei muito assustado com o que ouvi", contou à Veja. O parlamentar disse à revista que tem uma boa relação com Moraes, iniciada quando o ministro ainda era secretário de Segurança Pública de São Paulo, no governo do hoje vice-presidente, Geraldo Alckmin.

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Naquela época, Do Val ainda não era senador e foi contratado para oferecer um treinamento para a polícia paulista. Ex-militar do Exército Brasileiro, o senador fundou o Centro Avançado em Técnicas de Imobilizações (CATI), que realiza esse tipo de serviço. "Não somos íntimos, mas temos um excelente relacionamento. Por isso — e também por dever cívico e de consciência —, relatei a ele o que estava acontecendo. Era a coisa certa a ser feita", afirmou. 57

DOSSIÊ

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isso tenha influenciado de alguma maneira o que aconteceu. O Daniel disse que eu ia salvar o Brasil e o presidente repetiu", contou ainda Do Val. Silveira foi preso nesta quinta-feira (02/02) por determinação de Moraes, mas a decisão não cita fatos relacionados à denúncia de Do Val. O motivo da prisão é que o ex-deputado, cujo mandato parlamentar acaba de se encerrar, descumpriu as condições impostas para que pudesse estar em liberdade, ao voltar a ameaçar ministros do STF, danificar a tornozeleira electrônica e continuar levantando dúvidas sobre as urnas electrónicas. Moraes preside inquéritos no STF que, desde 2019, investigam aliados e filhos de Bolsonaro, além do próprio ex-presidente, por possíveis ataques ao Supremo e envolvimento em movimentos antidemocráticos como a invasão das sedes dos três Poderes no dia 8 de Janeiro. Por isso, é visto como um inimigo por bolsonaristas. Até à publicação dessa reportagem, Bolsonaro ainda não tinha se pronunciado sobre as acusações do seu antigo aliado. O presidente está vivendo na Flórida.



A ideia era que eu gravasse o ministro falando sobre as decisões dele, tentar fazer ele confidenciar que agia sem observar necessariamente a Constituição. Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República-



Em entrevistas posteriores, às emissoras GloboNews e CNN Brasil, Do Val mudou detalhes de sua versão, afirmando que o presidente apenas escutou a ideia, mas não o coagiu a participar. O plano teria sido apresentado, no encontro, pelo então deputado federal Daniel Silveira. Ainda segundo o senador, Bolsonaro teria assentido com a cabeça e, ao final, dito apenas que esperaria por uma resposta de Do Val sobre sua possível participação. "Sou um democrata, sempre vou lutar para que a democracia permaneça inabalável. Uma operação como a que estava sendo articulado colocaria o Brasil em isolamento mundial, provocaria uma grave crise económica, traria mais miséria e pobreza. As consequências seriam imprevisíveis", disse também. Segundo o relato do parlamentar, o então deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) participou do encontro sobre o golpe. Na sua avaliação. Bolsonaro teria sido instigado por ele a fazer essa proposta. "Sei que o Daniel troca muita informação com o presidente, e talvez

Do Val chegou a anunciar que pretendia deixar seu mandato, mas posteriormente recuou da decisão e disse que continuará no cargo . Já Do Val anunciou na madrugada desta quinta-feira que pretende deixar seu mandato e voltar a viver nos Estados Unidos. "Após quatro anos de dedicação exclusiva como senador pelo Espírito Santo, chegando a sofrer um princípio de infarto, venho através desta, comunicar a todos os capixabas a minha saída definitivamente da política", escreveu em suas redes sociais. "Perdi a convivência com a minha família em especial com minha filha. Não adianta ser transparente, honesto e lutar por um Brasil melhor, sem os ataques e as ofensas que seguem da mesma forma. Nos próximos dias, darei entrada no pedido de afastamento do senado e voltarei para a minha carreira nos EUA", disse ainda no comunicado. Também sobre o assunto, Do Val recuou ao longo do dia, dizendo que teria desistido de renunciar. Entretanto, a Polícia Federal solicitou ao STF autorização para interrogar Do Val a respeito das declarações. O ministro Alexandre de Moraes autorizou a oitiva.

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O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) pediu às autoridades americanas um visto de turismo que lhe permita permanecer mais seis meses nos Estados Unidos. A informação foi confirmada à BBC pelo advogado de Bolsonaro, Felipe Alexandre. "Ele dedicou 34 anos de sua vida ao serviço público e gostaria de tirar uma folga, clarear a cabeça e aproveitar como turista nos Estados Unidos por alguns meses antes de decidir qual será seu próximo passo", afirmou Alexandre.

Advogado diz que Bolsonaro pediu novo visto

EX-PRESIDENTE QUER FICAR MAIS SEIS MESES NOS EUA

S

egundo o advogado, Bolsonaro permanecerá nos EUA enquanto seu pedido estiver sendo considerado. O visto de turismo B1/B2 permitiria que ele permanecesse nos EUA por até seis meses. Bolsonaro ingressou nos EUA no dia 30 de Dezembro, enquanto ainda era presidente do Brasil, e apresentou ao oficial de imigração na Flórida um visto A-1, documento diplomático destinado às autoridades em visitas oficiais. Ele deixou o Brasil antes do fim de seu mandato e não transmitiu a faixa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que assumiu a Presidência do país no dia 1° de Janeiro. De lá pra cá, a situação jurídica de Bolsonaro se complicou: além das

investigações que já enfrentava, Bolsonaro agora é alvo de inquéritos por uma possível incitação à insurgência de seus apoiadores no 8 de Janeiro e por possível negligência de seu governo em relação aos indígenas yanomami. Bolsonaro nega que tenha tido qualquer participação no ataque à Praça dos Três Poderes, que disse ser uma manifestação "que foge às regras". E acusou as denúncias sobre desnutrição grave dos yanomami de ser uma "farsa de esquerda". A permanência de Bolsonaro nos EUA tem causado mal-estar na base democrata do presidente Joe Biden no Congresso. Há duas semanas, dezenas de congressistas pediram em carta a Biden que o governo americano não permitisse o uso do território americano como "refúgio" por Bolsonaro.

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O deputado democrata americano Joaquin Castro, do Texas, disse à BBC News Brasil que o pedido de visto deveria ser negado. Ele afirmou que Bolsonaro "é perigoso e não deveria ser autorizado a permanecer nos EUA". No fim de semana, o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, afirmou que ele poderia voltar ao Brasil "amanhã, daqui 6 meses ou nunca". Bolsonaro chegou a ser internado na Flórida por uma obstrução intestinal, complicação decorrente da facada que ele sofreu em 2018. O médico de Bolsonaro no Brasil, António Macedo, chegou a dizer que ele precisaria se submeter a novo procedimento cirúrgico, mas, segundo Flávio, o pai está em boas condições de saúde.(BBC News Brasil e BBC News em Washington). 59

CONJUNTURA

E se a banca não ajudar a alavancar a economia?

Por: Eugénio Costa Almeida*

Angola continua a ser um país onde a economia assenta, quase em exclusivo, na dependência petrolífera. Este é um facto debatido e rebatido há vários decénios. É indiscutível que, nos últimos anos, o Governo angolano procurou tentar diversificar a nossa economia, procurou que esta fosse um pouco mais resiliente e expansiva, buscando atrair investimento externo.

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OS CAMINHOS IMPREVISÍVEIS DA NOSSA BANCA

E

ste é o grande problema da economia nacional: não temos investidores com capacidade financeira para ajudar a economia nacional ser alavancada e diversificada. Reconheçamos de vez! Porque quando me refiro a investidores, estou a aludir àqueles que têm capital próprio ou são apoiados pela banca nacional e estrangeira. Não me refiro aos que aparecem do nada e mostram ter uma forte e nada discreta aproximação a sectores não económicos ou financeiros… Seria aqui que a banca comercial nacional deveria entrar. Mas…, que banca temos? E o que ela tem feito, em particular nos últimos anos em que a banca nacional – pública ou privada –, principalmente com o maior protagonismo regulador do Banco Nacional de Angola (BNA), parece estar a caminhar para uma estabilização do sector? Ora, tantos os potenciais grandes investidores nacionais – sejam eles quem forem ou que mostrem capacidade para o serem – como os pequenos e médios investidores, bem como a sociedade civil – e desta não nos podemos esquecer por agregar pequenos

aforradores (que na nossa sociedade não os há) e futuros beneficiários de vários tipos de empréstimos bancários – reclamam que os Bancos mostram pouca vontade – alguns – e capacidade – outros – para ajudarem alavancar a nossa economia. No caso da sociedade civil, em particular, no que diz respeito a empréstimos a futuros beneficiários destes, é evidente que a nossa banca comercial – a de desenvolvimento não estará vocacionada para mutuar fundos de médio e longo prazo – mostra-se incapaz de ter capacidade para ajudar, como seria expectável num país que se quer mais desenvolvido e socialmente mais equilibrado – casa para todos, p.ex. Nem os “novos” – leia-se, refrigerados – bancos comerciais, por via de algumas “privatizações”, aparentam ter alguma capacidade para juntarem à tipologia bancária nacional habitual – grandes financiamentos – a chamada banca de retalho, que também deveria enquadrar na realidade nacional, contribuindo para maximizar a oferta de financiamento à economia nacional, em geral, e à economia popular ou social, em particular. Apesar dos importantes indicadores da Forbes e da Deloitte, apresen-

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CONJUNTURA

tados em Outubro passado e relativos ao período de 2019 e 2020, em parte devido aos bons desempenhos dos públicos Banco Económico (BE) e Banco de Poupança e Crédito (BPC), ainda que estes apresentam valores negativos, a maioria da banca comercial – na quase totalidade, privada – tem os seus bons resultados na captação de activos diversos e da captação de depósitos de clientes, onde parece haver uma forte concorrência para ver quem mais o capta. Se bem que a Associação Angolana de Bancos (ABanc) nos informe,

às necessidades financeiras da sociedade civil que não é grande investidora? E quem é esta sociedade civil? Dir-se-ia, de uma forma simplificada, que seriam todos os que não se enquadram nos grandes investidores que fazem empréstimos a curto e médio prazos: pequenas e médias empresas, que visem desenvolver e alargar a sua capacidade empresarial (ainda que estas possam obter empréstimos a médio prazo); construtores civis independentes que nos ofereçam habitações condignas a preços mais acessíveis; vendedo-

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res de automóveis, de electrodomésticos, de mobiliário, etc.; mas, também, toda uma população que esteja em condições – para isso é que os bancos têm avaliadores para ver das capacidades de endividamento dos candidatos a empréstimos – de comprarem um manancial destes produtos que nos tornam mais cidadãos.



No caso da sociedade civil, em particular, no que diz respeito a empréstimos a futuros beneficiários destes, é evidente que a nossa banca comercial - a de desenvolvimento, não estará vocacionada para mutuar fundos de médio e longo prazo.



no seu portal, que o sistema financeiro nacional assenta em quatro grandes “mercados” (mas parecem ser cinco, como o mercado monetário; mercado de crédito; mercado de capitais; mercado cambial; e o mercado segurador – que não será, propriamente banca); o de crédito seria o segmento que, na banca mais nos interessaria ver desenvolvido mas na de retalho, ou seja, na banca que apoiaria a população em geral. Só que a ABanc reforça que o mercado de crédito, e cito, “é o segmento que atende às necessidades de crédito de curto e médio prazos”. Sublinho, curto e médio prazos. A questão que se coloca, é que banca nos oferecerá condições adequadas

Todavia, há que reconhecer que isto só será possível se o Governo der meios conjunturais aos bancos, a fim destes poderem desenvolver uma banca de retalho, com vista melhorar as condições da sociedade Angolana. Já é tempo de isto ser um facto real. Mas, também é preciso que comecemos a ter empregos em condições e estáveis para fazer face a toda uma corrente de “incómodos” que os empréstimos provocam, aliados às ainda elevadas taxas praticadas pela banca… Precisamos de uma banca que ajude sociedade civil a também ajudar alavancar a nossa economia! * Investigador Integrado do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL) e Investigador-Associado do CINAMIL e Investigador para Pós-Doutorado da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto** ** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado.

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CONJUNTURA

Por: Siona Casimiro

Na sexta-feira, 29 de Setembro transacto, estoirou mais uma desagradável notícia. Notícia? Nem tanto, na raridade espacial e ortodoxia jornalística. Pois, em termos concretos, duplicou tão-somente o golpe de Estado no Burkina Faso. O capitão Ibrahim Traoré, de 34 anos, derrubou o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, na chefia da junta militar. Ou, seja, um retoque do cenário de 24 de Janeiro passado, que viu a força militar abolir o poder do então presidente eleito, Rock Marc Kaboré.

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A instabilidade na região da CEDEAO

OS MOTIVOS DOS SUCESSIVOS GOLPES DE ESTADO

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retexto alegado por Traoré: desvio do ideal do Movimento Patriótico de Salvaguarda e Restauração (MPSR). Tal anseio consistia em acabar com a insegurança no país. De facto, o motivo tem sido estrutural na quase uma década de existência do regime civil, liquidado em Janeiro. Somara, num balanço de sete anos, teve acima de 2 mil mortos e 1,5 milhão de deslocados internos. E, num só dia de Novembro de 2021, o famigerado massacre d’Inata traduziu-se em 53 vítimas, entre as quais 49 gendarmes. Em verdade crua, aqueles militares sertanejos andavam armados face a

uma incursão jihadista. Enquadramento na Região - Inverterá a liderança do jovem capitão Traoré tal panorama? Nada de tão incerto, pelo profundo enquadramento numa região tão instável como o Sahel, no presente. De 2020-2022, quase uma dezena de aventuras análogas deram-se na vizinhança, abarcando o Mali, a Guiné-Conacri, o Chade e a Guiné-Bissau. E o contágio ressente-se nos isolados recantos de sossego aparente, que são o Senegal, a Côte de Ivoire, o Gana e a gigante Nigéria. Estes Estados têm alavancado, pelo menos, a viabilidade e credibilidade da Comunidade dos 15 Estados da África Ocidental (CEDEAO), nomeadamen-

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CONJUNTURA Ibrahim Traoré, novo chefe mlilitar do Burkina Faso



De 2020-2022, quase uma dezena de aventuras análogas (golpes de Estado) deram-se na vizinhança, abarcando o Mali, a Guiné-Conacri, o Chade e a Guiné-Bissau. E o contágio ressente-se nos recantos de sossego aparente (o Senegal, a Côte de Ivoire e o Gana.



te Benin, Burkina Faso; Cabo Verde, Cote d'Ivoire, Gâmbia, Gana, Guiné Bissau, Guiné Conakri, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal e Togo. Mas, têm conseguido jogar este papel sem ilusão, como sobressaiu no discurso do presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, em Março passado: “A região da África Ocidental está de volta às manchetes internacionais pelas piores razões”, disse na cimeira da CEDEAO, que acolheu. Exortou à “tolerância zero” perante golpes militares. Na esteira, se pode mencionar um eco deste apelo, mesmo na longínqua Angola, localizada na África Central e Austral. Notavelmente, ressoou o vozeirão do Presidente João Lourenço, no repúdio da peripécia de Ouagadougo de Setembro passado. “Na qualidade de Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação em África, condenamos veementemente este acto e exortamos os golpistas burkinabes a facilitarem o trabalho das actuais autoridades da transição, voltado para o cumprimento do cronograma de transição que prevê o

regresso à ordem constitucional, até 01 de Julho de 2024”, afirmou numa mensagem o chefe de estado angolano , datada de 3 de Outubro. Confluência de factores - A eficiência de tamanha expressão de solidariedade, o porvir dará a sua medida. De momento, tudo embrulha-se na confluência dos factores endógenos e exógenos, que

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determinaram a contrariedade histórica, nomeadamente: • A exasperação da pobreza do Sahel, nos avatares de um país encravado. • Os idosos interesses neocoloniais da França (ora, alvo escaldante de uma histérica xenofobia de fácil manipulação). • As sequelas da queda do regime de Kadafi na Líbia, que estrangulou os esquemas de emigração, pelo Mediterrâneo, dos jovens frustrados. • O aproveitamento estratégico do jihadismo, veiculando os apetites islâmicos (idos do Egipto, Arábia Saudita e Emiratos Árabes Unidos). • A emergência da hegemonia chinesa, em afirmação de uma superpotência, ainda que em “soft power”. • A fragilidade da União Africana. Sendo perpéctua a esperança de uma alternância... a ver vamos a sequência do filme. Tanto mais que as forças montantes da mutação, também têm crescido no rodopio dialéctico do continente e do globo. (Luanda, 22 de Outubro de 2022). 63

CONJUNTURA

Siona Casimiro:

"O FCFA É UM TALÃO VITAL PARA O HISTÓRICO COLONIALISMO FRANCÊS" Para a memória colectiva, estampamos nestas páginas uma entrevista ao decano do jornalismo angolano, Siona Casimiro*, falecido recentemente. Conhecedor da realidade africana, Siona clarifica, com sapiência e profundidade analítica, a forte influência da França em diversas regiões do continente, onde continua a controlar vários países e regimes, impondo a sua poderosa força política, económica e financeira. Para o nosso interlocutor, a presença do Franco CFA (sua criação) é uma prova clara e evidente do seu poder. "O FCFA é um talão vital do histórico colonialismo francês na África Subsaariana. A onda independentista conquistou o seu objectivo político, com um consenso explícito à sua sobrevivência", afirma, lembrando igualmente a questão da sucessão de golpes de estado registados fundamentalmente em alguns países da região, em que a imiscuição nos assuntos internos do antigo colonizador é cada vez mais evidente... Entrevista conduzida Por: Victor Aleixo

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iguras & Negócios (F & N) - Lembrei-me do Campeonato Mundial de Futebol, que se joga no Qatar e na equipa da França estão jovens provenientes, na sua maioria, de antigas colónias francesas. Quanta sinergia entre o antigo colono e os antigos colonizados ... Siona Casimiro (S.C.) - Imensa, no entendimento positivo do conceito de sinergia. Ou, seja, a cooperação para o bem-estar comum. No mesmo sentido, considero como “o antigo colono”, a parte outrora dominadora da outra alforriada "de jure". O pesado legado da história colonial e da descolonização repercute-se assaz na actualidade dos laços económicos; uma actualidade que enferma, também, um gritante paradoxo. E, nesta contradição, se evidencia o choque entre a inércia do passado e

os sonhos de emancipação completa. O pragmatismo de cada lado tem vindo a predominar na redução do enxofre. Daí, o surgimento de uma instituição como a Francofonia, culturalmente emblemática na circunstância. Com enfoque na partilha da língua e cultura francesas, ela tem suavizado a realidade da chamada ‘France-Afrique’. Quer dizer, o neologismo que dissimula comodamente os alicerces económicos, bastante neocoloniais, ainda é "de facto". Recapitulando a caracterização da tal sinergia activa entre a antiga metrópole francesa e os Estados largados, eu digo: esta sinergia é imensa, paradoxal e pragmática. F&N - E com os árabes, por exemplo, o Marrocos, a Tunísia e a Argélia? S.C. - Em suma, o Magreb, incluindo a Líbia, a Mauritânia e o Sara Ocidental. As relações de Paris com este bloco de Estados, acarretam singularidades do espaço e do tempo. As marcantes são: a vizi-

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CONJUNTURA

um consenso explícito à sua sobrevivência. O Euro traduz o interesse da França intrínseca no seu continente e enquadramento no mundo pós - 2ª guerra mundial. Claro, o FCFA sofre agora das novas realidades em irrupção quase que vulcânica na ecologia africana deste século 21.



O pesado legado da história colonial e da descolonização repercute-se assaz na actualidade dos laços económicos que enferma, também, um gritante paradoxo. E, nesta contradição, se evidencia o choque entre a inércia do passado e os sonhos de emancipação completa.

Nestas realidades, se destaca o falhanço das elites autocráticas na gestão das independências. Mesmo a sua função e papel de guardiões seguros dos interesses demorados do legado colonial são fortemente sacudidos. Firmemente, os anseios das massas emergentes no limiar do corrente terceiro milénio requerem soluções progressistas. A onda dos golpes de Estado na região da CEDEAO (Comunidade dos Estados da África Ocidental) traduz frescamente esta tendência. De par, com a afirmação de forças sociais mais preparadas em amparar e canalizar as sãs energias contemporâneas. Penso, neste particular, na Sociedade Civil, nas Igrejas, nas diásporas, nas articulações com a corrente da Alternativa Mundial. No panorama, acrescento os tigres novos como a superpotência chinesa, os Estados Unidos e a Rússia. Todo este conjunto engendra uma cidadania impetuosa, que esvazia os recursos arcaicos. Mister é reconhecer, no entanto, que a correlação de forças não pende, ainda, pela radical inversão cristalina a breve trecho. Irrompeu à superfície no Magreb, porventura, com radiação óbvia na periférica zona do Sahel e da CEDEAO.

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A dialéctica do progresso histórico parece, todavia, bastante irreversível. Bem como a metástase para todas as demais regiões africanas, de Niamei (capital do Níger) ao Cabo (África do Sul). Em especial, ao se manter o ‘statu quo’ nas privações impostas às populações demoradamente.



nhança geográfica; a duração da colonização (apenas 44 anos de protectorado francês sobre Marrocos, por exemplo); as fortes reminiscências da extensão do império árabe na Europa mediterrânea; a viva identidade do Islão (manifestou-se nitidamente na Argélia, em 1991, quando a Frente Islamista de Salvação, FIS, se revelava virtual vencedor do sufrágio democrático. Os caciques da antiga FNL heróica frustraram a consumação da tal vitória, em cumplicidade geoestratégica com a França); o refúgio da resistência da França Livre em Argel, durante a 2ª guerra mundial; a aposta da colonização de fixação, com a sua embrionária economia de amparo (que desembocou no fenómeno sociológico dos “pieds noirs’, no desespero dos antigos colonos); etc. F&N- Porquê que a França dá o dinheiro cunhado de Franco CFA aos antigos colonizados e negros e não aos brancos antigos colonizados, como os tunisinos e argelinos? S.C. - O contorno rácico não me parece ter sido preponderante no plano mencionado, tendo em conta as especificidades que realcei. O geográfico (como a vizinhança entre os países do Mediterrâneo e a barreira do deserto do Sara) foi mais determinante. E histórico, em que se ergueu a antecipação árabe. O precedente rácico árabe, mais incidente na África Oriental (do Cairo a Maputo), determinou, a meu ver, outra via. As tentaculares companhias do agressivo capital colonial francês jogaram com maior disfarce. O franco CFA correspondeu ao interesse das mesmas na exploração comum do espaço em análise. Garantiu a estabilidade e livre transferência da renda dos investimentos - uma faceta sistémica, ora cada vez mais questionada. F&N - Porquê que a França é dona do FCFA dos antigos colonizados, uma vez que está na zona Euro e os países africanos reclamam-se independentes e soberanos? Mas, afinal, pode-se concluir que continuam a ser, de facto, dependentes da antiga potência quanto as finanças e a moeda? S.C. - O FCFA é um talão vital do histórico colonialismo francês na África Subsaariana. A onda independentista conquistou o seu objectivo político, com

F&N - Qual é o papel da União Africana (U.A.) sobre a dependência financeira dos estados? S.C. - Marginal, em virtude da reduzida capacidade financeira da África, em comparação a zonas ricas no globo. A banca africana sustenta irrisoriamente a economia africana, de longe amparada pelo FMI e o Banco Mundial. Não parece sensível o impacto dos endinheirados nigerianos, egípcios e quenianos na nossa autonomização financeira. É animadora, com certeza, a contemplação da África do Sul nos BRICS (grupo formado pelo Brasil, China, Índia, e a Rússia). (Luanda, 16 de Dezembro de 2022). *Jornalista e Colaborador Permanente da Revista Figuras & Negócios.

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POLÍTICA

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Plano de gestão abrangente

ESPAÇO MARINHO NACIONAL SERÁ MELHOR ORDENADO O Plano de Ordenamento do Espaço Marinho, que visa organizar esse espaço de forma integrada e complementar para todos os sectores e usos, foi aprovado pelo Conselho de Ministros, reunido recentemente, sob orientação do Presidente da República, João Lourenço. Este plano tem como objectivo garantir uma gestão abrangente do oceano. O documento identifica estratégias adequadas para preservar e manter o ecossistema marinho saudável, e fomentar o crescimento económico e sócio-cultural do país.

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a mesma sessão, o Conselho de Ministros aprovou a prorrogação da data do primeiro levantamento das ramas de petróleo da Área de Desenvolvimento Begónia, no Bloco 17/06, até 1 de Junho de 2025. Além disso, o período de produção foi estendido até 1 de Junho de 2045, com o objectivo de atenuar o declínio natural da produção de petróleo no país. Esta medida também tem como finalidade melhorar a avaliação do potencial da área de desenvolvimento, bem como impulsionar as actividades petrolíferas no Bloco 17/06. O Conselho de Ministros aprovou igualmente um diploma para as alterações ao Contrato de Partilha de Produção da Área de Concessão do Bloco 5/06, firmado entre a concessionária nacional e o empreiteiro do Bloco. O objectivo destas alterações é garantir a continuidade das operações no sector de petróleo e gás, aumentar a produção petrolífera nacional e tornar mais atractivo o desenvolvimento dos recursos restantes no Bloco 5/06, visando maximizar o seu valor para as partes envolvidas. No decorrer da reunião, foram ainda aprovados vários outros instrumentos bilaterais de cooperação em matéria de política externa, especificamente com o Burundi, os Emirados Árabes Unidos e a Venezuela, com ênfase na cooperação económica, comercial, científica e cultural. Além disso, foram aprovados o Estatuto Orgânico do Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social e o novo Estatuto Orgânico do Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (INEFOP). Os documentos aprovados visam clarificar a actuação destes departamentos na definição e implementação de políticas relacionadas ao emprego e formação profissional.

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POLÍTICA

COMESA-EAC-SADC

ANGOLA PRONTA A RATIFICAR ACORDO TRIPARTIDO DE COMÉRCIO LIVRE

O

documento apreciado, para posterior envio à Assembleia Nacional, foi discutido na Primeira Sessão Extraordinária do Conselho de Ministros realizada no passado dia 9 de Fevereiro, no Palácio Presidencial, sob orientação do Presidente da República, João Lourenço.

O acordo visa estabelecer um quadro legal para o comércio de mercadorias e comércio de serviços entre os Estados-Membros, conforme às leis e regulamentos em vigor em cada um deles. O quadro legal a ser estabelecido, tem como objectivos a promoção do desenvolvimento económico e social da região, a criação de um vasto mercado comum com livre circulação de mercadorias e serviços, bem como a promoção do comércio intra-regional. Outro propósito é o fortalecimento dos processos de integração regional e continental, e a edificação de uma Zona de Comércio Livre Tripartida forte, para o benefício dos povos da região. O acordo visa, igualmente, a eliminação progressiva das tarifas e das barreiras não tarifárias ao comércio de mercadorias, a liberalização do comércio de serviços, a

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O acordo também visa a eliminação progressiva das tarifas e das barreiras não tarifárias ao comércio de mercadorias, a liberalização do comércio de serviços, a cooperação em matéria aduaneira e a implementação de medidas para a facilitação do comércio.



A República de Angola poderá, em breve, ratificar o acordo que cria a Zona de Comércio Livre Tripartida entre o Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA), a Comunidade da África Oriental (EAC) e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), cujo Projecto de Resolução foi apreciado pelo Conselho de Ministros.

cooperação em matéria aduaneira e a implementação de medidas para a facilitação do comércio. O mecanismo tripartido COMESA-EAC-SADC foi instituído por ocasião da primeira Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Kampala, Uganda, em 22 de Outubro de 2008.. 67

CULTURA

Jay Oliver

INDÚSTRIA MUSICAL ANGOLANA É INEFICIENTE A ineficiência ou a quase inexistência de indústria musical no país é um dos maiores constrangimentos no processo de divulgação do produto dos criadores angolanos no mercado internacional, afirma o músico Jay Oliver. O artista adianta que, mesmo com uma produção de qualidade, a música angolana não está na lista dos 10 países com maior influência no mundo da música devido às dificuldades no processo de divulgação e promoção, dando conta que muitas músicas acabam por ficar apenas no país, quando seriam sucesso também na arena internacional. “Há muitos ritmos a serem consumidos no país, mas não chegam a outros países por falta de distribuição”, reforça. Texto e Fotos: Venceslau Mateus

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F

iguras&Negócios (F&N) - Quem é Jay Oliver e como surgiu no mundo da música angolana? Jay Oliver (JO)- Veja que cresci com os meus avós e os meus tios. Os meus pais viajavam muito em busca de melhores condições de vida, mas tive a educação deles mesmo à distância. Na verdade, os meus avós nunca apostaram na minha carreira artística, por não ser aquilo que eles sempre sonharam para mim, mas aos poucos fui, sendo apoiado na minha aposta na carreira artística. Como sabe, os nossos familiares sempre tiveram sonhos em relação ao nosso futuro e isso aconteceu comigo. Quando as coisas começaram a resultar em termos de afirmação, a família uniu-se para apostar na minha carreira artística. Como sabe, faço parte de uma família de músicos. Sou sobrinho dos músicos Dog Murras e Didi Murras. A partir do momento que comecei a me tornar conhecido no cenário musical estes sempre estenderam a mão solidária. Cresci num bairro que me ensinou a ser homem. Aos 15 anos já era um miúdo muito mexido, fazia moto-táxi, era estafeta, fazia entrega de encomendas e hoje sustento a minha carreira de forma independente. Tenho três álbuns lançados e graças ao esforço e sacrifício ao longo da minha juventude fui aperfeiçoando e recriando. F&N - Lançou agora, no mercado, o seu novo disco. O que traz de novo para os seus fãs? JO- Já são 10 anos de carreira. A

minha responsabilidade social para com os meus fãs, para com o público é maior em termos de composição, letra, de conteúdo, de aprendizado. Há sempre uma mensagem positiva, sempre uma moral da história, uma maneira de espalhar o amor, de aconselhar, incentivar, de seleccionar e de viver a fantasia em cada um dos meus trabalhos. A intenção é deixar uma mensagem de conforto e nesta terceira obra a minha responsabilidade é maior. F&N - Para quem acompanha, desde o início, a sua carreira, que diferenças vai encontrar neste disco? JO- O conteúdo lírico, as próprias composições em si, a diferença de estilos também, com várias sonoridades em vários cantos do mundo, não só a kizomba que estão acostumados a ouvir mas outros estilos musicais ouvidos nos outros países. Trago também um pouco do estilo deles aqui. Sou um músico com ouvidos muito apurados e além de viver em Angola também resido em Portugal. Então bebo o que a Europa consome. Trouxe um pouco desses ritmos africanos também. F&N - Que balanço faz, até ao momento, da sua carreira? JO- Acho que eu sou um músico de muita fama e pouco sucesso (…). Devia ter muito mais sucesso, mas também aceitei algumas propostas contratuais que achei que me ajudariam a ascender mais na carreira, mas acabei por me prejudicar um pouco. Mas estou disposto a fazer tudo pela minha carreira, porque amo o que faço e amo espalhar o amor. De certeza que o “ÉBano” vai ser um dos passos para emergir nessa área.

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CULTURA

F&N - Já atingiu os objectivos preconizados quando se lançou no mundo da música? JO- Alguns já (risos). Só o facto de ser um músico angolano conhecido no mundo Palop é uma alegria muito grande. Sou angolano, conhecido em Moçambique, em São Tomé, Brasil, Portugal e em alguns países da Europa. Já cantei com esse povo e, para mim, é um dos objectivos bem sucedidos. Agora, falta-me fazer os primeiros grandes shows, que são o meu sonho. Não só em Angola, mas também nos países que falam a língua portuguesa. F&N - Onde está o segredo para o sucesso? JO- O segredo para o sucesso é nunca desistir, fazer aquilo que amo e procuro aperfeiçoar ainda mais o meu trabalho, para conseguir ter sucesso. Sou persistente, nada me abala. F&N - Desde o início da sua carreira, o que fez ou gostaria de ter feito de forma diferente? JO - Sou ser humano, portanto falho. Há coisas que (…), não é arrependimento, mas aprendemos com os erros e não me arrependo de ter errado em alguma coisa, de ter dado espaço. Acho que se nascêssemos com tudo perfeito a vida não teria sentido. É necessário falhar, errar, para aprender. A vida é mesmo assim, tem altos e baixos, então não há nada que tenha feito para me arrepender arduamente. Como disse, temos que fazer para aprender e para sentir. Tive um passo ou outro que foi mal dado, mas tem que ser. F&N - Mudando de assunto. Como jovem e figura pública, como vê, actualmente, o comportamento dos jovens angolanos? JO- Acho que vivemos num país de muita frustração. Precisamos formatar certas coisas, principalmente nas redes sociais que têm um peso muito grande nessa nova era, às vezes muito mal usada, muito mal aconselhada. Hoje, as pessoas querem sensibilidade sem saber que existe um físico e um psicológico, existe uma depressão e Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

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CULTURA

como fazedor de cultura primo muito pelo bem-estar das pessoas, pelo físico emocional. Já passei por algumas situações embaraçosas e preocupa-me bastante o comportamento da nossa sociedade, principalmente nas redes sociais. Acho que devemos viver as situações de forma pessoal antes de abrir a boca ou deixar um comentário. Temos família, filhos e o que se consome na internet fica por muito tempo. Aconselho aos jovens a saber usar os seus conteúdos, saibam aconselhar e fazer comentários sobre determinado assunto para amanhã não se arrependerem com as decisões tomadas ou com o rumo que podem levar em função de decisões erradas. F&N - Até que ponto estão os músicos angolanos preparados para ajudar na edificação de uma sociedade sã? JO- De minha parte procuro fazer o máximo, com responsabilidade social, aconselhar, espalhar o amor, fazer tudo que seja bom como boa conduta. É necessário saber que temos responsabilidades perante a sociedade, é necessário ajudar na implementação de acções que ajudem e incentivem a mudança de mentalidade. F&N - Acredita que os músicos têm sido bons exemplos para a construção de uma sociedade moralmente saudável? JO- Não todos. F&N - Porque não todos? JO- Temos que reconhecer que temos alguns músicos que têm ajudado. Hoje, todo mundo quer fazer dinheiro com a música, mas infelizmente apostam em músicas cujas letras carregam uma dose de ofensas. Como influenciadores devemos defender os bons costumes, a dignidade humana e acima de tudo respeitar os valores morais e cívicos. F&N - Onde vai buscar inspiração para o trabalho que apresenta ao público? JO- Desde criança que sempre ouvi músicos americanos, assistia os canais americanos, aprendi a cantar 70

imitando alguns músicos americanos e alguns angolanos que serviram de inspiração no princípio da carreira. Comecei por me inspirar em músicos americanos cujos vídeos assistia no canal MTV. Entre estes, o Chris Brown, Ne Yo e R. Kelly. Entre os angolanos procurei inspirar-me no Anselmo Ralph, Conde e outros nomes. F&N -Fruto do que se faz e do que se apresenta, actualmente, no mercado angolano, acha que temos ou estamos à altura de competir com outros mercados, principalmente africanos? JO- Temos capacidade de competir, mas o nosso maior problema é a divulgação, porque não temos uma indústria musical, não temos as plataformas legalizadas, a maior parte dos nossos conteúdos é ouvido através de canais piratas, sem estar colocado nas plataformas digitais, factor que impede a entrada em outros mercados, Fazemos música com qualidade, mas mesmo assim Angola não está na lista dos 10 países com maior influência no mundo da música. Preocupa-nos bastante, porque ainda nos falta muita

coisa, como fábricas de CD, melhorias no sistema de distribuição e legalização das plataformas digitais. F&N - Como olha para o mercado musical em Angola? JO- Temos um mercado cada vez mais concorrido, como novos talentos a fazerem furor. É verdade que ainda temos muito para conquistar lá fora e falta investimento no ramo musical, mas, felizmente, a música é bastante consumida em Portugal e nos Palops. Temos, acima de tudo, um longo caminho a percorrer e muitos acertos a fazer para saltos mais seguros no mercado internacional. F&N - Muito se fala sobre a qualidade da música angolana produzida actualmente, havendo quem considera que é descartável. Acha justa esta afirmação? JO- Existem estilos descartáveis, com conteúdos sem um adoço, uma mensagem dançante, e por isso não duram mais de 6 meses. É verdade que temos produtos que nem deviam estar no mercado, mas também temos músicas com conteúdos ricos, com mensagens educativas.

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CULTURA



Já são 10 anos de carreira. A minha responsabilidade social para com os meus fãs, para com o público é maior em termos de composição, letra, de conteúdo, de aprendizado.



F&N - O que falta para a música angolana tomar de assalto de uma vez por todas o mercado dos Palop e afirmar-se em África? JO- Indústria musical, editoras, empresas de divulgação e contratos sérios. Às vezes o músico luta tanto para colocar um trabalho no mercado e não é projectado conforme devia ser feito. Editoras, produtoras, que infelizmente não poucas, são responsáveis pela maior parte dos contratos, divulgação e promoção da música. F&N - Ao longo destes anos fez quantos trabalhos discográficos? JO- Três discos. O meu primeiro disco foi lançado em 2014 e o segundo em 2017. Antes do final do ano de 2022, lancei o terceiro trabalho discográfico intitulado "Ébano”. São trabalhos discográficos lançados de forma independente, com o meu próprio esforço e sem patrocínio. No início da minha carreira bati algumas portas, mas infelizmente não fui bem-sucedido. Daí que parti para a minha autonomia financeira para poder materializar os meus projectos artísticos. Hoje vejo que sou exemplo para aqueles músicos que sonham com uma carreira musical brilhante, mas que estão impossibilitados em dar sequência aos seus sonhos. Lutei e luto sozinho, diariamente, para que consiga ganhar espaço no mercado nacional e internacional. Ser cantor não significa que esteja ligado a uma produtora. Não é verdade! F&N - Desde quando se tornou autónomo financeiramente? JO- Desde muito cedo que me tornei independente financeiramente. Comecei a trabalhar com os meus 15 anos. Aos 15 anos já era motoboy. Fazia entrega de encomendas em diferentes partes de Luanda. Nasci e cresci no bairro Mártires de Kifangondo, com muita agitação em termos de negócios, que te obriga a entrares no mundo dos negócios, desde que tenhas dom para tal. Compro motorizadas avariadas, recupero e volto a vender. Nisso vou buscar lucros. Cresci assim, neste meio

com visão para o negócio. Os meus tios foram também as pessoas que me moldaram para o mundo do business, com a compra e venda de viaturas, como intermediário. Passei a tratar documentos de residências, viaturas ou mesmo constituição de empresas. Ajudei muitas pessoas a legalizarem as suas empresas com alvarás comerciais e até arranjei advogados para este ou aquele caso. Fui guardando as minhas economias e me tornei um indivíduo autossustentável financeiramente. Veja que aos 19 anos tornei-me independente, com casa própria. Hoje em dia, sustento a minha actividade artística com as minhas "mixas”, que ganhei. Continuo a ser "mixeiro” e cantor ao mesmo tempo. F&N - E a receita que arrecada com os espectáculos. O que faz? JO- A qualidade e a sonoridade que

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exijo dos meus trabalhos são bastante dispendiosas. Veja que já não lanço um disco há quatro anos, mas pelos discos vendidos já consegui recuperar o dinheiro que investi. Neste terceiro trabalho discográfico investi um valor superior aos demais e penso recuperar o dinheiro investido nos próximos anos. Neste disco, gastei muito dinheiro por conta da qualidade do vídeo, do som e de muita coisa que coloquei para que tenha a qualidade exigida pelo público. Neste álbum fiz um investimento que seria bastante benéfico para mim e para a minha família. Preferi me posicionar no mercado musical, por sentir a falta de um disco do Jay Oliver. Senti que estava ausente para os meus fãs. F&N- O que é que a marca Ébano traz de novo à música nacional? JO- Sou um ambientalista, um amigo da natureza. Tenho o sonho de construir uma casa no meio da mata, uma fazenda com vários animais. Ébano é o nome de uma espécie de árvore, cuja madeira é bastante rija e difícil de partir. O Ébano é uma terceira obra, que alimenta o sonho de um terceiro filho biológico. A árvore Ébano faz parte da minha característica como pessoa. Sou uma pessoa persistente.

POR DENTRO

J

ay Oliver é o nome artístico do músico José Carlos de Oliveira Martins, que nasceu a 23 de Julho de 1991, no bairro Mártires do Kifangondo, em Luanda. Jay Oliver nasceu numa família com músicos de renome no mercado nacional, nomeadamente o tio Dog Murras. Com 15 anos de idade lançou-se no mundo dos negócios como motoboy "mototaxi" e como intermediário na venda de viaturas e residências. O artista tem no mercado três obras discográficas. 71

Alexandre, antigo central do Varzim, recorda o avançado angolano

"DEIXEM O MANTORRAS JOGAR !!" No célebre jogo da época 2001/2002, com empate a dois golos entre o Varzim e o Benfica, Mantorras teve problemas na cartilagem, devido às sucessivas e duras faltas, causado pelos seus principais oponentes.

O

Por: David Paulo / Fotos: Arquivo F&N

Varzim não perdia em sua casa com o Benfica desde os anos 80. Na época desportiva 2001/2002, a formação da Luz visitou o Varzim e até esteve a vencer por 2-1, mas a equipa da casa empatou o jogo por 2-2. Mas dois protagonistas desta partida saltaram à vista: o avançado Pedro Mantorras, do Benfica, e da equipa caseira, o capitão Alexandre, hoje director desportivo do clube Merelinense. O antigo jogador do Varzim que mais tempo carregou a braçadeira de capitão e jogando no clube poveiro dos 10 anos até 35, recorda com grande nostalgia a célebre frase e o próprio jogo. Hoje, agora nas vestes de dirigente desportivo, conta que nos 17 anos como profissional, defrontou jogadores como Mário Jardel, Nuno Gomes, Deco, mas considera o duelo travado e mais mediático que teve ao longo da sua carreira, foi com o avançado angolano Mantorras, exactamente entre Varzim e o Benfica que terminou em 2-2. Da excessiva dureza do central Alexandre contra Mantorras, surgiu então a expressão " Deixem jogar Mantorras". O antigo jogador reconhece que o avançado do Benfica era forte na rotação com a bola e a fórmula encontrada foi agarrá-lo sempre. Ainda assim, nega ser o protagonista da lesão de Mantorras na zona da cartilagem. "Deste jogo, prefiro lembrar a nossa recuperação e ainda falhamos um penálti", lembra. 72

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DESPORTO

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Filha de Pelé faz homenagem ao pai e relembra os 30 dias após a morte do rei do futebol:

"UM MÊS DE MUITOS ABRAÇOS APERTADOS E MUITO CHORO..." . Kely Nascimento relembrou semelhanças que tinha com o pai e contou como tem sido desde sua morte, em 29 de Dezembro.

Um mês após a morte de Pelé, considerado o maior jogador de futebol do mundo, a filha Kely Nascimento fez uma homenagem ao pai nas redes sociais neste domingo (29). Pelé morreu aos 82 anos, em 29 de Dezembro, após ficar um mês internado no Hospital Albert Einstein, na Zona Sul de São Paulo, para reavaliação da quimioterapia contra um tumor de cólon e tratamento de uma infecção respiratória. O quadro se agravou no dia 21 de Dezembro, quando o boletim médico indicava "progressão oncológica", com necessidades de cuidados para as funções renais e cardíacas.

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velório do rei do futebol ocorreu no Estádio Urbano Caldeira, a Vila Belmiro, e contou com a presença de amigos, torcedores, jogadores, ex-jogadores e autoridades, como o governador Tarcísio de Freitas e o presidente Lula. O caixão foi coberto com uma bandeira do Brasil e saiu da Vila Belmiro por volta das 10h25. O cortejo foi feito em um carro do Corpo de Bombeiros. O sepultamento do corpo ocorreu em 3 de Janeiro, em um mausoléu do Memorial Necrópole Ecuménica, em Santos, no litoral de São Paulo. Com fotos dos dois em momentos Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

descontraídos e um texto, Kely relembrou na postagem as características que compartilhava com o pai. Ela o agradeceu pela família unida que tem e contou como tem sido a vida desde a morte. "Um mês de muitas homenagens, muitos abraços apertados, muitas histórias contadas por pessoas desconhecidas de olhos lacrimejados, muita lembrança, muito choro e muita risada. Hoje e sempre, obrigada por ter dividido comigo nosso senso de humor, nossa cabeça enorme, nosso optimismo, nossa habilidade de tirar prazer das coisas simples da vida, nossa ética de trabalho, nosso amor de hotel, aeroporto e avião", escreveu. 75

DESTAQUE



Aquele que é considerado por muitos o maior futebolista de sempre, vai ficar na memória do Brasil e do mundo. O município do Rio de Janeiro anunciou que a radial oeste que circunda o Maracanã, passará a chamar-se avenida Pelé.



Recorde-se que antes de chegar à última morada, o corpo de Edson Arantes do Nascimento, conhecido mundialmente como Pelé, foi levado num percurso pelas ruas da cidade que o viu crescer para se tornar num gigante do futebol. O cortejo fúnebre fez uma paragem de grande emoção frente à casa da sua mãe, Dona Celeste, que tem 100 anos e a quem não terá sido comunicada a morte do filho. Nas 24 horas que antecederam o funeral, cerca de 260 mil pessoas passaram pelo estádio Vila Belmiro, em Santos, para prestarem homenagem ao rei Pelé, entre os quais o recentemente empossado presidente do Brasil, Lula da Silva. Aquele que é considerado por muitos o maior futebolista de sempre, vai ficar na memória do Brasil e do mundo. O município do Rio de Janeiro anunciou que a radial oeste que circunda o Maracanã, passará a chamar-se avenida Pelé. Embora esperada, a sua morte causou um enorme choque e emoção. O governo brasileiro decretou três dias de luto nacional. Os restos mortais de Edson Arantes do Nascimento vão repousar no 9º andar do cemitério vertical de Santos, com vista para o Vila Belmiro, o estádio da equipa da sua vida. (In G1,S.P.). 76

O nigeriano Geoff Ijomah acha graça da pergunta se Pelé (1940-2022) pode ser considerado um ícone da luta dos negros na sociedade. Para o psiquiatra de 57 anos, que vive em Lincoln, na Inglaterra, o histórico jogador brasileiro, que morreu no final do ano passado, era muito mais do que o de um atleta profissional."Eu tenho um diploma médico porque Pelé me mostrou ser possível para um jovem negro que vivia em Glasgow na década de 1970 ter sucesso", explica. Por: Alex Sabino - G1, S.P. Fotos: Arquivo F&N

"

A influência que Pelé teve na minha vida foi enorme. Se você é uma criança negra que cresce fora do seu país, numa cultura diferente, precisa de exemplos que lhe mostrem até onde pode chegar. Ele se destacou sobre todos os outros. Sempre foi uma inspiração", concorda o sindicalista Ude Joe-Adgwe, 55, também nascido na Nigéria. Ele se mudou para o Reino Unido com a família quando era criança. Após a morte do Rei, no último dia 29, eles se lembraram do esforço que fizeram para conhecê-lo. Pagaram cerca de 900 libras (cerca de R$ 5.600 pela cotação actual) para participar de um evento no Crowne Plaza Hotel, em Glasgow, na Escócia, em Setembro de 2016. Os dois queriam contar ao camisa 10 a importância que ele teve em

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DESTAQUE

Para dupla de refugiados nigerianos no Reino Unido:

PELÉ FOI ÍCONE

DA LUTA RACIAL

. Brasileiro era um dos raros negros a aparecer em destaque na TV britânica nos anos 1970 estavam no Reino Unido quando estourou o conflito e não puderam voltar. "A Copa do Mundo de 1970 teve um impacto enorme na minha vida. Foi a primeira vez que vimos futebol na TV em cores. E a imagem de Pelé se destacava", diz Ijomah. Ele recorda que, nas emissoras do Reino Unido naquela década, não apareciam em destaques muitos desportistas negros tendo sucesso. Eram Pelé e mais um.



suas vidas. "Pelé foi humilde, atencioso e me passou a imagem de ser alguém muito simples. Mas não havia tempo para conversar", constata Ijomah. Ijomah e Adgwe nasceram na Nigéria na região de Biafra, que tinha pretensões de ser um Estado independente, o que desencadeou uma guerra civil entre Maio de 1967 e Janeiro de 1970. A Guerra de Biafra, como ficou conhecida, está marcada na mitologia da carreira de Pelé. Uma excursão do Santos pela região em 1969 teria provocado a paralisação do conflito. Segundo essa versão, Pelé interrompeu a guerra, o que teria feito com que Pelé interrompesse uma guerra por alguns dias. Controversa, a versão não é corroborada por pesquisadores do assunto. As famílias dos dois nigerianos



Já tinha ouvido que Pelé nunca jogou na Europa, nunca jogou no Reino Unido… Mas, quando morreu, foi muito significativo. As gerações mais novas viram. Meus sobrinhos perceberam e me disseram: ‘Ah, isso foi o Pelé!’. Foi como se o rei da Inglaterra tivesse morrido. "Também havia Muhammad Ali, mas sem o mesmo destaque de Pelé", completa. "Era raro ver jogos internacionais no Reino Unido e em outros países da Europa. A excepção era Pelé. Ele era sempre o principal nome", ressalta Ude Joe-Adgwe. Para a comunidade de refugiados na Escócia, as pessoas com que conviviam Adgwe e Ijomah, o Rei do futebol era mais do que a imagem de

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um negro capaz de ser superastro no esporte mais popular do mundo. Ele era destaque em uma época anterior ao Ato de Relações de Raça, lei decretada pelo governo britânico em 1976 para conter a discriminação racial. Até então, eram comuns placas em bares e restaurantes avisando sobre a proibição da entrada de diferentes etnias. Aquilo não era crime. Os dois nigerianos viram várias vezes placas que diziam ser proibida a entrada de "irlandeses, negros e cachorros". O pano de fundo era a tensão da região nas décadas de 1970 e 1980. O primeiro negro a ser convocado para a selecção inglesa foi o lateral Viv Anderson, do Nottingham Forest. Isso ocorreu apenas em 1978. Mesmo depois disso, atletas negros que conseguiram chamar a atenção, como o ponta John Barnes, eram alvos de constantes ataques raciais nos estádios. Ijomah e Adgwe receberam com surpresa a morte de Pelé. Sabiam que ele estava no hospital, mas acreditavam que sairia. As homenagens na imprensa britânica e entre torcedores mostrou, inclusive para os mais jovens que jamais viram o brasileiro em campo, o seu lugar na história. "Já tinha ouvido que Pelé nunca jogou na Europa, nunca jogou no Reino Unido… Mas, quando morreu, foi muito significativo. As gerações mais novas viram. Meus sobrinhos perceberam e me disseram: ‘Ah, isso foi o Pelé!’. Foi como se o rei da Inglaterra tivesse morrido", constata Ijomah. 77

Opinião

PELÉ SERÁ SEMPRE O FUTEBOLISTA MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA ? De uns tempos para cá, antes mesmo da inédita conquista da Copa do Mundo, virou moda entre os fãs mais apaixonados de Lionel Messi chamar o camisa 10 argentino de GOAT, sigla em inglês para "melhor de todos os tempos". Por: Rafael Reis *

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É

até natural que as novas gerações tratem como maior craque que já passou pelos relvados de futebol alguém que tiveram a honra de ver semanalmente desfilando seu talento em grandes jogadas, dribles históricos e golos decisivos. Mas, independente do tamanho da bola jogada por Messi e do que ele ainda faça nos anos finais da sua carreira, o meia-atacante do Paris Saint-Ger-

main jamais poderá ser chamado de "jogador mais importante de todos os tempos". Esse posto pertence pelo menos desde a década de 1970 (e continuará pertencendo enquanto houver seres humanos correndo atrás de um objecto redondo e tentando chutá-lo para dentro de uma estrutura formada por três traves) a Pelé. O Rei do Futebol, que morreu (...) aos 82 anos, em decorrência de complicações de um câncer no cólon iden-

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tificado em 2021, não ganhou esse apelido à toa. Se não fosse Pelé, o futebol provavelmente jamais teria se transformando no desporto mais popular do planeta e em um fenómeno que move o coração de multidões espalhadas por todos os cantos da Terra. A história de sucesso de Edson Arantes do Nascimento, o mineiro de Três Corações que adoptou Santos como lar e conquistou nada menos que três títulos mundiais vestindo o número 10 da selecção brasileira, é a própria história de sucesso da modalidade. Antes do surgimento de Pelé, o futebol só era verdadeiramente um desporto de massa na Europa e em parte da América do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai). Em outras regiões, ele até era praticado, mas não tinha essa magnitude de febre popular. Só que, a partir do momento em que o mundo descobriu o craque brasileiro, tudo mudou. Ao lado dos seus companheiros do Santos, clube que defendeu durante a maior parte da carreira, Pelé excursionou pelo planeta inteiro. Por onde pas-

sou, deixou fãs incrédulos com o que era capaz de fazer com a bola nos pés e converteu pessoas que não nutriam nenhum tipo de sentimento especial pelo futebol em fãs incondicionais do jogo. O "efeito Pelé" foi imenso no mundo todo, mas alcançou um patamar ainda maior na África. Afinal, em uma época em que as referências negras de sucesso podiam ser contadas nos dedos das mãos, o brasileiro virou uma fonte de inspiração inesgotável para milhões e o futebol, uma plataforma onde a cor da pele pouco importava. Nos últimos anos da sua trajectória nos relvados, quando parecia que já havia atingido todos os públicos possíveis, o maior jogador de futebol da história deu sua última contribuição para a construção da modalidade que conhecemos hoje ao desbravar o mercado norte-americano. As três temporadas em que jogou no New York Cosmos ajudaram a cunhar a ideia de que o desporto é também um grande entretenimento que pode ser explorado comercialmente e gerar muito, mas muito dinheiro mesmo. O tamanho actual da Copa do Mundo, da Liga dos Campeões da Europa e dos campeonatos nacionais do Velho Continente são resultados directos desse conceito que o Rei se permitiu desenvolver. Sim, Pelé precisa também ser lembrado por tudo que fez dentro de campo (os mais de 1.000 gols, a transformação do Santos em uma máquina quase imbatível, os três títulos mundiais). Mas esses feitos até podem ser igualados ou superados. Só que sua real importância é independente desses feitos "humanos". A face transcendental do camisa 10 pode ser resumida em apenas uma frase: "existia um futebol antes de Pelé e existe um outro futebol depois de Pelé". * In (UOL) ** Este texto não reflecte, necessariamente, a opinião do UOL

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Pelé:

A HERANÇA DO

REI DO FUTEBOL

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Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, nascido em 1940, é um ex-jogador de futebol e empresário brasileiro. Natural de Três Corações, em Minas Gerais, é considerado o rei do futebol e um dos maiores atletas de todos os tempos.. . De origem simples, Pelé e a família se mudaram para Bauru, em São Paulo, quando o ex-jogador ainda era criança. Nesse período, o atleta ajudava a família trabalhando em lojas da região. . Filho de jogador de futebol, Pelé aprendeu a praticar o desporto com o pai. Talentoso, começou a carreira ainda na infância jogando no infantojuvenil do Bauru Atlético Clube. . Em 1956, Pelé recebeu uma proposta para jogar, oficialmente, no Bangu Atlético Clube. Contudo, recusou por causa de Celeste, mãe do atleta, que não queria que o filho fosse para a “cidade grande”. O técnico 80

do atleta, então, sugeriu que ele fosse para o Santos Futebol Clube, onde o jogador permaneceu por anos e se tornou um verdadeiro astro. . No primeiro jogo oficial pelo clube, Pelé fez dois golos contra o Corinthians. O feito fez com que o iniciante conquistasse holofotes. Contudo, foi após o torneio Rio-São Paulo em 1957 que o atleta se tornou nacionalmente conhecido. . No fim do torneio, Pelé foi convocado para jogar na Selecção. Como consequência, o Santos se antecipou e o fez titular e dono da camisa de número 10. Durante esse período, o empresário se tornou o artilheiro do Campeonato Paulista de 1957, com 17 golos. . Em 1958, Pelé se destacou na partida do Santos contra o América. O desempenho rendeu a ele a alcunha de "Rei", que o acompanha desde então. . Em 1974, Pelé realizou o último

jogo pelo Santos. Durante a passagem pelo clube, conquistou diversos títulos e prémios: foi bicampeão da Taça Libertadores da América, bicampeão mundial de interclubes, campeão da Taça de Prata, campeão da Taça Brasil (cinco vezes) e campeão do torneio Roberto Gomes Pedrosa/Rio-São Paulo (quatro vezes. . Assim como no Santos, Pelé também vestiu a camisa de número 10 na Selecção Brasileira, que se tornou marca do jogador. Pelo desempenho que tinha em quadra, em 1962 já era considerado o melhor do mundo. . Em 1970, durante a Copa do Mundo, Pelé protagonizou alguns dos lances mais bonitos da história do futebol. Em 1971, no entanto, decidiu se aposentar da Selecção. . Em 1975, tornou-se jogador do New York Cosmos. Durante a passagem pelo clube, o atleta marcou 63 golos em 108 jogos. Em 1977, conquistou o Campeonato da Liga Americana – NASL e, tempos depois, deixou a equipa. . Pelé aposentou-se oficialmente do futebol em 1977, logo após a saída do New York Cosmos. . Durante a carreira, conquistou três Copas do Mundo, foi considerado o jogador do século pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS). Também ganhou o Prémio Atleta do Século pelo Comitê Olímpico Internacional; foi sete vezes o melhor jogador do mundo pela FIFA, entre outros. . Em Novembro, o Rei foi internado novamente para uma reavaliação quimioterápica no Hospital Albert Einstein. . Para além do futebol, Pelé já actuou em diferentes filmes, documentários e telenovelas. Já lançou autobiografias e recebeu até mesmo o título honorário de Cavaleiro do Império Britânico da rainha Isabel II, numa investidura no Palácio de Buckingham. . Pelé já se relacionou com a apresentadora Xuxa Meneghel, foi casado

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três vezes e é pai de Kelly Cristina, Jennifer, Edinho, Joshua, Celeste, Flávia Kutz e Sandra Regina Machado, que faleceu em 2006. As duas últimas precisaram entrar na Justiça para que o jogador reconhecesse a paternidade. . Em 2019, Pelé precisou ser internado para tratar uma infecção urinária. Em Setembro de 2021, o jogador anunciou que estava com tumor no cólon e seria submetido a uma cirurgia para retirá-lo. . Pelé também estava em tratamento quimioterápico para tratar um tumor no intestino, um no fígado e o início de um no pulmão, de acordo com reportagem da ESPN. Devido à situação frágil, ele seguiu sendo monitorado de perto. . Considerado uma lenda do futebol mundial, Pelé conquistou diversos títulos e prémios, dentre eles, três Copas do Mundo. Segundo publicação da Forbes, em 2014, a fortuna do Rei cresceu US$ 15 milhões, aproximadamente R$ 79 milhões. À época, a revista colocou Pelé na lista dos 10 atletas aposentados mais bem sucedidos do mundo. Não há informações oficiais sobre a fortuna dele actualmente. . Ao longo da carreira, o futebolista actuou profissionalmente apenas em dois clubes: o Santos Futebol Clube, de 1956 a 1974, e o New York Cosmos, de 1975 a 1977. Em 1961, no auge da trajectória, o salário de Pelé veio à tona nas páginas dos jornais: Cr$ 2 milhões, o equivalente a R$ 70 mil nos dias actuais. . Se jogasse hoje, de acordo com estimativas da Forbes, o santista seria o jogador mais bem pago do mundo, com salário anual de US$ 223 milhões, cerca de R$ 1,1 bilhão. Para chegar ao montante, a revista realizou uma comparação entre Pelé e os quatro principais e mais valiosos craques da actualidade: o argentino Lionel Messi, o português Cristiano Ronaldo, o brasileiro Neymar e o francês Mbappé. Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

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HERDEIROS

esde 2016, Pelé é casado com Márcia Aoki. Ele teve outras duas esposas: Rosemeri Cholbi, com quem esteve junto entre 1966 e 1982, e Assíria Nascimento, com quem foi casado de 1994 a 2008. Pelé teve sete filhos, seis reconhecidos por ele. Sandra Machado, falecida em 2014 em razão de um câncer, nunca teve vínculo afectivo com o futebolista. No entanto, a paternidade da moça, fruto de um relacionamento extraconjugal do desportista com a doméstica Anisia Machado, foi reconhecida pela Justiça. Eis os herdeiros de Pelé: Kely Cristina (filha); Edinho (filho); Jennifer (filha); Sandra (filha já falecida); Flávia (filha); Joshua (filho); Celeste (filha) e Márcia Aoki (esposa) Os filhos de Pelé têm idades entre 55 e 26 anos. Joshua e Celeste, os mais novos do clã, são gêmeos. Edinho seguiu os passos do pai no fute-

bol, mas actuou como goleiro. Hoje, aos 52 anos, é treinador do Londrina, clube que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. Joshua, o outro filho homem do Rei, também tentou a sorte nos campos e chegou a passar pelo time sub-20 do Santos. Actualmente, vive nos Estados Unidos e trabalha com a parte de fisiologia no mundo do desporto. Pelé não se recusou a reconhecer a paternidade apenas de Sandra. Flávia, de 54 anos, também fruto de uma relação extraconjugal do Rei do Futebol, só foi reconhecida publicamente em 2002, aos 34 anos. Ela sabia quem era o pai desde os 18. Ao contrário da irmã, entretanto, a fisioterapeuta conseguiu construir uma relação com o progenitor, ficando ao seu lado nos últimos dias de internação. Antes de falecer, o craque passou um mês no hospital Albert Einstein, em São Paulo, travando uma luta contra a doença.

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FIGURAS DE LÁ

Lula da Silva

FIRMEZA

Escolhido pelo povo brasileiro pela terceira vez como Presidente da República, Lula da Silva, depois da sua posse, encontrou empecilhos bolsonaristas para prejudicarem a sua governação, entre eles uma tentativa de golpe de Estado no País. Lula, um político experimentado, talvez o único do Brasil com credenciais reconhecidas em todo o mundo, parece não se apoquenta com as manobras inimigas e segue firme na liderança do país, de acordo com os desejos do povo brasileiro que é a paz de espírito, harmonia e o desenvolvimento do País.

Geórgina Rodrigues

ARREBATADORA! Na Arábia Saudita onde está acompanhada pelo marido,Cristiano Ronaldo, Georgina Rodrigues arrebata em gala de moda. A beleza e a elegância da modelo, de 28 anos, deslumbrou tudo e todos na cerimónia dos Joy Awards. Para a ocasião, Gio, como a tratam na moda, elegeu um elegante vestido de veludo azul conjugado com um lenço que usou na cabeça. 82

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FIGURAS DE LÁ

Usain Bolt

GOLPE MILIONÁRIO O atleta jamaicano Usain Bolt, campeão olímpico e recordista mundial de velocidade, sofreu um golpe milionário e perdeu grande parte do valor da sua previdência. De acordo com a imprensa jamaicana, o ex-velocista aplicou e perdeu cerca de 10 milhões de dólares. Bolt está preocupado com a possibilidade de não recuperar o seu dinheiro. Ainda de acordo com os portais jamaicanos, a conta foi aberta em 2012 e não passou por nenhuma transacção desde então. Sobraram apenas 2 mil dólares. Uma empresa levantou suspeitas em Agosto, mas não conseguiu deter os golpistas. O crime afectou 30 pessoas, incluindo Bolt. As demais vítimas também perderam os seus investimentos.

Kim Kardashian

COLAR DE PRINCESA É verdade, Kim Kardashian comprou um famoso colar usado pela Princesa Diana e que estava a ser vendido num leilão. A peça custou quase 200 mil dólares, como confirmam os media de sociedade internacionais. “Estamos muito satisfeitos que esta peça tenha encontrado uma nova vida nas mãos de outro Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

nome mundialmente famoso”disse um representante do leilão em comunicado. Apelidado de Attallah Cross, o colar foi usado pela Princesa Diana numa gala de caridade em Londres, em 1987. Na altura, a Princesa combinou com um vestido Catherine Walker de veludo, preto e roxo. 83

FIGURAS DE LÁ

Príncipe Harry

ROUPA DE SALDOS

SUZANA VIEIRA

A imprensa internacional destacou que o Príncipe Harry comprava roupa de saldos,apesar de pertencer à família real britânica e de sempre ter vivido rodeado de luxos,manteve um estilo de vida bastante simples,algo que se aplicava inclusive às roupas que comprava.O duque de Sussex,de 38 anos,disse que na sombra,não perdia a

oportunidade de levar “uma pechincha para casa”.Para isso,disse na sua biografia,era cliente da TK Maxx,uma loja com uma grande variedade de produtos que existe no Reino Unido com preços muito acessíveis.”Para as minhas roupas casuais de todos os dias ia a TK Maxx,a loja de descontos.Gostava particularmente dos saldos anuais,quando ficavam cheios com coisas da Gap ou da J.Crew, que já tinham saído de colecção ou com ligeiros defeitos”-escreve Harry que nota que não era esquisito, desde que a roupa fosse boa e confortável levava.

CARNAVAL “Estou de volta à Avenida”- anunciou a actriz brasileira dançante no carnaval do Rio de Janeiro.Aos 80 anos,Suzana Vieira volta,em 2023,a desfilar no maior carnaval do mundo,integrada na escola de samba Grande Rio.A actriz esteve ausente das celebrações do Carnaval nos últimos anos devido a problemas de saúde.Tinha sido diagnosticada em 2015,com leucemia linfática crónica e convive desde então com a doença.

Gaston Cossi Dossanhoui

CHORO DE EMOÇÃO Ministro da Agricultura do Benin, Gaston Cossi Dossanhoui pôs-se em lágrimas de emoção após o anúncio do Presidente da República no parlamento,informando que o país é produtor de algodão na África Ocidental.Cossi Gaston foi o incentivador dos produtores de algodão e esse feito foi aplaudido. 84

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FIGURAS DE LÁ

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ÁFRICA - RDC

RD Congo

REBELIÃO NO LESTE FRAGILIZA TSHISEKEDI COM ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS PREVISTAS PARA DEZEMBRO, A POPULARIDADE DE FÉLIX TSHISEKEDI ESTÁ EM BAIXA. A OPOSIÇÃO ACUSA-O DE PRIORIZAR INTERESSES PESSOAIS E CULPA-O PELA RELUTÂNCIA DA REBELIÃO NO LESTE. É-LHE TAMBÉM ATRIBUÍDA A PRÁTICA DE NEPOTISMO, INSTRUMENTALIZAÇÃO DA JUSTIÇA E PARCIALIDADE DA COMISSÃO ELEITORAL NACIONAL INDEPENDENTE (CENI). O ARCEBISPO DE KINSHASA, CARDEAL FRIDOLIN AMBONGO, ESPERA UM AMBIENTE ELEITORAL SEM “TENSÕES SOCIAIS E POLÍTICAS”, DESEJANDO TAL CENÁRIO COMO FRUTO DA VISITA E DA BÊNÇÃO DO PAPA FRANCISCO. MAS, NA REGIÃO ORIENTAL DO PAÍS, REBELDES DO M23 CONQUISTAM TERRENO E O GRUPO ISLÂMICO DAESH MARCA PRESENÇA COM EXPLOSÕES DE ENGENHOS. Por: Manuel Muanza / Fotos Arquivo FN 86

À

porta das eleições presidenciais de Dezembro próximo, Félix Tshisekedi, chefe de estado, sofre acusações da oposição, entre as quais a de ser responsável pelo agravemento da insegurança com o avanço da rebelião no Leste da RDCongo. Três figuras-chave da oposição, nomeadamente Martin Fayulu, Matata Mpoyo e Denis Mukwege responsabilizam-no, ainda, pela instrumentalização da justiça. A corte suprema congolesa decidiu, em 2022, assumir a condução do dossier sobre acusações de infrac-

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ÁFRICA - RDC

BALKANIZAÇÃO DA RDC: REBELDES EM VOGA Ao invocar a insegurança, a oposição a Tshisekedi refere-se ao aumento das investidas do movimento rebelde M23 (Movimento de 23 de Maio) e dos grupos armados ugandeses ligados a ADF (Aliança das Forças De-

mocráticas do Uganda). Organizações da sociedade civil na região do Sul-Kivu subscreveram um memorado ao Secretário-geral da ONU, para, segundo elas, “alertar” a classe política sobre o perigo de “balkanização” do país. Ao mesmo tempo, realizaram marcha pacífica, em Bukavu. “Pretendemos despertar as consciências patrióticas e dizer não à balkanização do nosso país”, segundo dizeres de Jean-Chysostome Kijana, um dos líderes, publicados pela estação Radio Okapi.



Três figuras-Chave da Oposição, nomeadamente Martin Fayulu, Matata Mpoyo e Denis Mukwege responsabilizam Tshisekedi, ainda, Pela instrumentalização da justiça.



ções cometidas pelo antigo primeiro-ministro Matata Mpoyo durante o exercício das funções. O processo contra Matata Mpoyo tem a ver com o projecto de apoio a um parque agro-industrial (província de Bandundu, a Sul da RDC), o “Parc de Bukanga Lonzo”. A pretensa instrumentalização da justiça por Tshisekedi resulta do facto de a corte suprema, em anúncio público a 18 de Novembro 2022, se ter pronunciado incompetente para julgar o caso, vindo mais tarde contradizer-se assumindo-se competente para tal. Em Janeiro, Tshisekedi viu-se abandonado por um dos integrantes da plataforma mobilizadora da sua luta política. O senador Bijoux Goya invocou como motivo uma das acusações lançadas pelos três opositores, atribuindo a Tshisekedi a culpa pela insegurança no país. Fez igualmente alusão ao tribalismo e à imparcialidade na abordagem das questões internas. Apesar da deserção, algumas personalidades de relevo prestam-se a apoiar a União Sagrada de Félix Tshisekedi. Tal é o caso de Jeannine Mabunda Lioko, ex-apoiante do partido de Joseph Kabila (PPRD - Partido do Povo para a Reconstrução e Democracia). Também o ex-porta-voz do parlamento (e até então uma figura do PPRD), Evariste Boshab Mabuj-ma-Bilenge, declarou apoios a Tshisekedi depois de ter criado um partido (AAC - Aliança para Acções de Cidadania).

Face à escalada, o arcebispo de Kinshasa (capital da RDC), cardeal Fridolin Ambongo, exprimiu o desejo de ver um clima eleitoral, em Dezembro, “sem tensões sociais e políticas”. Disse acreditar no resultado da bênção do Papa Francisco, augurando o advento de um ambiente propício para “eleições credíveis, transparentes e equilibradas”. A igreja reitera apelo à paz, mas no Leste um consórcio de organizações cívicas reportou a movimentação de grupos armados ligados à rebelião ugandesa da ADF. As colunas rebeldes tomaram posições nas regiões de Beni (Norte-Kivu), diz a fonte citada por Okapi. Vários ataques atribuídos a ADF foram registados contra aldeias nas regiões de Ituri e Bunia, fazen-

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do mortos entre civis. Combates foram assinalados entre as forças congolesas (FARDC) e os rebeldes de M23, entre os quais nas regiões de Ndondo e nas linhas da frente, nas localidades Masisi, Rutshuru. Os rebeldes instalaram armas pesadas em outras localidades, entre as quais Kitobo e Nyakabingu, onde se situam as colinas de Nyakabingu, propícias para posições de artilharia. Os rebeldes do M23 cortaram a ligação rodoviária entre a cidade simbólica de Goma e a de Butembo, depois de terem tomado de assalto a vila de Kitshanga (Norte-Kivu). Kinshasa acusa o vizinho Rwanda, dirigido por Paul Kagame, de fornecer apoios à rebelião do M23. Um comentarista do jornal La Tempête qualificou de “malogro” para Kagame o anúncio de corte de ajuda de Londres a Kigali, mas os efectos da notícia ainda tardam em produzir efeitos no campo de batalha. Segundo o jornal congolês, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte cortou “definitivamente” a ajuda de 21 milhões de libras (26 milhões de euros) ao Rwanda a partir de Dezembro de 2022 devido ao apoio de Kigali à rebelião M23. Enquanto isso, surgem novos focos de violência como é o caso de grupos fundamentalistas. DAESH GANHA TERRENO O grupo islâmico Daesh reivindicou um ataque à bomba contra a igreja de Kasindi, em Beni (Norte-Kivu), em pleno culto dominical, onde morreram dez pessoas, a 15 de Janeiro. Dez dias depois, uma bomba artesanal, também atribuída a Daesh, explodiu num mercado em Kalinda, informou o jornal Le Potentiel. 87

MUNDO - NICARÁGUA

Foram enviados para o exílio e Ortega retira a cidadania deles

NICARÁGUA "DESPACHA" 222 PRESOS POLÍTICOS O regime de daniel ortega despachou 222 presos políticos directamente das prisões para o exílio nos estados unidos e ainda aprovou a reforma de um arti-go na constituição para tirar deles a nacionalidade nicaraguense e torná-los apátridas. Entre os exilados, estavam os sete candidatos que tentaram desafi-ar o ditador na eleição de 2021 e foram encarcerados. Sem adversários, ele as-segurou o quarto mandato consecutivo. Texto Sandra Cohen / Fotos Arquivo FN

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onsiderados traidores da pátria pela ditadura, os presos chegaram num voo fretado a Washington, onde receberam asilo por dois anos. Relataram o inferno de maus tratos, isolados em condições deploráveis nas prisões de segurança máxima. Foram para o exílio, porém em liberdade, conforme resumiu o escritor Sergio Rodriguez, ex-vice-presidente da Nicarágua, que também está exilado. A suspensão dos direitos de cidadania é proibida pela Constituição da Nicarágua: “Nenhum cidadão pode ser privado de sua nacionalidade”, diz a Carta. No regime de Ortega, contudo, a retirada desses direitos será incorporada como a “morte civil” do cidadão que não se 88

enquadra aos seus desígnios. O Parlamento, dominado pelo ditador, assim como os demais poderes do Estado, aprovou a modificação do artigo 21. Até a deportação é ilegal, pois refere-se somente a cidadãos estrangeiros e não aos nacionais, esclareceu o Centro de Direitos Humanos da Nicarágua. A nova condição de apátridas e a suspensão dos direitos políticos não desanimou os dissidentes que desembarcaram em Washington. “Serei nicaraguense até o dia da minha morte”, protestou o activista Felix Maradiaga, de 46 anos, dirigente da Unidade Nacional Azul e Branco, acusado pela ditadura de ser um dos líderes dos protestos de Abril de 2018. Bastante magro e recebido no exílio pela mulher Berta e a filha

Alejandra, de 9 anos, que ele não via há mais de três, contou que todos foram retirados de suas celas, durante a madrugada, e colocados em ônibus, sem saber o destino. Imaginaram que estavam sendo transferidos para uma penitenciária perto do aeroporto. Somente na porta do avião, foram surpreendidos com a viagem e tiveram que assinar um documento no qual declaravam estar deixando o país voluntariamente. Na aeronave, reencontraram outros dissidentes presos. “Foi um momento de forte emoção. Cantamos o hino nacional várias vezes ao sobrevoar o território nacional”, relatou Maradiaga. Preso há 20 meses, o empresário Juan Sebastián Chamorro, que se candidatou à Presidência, con-

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MUNDO - NICARÁGUA



A nova condição de apátridas e a suspensão dos direitos políticos não desanimou os dissidentes que desembarcaram em Washington. “serei nicaraguense até o dia da minha morte”, protestou o activista Felix Maradiaga, de 46 anos, dirigente da unidade nacional azul e branco.



siderou a libertação um milagre e agradeceu aos EUA por acolher os prisioneiros. “É uma sensação agridoce, a de desfrutar a liberdade, apesar de estar sendo expulso de nosso país.” A libertação do grupo de 220 presos políticos sinaliza o início do degelo nas relações entre EUA e a Nicarágua, mas as circunstâncias das negociações ainda são nebulosas. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, apenas elogiou a iniciativa, que destacou como unilateral, como um passo construtivo para enfrentar os abusos contra os direitos humanos no país centroamericano. Ortega, por sua vez, fez questão de ressaltar que não houve qualquer negociação com o governo norte-americano: sua esposa e vice-presidente, Rosario Murillo, foi à embaixada americana em Manágua e solicitou a expulsão dos presos, sem propor alívio nas sanções ou qualquer tipo de toma-lá-dá-cá. “Eles estão voltando para um país que os usou para semear terror, morte e destruição

na Nicarágua”, afirmou. Ex-guerrilheiro e líder da Revolução Sandinista, que em 1979 derrotou o regime Somoza, Ortega se transmutou em ditador com o passar dos anos, perseguindo e encarcerando companheiros que viraram desafetos. Entre eles, Dora Téllez, de 67 anos, que era a segunda na hierarquia militar da guerrilha. Ela foi ministra da Saúde, mas em 1995 rompeu com a Frente Sandinista. Téllez cumpria oito anos de prisão, estava isolada em uma cela es-

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cura e perdeu 15 quilos. Dois filhos da ex-presidente Violeta Barrios também estavam no voo dos exilados: a jornalista Cristiana Chamorro, que se dispôs a desafiar Ortega em 2021 e foi acusada de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, entre outros crimes; e Pedro Joaquim Chamorro, condenado há nove anos. Um dos presos se recusou a partir para o exílio: o bispo de Matagalpa Rolando Álvarez: “Prefiro pagar com a minha pena”, argumentou. Ao despachar seus desafetos para os EUA, Ortega tenta se livrar de um problema – o de manter prisioneiros políticos encarcerados. Esta iniciativa é apenas aparente. Conforme destacou a diretora para as Américas da Human Rights Watch, Tamara Taraciuk Broner, a maneira como eles foram libertados expõe a arbitrariedade da Justiça e o controle de Ortega sobre os tribunais. “A comunidade internacional não deve ter ilusões”, afirmou a Amnistia Internacional em comunicado. A repressão do regime aos direitos humanos na Nicarágua persiste e está mais severa do que nunca.

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MUNDO - BRASIL

Brasil não tem interesse em enviar armamento

"QUANDO UM NÃO QUER... DOIS NÃO BRIGAM" O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil não tem interesse em passar as munições brasileiras para que elas não sejam utilizadas na guerra entre Ucrânia e Rússia. “O Brasil é um país de paz. O último contencioso foi na guerra do Paraguai, portanto, o Brasil não quer ter nenhuma participação, mesmo que indirecta”, respondeu Lula a um jornalista. Segundo o presidente, o mundo tem 90

que procurar alguém para encontrar a paz entre Rússia e Ucrânia, pois, até agora, a palavra “paz” é pouco utilizada. “Eu disse uma coisa que eu consegui ouvir a vida inteira: quando um não quer, dois não brigam. Até aquele momento, quem não vive na região não entendia porque aquela guerra estava existindo”, declarou Lula. “Hoje tenho mais clareza da ra-

zão da guerra e acho que a Rússia cometeu o erro de invadir o território de outro país. Portanto, a Rússia está errada. É preciso que queiram a paz”, enfatizou o presidente. Lula disse que ajudará como puder, porém, não sabe como. “Se for para conversar com Putim ou com o Zelensky, eu vou conversar. Eu não sei quando essa guerra vai parar se continuar nessa inanição que estamos vivendo”, concluiu.

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MUNDO - EUA

EUA pedem aos cidadãos

"AMERICANOS DEVEM ABANDONAR A RÚSSIA" tigações criminais questionáveis contra norte-americanos que estão envolvidos em actividades religiosas", explica a embaixada. A Rússia abriu um processo criminal contra um cidadão norte-americano por suspeitas de espionagem, disse o Serviço Federal de Segurança,em Janeiro.

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Britiney Griner, basquetebolista esteve detida na Rússia

s Estados Unidos da América pediram aos seus cidadãos para saírem imediatamente da Rússia. Em causa, receios ao nível da segurança, nomeadamente, devido à guerra na Ucrânia e ao risco de prisões arbitrárias ou perseguição por parte das autoridades russas. A embaixada acrescentou que deve ter-se “maior cautela devido ao risco de detenções injustas” e instou ainda os cidadãos americanos a não viajarem para a Rússia. Os Estados Unidos da América já pediram, várias vezes, aos seus cidadãos para deixarem a Rússia. O último

aviso público foi em Setembro, depois do Presidente Vladimir Putin ter ordenado uma mobilização parcial. "Os serviços de segurança russos prenderam cidadãos norte-americanos com base em acusações falsas, isolaram-nos na Rússia para os deter, negaram-lhes um tratamento justo e transparente e condenaram-nos em julgamentos secretos ou sem apresentarem provas credíveis", disse a embaixada. A aplicação de leis locais contra pessoas que têm ligações à religião também têm sido uma constante. "As autoridades russas aplicam arbitrariamente leis locais contra cidadãos americanos que trabalham na área religiosa e abriram, inclusivamente, inves-

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PRISIONEIROS AMERICANOS NAS PRISÕES RUSSAS Brittney Griner, uma das desportistas mais conhecidas dos EUA, esteve detida numa prisão russa. A basquetebolista só voltou para os Estados Unidos da América, em Dezembro. A libertação de Griner fez parte de um acordo entre Washington e Moscovo que envolveu também a libertação do traficante de armas Viktor Bout, preso nos EUA. A desportista só saiu da prisão 10 meses após a detenção. O estatuto de Griner como mulher negra e homossexual, a sua proeminência no basquetebol feminino e a sua prisão num país onde as autoridades têm sido hostis relativamente à comunidade LBGTQ aumentaram ainda mais as preocupações em torno do caso, que acabou por se tornar mediático. Entretanto, outro americano permanece preso na Rússia, uma vez que não fazia parte da troca de prisioneiros de Dezembro. Trata-se de Paul Whelan, um antigo fuzileiro americano, que foi detido por suspeitas de espionagem em Moscovo, em 2018, e condenado a 16 anos de prisão. 91

MUNDO - UCRÂNIA/RÚSSIA

Ucrânia

ALEMANHA DIZ "NÃO" AO CONFLITO RÚSSIA-OTAN

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chanceler alemão, Olaf Scholz, reafirmou recentemente que a Alemanha não vai permitir que a guerra na Ucrânia escale para um conflito 92

entre a Rússia e a Otan, após se reunir com o presidente chileno, Gabriel Boric, em Santiago, durante seu giro pela América do Sul. "Temos contribuído para que não

haja uma escalada do conflito porque isso teria consequências graves para todo o mundo. Isso levaria, por exemplo, a uma guerra entre a Rússia e a Otan. Isso não vai acontecer, vamos

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MUNDO - UCRÂNIA/RÚSSIA

evitá-lo com todos os nossos esforços, temos conseguido até agora e continuaremos fazendo isso", disse o chefe de governo alemão. Após declarar em uma entrevista a um veículo alemão que não enviaria aviões de combate à Ucrânia, após ter prometido mandar 14 tanques Leopard 2, o chanceler alemão explicou em Santiago que, juntamente com o presidente americano, Joe Biden, "rejeitamos enviar tropas à Ucrânia" a fim de evitar uma escalada do conflito. "Trata-se de apoiar a Ucrânia, trata-se de ter um debate sério para tomar as decisões que tiverem que ser tomadas e não deveria ser uma competição de quem envia mais armas", explicou Scholz. O líder alemão lembrou que a Alemanha "deu apoio, assim como outros países, de forma financeira, de forma humanitária e também (com) envios de armas, é nossa obrigação". "Não existe um país que apoie mais a Ucrânia do que a Alemanha", acrescentou. Boric, por sua vez, informou que fará uma videochamada em breve com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, e reafirmou seu compromisso de apoiar "na questão da desminagem", assim que a guerra acabar e "contribuir multilateralmente para a paz". "Vamos defender sempre o multilateralismo, a resolução pacífica dos conflitos e a vigência dos direitos humanos", disse o presidente chileno. O giro de Scholz pela América do Sul começou na Argentina, onde se reuniu com o presidente Alberto Fernández. Depois deste encontro, Scholz seguiu para o Brasil e se tornará o primeiro líder das potências ocidentais a se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que assumiu o terceiro mandato, em 1º de Janeiro. France-Presse Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

ALEMANHA VAI ENVIAR TANQUES LEOPARD 2

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Alemanha vai enviar para a Ucrânia pelo menos 14 tanques Leopard 2, há muito reclamados por Kiev. Berlim ainda não confirmou oficialmente, mas a informação é avançada por meios de comunicação alemães, que citam fontes próximas do governo. O semanário alemão Der Spiegel afirma que o governo terá já aprovado o envio dos tanques e está preparado para autorizar a transferência de pelo menos uma companhia especializada "Leopard 2A6" para território ucraniano. Depois de um encontro com o secretário-geral da NATO, o próprio ministro alemão da Defesa afirmou "esperar que a decisão esteja para breve". Boris Pistorius disse também que "encoraja explicitamente os países parceiros, que detêm tanques Leopard preparados para ser usados, para treinarem tropas ucranianas no seu uso". Um grande número de parceiros europeus tem pressionado Berlim para tomar uma decisão, o que a Alemanha se tinha mostrado disposta a fazer apenas em acordo

com os Estados Unidos. Segundo o Wall Street Journal, Washington poderá enviar também em breve tanques Abrams. Espera-se que o chanceler alemão torne oficial a decisão, autorizando também países como a Finlândia e Polónia a enviar tanques Leopard para a Ucrânia. A Polónia tinha enviado esta terça-feira para a Alemanha o pedido de autorização para poder ceder ao exército ucraniano os tanques Leopard 2 que tem em seu poder. O ministro polaco da Defesa, Mariusz Błaszczak, apelou ainda pelas redes sociais ao fabricante europeu dos tanques para se juntar à vaga de países que deverão enviar Leopards para ajudar a travar a invasão russa. Da Rússia, a reacção é, como seria de esperar, de condenação. O porta-voz do Kremlin, Dimitry Peskov, afirmou que as entregas de tanques ocidentais a Kiev não vão trazer "nada de bom" para o futuro das relações com a NATO e a Alemanha e "deixarão uma marca duradoura". 93

SAÚDE & BEM-ESTAR

TIPOS, CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

O QUE SÃO QUEIMADURAS?

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ma queimadura é definida como sendo uma lesão traumática que acontece na pele e é ocasionada por algum agente externo.Esse agente externo pode ser um produto químico ou alguma substância que esteja muito aquecida, como a água fervendo. Um choque eléctrico, por exemplo, também é capaz de resultar em uma queimadura. O sol é capaz de causar uma queimadura na pele, a chamada queimadura solar, sendo que essa é considerada também uma queimadura térmica.

QUAIS SÃO OS TIPOS DE QUEIMADURA? As queimaduras podem ir além da pele, atingindo até mesmo os músculos e ossos. Cada tipo de queimadura recebe uma classificação, de acordo com o seu tamanho e a profundidade que atingiu o corpo do indivíduo. Podemos ter queimaduras de 1° grau, queimaduras de 2° grau e queimaduras de 3° grau.Na queimadura de 1° grau, a pele costuma ficar avermelhada e pode descamar, mas não forma bolhas. Esse é um tipo de queimadura doloroso, mas que não costuma causar nenhum sintoma mais grave porque só atinge a camada superficial da pele. Boa parte das queimaduras causadas pelo Sol são consideradas queimaduras de 1° grau. A queimadura de 2° grau pode atingir a derme e, além da vermelhidão e da dor, similares à queimadura 94

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SAÚDE & BEM-ESTAR



Após uma queimadura, a melhor forma de tratar a lesão é interrompendo o contacto da pele com a substância que está causando a queimadura e lavar o local atingido com água corrente gelada. É preciso manter o membro queimado ou a parte do corpo que foi queimada debaixo d’água até que o local seja resfriado.



de 1° grau, a pessoa pode desenvolver bolhas e a queimadura pode ter uma aparência mais húmida. Podem se perder algumas terminações nervosas, o que pode ser muito doloroso, e a pessoa pode perder também pelos e algumas glândulas sudoríparas, devido à profundidade. Seu tempo de cura é maior, mas o corpo não costuma ficar com marcas. A queimadura de 3° grau é o tipo mais grave, porque pode atingir não somente a pele, mas também os músculos e ossos. Suas lesões possuem uma grande gravidade, sendo que a cura é obtida somente por meio de enxertos e cirurgia.

que está causando a queimadura e lavar o local atingido com água corrente gelada. É preciso manter o membro queimado ou a parte do corpo que foi queimada debaixo d’água até que o local seja resfriado. Depois disso, procure ajuda médica para saber como proceder com o tratamento da queimadura. É importante não estourar bolhas de jeito nenhum, porque elas acabam por proteger a pele. No caso de uma queimadura solar, é possível utilizar unguentos que aliviam a dor da queimadura. É importante reforçar que sofrer queimaduras solares pode atingir directamente a saúde da pele, causando problemas futuros e aumentando as chances do indivíduo desenvolver, por exemplo, câncer de pele. O protector solar é essencial para prevenir queimaduras solares. No caso de queimaduras de maior gravidade, de segundo ou terceiro grau, o tratamento só efeito sob indicação médica. In "Rede D’Or São Luiz"

O QUE FAZER APÓS UMA QUEIMADURA? Muitas pessoas tratam a queimadura em casa, mas é preciso tomar cuidado ao utilizar remédios caseiros e substâncias que acabam por piorar a queimadura. Após uma queimadura, a melhor forma de tratar a lesão é interrompendo o contacto da pele com a substância Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

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SAÚDE & BEM-ESTAR

Afogamentos

UMA FATALIDADE MUITO COMUM O afogamento ocorre quando há aspiração de líquido em razão de submersão. Essa fatalidade pode causar a morte, sendo necessário atenção em ambientes como rios e mares.É uma fatalidade muito comum e geralmente ocorre em momentos de lazer da vítima.

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ssa fatalidade é responsável por uma grande quantidade de mortes, principalmente entre jovens e adolescentes. Todos os anos são registradas mais de 7.000 mortes em decorrência desse tipo de acidente, sem contar as vezes que o corpo não é encontrado e a morte não é registrada. Podemos dizer que houve afogamento quando um líquido de qualquer natureza foi aspirado em virtude de submersão. O afogamento provoca a entrada de água nas vias respiratórias, impedindo a obtenção de oxigénio atmosférico, o que pode causar a morte caso a vítima não seja socorrida a tempo.

Principais causas de afogamentos - Os afogamentos são comuns durante o verão, época em que as pessoas mais frequentam áreas de rios e mares. Desconhecimento das condições do local e falta de habilidade do nadador estão entre as prin96

cipais causas de afogamento. Além disso, podemos citar como causas de afogamento o mergulho em áreas rasas, que pode levar a traumatismo seguido da aspiração de água, ingestão de bebidas alcoólicas, crises convulsivas, doenças cardiorrespiratórias e câimbras. Em afogamentos em residências, destacam-se os de crianças que se afogam em banheiras e outros recipientes com água por ficarem sem a supervisão de um adulto. Denominamos de afogamento primário aquele em que não se observa nenhum factor que levou ao afogamento. Este ocorre natural-

mente em virtude da falta de habilidade da vítima, por exemplo. Já o secundário está relacionado com alguma patologia que dificulte que a vítima mantenha-se na superfície.

Como ocorre o afogamento? Quando uma pessoa entra em contacto com a água e percebe que sofrerá o afogamento, ela geralmente se desespera e inicia uma luta para manter-se na superfície. Quando ocorre a submersão, instantaneamente a pessoa prende a respiração. Essa parada da respiração depende da capacidade física de cada indivíduo.In "Mundo Educação"-

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MODA & BELEZA

PADRÃO DE BELEZA E MODA: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA A MODA NOS CONVENCE A COMPRAR PEÇAS E MAIS PEÇAS MUITAS VEZES SEM NECESSIDADE...

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ocê está satisfeita com o seu corpo? Se a resposta é não, lembre-se: você não está sozinha. E o padrão de beleza da indústria da moda pode ter uma relação direta com essa sensação de infelicidade. Como já falamos no texto ”Moda Circular: como chegamos até aqui", a moda tende a reflectir os comportamentos de uma sociedade. Mas hoje, ela vai além disso. A moda é, acima de tudo, uma indústria preocupada com a produção e venda de grandes quantidades de produtos têxteis. E, para isso, antes de vender roupas, a moda precisa vender desejos. Desfiles, campanhas e, mais recentemente, as mídias sociais, são utilizadas para isso. Para vender sonhos. Mesmo que sem as luzes, sem a maquiagem e sem o photoshop as próprias modelos e influencers dificilmente consigam alcançar o tal padrão de beleza ditado pela moda, ele é vendido e desejado em todos os continentes. É posto como regra e como sinónimo de sucesso. É desta forma que a moda nos convence a comprar peças e mais peças muitas vezes sem necessidade: para nos tornarmos algo que não somos e dificilmente poderemos ser. Mesmo quando isso significa nos encaixarmos em padrões que nem sempre nos deixam felizes. Seja com espartilhos para afinar a cintura, com os antigos vestidos de anquinhas para dar mais volume ao quadril ou com as calças jeans para levantar o bumbum, as peças procuram atender expectativas muitas vezes irreais. "Ela só veste bem porque é magra!" - Você já deve ter escutado a frase acima. Então quer dizer que para ser uma pessoa bem vestida, é preciso ser magra? Encontrar peças sofisticadas, num tamanho maior, é uma tarefa que pode ser bastante difícil. Além da quantidade limitada, os

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MODA & BELEZA



Os problemas de meninas adolescentes, pressionadas a reduzir medidas e a realizar sacrifícios enormes de saúde, já renderam muitas matérias e estudos sobre o lado obscuro da indústria da moda.



cortes padronizados para tamanhos menores ignoram os inúmeros e diferentes tipos e formatos de corpos. Muito menos, levam em consideração a cultura, os diferentes tons de pele, o sentir-se bem com o próprio corpo. É como se as pessoas fora de um "padrão" (que padrão mesmo, hein?), não tivessem o direito de ter o próprio estilo, de serem representadas ou de se sentirem bem com a própria imagem. Para a indústria convencional, são as pessoas que devem se adaptar às roupas, e não o contrário. Plus Size e o Tamanho 40 - O padrão de beleza corporal imposto pela indústria da moda é tão difundido que causa espanto quando uma grife ousa desafiá-lo. E esse foi o caso do mais recente desfile da Versace, na Semana de Moda de Milão (2020). Apesar da importância que tem, e mesmo que vez ou outra as sema-

nas de moda apresentam algum desfile que tenta ser mais inclusivo, elas nunca foram reconhecidas pela diversidade nas passarelas. Tanto que bastou a Versace levar 3 modelos "plus size" (há controvérsias como você lerá abaixo) para que o fato fosse visto como "inédito" na grife, já que a marca sempre fez sua fama com as bombshells em vestidos colantes.

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Entre as modelos do desfile, estavam a holandesa Jilla Kortlove e as americanas Alva Claire e Precious Lee. As três com corpos muito mais próximos da realidade da maioria das mulheres do que as modelos tradicionais. A iniciativa da Versace foi considerada histórica por algumas publicações especializadas. Contudo, chama atenção a repercussão que a modelo Jilla Kortlove teve na imprensa. Jilla, que veste manequim 40, foi considerada modelo Plus Size em vários artigos. Vale ressaltar que a mesma modelo também desfilou para a Chanel na última terça-feira, data que encerrou a Paris Fashion Week. Mas, dessa vez, sem o tipo de comentários feitos em ocasião do desfile da Versace, em Milão. Em tempo: o termo Plus Size (tamanho grande), é utilizado para de99

MODA & BELEZA



Casos de anorexia e bulimia são tão conhecidos entre jovens que almejam a carreira de modelo. Os problemas de meninas adolescentes, pressionadas a reduzir medidas e a realizar sacrifícios enormes de saúde, já renderam muitas matérias e estudos sobre o lado obscuro da indústria da moda.



signar roupas feitas para pessoas que excedem a uma determinada média. E isso varia de país para país. No Brasil e na França, por exemplo, o tamanho médio para as mulheres é 42. Um desfile a passos lentos - Um levantamento realizado pelo The Fashionspot, site que publica relatórios sobre diversidade do sector da moda desde 2014, é revelador. Nele, é possível ver como essa indústria ainda trata de forma tímida e lenta assuntos tão relevantes como representatividade e inclusão. Para a temporada primavera-verão de 2020, os pesquisadores contaram um número de 86 modelos Plus Size (tamanho grande) nas passarelas dos grandes desfiles de moda. Em 2019, na temporada de outono-inverno, eram apenas 50. E isso dentro de um número total aproximadamente de 2.200 modelos que desfilam a cada temporada. Quando se fala de padrão de beleza, não podemos limitar apenas ao tamanho e peso da pessoa. Outras minorias também devem ser representadas como as modelos trans e as modelos negras. Embora as negras tenham mais visibilidade e existem grandes nomes consagra100

A CORRIDA PELAS CIRURGIAS PLÁSTICAS

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o mundo real, as consequências também podem ser sentidas. O Brasil ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o País que mais realiza cirurgias plásticas no mundo. De acordo com os dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), em 2018, foram registradas mais de 1 milhão 498 mil cirurgias plásticas estéticas em nosso país, além de mais de 969 mil procedimentos estéticos não-cirúrgicos. Isso sem falar das cirurgias e procedimentos não-estéticos realizados de forma clandestina, com graves riscos à saúde dos pacientes e que já deixaram muitas pessoas com sequelas. Entre as intervenções mais procuradas, estão: aumento mamário com prótese de silicone; Lipoaspiração;Abdominoplastia; Plástica das pálpebras (blefaroplastia); Suspensão das mamas (mastopexia); Redução mamária; Plástica do nariz (rinoplastia); Cirurgia do rejuvenescimento da face (lifting facial); Empoderamento:

meu corpo, meu estilo; Mas nem tudo é exploração e problemas na indústria da moda. Quando utilizada com consciência, de forma responsável, a moda é uma ferramenta incrível de empoderamento. Com a moda, através das roupas e acessórios que vestimos, podemos mostrar ao mundo quem somos e o que pensamos. Podemos manifestar e exibir nossa criatividade e nossas raízes. Por isso, é preciso ter consciência de como as campanhas são realizadas e de como as empresas funcionam. É preciso entender que as redes sociais não reflectem a vida no dia a dia. Em especial, temos que proteger os mais jovens de influências negativas e frustrações provocadas por objectivos inalcançáveis. Devemos exigir, para a nossa própria saúde física e mental, que as passarelas reflictam mais e melhor a diversidade de corpos, estilos e desejos que encontramos nas ruas. E, antes disso, devemos olhar para o nosso próprio guarda-roupas. (...)

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MODA & BELEZA

dos, elas ainda sofrem preconceito na sua luta por espaço. E o que dizer das modelos trans? Onde está a representatividade? Discutir a questão da representatividade é tão necessário quanto dar voz a essas pessoas. Lançado há cerca de 2 meses no Brasil, o reality show Born to Fashion provoca o diálogo entre moda e identidade, chamando atenção para a luta dessas mulheres em busca de um lugar ao sol no mercado da moda. O programa, exibido às quintas-feiras no canal E!, deve ter sua relevância reconhecida quando abre espaço para modelos transgénero no mercado da moda. Fotos e Filtros - As mídias sociais tornaram-se grandes vitrines para padrões de beleza e estilo de

vida inalcançáveis para a maioria das pessoas. As empresas e grifes descobriram isso e exploram essa forma de marketing todos os dias, com muitos filtros e edições. Não à toa, o número de casos de depressão na adolescência cresce cada vez mais. Estima-se que 1 a cada 5 jovens de 12 a 18 anos sofra com essa doença no Brasil. Os motivos para isso são muitos, mas costumam envolver bullying e pressões sociais relacionadas a factores físicos e estéticos. Além disso, casos de anorexia e bulimia são tão conhecidos entre jovens que almejam a carreira de modelo. Os problemas de meninas adolescentes, pressionadas a reduzir medidas e a realizar sacrifícios enormes de saúde, já renderam muitas matérias e estudos sobre o lado obs-

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curo da indústria da moda. Apesar de sermos um país miscigenado, ainda cultuamos padrões de cor de pele, olhos, cabelos e formas vindos do hemisfério norte. Recentemente, esse desejo em alcançar o padrão de beleza também levou ao surgimento de diversos aplicativos de modificação facial. Especialmente nas redes sociais populares entre os mais jovens, como o TikTok. Com os filtros, é possível afinar ou aumentar o nariz, remover manchas e clarear os dentes virtualmente, antes de tirar uma foto. Por mais jovens e bonitos que sejamos, eles mostram quão distantes estamos dessa beleza simétrica e perfeita, que só existe no plano das ideias (virtuais!). (In "EMIGÊ - Moda Circular" )

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LIFE STYLE

UM “VELHO” MERCADO REFÚGIO A alta relojoaria representa hoje em dia um importante mercado refúgio dada a elevada volatilidade dos segmentos de investimento tradicionais. Como tantos outros sectores de mercado mundiais, também a alta relojoaria sofre com a falta de materiais disponíveis no mercado para o fabrico dos seus modelos. Por outro lado, o mercado secundário de relógios de luxo tem vindo a ganhar terreno o que se reflecte nos preços praticados, que muitas vezes ultrapassam o preço das lojas que não têm para entrega.

HUBLOT BIG BANG Integrated all black 40mm

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lém de uma peça de alta de relojoaria, este modelo é também um hino ao design. A Hublot disponibilizou apenas 250 unidades desta referência. Estanque até aos 100 metros, o Big Bang All Black, disponibiliza ainda uma reserva de marcha de 50 horas.

Preço: 20.000 euros / 10.000.000 kzs

Textos e Fotos: Vítor Norinha (jornalista)

FRANCK MULLER Grand Central Tourbillon

ROLEX SEA-DWELLER Oyster, 43 mm, Aço Oystersteel

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Rolex criou este modelo assente na essência do submariner, um modelo icónico que marcou uma era na alta relojoaria. O Sea-Dweller apresenta um mostrador preto exclusivo e marcadores de horas grandes e luminescentes. Este modelo garante a estanquidade até 1.220 metros e dotado de uma luneta giratória unidireccional graduada 60 minutos, o Rolex Sea-Dweller está entre os relógios de mergulho ultrarresistentes projectados pela Rolex para explorações em grandes profundidades. Preço: 13.350 euros / 6.675.000 Kzs

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Grand Central Tourbillon apresenta uma evolução nos tradicionais Tourbillons, colocando o Tourbillon no centro do relógio. Na sequência do recente lançamento do Grand Central Tourbillon Curvex™ CX, a Franck Muller apresenta agora uma colecção redonda. Uma caixa de 46 mm de diâmetro, reflectindo o domínio de Franck Muller sobre a arte das complicações. Preço: n/d

CHOPARD MILLE MIGLIA 2020 Race Edition 42mm

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m cronógrafo faz parte do equipamento essencial para qualquer “Gentleman Driver”, e é por isso que cada equipa participante do Mille Miglia recebe o relógio Mille Miglia Race Edition daquele ano no início da corrida. A edição de 2020 está disponível em duas versões, cada uma equipada com um movimento cronómetro certificado: 1.000 relógios em aço inoxidável revestido com DLC microjateado e 250 em aço inoxidável revestido com DLC microjateado e ouro rosa ético. Preço: 8.500 euros / 4 250 000 Kzs

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Carro

LAMBO LANÇA O HURACÁN STERRATO PARA TODO-O-TERRENO Desengane-se quem diz que os superdesportivos não podem ser carros off-road. A Lamborghini irá começar a produzir uma edição limitada a partir deste mês de Fevereiro de 2023 e o novo Huracán Sterrato, um super-carro desportivo com um motor V10 e tracção total irá fazer as delícias de coleccionadores e dos mais afortunados. Ainda sem um valor final definido, o modelo foi apresentado há algumas semanas no Art Basel de Miami Beach e e em termos gerais temos um todo-o-terreno com “altíssimas prestações” como diz a marca, a par da diversão de conduzir um carros de ralis. Texto e Fotos: Vítor Norinha (jornalista)

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as aquilo que mais nos interessa é as características técnicas deste novo “Lambo”. O chassis é híbrido, ou seja é construído em alumínio e fibra de carbono, com painéis exteriores em alumínio e material compósito, com uma natural direcção assistida electromecânica e dis-

cos de travão ventilados de duplo circuito hidráulico e capaz de reduzir a velocidade do veículo dos 100 km/h aos zero quilómetros em apenas 30 metros. Em termos daquilo que vâ do exterior temos jantes de 20 e 21 polegadas, concretamente à frente e na traseira, e com pneus específicos da Bridgestone, enquanto o tratamento de gases de escape é feito com dois catalizadores com sonda lambda e o sistema de refrigeração é feito através de um fluxo cruzado a água e óleo. As performances são excepcionais como não podia deixar de ser. A arquitectura do motor é um V10 a 90 graus, com uma potência máxima de 610 cv e um binário de 565 Nm às 6500 rpm. Ajudado por uma transmissão de dupla embraiagem LDF de sete velocidades consegue uma velocidade máxima de 260 km/h,

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com capacidade de acelerar dos 0 aos 100 km/h em apenas 3,4 segundos e ainda uma espectacular prestação de 9,8 segundos dos 0 aos 200 km/h. Mas o que tem de especial este Huracán Sterrato é a tecnologia que está muito acima da do irmão mais velho, o EVO. O Sterrato tem uma versão actualizada do sistema Lamborghini Integrated Vehicle Dynamics com calibrações específicas para os modos Strada e Sport e para condições de baixa aderência, o Sterrato passou a incluir o modo Rally. A diversão a oferecer aos utilizadores é o principal objectivo do construtor de Modena, Itália e, para isso, o Sterrato tem mais 44 mm de altura ao solo do que o Huracán EVO e isto permite garantir um maior curso da suspensão. Simultaneamente foi aumentada 103

LIFE STYLE

a largura das vias dianteira e traseira, tendo sido ainda aumentada a proteção inferior dianteira em alumínio e reforçadas as longarinas, enquanto a tomada de ar através do capô deixa de ter uma função meramente estética para ter uma função crítica ao fornecer ar limpo ao motor quando o Sterrato é conduzido fora de estrada. Globalmente estamos perante um superdesportivo que respeita a herança e o ADN e marca uma posição social. É preciso perícia para o conduzir mas o sistema integral controlado electronicamente e com diferencial traseiro autoblocante mecânico ajuda muito. E no interior há exclusividade com o revestimento Alcantara Verde Sterrato e que respeita a filosofia da marca que quer que todos os condutores se sintam pilotos e, por isso, coloca o condutor no centro do habitáculo. A digitalização está em todo o lado e neste caso o ecrã tátil tem novos gráficos e funcionalidades com desenvolvimento particular para a condução off-road. Está incluído – o que acontece pela primeira vez na marca – um inclinómetro digital, com indicador de inclinação e rolamento, uma bússola, um indicador de coordenadas geográficas e um indicador de ângulo de direcção. No serviço de bordo e para regiões com boa cobertura celular a Lamborghini Connect inclui a integração com Amazon Alexa para a regulação do sistema de climatização e a iluminação, e ainda o controlo da navegação, das chamadas telefónicas e do sistema de infoentretenimento. Estes serviços funcionam com comando de voz. A App Lamborghini Única permite o envio de um destino directamente para o sistema de navegação. Os utilizadores da Apple Watch podem sincronizar a informação do ritmo cardíaco com o sistema de telemetria de bordo para medir o desempenho ao volante. É ainda possível gravar vídeos e registar as experiências ao volante. 104

DADOS TÉCNICOS Modelo: Lamborghini Huracán Sterrato Arquitetura: V10 de 5,2 litros com potência de 610 cv Transmissão: Dupla embraiagem de 7 velocidades Velocidade máxima: 260 km/h Aceleração dos 0 aos 100 km/H: 3,4 segundos Travões: Pinças monobloco fixas em alumínio com seis pistões à frente e quatro atrás, e discos carbocerâmicos ventilados e perfurados. Preço: ND. Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

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RECADO SOCIAL Carlos Miranda [email protected].

TEMPOS DO "DEVE E HAVER" PAÍS (MEMÓRIAS)

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á não é novidade para ninguém que ao longo de muitos anos, neste país andava um grupo de chicos-espertos bem identificados e completamente desligados com o que de mais de recto, honesto e sério se devia fazer para melhorar a gestão do país. Não lhes interessava o cumprimento das leis que eles próprios faziam ou mandavam tricotar e aprovar, depois de concertações rechonchudamente remuneradas; passavam por cima de tudo e de todos, colocavam em sentido as instituições do Estado encarregues de fazer valer os direitos da maioria, enfim, era um sem fim de atropelos e desmandos que um país de mais de 1 milhão kilómetros quadrados se resumia a meia dúzia de herdades transformadas em "ninhos de marimbondos". Era essa gente que detinha as chaves do passado, do presente e do futuro de uma Nação; que era proprietária dos seus recursos, os bancos, empresas e um sem fim de meios colocados à sua disposição para que fosse capaz de produzir, inclusive, "o ar que as pessoas respiravam", conforme disse um daqueles seres torpes, esses, sim, paridos por eles, transformados em seus porta-vozes. Constituiram-se em "donos disto tudo", os magnatas de índole duvidosa, desde sempre protegidos por quem se dizia defensor dos direitos da maioria que lhe sustentou no poder, mas que, afinal, era silenciada e amordaçada num meio de pobreza extrema. É com esta gente que o povo foi capaz de conviver e suportá-la, sem que pudesse levantar o seu grito de indignação e se alguns mais corajosos o fizessem, logo se esbarravam com leis claramente contrárias ao espírito e à letra de uma Constituição da República considerada das mais modernas e democráticas do mundo. Foi preciso suportar todas as dores de crescimento de uma democracia frágil e de uma sociedade civil amedrontada que , pouco a pouco, foram dando sinais de que algum dia a fanfarra daquela "gente" poderia ser parada. E, assim, há pouco tempo se foi fazendo luz nos partidos políticos, nas organizações de massas conscientes, nas associações sócio-profissionais desligadas do "sistema" daquela "gente"; na imprensa, na academia e , completamente transformada, Angola vai sendo vista com alguma seriedade no mundo. Ainda que de forma lenta, lá isso é verdade, mas que o país mudou...mudou!

E "aquela gente", hoje, vai sendo encostada às cordas, depois de ter dado tantos pontapés a quem se lhe aparecesse pela frente, esmagando-os com as promessas mentirosas e com o chicote da repressão cínica, bastas vezes sem sangue e lágrimas, mas na mesma eficazes; transformando muitas mentes sadias em meros robôs, espantalhos políticos e militares servidores dos seus interesses corporativos. Não deixaram "nada para contar história do deve e haver". Colocaram o país no início do fim de uma desgraça geral; um inferno do qual a maior parte já dava sinais que de lá jamais poderia sair. De resto, quase já ninguém se importava quem fosse penalizado nas urnas, mais importava, sim, quem estivesse no poder. O desânimo era evidente nos dias vividos de medos e de muita incerteza. Já poucos acreditavam que um dia, por exemplo, tanta gente fosse obrigada, hoje, a declarar os seus bens!E a coisa é mais para cumprir...Não há muitos dias, a notícia chegou ameaçadora, aterradora e ao mesmo tempo inesperada, pelo menos para alguns que ainda acreditavam no "tesoureiro do costume" heróico e imortal. A notícia que teimava em não surgir durante mais de trinta anos dizia, num resumo dramático, que os titulares de cargos públicos deviam imediatamente declarar os seus bens! E lá vinha a data, decisiva e incontornável: até ao dia 22 de Abril de 2019!. E quem eram estes indivíduos que deviam "prestar declarações", obedecer à lei, andarem às direitas, sem truques e tricas? Pois são também os nossos digníssimos titulares de cargos políticos, de cargos de direcção e chefia e demais gestores públicos, incluindo de empresas públicas e empresas de domínio públicos. Objectivo? Simples:Todos eles, com carácter urgente, são obrigados, a remeterem à Procuradoria-Geral da República (PGR), à Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE) ou ao Serviço Nacional de Contratação Pública (SNCP) "as declarações de interesses, de bens e de rendimentos e de imparcialidade, confidencialidade e independência, conforme o caso". Ora, e se cumprirem, o que teremos?Certamente mais transparência., mais ética, mais verdade e mais País.E certamente aquela gente terá menos espaço para travar o rumo pretendido pela maioria: simplesmente um "país bom para se viver".Desta vez... a sério! Abril/2019 P.S.- São memórias, apenas simples memórias... Figuras&Negócios - Nº 217 - JANEIRO DE 2023

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