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FOLHAS SOLTAS

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folhas

s o l t a s ©2022

Álvaro Vaz Álvares

AVAZA

Reservados todos os direitos. A autorização para reprodução total ou parcial dos textos desta obra deve ser solicitada ao autor.

Todos os direito reservados Braga, Portugal

Edição de autor ([email protected])

AVAZA

©2023

As imagens, exceto quando indicado, foram descarregadas gratuitamente de: https://www.freepik.com

folhas soltas Um livro é como uma árvore: tem folhas. Em ambos os casos são partes integrantes do todo, sua partes fundamentais. Se soltas, podem deixá-lo facilmente. E, sem o todo, são apenas folhas

soltas, já não são árvore, nem livro. As folhas captam a luz e fazem a fotossíntese, são essenciais para a árvore. Em alguns casos, soltam-se, esvoaçam e caem ao chão. Já não são árvore. As folhas são parte fundamental dum livro. São o suporte do que está escrito, pedaços de informação da história contada, da informação contida. Se soltas, não contam a história. Já não são livro. Como a folha já não é

árvore. Mas estas folhas soltas, não se desprendem, fisicamente, do livro. Estão a ele conectadas, presas. Como as folhas da árvore, estas folhas soltam-nos a imaginação, esvoaçam nossos sonhos, e caem na nossa memória. Aqui, são um livro de folhas juntas, mas de leituras soltas em cada história. São como uma árvore de folha perene. Que estas folhas soltas, caiam na vossa memória, sempre juntas.

A. Vaz Álvares 2023

-9-

folhas soltas RITMO

7

HABITANTES DISMORFIA

13 15

TRANSCORPO

19

NÃO SOU EU

23 VOO

TRINDADE

27 30

MITO DO GIRASSOL

33

PALAVRAS A MAIS HÁ CÁ CANELA?

37 38

OLHOS FECHADOS SEM CONTRÁRIO

41 43

SEM COR RELÓGIO

45 49

O ritmo é bem ritmado, Vive muito compassado, De andamento vagaroso, gravíssimo, De cadência saltitante, prestíssimo.

O ritmo está no som, No movimento, na ação; Na música que se escuta, Na dança que se executa; Na poesia que se rima,

Na prosa da obra-prima; No corpo que se meneia, Na língua que se trauteia; Na leitura é habilidade, No movimento é capacidade; No desporto é de eleição,

Na ginástica e na natação.





Em prosódia ou em métrica, Em casuística ou rítmica, Há ritmos variados, Que aparecem por todos os lados.

O ritmo do coração, O ritmo da respiração. O ritmo do sono e da vigília, O ritmo ao longo do dia. O ritmo das ondas do mar, O ritmo das marés a variar.

O ritmo das monções, O ritmo das estações. O ritmo da vinda e da partida, O ritmo da própria vida.





O ritmo está no tempo, Na velocidade do movimento. Na duração do silêncio e do som, Na pulsação da percussão, No padrão repetitivo ou aleatório. Na lengalenga do recordatório. Na constância ou na inconstância, Na cadência ou na alternância. Na força fraca, ou forte, da batida, Na coreografia da movida. Na extensão da nota longa ou breve,

Na escrita da semifusa ou semibreve. Na simetria ou na assimetria, Na realce da harmonia. Na regularidade ou na irregularidade, Na temporalidade ou na intemporalidade.





O ritmo pode ser disciplinado,

Ou, apenas, ensinado. O ritmo pode ser natural, Ou, simplesmente, ocasional. O ritmo pode ser próprio, privativo, Ou, de seguimento, coletivo. O ritmo é a velocidade compassada,

Em batidas por minuto avaliada, Por simples metrónomo medido, O ritmo é para ser vivido.

Somos habitantes desta redondeza, Que nos acolhe, nos abriga, nos alimenta. Como mãe que cuida, e ama com grandeza, E que educa filhos rebeldes numa tormenta.

Somos seres vivos num limitado confim, Que dividimos, conquistamos, partilhamos. Como rei que impera, mas também é ruim, Por maltratar, quem de tanto precisamos.

Somos criaturas num imenso infinito, Dominadores aqui, mas por além reinados. Como servo que teme, que é tão pequenito. Que aspira perdão por todos os pecados.

Ao espelho, miro-me refletido! Não gosto do meu corpo,

Está disforme, distorcido, Deformado, muito torto.

Feio! Mesmo feio! Tão feio! Sem remédio!

Vejo-me no espelho mirado, O corpo de defeito cheio. Está disforme, distorcido, deformado. Mesmo muito feio!





São tantos os muitos defeitos, Meu corpo não é como os outros, Que são bonitos, tão perfeitos, Quão invejo aqueloutros.

Doí-me o corpo feio! Como é feio! Dói de feio! Estou em devaneio!

Revejo-me ao espelho de vintém, De casa fechada, nunca saio,

Não falo com ninguém. Escondido, assim não sobressaio.

Meu corpo é uma má figura, Está disforme, distorcido, deformado.

Feio, tão feio, dói de feiura. Ando desanimado, transtornado.

No meu corpo, Não me sinto bem, E, para não dar pró torto, Quero um de outrem. Outro género mais adequado À cabeça que o tem.

Porque o corpo é outro lado, De uma identidade que vai além.





Tenho corpo não desejado! É muito curvado, E pouco triangulado.

É muito destacado, E pouco alisado. É muito delicado, E pouco musculado. É muito porcelânico, E pouco orgânico.

É muito falante, E pouco calmante. É muito social, E pouco cardinal. É muito estrógeno, E pouco andrógeno,

É muito feminino, E pouco masculino.





Mas, é só um suporte,

Onde se espera a morte! Mas, é só um meio, Bonito ou feio, Para a identidade hospedar, Para viver o pensar. Trocar de corpo, é fácil,

Mudar a identidade, é difícil.

Eu não sou eu!

Estou desconectado, Estou fora deste corpo meu, Vejo-o fraco, quebrado. Estou mesmo despersonalizado, O que me rodeia é irreal. Estou tão desrealizado,

Tudo me parece artificial.

O meu corpo não me pertence, Não é meu, está fora de mim, Numa separação que vence, Este hiato que não tem fim. Preciso de estar separado, Deste corpo em revolta, Que me deixa sufocado, Alheado de tudo à volta.





Sinto-me estranho, Não me reconheço assim, Este corpo que acompanho, E que está fora de mim. Não vivo na realidade, O que acontece é sonhado. Moro numa alteridade, O que acontece é imaginado.

Não sei como aqui cheguei,

Donde vim, o que aqui faço. Se já fiz, não me lembrei, Aqui, invade-me o cansaço. Eu e este injusto corpo meu, Vivemos como único par, O meu corpo e este eu,

Somos um par bipolar.





Sobrevivo numa névoa surreal, Tudo rodeia, tudo embaciado, Como num sonho, mas factual, Num dormir bem acordado. Acordado, vivo num sonho. O que sinto não é real,

Tudo parece tão medonho, Tudo é tão sobrenatural.

Vivemos os dois separados, Este eu e este meu corpo, O sonho, a realidade, baralhados. Vivo transtornado, morto!

Hoje, voei! Deitei-me e abri os braços,

Planei sobre verdes terraços, Sobrevoei reluzentes traços, E ... gostei.

Um leve minuto, voei! Desafiando a gravidade,

A uma grande velocidade, Com o coração em intensidade, E ... viajei.

Livre, voei! Como astuta águia a pairar, A bela vista a controlar, Um curto momento a gozar, E ... planei!





Apenas, amei! A paisagem que se moveu, A altura que se sobrelevou,

O vento que no rosto bateu, O cabelo que se libertou, A respiração que se suspendeu, O olhar que se deslumbrou, O coração que forte bateu, O tempo que quase parou,

O momento que se transcendeu, E, simplesmente, voei!

São três, nesta terrena trindade, Que nesta azul esfera coabitam. Terra, mar, ar, em natural irmandade, Albergam seres que dela necessitam.

As aves que voam no ar, Os animais que povoam a terra, Os peixes que se movem no mar, Todos, o verde planeta encerra.





A trindade, no horizonte, todos se tocam. O longínquo mar azul que o céu separa. As ondas do mar que a praia molham.

O puro ar da serra que o verde prepara.

Uma trindade única e complementar, Num equilíbrio entre elementos fundamentais, Que suporta a vida e a faz prosperar, Mas de que, por vezes, abusamos demais.

Clítia era ninfa muito apaixonada,

Por Hélio, Deus do sol, que conheceu Quando ele, pelo céu, fazia sua cavalgada, E nela reparou, mas não a correspondeu.

Clítia, enamorada, começou a enfraquecer, Sentada no chão, de pernas cruzadas, Sem nada comer, sem nada beber, Absorvendo, apenas, as suas lágrimas salgadas.

Com as tranças, sobre os ombros, desatadas, De dia, de Hélio, Clítia não desviava o olhar,

Ao sol posto, virava o rosto para as pedras molhadas, E continuava, toda a noite, num pranto, a chorar.





Clítia vivia a olhar para Hélio, tão resplandecente. O calor dos seus raios pareciam doces carinhos. De dia, Clítia adorava as carícias, e ficava contente,

À noite, o choro jorrava dos seus olhos mortinhos. E com o tempo a passar, e o seu doce calor, Clíntia continuou sendo acariciada pelo sol. Criou raízes fundas, e seu belo rosto virou flor, E, assim, apareceu o primeiro helíaco girassol.

São palavras a mais Aquelas que nada acrescentam. São usadas, mas são demais,

Só a discussão alimentam.

Há palavras que estão a mais, Que correm riscos, são evitáveis. Melindram relações cordiais, E causam situações lamentáveis.

Por serem palavras a mais, Devem ficar guardadas, caladas. As palavras devem ser frugais, E não serem exageradas.

Há cá canela? Casca da árvore cortada,

E, com pequena cana dela, A iguaria ser temperada.

Há cá canela? Para o doce bem temperar,

Numa decoração tão bela, A boa sobremesa embelezar.



… Há cá canela? Especiaria muito especial, Para decorar a tigela, E para a saúde é fenomenal.

Há cá canela? Para com cravo misturar, E, numa sensual novela, Uma bela história contar.

Fecho os olhos ao sol! Tudo aparece em cores de fogo, Como aveludado laranja girassol Que, para oriente se orienta, sem rogo.

Vejo as imagens de corridas memórias,

Em cores laranja, vermelhas, quentes. Uma após outra, são passadas histórias, Revividas com intensos tons ardentes.

Abro os olhos que ao sol continuam! O quente inferno vira branco clarão.

As memórias passadas se apagam, E volta tudo à clara, normal visão.

Se o contrário de perder é ganhar, E o de declarar é, simplesmente, omitir, Qual será o antónimo de mentir?

Que verbo oposto o pode representar?

Se o antagónico de evidenciar é iludir, E o de ser humilde, é ser soberbo, Qual será o antónimo de mentir? Para dizer a verdade, não há verbo?

Mentir não tem nenhum verbo contrário, Mas, a mentira tem oposta a verdade. Será que dizer a verdade com sinceridade, Não é ação para palavra no dicionário?!

É sem cor, A frieza da chama

Que arde sem calor, Como a voz que chama Mas não tem sabor, Como o tempo que trama Mas não cura a dor.





É sem cor, O convexo arco-íris No triste dia sem valor,

Como janelas sem peitoris Sem uma única florida flor, Como comboio sem carris Sem rumo norteador.

É sem cor, Este sentimento que sinto Numa tristeza pintada de ardor, Que não quero, não consinto Que me consuma o fulgor,

Mas, confesso, não minto, Que falta me faz o amor!

O relógio, ritmo não tem.

O tempo passa monótono, Passe mal, ou passe bem, Passe tónico, ou passe átono, Passa! Sempre vai, e nunca vem.

Passa um curto segundo, fugaz, E, passa outro e, avança igual. O relógio não recua, não é capaz, Avança, é sempre incremental. Num tempo que nunca vai atrás.





E, passa, e vai passando, Constante, a cada momento.

E, um minuto vai somando, Zerando, num novo incremento, De minuto a minuto, contando.

Passam os minutos regulares,

Somando horas a horas, dias, meses, Que se vão repetindo, seculares, Por séculos e séculos, por muitas vezes, Em calendários perpétuos, similares.

Álvaro Vaz Álvares Todos os direitos reservados Braga, Portugal

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