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Story Transcript

EDIÇÃO #37 | OUTUBRO/NOVEMBRO 2022 | GRATUITA

SONUS ART FEST

ENTREVISTA ROSIE ALENA

MIL LISBON

SOUNDSCOUT EDIÇÃO DE NOVEMBRO

soundscout.pt

[email protected]

@revistascout

(+351) 935946600

@revistasound

Guimarães

@SoundScout

índice

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outubro/novembro 2022



sound #37

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Editorial

Poster

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Entrevista Rosie Alena

À conversa com Wolf Manhattan

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MIL Lisboa 2022

Festival Sonus Art

27 Agenda outubro 2022

Editorial

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outubro/novembro 2022 Ficha técnica: Diretores: Filipe Carvalho, João Lemos e Pedro Carvalho Chefe de redação: Filipe Carvalho Redação: Filipe Carvalho, Miguel Rocha, Pedro Carvalho Social Media Manager: João Lemos Web development: João Lemos Design gráfico: João Lemos, Carolina Morais Revisores: Matilde Secca Oliveira Agradecimentos: Beatriz Pequeno, Pedro Faria, Carolina Morais Créditos: Carolina Morais, Beatriz Pequeno, Jasmim, Martim Seabra, Sunflowers, Chavalo Marinho, Jua, Filipe Carvalho, Morais, Rosie Alena, MIL

Em todas as imagens reproduzidas pela revista e/ou respectivo site, foram respeitados os seus devidos diretos de autor e devidamente referenciados na ficha técnica. Desta forma, não pretendemos infligir quaisquer danos aos seus respectivos autores, colocando sempre em evidência a sua justa e respeitada utilização. A SOUNDSCOUT apenas as utiliza de forma livre e referenciada não obtendo quaisquer lucros pela sua utilização. Mail: [email protected] Telemóvel: 935946600 Instagram: revistasound Facebook: Sound Scout Twitter: soundscout_pt

Website: soundscout.pt Guimarães

Bem-vindos à edição mais especial da nossa existência. A equipa da Sound decidiu prolongar a edição de outubro para a deste mês de novembro. O porquê é fácil de explanar: a primeira edição do (nosso!) Sonus Art é um marco que não queríamos, nem podíamos, deixar passar sem dar o seu destaque merecido. Em troca, dobramos o conteúdo, o que torna esta “grande” edição ainda mais especial. Como sempre, a Sound abre as hostes com o apoio à arte e mais uma vez a Carolina Morais (@oplanetabranco) é quem toma conta dessa bonita página que é a cinco. No final de setembro aconteceu o festival MIL em Lisboa, onde aa Sound teve o prazer de ser representado pelos incansáveis Miguel Rocha e Beatriz Pequeno que contam um bocado do que aconteceu através da escrita e da fotografia. Como as entrevistas não podem parar, a Sound regressa às viagens “fictícias” e esteve à conversa com a britânica Rosie Alena aquando da sua passagem pelo MIL. João Vieira é um nome que já deu muito à música portuguesa. O vocalista dos X-Wife está de regresso com uma nova persona, Wolf Manhattan e a Sound teve o prazer de fazer umas perguntas sobre o seu disco de estreia. Como sempre, esperamos que esta revista seja do agrado de todos vocês e não se esqueçam, se tiverem alguma dúvida ou até uma história que queiram partilhar connosco, não hesitem em contactar-nos!

Filipe Carvalho

entrevista rosie alena

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Rosie Alena A Revista Sound teve o prazer de estar à conversa com Rosie Alena na edição deste ano do MIL Lisboa.

entrevista rosie alena

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entrevista rosie alena

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Sound: Obrigado por falares connosco! Gostava de começar por te perguntar pelo EP, ou melhor, miniálbum, “Pixelated Images”.

Rosie Alena: Sim, faz mais sentido como um miniálbum. S: O disco é muito cinemático. O que te leva a incorporar essa estética na tua música?

R: Eu penso que sou muito influenciada pelo teatro musical. A minha mãe era atriz e cantora e eu costumava fazer muito teatro musical, fazia muita representação - por isso é que devo ter muitos elementos dessa temática incorporados na minha música. O meu lado cinemático e teatral ainda existe através da música. Eu adoro o drama das coisas, deve ser por isso. [risos] S: A parte cinemática faz-me lembrar a Weyes Blood.

R: Sim! Ela é incrível…

S: Há algum filme ou peça de teatro que te inspira, ou inspirou, a criar?

R: Um dos meus filmes favoritos de sempre é o “Amélie (O Fabuloso Destino de Amélie)” e o nome do meio da minha irmã é Amélie [risos] por causa dela. Não consigo pensar em mais nenhum, assim de repente, é dificíl. S: É uma questão difícil!

R: Estou a tentar pensar numa peça, mas... Eu não sei se inspira a minha música. Vou só dizer “Amélie” porque é o que me consigo lembrar neste momento e toda a banda sonora do filme é muito bonita. Gosto do piano, por exemplo. O filme é muito consistente em termos musicais. S: A banda sonora foi feita pelo Yann Tiersen não foi?

“Eu penso que sou muito influenciada pelo teatro musical.”

entrevista rosie alena

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“(ao vivo) Gosto de usar muito as minhas mãos, olhar para o público e falar com eles (...)” R: Sim, sim foi ele!

S: Gosto muito da canção “God’s Garden” e acho que é um dos grandes exemplos do lado teatral das tuas músicas. Também incorporas esse lado teatral nas tuas performances? R: Sim, eu não toco nenhum instrumento, gosto de estar a pé e cantar. Gosto de usar muito as minhas mãos, olhar para o público e falar com eles por isso, sim, acho que incorporo esse lado teatral também. S: Quando começaste a tocar ao vivo, os músicos e amigos que te acompanhavam iam mudando. Neste momento, já encontraste a tua lineup [para tocar ao vivo]?

R: Nem por isso, ainda muda algumas vezes. Também porque quando és um artista novo, fazer tours é caro e a minha banda completa são sete pessoas - duas pessoas que tocam violoncelo e os restantes tocam piano, guitarra, baixo e bateria – e quando estás a fazer uma tour, nesta fase [da carreira], é muito difícil isso funcionar. Vou mudando de lineup, mas tenho uma pessoa específica que toca comigo, no violoncelo, que adoro, mas sim ainda oscila entre diferentes pessoas.

“Senti que parou um bocado o momentum e depois do Covid foi um pouco difícil de o recuperar, mas sinto que o estou a fazer” S: Por falar em desafios de fazer uma tour, neste momento é mais difícil devido ao Brexit e após o Covid. De que forma isso teve impacto no teu desenvolvimento e crescimento enquanto artista nos últimos anos?

R: Tem sido difícil porque lancei o meu primeiro single “Mixed Messages”, antes do “Pixelated Images”, mesmo antes da quarentena. Lancei essa canção, fiz um concerto e todos os restantes que teria depois disso foram cancelados. Senti que parou um bocado o momentum, por isso depois do Covid foi um pouco difícil de o recuperar, mas sinto que o estou a fazer. Consegui fazer a minha primeira tour “a sério” este ano, o que tem sido fantástico e fiz algumas primeiras partes para outros artistas como o Alex Cameron, mas sim, demorou um pouco a recuperar e a recomeçar.

entrevista rosie alena

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“(fazer tour) é difícil e tenho sorte de ter amigos músicos que não esperam receber muito neste momento.” S: Presumo que o lado financeiro das coisas...

R: Tive de fazer um GoFund Me, um concerto para arrecadar fundos para a tour, t-shirts, entre muitas outras coisas porque muitas editoras mais pequenas não têm esse suporte para tours por isso tem de ser responsabilidade tua. Sim, é difícil e tenho sorte de ter amigos músicos que não esperam receber muito neste momento.

“Eu, por exemplo, tenho mudanças muito rápidas de emoções por isso acho que é bom ter canções que te representam num certo tempo específico(...)”

S: De volta ao miniálbum, uma das primeiras canções que lançaste, a “Sun”, tem o seu quê de rock psicadélico e agora, no disco, encontramos “The Light”, que é uma canção mais art pop. São vários os mundos que incorporas na tua paisagem musical. Como é que esses mundos colidem no teu processo criativo? R: Para mim, como humanos, somos criaturas em constante mudança e não temos uma só maneira de pensar. Temos muitas emoções e sentimentos diferentes. Eu, por exemplo, tenho mudanças muito rápidas de emoções e por isso acho que é bom ter canções que te representam num certo tempo específico e gosto da maneira como o som de cada música muda consoante o sentimento. Quando ouço as minhas canções, elas remetem-me de volta ao tempo específico em que a fiz. S: As tuas músicas, pelo menos para mim, quando as ouço, no miniálbum por exemplo, parecem-me um fluxo romântico de consciência.

entrevista rosie alena

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“Acho que simplesmente sou várias coisas diferentes. Sou influenciada por estilos de música diferentes (...)” R: Sim! É assim que escrevo a minha música. A maioria das canções que faço são fluxos de consciência que transformo em músicas. Eu faço uma coisa chamada “morning pages”, que é um exercício de escrita em que todas as manhãs escreves três páginas de qualquer coisa, qualquer sentimento que não consigas parar. É uma forma de terapia e é bom. Basicamente, não pensas no que estás a escrever e só escreves o que te vem à cabeça. Às vezes, as letras das músicas acabam por sair daí. S: Dá para perceber isso em canções como a “Dream Song” e, especialmente, a “Adore Me”, que gosto muito!

R: Obrigado! Essa música veio literalmente de um poema que escrevi durante a quarentena, como uma espécie de poema de fluxo de consciência porque eu estava a sentir-me inquieta por estar sempre no mesmo espaço. Então sim, “Adore Me” apareceu desse fluxo de prosa consciente.

S: Mencionaste o facto de estares no mesmo espaço, mas como todas as canções têm nuances diferentes, mesmo que elas apareçam dentro do teu quarto por exemplo, elas ainda surgem com sonoridades e toques diferentes. Podes cantar como uma vocalista de jazz e depois de repente cantas como uma cantora pop…

R: Pois, sim. Eu não sei porquê. Acho que simplesmente sou várias coisas diferentes. Sou influenciada por tipos de música diferente por isso não conseguiria escolher apenas uma. S: Se tivesses de escolher três grandes influências, quais seriam?

R: Claramente, a primeira seria a Joni Mitchell. Eu adoro-a mesmo muito! A maneira dela frasear, as letras, ela é mesmo incrível. A Björk, porque gosto da maneira como ela está em constante mudança e porque tem diferentes paisagens sonoras. A terceira... escolho a Kadhja Bonet porque sou muito influenciada pela música dela, aquele estilo baroque pop, de jazz. Por isso, escolhendo três seriam a Joni Mitchell, Björk e Kadhja Bonet.

entrevista rosie alena

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“Estou a tentar descobrir, enquanto artista, qual é a minha imagem.” S: Eu acho que baroque pop é um bom termo para descrever a tua música também. Estás entusiasmada pelo novo álbum da Björk [Fossora]? R: Sim! Vi o vídeo novo que ela lançou [“Atopos”] e adorei.

S: Gosto muito da estética dela. Por falar em estética, isso leva-me um pouco para a tua. Adoro as tuas capas. Elas mostram muito de ti: a tua peculiaridade, são femininas, têm um toque de gótico. É um objetivo juntar as capas, músicas e os concertos numa espécie de pacote, como se fossem um todo?

R: Sim, eu acho isso importante. É isso que estou a tentar descobrir, enquanto artista, qual é a minha imagem. É importante e eu uso muitos vestidos em palco, com sapatilhas e gosto muito de cores e dá para perceber isso nas capas, pelas cores diferentes e pelo brilho delas. É isso que tento fazer em palco também.

S: No miniálbum, “Who Do I Call” é a canção de abertura. É uma nova versão de uma música que lançaste há alguns anos no SoundCloud. O que te levou a revisitar essa canção tantos anos depois? Visto que a outra versão data de 2017, 2018... R: Sim, eu escrevi essa canção quando tinha 16 anos, ainda andava na escola. Acho que ressoou em mim porque existem muitas outras músicas, que escrevi quando era mais jovem, de que não gosto e que não quero usar, mas essa sempre me pareceu muito especial. Eu acho que quando a escrevi senti que estava no caminho certo. Lembro-me de a gravar com os meus amigos e achei que seria uma boa abertura do EP e até é com essa canção que começo os concertos.

S: Ainda tens algumas dessas canções mais antigas que escreveste na “pasta da reciclagem”?

“(sobre ‘Who Do I Call’) existem muitas outras músicas, que escrevi quando era mais jovem, de que não gosto e que não quero usar, mas essa sempre me pareceu muito especial.”

entrevista rosie alena

R: Sim, ainda as tenho. Às vezes penso em talvez mudar algumas partes das letras, mas não sei, também sinto que não é necessário lançar todas as músicas que já escreveste até porque essas acabam por te levar às que acabas por lançar. Por isso não é um desperdício. S: É uma perspetiva interessante, porque às vezes ouço artistas que dizem que lançam tudo. Eles não têm um “lixo” e gostam de lançar tudo. Até lançam apenas no Bandcamp…

R: Talvez… Se calhar ainda lanço um disco no Bandcamp repleto de músicas inéditas. Por acaso, estava a pensar sobre isso recentemente e sinto que nós estamos a viver num mundo onde queremos criar para vender, ou seja, como se estivéssemos a criar para um propósito em vez de apenas o fazer por gostar, por diversão, por exemplo.

S: Como já mencionaste, abriste para o Alex Cameron e também já o fizeste com a Indigo de Souza, em Londres. Como é que essas experiências te fizeram crescer enquanto artista? R: A que fiz com o Alex Cameron mudou a minha vida. Foi incrível. Ter essa tour europeia como primeira e poder tocar para milhares de pessoas foi mesmo uma coisa incrível e criou uma confiança em mim enquanto performer porque as pessoas não estavam lá para me ver e quando eu sentia que o público começava a gostar, isso fazia-me sentir bem comigo mesma e pensava: “Ok estou a fazer alguma coisa certa”. S: Tens alguma história ou memória dessa tour que possas partilhar?

“Eu sinto que nós estamos a viver num mundo onde queremos criar para vender”

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R: Os meus dois concertos favoritos foram: um em Paris - eu adoro Paris - , no La Cigale, que parece um teatro antigo e onde senti que a “Adore Me” encaixava lá perfeitamente e foi uma coisa, assim, épica. Para além disso, eu sempre quis tocar em Paris e estavam lá mais de mil pessoas. Depois, Berlim foi uma das melhores noites da minha vida. Nós demos o concerto, esgotado, e depois fomos a um club chamado Loophole e fiz um DJ set e o Alex também e estivemos lá até aquilo fechar e dançamos pela noite dentro. Foi uma noite muito divertida em Berlim, ainda por cima na minha primeira vez lá. S: Há muita coisa a acontecer na cena musical de Londres. Desde os entusiasmantes novos artistas de jazz até aos artistas ligados ao Windmill. O que achas do cenário atual da música londrina?

R: Eu acho que é realmente entusiasmante. Há tantas coisas diferentes e é isso que eu adoro na música proveniente de Londres. Não parece que há várias cenas porque, embora tocando estilos diferentes, dá para sentir que há uma grande comunidade. Mesmo onde eu moro, no sul de Londres, onde há toda uma cena jazz, também há a pós-punk, a indie... mas toda a gente conhece-se e cruzamo-nos muitas vezes, o que é muito fixe!

entrevista rosie alena

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“(sobre a cena musical londrina) Mesmo tocando estilos diferentes, dá para sentir que há uma grande comunidade.” S: Sim, também sinto isso. Por exemplo, vejo os black midi a tocar com os Black Country, New Road, quando fizeram os black midi, New Road... R: Sim, até estão em tour juntos agora. S: Sim, nos Estados Unidos.

R: Sim, e é isso que quero dizer. Mesmo com o Alex Cameron, ele não é de Londres e o meu tipo de música não é bem similar ao dele, mas é bom quando tens vários géneros a juntarem-se. Acho isso importante. S: O que podemos esperar da Rosie Alena no futuro próximo? Há algum material novo que irás lançar?

Rosie Alena

Entrevista realizada no MIL Lisbon Festival

“Tenho novo material que vou lançar brevemente e é numa direção um pouco diferente.” R: Sim! Tenho novo material que vou lançar brevemente e é numa direção um pouco diferente. Acho que a minha escrita ficou mais madura e mais honesta. Não quero dizer que o que já lancei não é honesto, mas sinto que era mais escrito por metáforas e nem sempre era óbvio o que quero dizer. Acho que as novas coisas são mais reais e, lá está, honestas e mais “rock”. [risos] S: Ainda dá para dançar? [risos]

R: Sim, bastante dançável. [risos]

S: Alguma colaboração que possa acontecer?

R: Espero que sim. Eu quero muito porque eu também tenho estado em tour com a Katy J Pearson e gostava de fazer alguma coisa com ela. Adoro a voz dela. Também tenho uma canção [‘Lazy’] com o meu amigo Henry Webb-Jenkins, que é um artista mais country.

à conversa com wolf manhattan

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João Vieira é um nome que já deu muito à música portuguesa. Ao longo dos seus vinte anos de carreira, são vários os projetos dos quais fez sua casa. Dos X-Wife, grupo que fundou e com quem lançou cinco discos, até White Haus, o alter-ego por onde abriu as portas à aventura na música eletrónica, com passagens pelo DJ Kitten, um projeto inovador em que escreveu o seu nome na história da cena clubbing portuguesa dos anos 2000. Mas o que nos traz aqui é Wolf Manhattan, persona que nasceu não só da urgência criativa que a pandemia trouxe, mas também da “necessidade de pôr cá fora as canções num universo e numa estética que representasse bem a sonoridade, identidade e as letras das canções.” Por isso, João decidiu que “não o queria fazer em nome próprio, pois é um universo completamente distinto daquele onde eu vivo. Ao criar este alter ego as canções ganham outra vida, maior credibilidade, como um autor de banda desenhada ou um escritor de ficção que cria um herói.” Apesar de nascer de tempos difíceis, “foi tudo de uma forma muito natural, à base de pequenas ideias que iam surgindo. Primeiro foram as canções, a limitação de instrumentos (algo propositado) determinou o foque na escrita de canções e nas letras (pequenas histórias de ficção).”

16 - Sound, Outubro 2019

à conversa com wolf manhattan

Foi no mês de setembro que o disco de estreia homónimo teve o seu lançamento, exclusivo em vinil e com capa e livro criados por João Vieira também. Percebemos a atitude do it yourself (DIY) bem patente em todos os aspetos visuais e na sonoridade do disco. Nas treze canções que compõem o álbum, João Vieira mostra o seu lado mais lo fi (estilo claramente proveniente da estética DIY). São músicas curtas e diretas que abrangem uma grande variedade de sonoridades (que vão do punk ao garage e até ao folk). João, ou melhor, Wolf, conta com grandes referências da música lo-fi como os Moldy Peaches, Jonathan Richman e Daniel Johnston - “São uma referência devido a vários aspetos, a crueza das canções, o som lo-fi, a beleza e inocência de fazer algo especial com muito pouco, o humor, a estranheza, a solidão e o “do it yourself”, as letras diretas e com as quais sentimos empatia. É uma sonoridade desprovida de muita produção de estúdio. Mas, sobretudo, é a forma como essas canções nos tocam. Fui-me inspirando (também) em realizadores, performers, artistas plásticos, ilustradores e outros universos fora do meio musical. As ilustrações do Toby Evans-Jesra surgiram posteriormente tendo como ponto de referência o nome e as gravações das canções do álbum.”

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A escrita da história de Wolf Manhattan foi a base para o disco - “o ponto de partida para a identidade do projeto, o nascimento de um alter-ego. Quem não gosta de uma boa história?” Mas mesmo assim houve espaço para acontecer o contrário, a música influenciar a escrita - “As canções influenciaram a história e a criação do personagem e vice-versa. Foram ambas cruciais”. O livro conta a história do misterioso Wolf Manhattan, que foi descoberto pelo produtor e empresário Vincent Vinni. Wolf Manhattan leva o seu disco de estreia às cidades do Porto (Auditório CCOP) e Lisboa (Galeria ZDB) nos dias 3 e 10 de fevereiro.

MIL Lisboa 2022 “Descobre Enquanto é Segredo”. Foi este o mote oferecido pela edição de 2022 do MIL, festival lisboeta onde artistas emergentes e uma rede de contactos do mundo da música, tanto português como internacional, colidem num universo efervescente onde o debate e o pensamento coexistem lado a lado com um cartaz eclético e com muito para descobrir. De regresso aos clubes do Cais do Sodré (o lado Convenção do MIL, contudo, manteve-se no Hub Criativo do Beato), a nossa passagem pelo MIL 2022, entre os dias 28 e 30 de setembro, levou nos a muita boa música, mesmo que muita coisa tenha ficado (ainda) por descobrir. Chegados à praça de São Paulo para apanhar as nossas credenciais, levantouse o debate: como vamos decidir, então, o que ver? Ouvimos as playlists, anotámos os nomes que nos interessavam, mas, quando chegada à hora, a filtragem final teve de ser efetuada tendo em conta os slots das bandas e a sala onde iriam atuar – afinal, as deslocações também demoram tempo. Fazer a seleção final de concertos que assistimos no MIL foi a maior dificuldade que encontrámos no festival, mesmo que no final tenha recompensado. Já lá vamos com mais detalhe, mas podemos auferir: vimos excelentes concertos no MIL. Com tanta coisa interessante para espreitar, é natural que o FOMO (fear of missing out) se apodere, relembrandonos que, por muito que estejamos a gostar de um concerto, há outro a ocorrer ao mesmo tempo que pode estar a ser ainda melhor. Foi necessário lutarmos contra esse sentimento, focando-nos naquilo que acontecia e não no que pudesse estar a acontecer, mesmo que o “segredo” estivesse, às vezes literalmente, ao virar da esquina. Enquanto procurávamos a possível próxima grande cena por

entre os nomes do festival, começámos a pensar em alguns dos nomes que viriam apresentar o seu showcase ao MIL 2022: Cassete Pirata, Filipe Sambado, Filipe Karlsson, Tomás Wallenstein… Nomes que nos deixaram a pensar na estratificação da pirâmide da música portuguesa e de como são acarinhados tanto pelo público independente de festivais como o MIL e respeitados pelos pares mais mainstream, perdidos num degrau que não é bem mainstream, mas também não é totalmente independente e alternativo. Considerações a tirar sobre estes “segredos” que, se para muitos continuam bem guardados, para outros já são quase como da casa, colegas cuja música nos encanta há já algum tempo.

Sobre segredos propriamente ditos, grupos como os Conferência Inferno, Sereias ou As Docinhas (que concerto tão caótico, gostamos muito!) e artistas como Sónia Trópicos ou João Não & Lil Noon enquadram-se que nem uma luva na missão do MIL. O concerto de João Não & Lil Noon, em particular, merece destaque extra, tendo sido aquele que gostamos mais em todo o festival. A dupla de Gondomar conseguiu a proeza de transformar o club lisboeta no Taskinha e, durante todo o concerto, foi como se nos encontrássemos na noite do Porto, perdidos entre romantismos kitsch e novos fados que nos deixam a bailar e a chorar por mais. Mais canções no mundo como “Dancetaria Love”, por favor. Face a nomes além-fronteira, o festival apresentou segredos que, na sua grande maioria, seriam desconhecidos do público português. Daquilo que vimos de nomes estrangeiros, ficámos mpressionados particularmente com os Charlotte Fever, duo francês cuja sonoridade aponta num nu-disco bem dançável – e cujo concerto no Lounge foi uma bela festa –, com a diversão do hyperpop a la 100 gecs dos Jacuzzi Gang, e com Rosie Alena, artista londrina cujo mini-álbum de estreia, Pixelated Images, é um dos segredos mais bem escondidos de 2022. Ao vivo, no Titanic Sur Mer, as suas canções perpetuam mais a sua cinematografia sonhadora, os seus contos a ganharem vida em formato de diva capaz de arrebatar um número a tender para o infinito de corações – o nosso já o tem. Em termos da restante programação, o MIL recebe também nota positiva pela variedade oferecida, fugindo às normas habituais do indie e rock alternativo, e pela abertura à inclusão, escapando aos paradigmas dominados pelo homem e pelo pensamento heteronormativo e cisgénero abundante em outros festivais portugueses. A inclusão de nomes como Soluna (queríamos muito vê-la, mas infelizmente o horário não permitiu), Trypas Corassão, Puta da Silva (responsável por um espetáculo-performance dos mais exuberantes e divertidos que vimos) ou L’Homme Statue no cartaz mostra que o MIL, mesmo com os seus defeitos, traça caminhos na direção correta. Em 2023, esperemos que haja mais MIL. Afinal, ainda há muito para descobrir…

O novo berço da arte

20 - Sound, Outubro 2019

Guimarães recebeu, no dia 15 de outubro, a primeira edição do Festival Sonus Art. Num evento marcado pela celebração da arte, não faltou quase nada: exposições, showcases e concertos musicais durante um dia repleto de interesse.

No início da tarde, o Oub’lá foi o ponto de partida deste novo evento. Num dos bares mais emblemáticos da cidade berço, Jua demonstrou as habilidades na mesa de mistura e deu o mote ideal para os posteriores concertos.

Jua . Sonus Art . Morais

De seguida, as salas de ensaio do Teatro Jordão foram o palco para dois showcases musicais e o concerto de Jasmim, para além das exposições artísticas. Ficou a cargo de Morais abrir as hostilidades com um repertório que privilegiou o blues e a folk. Acompanhado por um belo conjunto de guitarras e uma harmónica, o artista vimaranense fez-nos “viajar” entre os anos 20 e 60 através de reinterpretações de algumas canções dos maiores nomes dos blues e ainda apresentou temas da sua autoria.

Filipe Carvalho . Sonus Art

22 - Sound, Outubro 2019

O showcase seguinte foi da autoria de Filipe Carvalho. Com forte influências do indie rock, o jovem artista variou entre a guitarra eletroacústica e a elétrica para apresentar o EP de estreia “How Is It?” e ainda algumas covers como ‘Track X (The Guest)’ dos Black Country, New Road e “Come To Me” de Marlon Williams.

Jasmim . Sonus Art

O fim de tarde trouxe-nos o aguardado concerto de Jasmim. Numa performance bastante intimista, o artista lisboeta, auxiliado por guitarra e teclado, apresentou à plateia (praticamente toda sentada) as suaves e delicadas canções do mais recente álbum “Acordado ou a Sonhar”, com realce para “A Vida Não é Aqui” e “Tudo/Nada”. Destaque ainda para uma bela cover de “Norte Litoral”, tema de Duquesa.

Martim Seabra . Sonus Art

24 - Sound, Outubro 2019

O começo da noite levou-nos até ao Ramada 1930 para mais dois concertos, o primeiro dos quais de Martim Seabra. O artista lisboeta, sempre bem-disposto e comunicativo com o público, teve o condão de colocar um sorriso na cara de todos os presentes através de canções que remetem ao rock ‘n’ roll e blues. Alicerçado nos seus excelentes dotes de guitarra, Martim trouxe um repertório variado (inclusive tocou temas lançados enquanto Fisherman), onde despontaram “Rosalie” e o mais recente single “Tudo O Que Disseste”.

Sunflowers . Sonus Art

De seguida, os Sunflowers reuniram a maior plateia da noite e não desiludiram. A banda portuense, já conhecida por apresentar espetáculos repletos de energia, fez uma ode ao rock que não deixou ninguém indiferente. Os fortes ritmos impostos por Carolina Brandão na bateria, acompanhados pelo pujante baixo de Frederico Ferreira e a guitarra “distorcida” de Carlos de Jesus (também era o lead vocal) transportaram-nos para uma catarse psicadélica.

Chavalo Marinho . Sonus Art

A próxima e última paragem da primeira edição do Sonus Art levou-nos até à Associação Convívio, onde presenciamos o set dançável da DJ Chavalo Marinho e o DJ Set da nossa autoria.

27 - Sound, Outubro 2019

28 - Sound, Outubro 2019

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