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Professor_EAD_Ebook_Escola e Família

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ESCOLA E FAMÍLIA: UM COMPROMISSO SOCIAL COM A EDUCAÇÃO

IDEALIZADOR DO PROGRAMA Augusto Cury DIRETORIA EDITORIAL Camila Cury DIRETORIA EXECUTIVA Emerson Walter dos Santos GERÊNCIA DE PRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDOS Priscila Lehn COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDOS Bruno Luiz Xavier Passarelli EDIÇÃO DE CONTEÚDO Leonardo Ricieri Mantoani AUTORIA Nathalia Argolo Campos Ribeiro TIME DE ARTE Gustavo Soares Silva LÍDER DE REVISÃO Lucas Lima Campos TIME DE REVISÃO Hellen Menezes Joice Vasconcelos DIAGRAMAÇÃO Sincronia Design IMAGENS Shutterstock Adobe Stock Todos os direitos desta edição estão reservados ao Programa Escola da Inteligência da NSE SOLUÇÕES EDUCACIONAIS S.A. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito da empresa. C - 100 M - 75 Y-0 k - 15

www.escoladainteligencia.com.br [email protected]

PARTE

A

PENSANDO COM O PROFESSOR Querido professor, seja bem-vindo a mais uma Trilha que elaboramos carinhosamente para você! Pensando justamente na importância de colocar em evidência as relações e as possibilidades que surgem nos núcleos escolar e familiar, abordaremos o tema Escola e Família: um compromisso social com a educação. Para introduzi-lo, portanto, gostaríamos de convidá-lo a ler e refletir sobre a história a seguir. E,

mesmo que você já a conheça, experimente reler com a simplicidade de uma criança que experimenta algo pela primeira vez, permitindo que a essência dessa mensagem construa novos significados em você. A história adaptada aqui se passa em uma tribo africana e foi contada pela jornalista e filósofa Lia DisKin, no festival Mundial da Paz, em Florianópolis, 2006.

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CONTO: UBUNTU Um antropólogo estava estudando os usos e costumes de uma tribo na África e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto, onde poderia seguir viagem de volta para casa. Restava, ainda, muito tempo, então ele propôs uma brincadeira para as crianças, a qual ele achou ser inofensiva. O estudioso comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, colocou tudo em um cesto bem bonito com laço de fita e deixou o cesto debaixo de uma árvore. Chamou as crianças e combinou que, quando ele dissesse “Já!”, elas deveriam correr até o cesto, e quem chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro. As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse “Já!”, instantaneamente, todas as crianças deram as mãos e correram em direção à árvore onde estava o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e comeram felizes. O antropólogo, então, foi ao encontro delas e perguntou por que foram todas juntas se existia a possibilidade de apenas uma criança ficar com todos os doces que havia no cesto, ganhando muito mais. Elas simplesmente responderam: — Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes? Ele foi surpreendido! Meses e meses estudando a tribo e ainda não havia compreendido, de verdade, a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo? Adaptado de: PORTAL GELEDÉS, 2011. Disponível em: https://www.geledes.org.br/umuntu-ngumuntu-nagabantu-2/. Acesso em: 3 jan. 2023.

Essa história ilustra o poder de um grupo quando todos se colocam a serviço do coletivo, quando superam as competições e vaidades individuais em nome de um bem-estar comum e sustentável. Seguindo essa linha, utilizaremos como disparador um provérbio tradicional da filosofia Ubuntu o qual não se detém a conotações religiosas, mas sim sociais e históricas:

É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Provérbio africano





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Professor, partindo desse encontro com você, é possível se conectar com o outro e estabelecer uma relação de respeito e cooperação, seja com a família, com os alunos, com a equipe escolar ou com a comunidade.

PARA REFLETIR O que você, professor, entende por essa frase?



Quem faz parte dessa “aldeia” proposta no provérbio?



Como a família e a escola podem potencializar essa rede e incluir toda uma comunidade?

Ao longo desta Trilha, teremos a oportunidade de mergulhar no universo imprevisível, mas também incrível, das relações humanas, principalmente no que se refere à escola e à família, e compreender o quanto essas relações podem ser influenciadas por ideais fantasiosos e distantes da realidade de seus envolvidos. Mas, antes disso, faça uma pausa, relaxe os ombros e reflita sobre o que falamos, por meio de um trecho do poema Meu destino, da escritora e poetisa Cora Coralina, que faz parte da publicação Meu livro de cordel, de 2012. De maneira singela e espetacular, esse poema nos faz pensar sobre a arte do encontro e as relações que surgem com ele.

Não é difícil compreender a importância da família e da escola na vida de uma pessoa, porém é uma dinâmica que não pode ser analisada separadamente, pois uma depende da outra para que o objetivo principal, de desenvolvimento, educação e cuidado de uma criança ou adolescente, seja atingido. Mas compreender a importância dessa relação não torna as coisas mais fáceis, tampouco promove mudanças na vida dos envolvidos.



(...) Não te procurei, não me procurastes – íamos sozinhos por estradas diferentes. Indiferentes, cruzamos. Passavas com o fardo da vida… corri ao teu encontro. Sorri. Falamos. (...) E, desde então, caminhamos juntos pela vida…

É preciso colocar em prática e dividir com o mundo o que você aprende e o que descobre sobre si mesmo. Afinal, todo movimento que você busca precisa começar em e por você. Incluir-se como agente de transformação é um grande desafio, pois é preciso sair de um lugar passivo, onde a culpa está no outro, e assumir suas limitações e responsabilidades, despir-se do medo de ser julgado e encontrar, na vulnerabilidade, a coragem e a motivação para ser você mesmo, como afirma a professora, pesquisadora e palestrante Brené Brown (2016), que há mais de duas décadas estuda a relação entre coragem e vulnerabilidade, analisando o impacto que elas exercem na vida das pessoas.

Cora Coralina Fonte: CORALINA, 2012, p. 71.

Aceitar quem você é não é o mesmo que se conformar ou não buscar conhecimento. Aceitar é acolher, é tomar consciência de suas dificuldades, mas também de seu potencial. É, então, abrir mão de ser o melhor de todos para dar o melhor de si e rever suas expectativas para validar suas intenções. Essa forma de olhar para si e para seu lugar no mundo e na sociedade, enquanto pessoa e profissional, pode ser libertadora, permitindo que você ultrapasse as expectativas alheias e experimente novos caminhos, novas formas de se relacionar e perceber o outro e a si mesmo.

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PARTE

B

APRESENTANDO CONCEITOS Cada aluno que entra na escola carrega uma história, uma referência permeada pela história de seus familiares, que interfere na maneira como ele se relaciona com o mundo e na maneira como o compreende. Essa perspectiva, porém, não deve ser vista como uma determinação de valores e comportamentos, que enxerga essa criança ou adolescente como resultado de seu meio familiar e, por isso, limita e define o indivíduo como certo ou errado, adaptado ou não adaptado, capaz ou incapaz. Essas tentativas infundadas de compreender uma pessoa geram ainda mais sofrimento e expectativas, tanto nas crianças e adolescentes como em seus familiares e na equipe escolar. É como se houvesse um único e melhor caminho a ser percorrido, o qual todos tivessem que trilhar ao mesmo tempo e com a mesma intensidade. Assim, os que não atendem a esse ideal são rotulados e excluídos, por meio de comparações, premiações e benefícios que continuam alimentando um sistema desigual e empobrecido de diversidade.

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Para que qualquer movimento aconteça nessa relação, é preciso, inicialmente, reconhecer e validar a individualidade de cada um, pois crianças, adolescentes e famílias precisam ser vistos além de suas dificuldades. Nesse sentido, pais ou responsáveis que não participam ativamente da vida escolar ou que não atendem às expectativas da escola também precisam ser acolhidos, respeitados e valorizados. Da mesma forma, o aluno que não entrega suas tarefas em dia não pode ser visto como inferior nem pode receber um rótulo que desmereça suas especificidades.

antropólogo Darcy Ribeiro (1984) e o educador português Antônio Nóvoa (2002), vêm apontando para a relevância de incluir e validar a realidade dos alunos no processo de educação e aprendizagem. Isso implica acolher o aluno e sua família como eles são, oferecendo espaços de escuta e convivência. Ao mesmo tempo, isso não significa que é necessário estar sempre em concordância, nem mesmo que as famílias terão suas vontades atendidas a qualquer custo, mas significa principalmente que todas, sem distinção ou preferências, serão incluídas na comunidade escolar.

Pense em quantos desafios vivemos ao longo da pandemia (e, de certa maneira, continuamos vivendo): isolamento, aulas online, preocupações financeiras, lutos e tantas outras situações que seria impossível enumerarmos. Entretanto, apesar das semelhanças que esses desafios representam, sabemos que cada pessoa vivenciou esses momentos de maneira distinta, pois as realidades são diferentes e as histórias são únicas.

Esse fato é demonstrado pela pesquisa realizada pelo Plano CDE em parceria com o Itaú Social. Nela, foram analisados os fatores que interferem na relação escola-família, evidenciando que a aproximação com as famílias, baseada na inclusão do contexto e da história, influencia significativamente nas relações vividas no contexto escolar, favorecendo a empatia e o engajamento de alunos, escola e familiares.



O novo normal vem questionando padrões e exigindo uma nova maneira de enxergar as pessoas, com um olhar cada vez mais empático, solidário e humano. Diante disso, quais foram seus próprios desafios e como você acolheu cada um deles? Olhe com carinho para suas próprias experiências e perceba a diversidade que existe ao seu redor e, ainda, as possibilidades que elas representam.

A escola não é o princípio da transformação das coisas. Ela faz parte de uma rede complexa de instituições e de práticas culturais. Não vale mais, nem menos, do que a sociedade em que está inserida. A condição da sua mudança não reside num apelo à grandiosidade da sua missão, mas, antes, na criação de condições que permitam um trabalho diário, profissionalmente qualificado e apoiado do ponto de vista social. A metáfora do continente (os grandes sistemas de ensino) não convém à escola do século XXI. É na imagem do arquipélago (a ligação entre pequenas ilhas) que melhor identificamos o esforço que importa realizar.

Nada limita mais uma pessoa do que a negação de sua história, visto que isso é algo que não podemos mudar ou simplesmente esquecer. Diversos autores, como o educador e filósofo Paulo Freire (1996), o

NÓVOA, 2002

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Talvez essa reflexão te ajude a se lembrar de que, por trás de todo comportamento, existe uma intenção, uma necessidade que está a todo tempo nos convidando a nos aproximar. E essa aproximação não pode ser feita com julgamentos e conceitos preestabelecidos, pois, se continuarmos seguindo o modelo dualista e excludente, não encontraremos o ser humano que existe por trás de uma dificuldade nem faremos parcerias verdadeiramente potentes e transformadoras.

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Não tenha medo de errar ou de não atender às expectativas das outras pessoas. Concentre-se em seus objetivos e na grandeza do seu trabalho. Livre do que parecia ser o único caminho, você poderá escolher e experimentar a diversidade que sempre esteve à sua disposição.

Diante disso, podemos dizer que os maiores beneficiados nessa relação, sem dúvida, são as próprias crianças e adolescentes, que terão a oportunidade de se reconhecerem nesse novo meio social que é a escola, sem que, para isso, seja necessário excluir ou encobrir sua história. Assim, eles poderão dedicar tempo e energia em seu próprio crescimento e aprendizado, em vez de dissipar sua atenção para cumprir as expectativas criadas pelos outros, fortalecendo, assim, sentimentos de pertencimento e identidade (LESTINGE, 2004).

Além disso, é importante se lembrar de que você não está sozinho nessa empreitada. Muitas pessoas e instituições, públicas e privadas, vêm lutando para mudar o cenário da educação, priorizando não somente o crescimento intelectual e formativo de crianças e adolescentes, mas investindo na humanização das relações, no desenvolvimento social e emocional de seus envolvidos e na inclusão de suas comunidades.

Então, querido professor, o que falamos até aqui não é garantia ou receita para tornar as coisas mais fáceis e tranquilas no que diz respeito à relação escolafamília, pois é no conflito de ideias que os maiores aprendizados acontecem (AQUINO et al, 2011). Além disso, é na disposição para escutar o outro e se fazer escutar que contribuiremos verdadeiramente para a construção social e individual das crianças e adolescentes.

Como exemplos, podemos citar as conquistas e a influência da Constituição Brasileira (1988), que ao lado de outros documentos como o estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/96) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), discutem a importância de integrar políticas públicas, família e sociedade para alcançar esses objetivos. Em um cenário mais atual, destacamos a BNCC e as mudanças que ela propõe à educação, reconhecendo, por exemplo, a interdependência entre o cuidar e o educar no desenvolvimento integral de crianças e adolescentes (BNCC, 2018, p. 36).

Contudo, não se esqueça de que estar aberto às possibilidades e aos desafios dessa relação não é o mesmo que aceitar ou desconsiderar sua opinião. Assim como alunos e família, você, professor, é parte desse todo, e incluir suas percepções, validar sua história e acolher suas dificuldades é uma ótima maneira de se aproximar, de ser respeitado e valorizado por eles.

SE LIGA NA DICA Experimente pensar em como você se sente diante de uma pessoa que parece estar sempre certa, que se percebe como “perfeita” ao fazer escolhas, e em como você se sente diante de outra que o trata com igualdade, que reconhece quando falha e compartilha suas conquistas. Com qual delas você se sente mais acolhido?

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Dentre essas mudanças, encontram-se as dez competências definidas pela BNCC para proporcionar à escola uma formação cada vez mais humana e integral, contribuindo para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Daremos destaque agora a duas dessas competências que favorecem o estreitamento na relação escola-família, estimulando um movimento não somente reflexivo, mas também prático, contribuindo para a criação de estratégias verdadeiramente potentes para essa relação. São elas:

Comunicação: utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

Essa competência discorre sobre a necessidade de entender e analisar criticamente uma situação, podendo utilizar variadas formas de linguagem e expressão, destacando a importância de que essa comunicação aconteça sempre baseada na escuta e no diálogo. Afinal, a comunicação é porta de entrada para o novo. Por ela, é possível adentrar e conhecer o mundo do outro e permitir que ele também conheça o seu. Porém, para que a comunicação alcance seu potencial e ultrapasse a visão simplista de transmitir conteúdo ou informação, é preciso suspender julgamentos e comparações, para considerar a realidade e as possibilidades da pessoa que está à sua frente. Pensando na realidade escolar e mais especificamente na relação entre escola e famílias, uma comunicação eficaz precisa começar pelo acolhimento, pela escuta atenta e genuína do outro, para que, juntos, possam pensar e experimentar novas possibilidades. Empatia e Cooperação: exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

Essa competência prevê que se ressaltem a prática da empatia, da cooperação e do diálogo na resolução de conflitos, estimulando a convivência baseada no respeito, no acolhimento e na valorização da diversidade, como um caminho na construção de uma cultura de paz. Pensando na comunicação como a porta de entrada para o universo do outro, poderíamos pensar a empatia como um convite para experimentar esse universo, como se aceitássemos o risco de percorrer os caminhos que existem. Entretanto, ao contrário da explicação reducionista, que afirma que empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, trabalharemos com a definição do renomado psicólogo Carl Rogers (1985), que afirma que é impossível se colocar no lugar do outro, já que o outro ocupa esse lugar. O que significa que, por maior que seja nosso esforço, o outro é sempre o protagonista da história dele, cabendo a nós estar ao lado, acolher e fazer por ele não somente o que gostaríamos que fizessem por nós, mas, principalmente, o que ele precisa que seja feito por ele.

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Diante disso, fica mais fácil entender o papel da escola no desenvolvimento do aluno e na relação com a família, pois percebemos que a mudança não reside apenas nas grandes ideias. Nesse sentido, a transformação consiste principalmente em nossa atitude de considerar e permitir que esse outro faça por ele mesmo, encontrando apoio, acolhimento e incentivo na escola e em você, querido professor, para ajudá-lo, de maneira empática, a continuar, apesar dos erros e das dificuldades encontradas no caminho. Vale dizer que a palavra “empatia” deriva do grego empatheia, que significa “paixão” ou “ser muito afetado”. Roazzi et al. (2009) nos mostra que, para demonstrar ou desenvolver empatia, é preciso afeto, é preciso afetar e ser afetado com o que vem do outro, porque não se trata de uma relação unilateral, mas de uma troca, na qual eu aceito o outro como ele é e me coloco a seu lado, nem acima nem abaixo, simplesmente ao lado. Assim, revestidos de empatia, é possível perceber a cooperação no movimento e na motivação de construir e melhorar o que antes parecia distante, impróprio e imperfeito. E, então, professor, como você vem cultivando a empatia em sua vida?

SE LIGA NA DICA Comece por você e perceba o quão tolerante tem sido com suas falhas, com sua história e com suas expectativas. Visite com mais frequência seu próprio universo, para que, depois, seja possível acessar outros mundos.

Para inspirar nossa discussão, assista ao vídeo a seguir!

VÍDEO COMPLEMENTAR TÍTULO: O Poder da Empatia (Animações RSA) - Dr Brené Brown DESCRIÇÃO: Brené Brown narra a animação sobre a diferença de simpatia e empatia. AUTOR/CANAL: AFETOTERAPIA/YOUTUBE. DURAÇÃO: 2 min e 53 seg. DISPONÍVEL EM: https://youtu.be/ Q6rAV_7J5T0. Acesso em: 4 jan. 2023.

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Visitando a história para compreender a relação escola-família



...ao caminhar se faz o caminho e ao voltar a vista atrás se vê a senda que nunca se há de voltar a pisar. Caminhante não há caminho, não há marcas no mar…



Antônio Machado

É hora de embarcar nesse universo e explorar os desafios e as possibilidades que existem na relação entre escola e família, incluindo na bagagem as histórias, os valores e as necessidades que auxiliam na aproximação e no engajamento dos envolvidos. Com base no que vem sendo pesquisado e discutido ao longo dos anos, é possível afirmar que, quanto mais próxima e compartilhada for a relação e o cuidado com a criança ou o adolescente, maiores as chances de um desenvolvimento saudável e integral, em termos cognitivos, sociais e emocionais (LAREAU, 2007; EPSTEIN, 2011; PAIXÃO, 2006). Como sabemos, o papel da escola varia ao longo do tempo de acordo com as funções políticas, econômicas e sociais de cada época. Veremos, agora, como essa história se envolve e influencia na aproximação ou no distanciamento da família no ambiente escolar.

Compreendendo o conceito de família O conceito de família vem sendo reconstruído e adaptado de acordo com o contexto e as necessidades de cada momento histórico, exigindo um olhar cada vez mais amplo e diverso, para garantir o espaço e a segurança que seus membros precisam para se desenvolver. Dessa forma, o modelo individualista e patriarcal começa a ser contestado, pois não atende à diversidade de papéis experimentados no cotidiano familiar e ainda colabora com um ideal único e descontextualizado de família, escola e sociedade em geral.

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Para entender esse movimento, vamos utilizar o conceito da filósofa política Hannah Arendt (2014), sobre público e privado, para explicar o movimento humano e as maneiras encontradas para atender seus interesses e necessidades. Para a autora, o público é o lugar onde tudo pode ser visto e ouvido, enquanto o privado se mostra como um espaço familiar primeiro, sendo necessário para a sobrevivência do sujeito. A dicotomia entre público e privado insere, no público, a possibilidade de uma existência humana pela aparência, pelo que é percebido pelo outros, podendo ser um lugar tanto de igualdade e liberdade de expressão como de aprisionamento e perpetuação de realidades superficiais e generalizantes. Enquanto

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isso, o privado se mostra como um espaço íntimo, onde se guarda ou camufla o que não pode mostrar e que, muitas vezes, não é aceito ou validado pelo senso comum (ARENDT, 2014). Essa característica, aparentemente limitante do espaço privado, não diminui a importância que ele exerce sobre os sujeitos, pois é nesse lugar que são construídas as primeiras impressões de identidade e pertencimento, considerado por Hannah Arendt (2014) como um lugar de sobrevivência, sem o qual o sujeito jamais alcançaria o espaço público. Quem sou eu é a pergunta primária e essencial para pensar em quem eu posso ser com o outro. Pensando na família como espaço privado e essencial para a construção da identidade, é fundamental que ela reconheça a diversidade entre seus membros e favoreça sua diferenciação, e não somente sua semelhança, seja por meio da comunicação, da escuta ativa ou do acolhimento. Mas, olhando para a história da família ao longo do tempo, observamos as dificuldades enfrentadas por seus integrantes no reconhecimento e na formação dessa identidade. No contexto familiar, a hierarquia sempre foi vista como grande valor e diferencial entre seus envolvidos, dando a quem se encontra no topo dela maior influência nas decisões do grupo. O chefe de família, representado pela figura masculina,

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ocupava um lugar de destaque e de superioridade sobre os demais, sendo o responsável pelo trabalho e pelo sustento do grupo familiar. Em seguida, estava a mulher, responsável pelos cuidados da casa e dos filhos; e, por último, as crianças, vistas a princípio como seres inferiores e incompletos, tratados muitas vezes como miniadultos, sem que tivessem suas necessidades e especificidades consideradas (BADINTER, 1981). Nesse cenário, é importante falarmos sobre o lugar das mulheres, a qual, ao longo da história, vem lutando por seus direitos, tanto na participação na vida pública, na inclusão e valorização do trabalho e da política, como no reconhecimento e compartilhamento da vida privada, além do cuidado e da educação dos filhos e das tarefas de manutenção do lar. Todos esses movimentos, tanto da mulher, quanto da criança, em busca de um lugar cada vez mais digno e democrático, vêm transformando o conceito de maternidade e paternidade. Nesse viés, passa-se a falar na construção de uma parentalidade consciente e integral, em que se inclui como cuidador não somente pais ou mães, mas qualquer outra pessoa que assuma responsabilidade no cuidar e educar uma criança (IACONELLI, 2016). Lembra-se do provérbio citado no começo da Trilha? “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, pois elas precisam de nós para fomentar esse movimento e garantir que ocupem seus espaços, sendo consideradas em seu verdadeiro potencial e em sua capacidade.

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Reconhecer essas lutas e se identificar com elas não é suficiente se não ocuparmos nosso próprio lugar enquanto agentes de transformação. Afinal, quantas mulheres você conhece que ainda acumulam sozinhas ou de forma desproporcional a missão de cuidar da família, do trabalho, dos filhos, da casa e, ainda assim, corresponderem aos ideais de beleza, felicidade e sucesso valorizados pelo sistema social? Muitas vezes, compreendemos tais excessos exigidos das mulheres, mas acabamos por nos esquecer deles quando julgamos a mãe que não trabalha fora de casa, mas deixa seu filho em período integral na escola, criando rótulos pejorativos, por exemplo. Entretanto, se alterarmos essa análise para o contexto da infância e adolescência, não é difícil perceber o quanto precisamos evoluir, pois, embora muito tenha mudado, ainda nos incomodamos com uma criança que não se enquadra e que não corresponde aos padrões estabelecidos para a maioria. Frequentemente, há rótulos destinados às crianças, como o de chorona, desobediente, agitada, falante, impaciente ou dispersa, desconsiderando sua condição primeira de ser humano, com necessidades, tempos e interesses diferentes, com histórias distintas e abertura imensa para experimentar e se movimentar no mundo (CYTRYNOWICZ, 1993). Diante disso, é possível concluir que esses valores perpetuam no tempo e deixam marcas na atualidade que parecem invisíveis quando normatizamos pessoas, comportamentos e realidades (VAITSMAN, 1997). Para romper com esse fluxo de sofrimento e desigualdade, então, é preciso, em primeiro lugar, reconhecer que ele existe e que, assim como os alunos e suas famílias, também somos parte dele, para que, conscientes dos nossos direitos e das nossas responsabilidades, possamos questionar e subverter esses padrões. Pensando nisso, professor, você consegue se incluir e reconhecer as dificuldades geradas pela normatização imposta pelos padrões da sociedade atual? Percebe a influência que eles exercem nas relações com o aluno e com suas famílias? É nosso papel, enquanto educadores, facilitar essa reflexão e esse diálogo. Então, se a família representa o espaço privado, nesse caso, a escola vem ocupando o

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espaço público, onde os agentes se mostram, relacionam-se e se desenvolvem. Porém, longe de serem opostos, público e privado são essencialmente complementares, visto que o que acontece no espaço público interfere no privado e vice-versa. Somos o tempo todo influenciados e influenciadores do outro e do todo. Um bom exemplo da relação entre público e privado aconteceu recentemente, durante a pandemia do novo coronavírus: nossa casa se transformou, também, em nosso trabalho, em sala de aula, em academia e tantos outros espaços que estávamos acostumados a experimentar fora dela. Grande parte das pessoas passou a consumir produtos e serviços online, lives, shows, compras virtuais, salas de batepapo, terapia online etc. Desse modo, tudo o que pareceria naturalmente externo passou a ser feito em um único lugar, um lugar privado, de intimidade e, ao mesmo tempo, compartilhado com a família. E, nesse novo espaço, como podemos controlar o que é público ou privado, se eles agora habitam o mesmo lugar? Que parte da minha casa posso mostrar em uma videoconferência? A cama está arrumada? A criança está em silêncio? A televisão ligada, a panela no fogo, o barulho do vizinho, tira o pijama, coloca a camisa, liga o áudio, desliga a câmera... ufa! Mais um dia se passou! Quanto mais próximo do privado, menor o nosso controle. Quanto mais desvelamos nossa intimidade, mais vulneráveis nos sentimos, por isso não foi fácil! Na verdade, não é fácil até hoje, pois precisamos do público tanto quanto do privado, já que eles convivem simultaneamente no que escolhemos revelar ou ocultar para nós mesmos e para o outro.

PARA REFLETIR •

Quando e como você se aproxima de si mesmo e das pessoas à sua volta?



Por quanto tempo consegue se despir das aparências e abraçar sua vulnerabilidade?



Será que o controle existe e para que ele te serve?

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Refletir sobre isso pode ajudá-lo a entender como o momento pelo qual passamos influenciou significativamente suas ações e emoções, assim como as de seus alunos e de suas famílias, inspirando um novo modo de se relacionar. Nesse sentido, vamos entender melhor o significado do espaço público, ou esfera pública, e sua relação com o privado. Na visão do filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas (1997), que se debruçou no estudo sobre a democracia e no que ele chamou de ação comunicativa, os sujeitos da esfera pública ultrapassam interesses políticos e individuais, para se apropriarem da argumentação e do debate na busca de acordos e mediações. Seus estudos, então, descrevem a interação e a influência exercida entre público e privado, de modo que ele afirma, ainda, que a esfera pública recebe as necessidades e angústias presentes na esfera privada, devendo questioná-las e favorecer o debate. Já na esfera privada, os agentes se apropriam desse debate para gerar movimento e reflexão na vida cotidiana. Assim, as mudanças vividas na família e na escola acompanham um horizonte histórico permeado pela economia, a política e a sociedade.

PARA REFLETIR •

Querido professor, agora, se pensarmos no contexto escolar, todos os agentes têm oportunidade de ocupar seus lugares?



E, se pensarmos na escola enquanto espaço público, o debate e a argumentação acontecem de maneira democrática ou os sujeitos se relacionam passivamente?

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As mudanças que queremos precisam de concessões e diálogo para acontecer, visto que o modelo tradicional de escolarização não atende mais às necessidades de seus envolvidos. Já não nos interessa formar um indivíduo apenas para o trabalho, mas é fundamental formá-lo, essencialmente, para a vida, para que seja autor da própria história e ultrapasse as paredes de seus espaços privados e de interesses individuais. Desse modo, as pessoas serão incentivadas a pensar também no coletivo e a fazer escolhas que beneficiem sua comunidade, acreditando em seu potencial e na força de sua história, de maneira que não se rendam às dificuldades e limitações. Não é uma tarefa fácil, professor... nunca foi! Mas lembre-se de que você não está sozinho e de que, por mais que algumas pessoas ainda mantenham o foco em encontrar culpados, você pode fazer diferente e olhar mais para o que sobra e menos para o que falta. Assim, você pode entender que não é sua responsabilidade fazer tudo sozinho, porque somos seres humanos, somos limitados e precisamos dividir e compartilhar responsabilidades. Além disso, se determinado caminho não pode ser trilhado sozinho, é preciso se lembrar de ajustar as expectativas, pois sua concepção de sucesso pode ser bem diferente da concepção do outro, assim como o fracasso também é percebido de múltiplas formas não havendo espaço para a atribuição de culpados, mas sim para, a busca por soluções.

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Os caminhos que se fazem no encontro da escola e da família

Por muito tempo, sustentamos a máxima de que a escola era responsável pelo ensino formal e acadêmico e que a família se mantinha na missão de educar e transmitir valores. Elegemos a sala de aula como lugar de aprendizado, e o professor como o detentor do saber. Nesse processo rígido e delimitado por normas e expectativas, sobrava pouco ou nenhum lugar para incluir a família, ao mesmo tempo em que escolas e os professores se viam sobrecarregados e exaustos. O valor do ensino era medido pela quantidade: quanto mais conteúdo, melhor! Mais tecnologia, mais provas, mais aprovações, mais números que sustentam um modelo de ensino passivo e conteudista, que não se aprofunda em ações que estimulem a qualidade do ensino, mas apenas a quantidade de recursos que ele oferece, privilegiando o aspecto intelectual à custa do desenvolvimento emocional saudável e integral. Com isso, começamos a sobrecarregar também as crianças e os adolescentes.

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PARA REFLETIR Você já percebeu, professor, como tem sido cada dia mais comum encontrar alunos com agendas superlotadas, com pouco ou nenhum tempo livre para brincar, estar com os amigos ou simplesmente desacelerar?

Afinal, o ócio em uma sociedade capitalista e industrial não é visto como necessário, já que produtividade é a palavra da vez (FREIRE, 1987). E, de forma silenciosa, mas potencialmente invasiva e destrutiva, tornamo-nos o que o filósofo e escritor sul-coreano Byung-Chul Han (2017, p. 30) chama de autoexploradores, exigindo de nós mesmos a performance constante, frenética e desmedida, que exclui o contexto, as diferenças e emerge nos indivíduos a falsa ideia de liberdade, provocando a busca insana e individual por autorrealização e superação constante.

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Nesse sentido, parar é percebido como falha, incapacidade, tempo perdido que sempre pode ser usado produtivamente (HAN, 2017). Voltando nosso olhar para a escola e os seus envolvidos, podemos dizer que ainda existe uma busca desigual pelo resultado e não pelo processo. Notas, salário, likes e status são cada vez mais importantes e preenchem, mesmo que superficialmente, o vazio deixado pelo que não pode ser medido ou monetizado. Assim, vamos desaprendendo a encontrar prazer em nossa própria companhia, a lidar com o tédio, a contemplar o belo e a experimentar as maravilhas do encontro com o outro.

PARA REFLETIR •

Nesse cenário, que espaço ocupam os sentimentos e as emoções, principalmente os mais dolorosos e desconfortáveis?



Será que eles não sinalizam o esgotamento de um sistema escasso e generalista, marcado pelo excesso de positividade e negação da realidade?

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Sabemos, também, que esse processo não passou despercebido, pois há marcos legais e movimentos que questionam a rápida urbanização e massificação do ensino em prol da política e da economia, como a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (UNESCO, 1990), que estabeleceu compromissos mundiais na busca por uma educação de qualidade, justa e igualitária; e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que, alinhada à Constituição de 1988, define e regula o acesso à educação digna a todas as pessoas. Há, ainda, o Plano Nacional de Educação, que orienta e planeja as diretrizes para a educação ao longo de dez anos, e o Movimento Todos pela Educação, uma iniciativa privada, sem fins lucrativos e conduzida pela sociedade civil, com o objetivo de garantir educação de qualidade para todos. Além desses, há outros movimentos que vêm lutando para mudar a realidade da educação no país, abrindo espaço para questionamentos e reformas necessárias para a democratização do ensino. Amparados por essa história de luta por igualdade e reconhecimento na educação, nasce a BNCC e a as possibilidades de trabalharmos o aluno e todos os contextos de aprendizagem e desenvolvimento.

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Nesse contexto, com o passar do tempo, a família começa a compreender sua importância para a educação, e escolas e professores têm a oportunidade de compartilhar seus espaços, responsabilidades e objetivos. Os limites, antes rígidos e descontextualizados, começam a ser construídos em conjunto, considerando as demandas e as possibilidades de seus envolvidos. Com tudo funcionando tão perfeitamente, poderíamos encerrar esta Trilha por aqui, e os estudos e as pesquisas da área não seriam mais necessários, não é mesmo, professor? Estaria correto se não estivéssemos falando de seres humanos, passíveis de erros, acertos e conflitos. Saber o caminho e as ferramentas não garante o sucesso e a efetividade de nossas ideias, mas serve como uma bússola na busca pela educação mais colaborativa, justa, integral e acessível para todos. E, para ilustrar essa inconstância, à qual toda e qualquer pessoa está sujeita, apresentamos o texto da escritora e ativista social L. R. Knost (2019):

A vida é maravilhosa. E em seguida fica horrível. E depois é maravilhosa outra vez. E entre o maravilhoso e o horrível, ela é banal, mundana e rotineira. Inale o maravilhoso, aguente firme durante o horrível e relaxe e exale durante o mundano. Isso é simplesmente viver. Vida arrasadora, curativa, maravilhosa, horrível, banal. E inacreditavelmente bonita.

Os dados demostram os conflitos e as expectativas tanto no âmbito da escola como da família e possibilitam uma reflexão sobre a necessidade de superar a busca por culpados e facilitar a aproximação de seus envolvidos. Contextualizando a pesquisa à realidade vivida nos últimos anos e, mais especificamente, à pandemia e ao distanciamento de crianças e adolescentes do meio escolar e social, podemos dizer que a relação entre escola e família tornou-se ainda mais essencial para a continuidade e o engajamento dos alunos no processo de aprendizagem. Essa relação se mostrou crucial, visto que as atividades e os projetos antes desenvolvidos na escola, com o auxílio e acompanhamento dos professores, passaram a ser feitos em casa, com orientações online, as quais, por melhores e mais eficientes que sejam, exigiram a presença e o engajamento dos pais ou responsáveis na organização do espaço, dos horários, na comunicação com a escola e até mesmo no desenvolvimento e na compreensão das atividades (AMARAL, 2020). Nesse sentido, em abril de 2020, o Conselho Nacional de Educação (CNE) formulou as diretrizes para a educação durante a pandemia da COVID-19. O documento se refere ao papel da família como fundamental para a manutenção do vínculo com a escola e para a continuidade do ensino de qualidade e sem retrocessos (AMARAL, 2020).





escola. De acordo com a pesquisa: 77,25% dos pais consideram raro um bom relacionamento entre ambas as partes; 43% deles gostariam que a escola oferecesse mais eventos, palestras e encontros na instituição; e, na rede pública, 77,2% dos professores relatam como insatisfatória a participação das famílias. No entanto, 99,5% acreditam que a aproximação entre escola e família é fundamental para o sucesso na educação (GENTILE, 2006).

Então, afinal, como famílias e escolas enxergam essa relação? O que pode ser feito para melhorar e facilitar a parceria escola-família? A revista Nova Escola publicou, em junho de 2006, uma pesquisa realizada pelo instituto La Fabricca do Brasil, em parceria com o Ministério da Educação, mostrando a realidade percebida por famílias e

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Além disso, de acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas (FCC), em parceria com a UNESCO e o Itaú Social, entre abril e maio de 2020, quase metade dos professores entrevistados relataram que a aproximação entre escola-família aumentou em 45,6%. Tal dado mostra a importância dessa relação para o sustento e a efetivação da educação em tempos de dificuldades e incertezas, como os enfrentados nos últimos anos. Escola da Inteligência - Todos os direitos reservados ©.

45,6% AUMENTOU

20,6%

NÃO MUDOU

22,3% NÃO SOUBE INFORMAR

11,4% DIMINUIU Fonte: Adaptado de FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2020.

Essa realidade não deve ser vista apenas em períodos de extrema necessidade, como a pandemia da covid-19, mas ser um compromisso cotidiano. Por isso, escola e família precisam se unir em busca de soluções, incluindo suas crianças e adolescentes como protagonistas nesse processo, ou seja, permitindo que eles participem das decisões e da construção de um espaço cada vez mais plural e significativo para todos. Porém, para desconstruir essa realidade, é preciso sair do discurso e se vulnerabilizar pela ação, o que implica correr o risco de ser imperfeito (BROWN, 2014), suspendendo os conceitos preestabelecidos sobre família, para conhecer seus integrantes e oportunizar espaços de diálogo e acolhimento. Diante disso, elencamos algumas possibilidades que podem facilitar essa aproximação, mas lembre-se de que qualquer iniciativa precisa ser construída de acordo com as necessidades e o contexto em que seus agentes estão inseridos. Portanto, professor, esteja aberto para negociações e alterações na proposta inicial, experimente, teste suas ideias, recomece, peça ajuda, mas não se acomode com o que lhe parece normal ou impossível. Famílias e alunos podem não ser como você idealizou, mas é nesse contexto que você se torna necessário e essencial, pois é a partir do seu movimento que as famílias poderão construir uma relação de proximidade e responsabilização pela vida escolar de seus filhos. A seguir, apresentamos algumas estratégias de aproximação com as famílias, com base em um artigo publicado na Nova Escola por Gentile (2006):

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Primeiro encontro: trata-se do primeiro contato com a família, seja na visita escolar, na matrícula ou em uma reunião individual. O importante é que esse encontro seja significativo, que você explore e registre as informações mais relevantes sobre as famílias, quais suas características, preferências, expectativas e necessidades. Você pode explorar questões como alimentação, comportamento, vínculo, rotina e tudo mais que possa auxiliar na adaptação dos alunos e sua família.

Comunicação: estabeleça a cultura do diálogo, evite tirar conclusões precipitadas sobre atitudes e comportamentos. Sobre as reuniões, informe previamente os dias e horários, pois esse planejamento facilita a participação; se possível, decidam esses dias em conjunto. Próximo de cada data, relembre as famílias e informe o objetivo de cada encontro. Conversem sobre os métodos de ensino, a experiência do aluno dentro e fora da escola, sobre a evolução e as dificuldades encontradas, tomando cuidado para não expor ou constranger nenhum participante. Convide a família para a construção e o melhoramento do planejamento anual, considerando nossa realidade de distanciamento e controle; você pode se aproximar por contato telefônico, visitas individuais ou reuniões online. O importante é manter o vínculo e a comunicação com a família.

Rotina: ofereça oportunidades de encontros informais (palestras, apresentações, videoconferências, festas, rodas de conversa, cursos online e presenciais, assembleias). conversem sobre assuntos que sejam de interesse das famílias e que possam ajudar ou contribuir para as demandas da comunidade. Invista em conteúdos que auxiliem a família na educação e no relacionamento com os filhos. Abra a escola e os espaços que existem nela para que alunos e famílias se apropriem e se integrem. Ajude-os a mantê-los informados sobre as mudanças, melhorias ou dificuldades da escola, e não somente dos alunos.

Comunidade: facilite a comunicação dessas famílias, criando um grupo sólido e engajado, utilize e se aproprie das tecnologias oferecidas pela escola. Ao cruzar mundos emocionais e construir relações saudáveis, os familiares se sentirão pertencentes à comunidade escolar, participando de maneira mais efetiva das atividades e dos encontros. Sabemos que é muito desafiador, mas igualmente recompensador!

Seja criativo: sabe aquela ideia que você sempre quis colocar em prática, mas nunca teve coragem? Seja por medo, vergonha ou falta de planejamento? Agora é a hora! Arrisque-se e convide sua comunidade para participar também. Porém, se lhe faltar em ideias, experimente colocar uma caixinha de recados, sugestões ou opiniões na sua escola. Veja o que as pessoas estão pensando e como você pode ajudá-las.

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Reflita sobre sua escolha profissional e a grandeza que ela representa ao lhe dar a oportunidade de exercer sua cidadania e seu comprometimento com os debates educacionais, para além do ambiente corporativo. Como afirma Nóvoa (2018), é fundamental que profissionais se encontrem para debater a prática pedagógica utilizando suas diferenças para construir uma nova forma de educar e fazer educação. Diante disso, é importante dizer que família e escola não exercem os mesmos papéis, mas precisam transitar com abertura e flexibilidade os caminhos da educação, visto que todos somos responsáveis por ensinar e, ao mesmo tempo, por cuidar dessa relação.

O VALOR DO AUTOCONHECIMENTO NAS RELAÇÕES COM O OUTRO



Para que dissimular Se ela me segue aonde quer que eu vá? Melhor encarar E aprender com ela a caminhar. Não vou mais negar Por todo caminho minha sombra está. Eu quero saber me querer Com toda beleza e abominação Que há em mim. Pitty

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Até o momento, tratamos da importância de considerar a história de vida de cada sujeito, compartilhando um horizonte em comum, mesmo com experiências tão diferentes no tempo e nas relações. E é nesse costurar de fatos que gostaríamos de dar voz à sua história como pessoa, profissional e cidadão.

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PARA REFLETIR •

Qual é sua história? Que parte dela precisa ser revisitada e compreendida?



Quais experiências te marcaram mais?



Quais recursos te ajudaram a enfrentar seus desafios?



Como tudo isso interfere na relação que você estabelece consigo mesmo e com as outras pessoas?

Olhar para nós mesmos não é uma tarefa simples, pois estamos sujeitos a encontrar feridas e vazios com os quais nem sempre estamos prontos para lidar. Algumas pessoas se afastam tanto de sua história que dificilmente se responsabilizam, passando a delegar responsabilidades e a culpar o outro por todo fracasso ou dificuldade que enfrentam. Outras não conseguem reconhecer seu valor e, com frequência, comparam-se, isolam-se e não reconhecem os próprios limites (AZEVEDO, 2013). Por isso, antes de falarmos sobre empatia com o outro, precisamos praticar o autoconhecimento e a autovalorização (ROSENBERG, 2006). Mudar a maneira como olhamos para a educação é também mudar a maneira como olhamos para nós. Então, percebendo nossas negações e dificuldades, somos capazes de nomear, compreender e expressar nossas angústias, o que corrobora a elaboração e ressignificação das memórias vividas.

Muitas pessoas usaram o isolamento para olhar com mais atenção e cuidado para si mesmas e conhecer um pouco mais sobre as próprias limitações e potenciais, seja por meio de leituras, música, arte, debates, encontros virtuais, observações, pausas ou relaxamento. O autoconhecimento foi citado por diversas vezes para se referir à oportunidade de estar sozinho e isolado do meio social, mas não podemos esquecer de que ele era apenas um dos vários modos de viver esse momento, e, por mais nobre que ele possa ser, não é o único e nem mesmo o melhor para todos. A pandemia foi e ainda é um grande desafio, e precisamos entender que cada pessoa tem seu tempo, seu ritmo e sua maneira de viver esse momento. Alunos, professores e famílias são grupos, e dentro deles cada indivíduo constrói um universo de possibilidades e experiências. Vale pensar nas questões a seguir!

PARA REFLETIR •

Todos os professores enfrentaram as mesmas dificuldades no período de distanciamento?



E os alunos, será que a história de vida de cada um deles interferiu na forma de enfrentar essa situação?



As famílias e suas diferentes realidades são capazes de sustentar sozinhas a educação e o desenvolvimento socioemocional de seus filhos?

E quantas memórias foram construídas e revisitadas nos últimos anos, não é mesmo? Como vimos durante a pandemia do novo coronavírus, houve várias mudanças no cotidiano: além das aulas remotas e do uso de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) foi preciso repensar a interação com alunos, colegas e familiares. Não saímos ilesos dessas experiências vividas, sejam elas positivas ou extremamente dolorosas, todas constituem uma potencialidade única em cada ser humano; a angústia, o medo e os vazios sentidos por nós também são um caminho para a mudança.

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Seu processo de autoconhecimento perpassa por conhecer o outro, não de maneira inteira ou completa, pois estamos sempre mudando e reeditando nossas experiências e percepções, o que torna impossível estabelecer esse caminho como uma meta finita e simplificada. Nesse viés, assim como as relações, o autoconhecimento precisa ser alimentado continuamente para que floresça e gere frutos (SCHOPENHAUER, 2019). Uma maneira de começar essa jornada é observando suas preferências, sua rotina, as dificuldades e evitações que fazem parte do seu dia a dia. Durante esse processo de se autoconhecer, abrace suas falhas e seja um pouco mais tolerante com elas. O passado e todas as mudanças que ele exigiu podem ter gerado desvios e caminhos que você não esperava, mas, ainda assim, você continuou e, independentemente da maneira como isso aconteceu, você está aqui, preparando-se e acreditando em um presente e em um futuro ainda melhores. Um adulto que conhece suas dificuldades é capaz de acreditar em seu potencial e reconhecer as necessidades do outro, permitindo que ele expresse seus pensamentos e suas emoções. Para facilitar esse caminho entre os alunos e sua família, não precisamos de muito, é necessário apenas

o interesse verdadeiro pelo que eles são e pelo que eles mesmos te apresentam sobre a própria história. Portanto, não gaste tempo e energia tentando interpretar o que eles não quiserem dizer, detenha-se ao que está à sua vista, e, aos poucos, pode ser que eles se abram e compartilhem sua intimidade. Reconheça suas conquistas e as conquistas de seus alunos e dos familiares deles, elogie o processo de evolução que eles se propõem a passar, e não somente os resultados que alcançam. Você é capaz de oferecer ao outro tudo o que se permite experimentar em si mesmo.



A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar, parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro BONDÍA, 2002, p. 24.



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Onde fica a criança e o adolescente nessa relação?



Em primeiro lugar, é importante reconhecer que não temos o controle sobre o outro, somos, no máximo, influenciadores em suas trajetórias, e isso já é o bastante se pensarmos no peso que essa influência significa ao longo da vida. Como qualquer outra pessoa, as crianças e os adolescentes têm necessidades, comportamentos e percepções variados; por isso, não podemos agir como se entender esse momento da vida deles fosse suficiente para atender a todas as demandas e desafios vividos por eles.

Quando julgarem o que eu faço, olhem seus próprios narizes: lá no seu tempo de infância, será que não foram felizes? Mas se tudo o que fizeram já fugiu de sua lembrança, fiquem sabendo o que eu quero: mais respeito, eu sou criança!



Pedro Bandeira

Apresentados alguns conceitos, gostaríamos de encerrar esse tópico olhando para as crianças e os adolescentes que permeiam essa relação. Como eles se comportam? Quais as necessidades deles? E como podemos incluí-los na construção de uma educação mais colaborativa e democrática?

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Esclarecido esses pontos, discorreremos sobre o que as pesquisas e os estudos com essa parte da população vêm mostrando. Abordaremos em que aspectos eles se assemelham e se diferenciam uns dos outros e, também, como podemos acolher seu desenvolvimento sem menosprezar ou comparar com o que já conhecemos sobre a infância e a adolescência, sem usar frases como: “Na minha época não tinha essas frescuras”, “Os adolescentes de hoje não querem ou não se importam com nada”, “Eles não querem aprender!” ou “Eles não se importam!”.

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Esses conceitos e pensamentos precisam ser descontruídos para dar lugar aos sujeitos que existem, para estabelecermos relações mais autênticas e conectadas, compreendendo as diferenças não somente pelo ângulo isolado da criança ou adolescente, mas de todo o contexto do qual ele, sua família e você mesmo fazem parte. É fato que as crianças e jovens de hoje não são como os de antigamente, mas nós também não somos os mesmos. A mudança é parte do desenvolvimento e das transformações que vivemos como sociedade, nem sempre a procuramos, elas atravessam nossa existência.

PARA REFLETIR •

Quantas coisas mudaram em você, querido professor?



E o que mudou em sua maneira de ver o outro?

Além dos fatores já citados, a globalização e a democratização da informação foi um importante fenômeno nesse processo, pois, como temos visto, a tecnologia transformou a maneira de nos relacionarmos com o mundo. Uma vez que a geração de crianças e jovens já nasceu em um mundo dominado pela tecnologia e a facilidade da informação, não podemos esperar que eles se comportem de acordo com as referências que temos sobre infância e adolescência. Reconhecemos os perigos que esse excesso provoca e a importância de acompanhar e participar dessa evolução com nossas crianças e adolescentes, mas é fundamental reconhecermos a amplitude que eles estão desenvolvendo como pessoas. Nesse contexto, percebe-se que eles estão cada vez mais politizados e engajados no bem e nas causas sociais, além de se comprometerem com o meio ambiente, com o respeito aos direitos e com a valorização da vida humana. Por isso, desconsiderar essas características ou resumir as diferenças aos conceitos de certo e errado, bom ou ruim não promove o desenvolvimento do potencial que eles trazem.

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PARTE

C

MOMENTO INTELIGÊNCIA MULTIFOCAL



A crise na educação é um dos temas abordados pela TIM (Teoria da Inteligência Multifocal). E nela o autor e psiquiatra Augusto Cury (2010) discorre sobre assuntos como o excesso de informação, a hipercompetitividade e, principalmente, como nos relacionamos com essas mudanças e como as gerenciamos.

Há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e de cada jovem. Só não consegue descobri-lo quem está encarcerado dentro de seu próprio mundo. Augusto Cury

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Essa relação perpassa a necessidade de trabalharmos as emoções, ou o que podemos chamar de aspectos socioemocionais, considerando as emoções a partir de um contexto e da relação que seus indivíduos estabelecem consigo e com o mundo. Desenvolver as habilidades socioemocionais implica assumir o protagonismo diante da vida, lidando com as frustrações e validando todo seu potencial (CURY, 2010).

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Tratam-se de habilidades complexas, que exigem tempo e disponibilidade para serem desenvolvidas e que não se referem somente a questões de amadurecimento ou capacidade, mas, essencialmente, de apoio e orientação.

PARA REFLETIR •

Sendo assim, como podemos pensar a educação de modo fragmentado?



Como definir o que é papel da escola e o que é função da família se as crianças e adolescentes levam a família para a escola e a escola para a família todos os dias?



É possível separar a escola como espaço intelectual e a família como lugar das emoções?

A pandemia, por exemplo, escancarou essa necessidade, pois tornou visível a diversidade de contextos e realidades, exigindo do professor uma disponibilidade que foi desafiadora e exaustiva, mas importante para manter o vínculo, o interesse e a participação do aluno. Augusto Cury (2010) afirma que “Não podemos lotear os alunos. Pais e educadores têm responsabilidades sobre o futuro emocional, social e profissional dos seus educandos”. Abrindo nossa mente para assumir os riscos e as incertezas na valiosa missão de educar, podemos nos conectar com o que a TIM nomeia de a arte de construir relações saudáveis, praticando a verdadeira empatia, gratidão e altruísmo nas experiências do dia a dia.

Compreender o contexto atual nos auxilia a manter um olhar multifocal para percebermos que não podemos voltar a viver no mundo de antes. Por isso, o que buscamos é nos adaptar às transformações que nos têm sido apresentadas e impostas a todo instante, principalmente desde o início da pandemia em 2020. Cury (2010) afirma que não podemos e não devemos fazer essa distinção, já que a condição humana se define por sua integralidade. Desse modo, qualquer tentativa de separação representa perdas irreparáveis para o sujeito, além de marcas que podem durar toda uma vida. De acordo com a TIM, o desenvolvimento das habilidades socioemocionais é responsabilidade da família e da escola, considerando que as principais instituições na vida de uma pessoa nunca podem agir separadamente, mas devem atuar em conjunto, com parceria e respeito às diferenças que podem surgir. Silva (2003) destaca que precisamos olhar para o que chamamos de parceria ou participação das famílias com profundidade, ultrapassando a visão reducionista da escola como extensão da família e da família como agente da escola, debruçando, assim, nossos esforços na aproximação do outro, compreendendo sua realidade e valorizando a troca de saberes.

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Construir uma relação saudável com as famílias implica nos relacionarmos melhor com nós mesmos. Mais uma vez, utilizamos a referência de Silva (2002) para contextualizar o conceito de “relação”, trazendo a variação constante entre cooperação e conflito que se faz presente em toda relação humana, seja por incertezas, tensões ou diferenças. Evitar o conflito é uma atitude em vão, pois contraria o movimento natural da vida. Assumir o protagonismo que a vida lhe pede significa correr riscos e ter a coragem de enfrentar suas sombras, de questionar o estabelecido e criar novas e significativas formas de relacionamento. Ao favorecer a aproximação das famílias, você também cresce, transforma-se e renova as práticas de educação. Para isso, esteja atento e sensível para perceber as oportunidades de interação com as famílias.

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PARA REFLETIR •

Nos encontros realizados pela escola, as famílias têm a oportunidade de falar sobre os assuntos que gostariam?



E a comunicação, é feita de forma clara e acessível para todas as famílias?



Quais os outros meios de comunicação com a escola?



Esses meios são de fácil acesso a todos?



Como a escola se abre para a comunidade e absorve seus envolvidos?

Fecharemos esse tópico associando-o à reflexão presente no último tema da TIM (2010) abordado até aqui: a importância dos exemplos. Lembre-se de que seu movimento é a chave para abrir um caminho de novas práticas, novos olhares e, portanto, de novas relações. Você é um influenciador e está sendo observado a todo tempo, por alunos, escola e família. Mas não se assuste com esses olhares, eles saberão perdoar suas falhas na mesma medida em que você for tolerante com cada um deles, a fim de que se motivem pelas práticas que você proporciona. Então, esteja atento e não tenha medo de ser você mesmo, mantendo a coerência entre o que você fala e o que você diz!

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PARTE

D

Desafio do professor Estamos chegando ao final de mais uma Trilha que foi criada com todo carinho e dedicação por pessoas que, assim como você, acreditam na educação e nas pessoas que fazem parte dela. Cada detalhe foi elaborado e discutido com foco na experiência de quem se propõe a aprender e ultrapassar as barreiras do óbvio, do tradicional, estando determinado a se arriscar na construção de uma educação humana, significativa e transformadora.

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Por isso, esse desafio não representa o fim dessa jornada, mas o ponto de partida para impulsionar sua própria transformação. Um dos pontos principais abordados foi a necessidade de incluir todos os envolvidos (escola, famílias, alunos e comunidade) no processo de educação. Incluir no sentido de dar importância, considerar e permitir que a diversidade de ideias, objetivos e necessidades construam uma educação verdadeiramente significativa para todos. Quando falamos em aproximar a família, afirmamos a importância de enxergar o aluno e permitir que ele apareça, se expresse e influencie o movimento da própria comunidade, porque ela é uma rede que se movimenta a cada mudança realizada pelo sujeito. Partindo dessa ideia, propomos um desafio que contextualiza os desafios passados e desperta o interesse pelas histórias, no qual voltaremos nosso olhar para os alunos, sem nos esquecermos de que a presença deles em sala de aula também representa a presença da família e toda sua cultura. Por isso, a relação que criamos com os alunos, o tratamento, a escuta, o espaço que ele ocupa e a valorização ou não das suas diferenças interferem diretamente na relação que queremos construir com sua família (REZENDE, 2009).

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Então, o desafio é construir uma árvore que representa a história de cada pessoa. Você e seus alunos deverão organizar, ao longo da estrutura da árvore, diferentes aspectos que interferem na construção de si. Essa é uma maneira lúdica de olhar e fomentar o interesse sobre a história de cada um, inclusive a sua, pois, como mencionado anteriormente, sua motivação e interesse servem como modelo a ser seguido, além de aproximar e fortalecer os vínculos entre você e o grupo. A árvore precisa conter alguns elementos, como: raiz, tronco, galhos e copa. E, em cada uma dessas partes, vocês deverão escrever, colar, desenhar ou criar algo que represente o significado proposto. Fique atento ao volume de informações inseridas no projeto, escolhendo, se necessário, as mais relevantes para esse momento. Utilize como inspiração o modelo a seguir, mas se sinta livre para criar sua própria representação de uma árvore. Ao final do projeto, você pode sugerir que os alunos agrupem suas árvores, formando uma grande floresta, que representa a comunidade e as relações que eles estabelecem com as pessoas. Registre suas percepções ao longo da atividade e compartilhe-as em nossas redes sociais, marcando @escoladainteligencia, para que outros colegas possam refletir sobre a diversidade experimentada, inspirando outras inciativas como essa.

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Cada parte da árvore representará uma parte da história do indivíduo, sendo elas:

Raiz: representa os antepassados, e alguns membros da família serão escolhidos para ocupar esse lugar. Seria interessante que, ao fazer esse exercício, você e seus alunos conhecessem um pouco mais sobre a história dessas pessoas e refletissem sobre como elas se entrelaçam com a sua.

Caule: representa o nascimento. Aqui, o indivíduo pode relatar, por meio de imagens, desenhos ou escrita, como foi o próprio nascimento, o que mudou na estrutura familiar e como eles se adaptaram a essas mudanças. Um momento para que a criança ou o adolescente converse com seus familiares e conheça um pouco mais sobre a própria história e o impacto dela em seus familiares.

Galhos: representam as experiências, as diferentes relações que o indivíduo faz com o mundo e não somente com a família. Nessa parte, podemos incluir a escola, o trabalho, os amigos e qualquer outra relação que julguem importante.

Copa: é nela que observamos se a árvore está saudável ou não, se dá frutos, se floresce e se desenvolve em todo seu potencial. A copa de uma árvore está sempre mudando, crescendo, trocando suas folhas, em alguns momentos mais bonita e imponente, em outros mais vazia e discreta. Então, para a copa, peça aos alunos que escrevam e reflitam sobre a qualidade de seus relacionamentos. Peça que incluam memórias, dificuldades e superações, mas sempre refletindo sobre como todas elas se compõem para formá-los como ser humano e, principalmente, sobre como podem assumir a responsabilidade de cuidar dessa árvore e contribuir para o próprio crescimento.

Frutos: os frutos ou as flores representam o futuro, os sonhos, os desejos, as expectativas e as realizações que queremos para nossa vida. Então, esse é o momento de trazer cor e beleza à árvore e perceber o quanto eles podem ser diferentes para cada pessoa.

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Esperamos que a experiência provocada durante o desenvolvimento desse desafio influencie na sua aproximação com a família, reconhecendo seu espaço de importância na construção da identidade e na valorização de seus alunos. Assim, esse exercício poderá contribuir, ao mesmo tempo, para a aproximação da escola com o aluno e deles entre seus familiares. Ao contar suas histórias, eles poderão reconhecer não somente as semelhanças entre si e sua família, mas também as diferenças, dando espaço para que elas apareçam e sejam valorizadas.

Por isso é que esse é o ponto de partida para uma nova maneira de olhar as relações, com um olhar que não tem pressa, que observa e considera os diferentes tempos e contextos e que, apesar de incerto e desafiador, está permeado de possibilidades e sentido. Agradecemos sua participação, professor, e esperamos que a semente plantada ao longo da Trilha floresça, cresça e se espalhe pela trajetória de outras pessoas que cruzarem seu caminho.

Um forte e afetuoso abraço, Time Escola da Inteligência.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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