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Taisa Nogueira Silva

apropriaÇÕes artemidiÁticas

convergÊncias mÚltiplas A Sala de Aula como Obra de Arte

Relatório para o Exame geral de Qualificação, apresentado à Banca Examinadora do Instituto de Artes – IA –, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Artes Visuais, sob a orientação do Prof. Dr. Pelópidas Cypriano de Oliveira.

São Paulo 2022

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Silva, Taisa Nogueira, 1982APROPRIAÇÕES ARTEMIDIÁTICAS / CONVERGÊNCIAS MÚLTIPLAS: A Sala de Aula Como Obra de Arte/ Taisa Nogueira Silva. - São Paulo, 2022. f.: il. Orientador: Prof. Dr. Pelópidas Cypriano de Oliveira. Tese de Doutoramento em Artes Visuais – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes.

1. Artemídia. 2. Artes Visuais. 3. Arte-Educação. 4. Pedagogia artística. I. Oliveira, Pelópidas Cypriano. II. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes. III. Título. CDD xxx.xxx

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Taisa Nogueira Silva

apropriaÇÕes artemidiÁticas

convergÊncias A Sala de Aula como Obra de Arte mÚltiplas

Relatório para o Exame geral de Qualificação, apresentado à Banca Examinadora do Instituto de Artes – IA –, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Artes Visuais, sob a orientação do Prof. Dr. Pelópidas Cypriano de Oliveira.

Prof. Dr. Pelópidas Cypriano de Oliveira (Pel) Instituto de Artes - UNESP

Profa. Dra. Gláucia Davino Instituto de Artes - UNESP Profa. Dra. Anna Cláudia Agazzi Instituto de Artes - UNESP Prof. Dr. Paulo Monteiro Faculdade de Tecnologia - FATEC

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Dedi Dedico este trabalho ao meu companheiro Daniel Da Scarpin, às nossas crianças i Alice i e Eric e em especial à querida bisa Helohá Therezinha Pinheiro Silva

Agradecimentos Ao meu orientador Pelópidas Cypriano de Oliveira, por todo o tempo que dedicou durante o processo de realização deste trabalho. À meus colegas do Grupo de Pesquisa Artemídia e Videoclip que, ao longo do percurso compartilhamos conhecimentos e questionamentos, além de meus colegasprofessores da Escola Técnica Estadual Mandaqui e da Escola Waldorf Francisco de Assis. À minha família, que pacientemente acompanhou meus conflitos e colaborou para a realização desse trabalho, que participou ativamente na revisão, em especial dedico este trabalho ao meu companheiro Daniel pela paciência e motivação para a conclusão dessa tese.

“As ideias que desenvolvo aqui são o resultado de observações e de experiências interiores acumuladas pouco a pouco ao longo dos últimos cinco ou seis anos. (...) Limitar-me-ei portanto, a esboçar as linhas gerais da questão, a mostrar somente a importância do problema, e considerar-me-ia feliz se o eco de minhas palavras não se perdesse no vazio”. KANDINSKY,1912, p.06.

O trabalho parte de apropriações artemidiáticas dos conceitos de arte, educação e trabalho obsservvar as relações entre a percepção humana na compreensão espaço por suas barreiras físiccas e sim mbólicas por meio de convergências múltiplas dos conceitos estudados, este estuudo visa compreenderr as novas form mas de manifestação artísticass no ambieente viirttual e no ambiente físico (real) em sala de aula. Estee trabalho não preetende elaborar uma definição fechada sobre o que é aula, nem tem a inteenção de ser uma apostila didática de atividades e ou ações afirmativas e propostas de com mo elaborar uma aula ou a aula como obra de arte. Este trabalho busca um ma reflexão sobre o accontecimentoo-aaula, o que em certos momentos pode ser compreendido como obra de arte. O projeto de pesquisa na linha de pesquisa “P Processos e Procedim mentos Artísticos” passa porr umaa análiise dos processos de produção e apropriação do espaço urbano por meioos artísticos sobb o prisma educação – trabalhho e sua configuração espacial. A metodologiaa se baseia na defifinição connceituaal de novos paradigmas na esfera da educação, trabalho e cultura, connceitualmente abordado na esfera acadêmica pelo tripé ensino-ppesquisa-eextensão. A relevância desta pesquisa se dá na medidda em que relata proocessos e procedimentos artíísticos desenvolvidos num peeríodo crítico dee contenção dada à uma Pandemia Globaal de Covvid-119 que lim mitou as relações sociais em ambientes virtuais na modificação do ambiente físico (um laboratório-ateliê) em ambientes virtuais (ambiente para compartilhamento de informações, ideias e estreitamento de relações).

The work starts from artmedia appropriations of the cooncepts of art, education and work to observe the relationships between human perception in understanding spacee by its physical annd symbboliic barriers through multiple coonvergences of the concepts studied, this study aims to understand the new w forms of artistic maanifestation in the virtual environment and the physiical environment (real) inn the cllassroom. Thhis work does not intend to elaborate a cloosed definition of what a claass is, nor does it intend to be a didactic workbook of activiities and or affirmative actions and proposals on how to elaaborate a class or the class as a workk of art. This work seeks a reflflection on the class-eevent, which at certain moments can be understtoood as a work of art. Thhe research project in the line of researrch “Artistic Processses and Procedures” goes throough ann aanalysis of the processes of productionn and appropriatioon of urban space by artisstic meeans unndder the prism of education - work annd its spatial configuration. The methodology is based onn tthe conceptual definition of new paaradigms in the sphere of educatiion, work and culture, conceptually approached in the academic sphere by the tripod teaching-research-extension. The relevance of this research is that it reports artistic processses and procedures developed inn a critical period of contention due to a Global Pandemic of Covid-119 that limited social reelaationships in virtual environments by modifying the physical enviroonment (a laboratorystudio) into virtual environments (envvironmentt for shariing information, ideas,, and strengthening reelaattionnshhipps).

““As As ideias ideias que que desenvolvo desennvolvvo aqui aqui são são o resultado resulttado de observações observações e de de experiências experiências interiores interiores de acumuladas pouco pouco a pouco pouco ao ao longo longo dos dos últimos últi mos acumuladas cinco ou ou seis seis anos. anos. (...) (....) cinco Limitar-m me-ei portanto, portanto, a esboçar esboçar as as linhas linhhas gerais gerais Limitar-me-ei ddaa questão, questão, a mostrar mostrar somente somente a importância importância do do pproblema, roblema, e considerar-me-ia considerar-me-ia feliz feliz se se o eco eco de de m inhas palavras palavras não não se se perdesse perdesse no no vazio”. vazio”. minhas

K andinsky, W. W. “Do “Do Espiritual Espiritual na na Arte”. Arte”. Prefácio Prefácio da da Kandinsky, P rimeira Edição. Edição. Primeira

ta o tema fun n e s e r p a ” o d a Circunstanci O “Relatório Cursadas e no s a n i pl i c s i D ricamente nas so damentado teo ipe. O proces l c o e d Vi e a i uisa Artemíd o Grupo de Pesq a no “Trabalh lt u s e r a ic t s í laboração art oreflexivo na e rocessos e Pr P e d o i e m r o apresentado p rio Equivalente”, res. O Relató a t n e m e pl m o C s Atividades dicedimentos na a leitura em m u o ã ç n e t n i ado tem como bilaqui apresent ideias, possi e d o ic a s o m rta, como um s e agramação abe os perceptivo t n e m i c e h n o c r-relação dos TA, itando a inte IVRO DE ARTIS L m u e d o ã ç a com a elabor as metodológicos rnos escanead e d a c e d s a n i aterial pág uais usando como m lementos text e o d n a c s u b tos de aulas, ica. com apontamen ressão artíst p x e e d s a m r ráfico como fo e o desenho g

CD/article/download/245918/35258.........................................................38

Índice de Imagens

Figura

13

-

Conditions

for

Serendipity.

Fonte:

https://buffer.

com/resources/productivity-vs-seredipity/.....................41 Figura 1 - Dissertação de mestrado disponível no site: https://

Figura 14 - Fases da Pesquisa em Artes (Quadro 3, p.60). Fonte: ZAMBONI, S.

taisabap.wixsite.com/taisabap..........................................................28

“A Pesquisa em Arte”, 2 ed. Campinas, 2001. Ed. Autores Associados...........48

Figura 2 – Livro de artista. Foto da autora........................................29 Figura 3 – Imagem obtida no Flanar da Parada Inglesa (Av. Tucuruvi)...........................................................................................30 Figura 4 - Instalação dos Tsurus na Praça Nossa Senhora dos Praze res.....................................................................................................31 Figura 5 - Ideograma Sankofa. Disponível em: https://periodicos. ufpe.br/revistas/CD/article/download/245918/35258

e

https://

africadoladodeka.wordpress.com/2014/05/29/adinkras/sankofa-1/..........31 Figura 6 – Mapa de Amsterdã desenhado em uma folha da artista Nils

Westergard.

Disponível

em:

https://www.boredpanda.com/

amsterdam-map-paper-art-leaf-cutout-nils-westergard/?utm_ source=google&utm_medium=organic&utm_campaign=organi........32 Figura

7

– Autorretrato

(ou

sobre

o

Flanar).

Fonte:

Foto

da

autora. .......................................................................................33 Figura 8 – Livro de artista. Fonte: Foto da autora............................33 Figura 9 -

Plano de Trabalho no Trello Disponível em: https://

trello.com/b/VTFCLMkl/plano-de-trabalho-sala-de-aula-como-obrade-arte....................................................................................34 Figura

10

-

Benjamin

Franklin’s

to-do

list.

Fonte:

https://

writingcooperative.com/benjamin-franklins-simple-daily-strategythat-will-make-you-super-productive-f668b812288............35 Figura 11 - Kairós Learning Circle. Disponível em: https://pastorrobin. com/2015/08/06/discipleship-through-the-kairos-circle/.................38 Figura 12 - Ideograma AYA. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/

Sumário

4.4

O espaço urbano como sala de aula

4.4.1 Disciplina: Tópicos Especiais: Práticas Contemporâneas da Instalação e Site Specific (2019) - Prof. Dr. José Paiani Spaniol

Introdução...................................................................................................27

4.5

1. Diário de Bordo.......................................................................................33

Lamego e Taisa Nogueira”

1.1

4.5.1 Análise semiótica da exposição no estágio de docência

Sobre Chronos e Kairós na pesquisa.............................................34

A sala de aula como galeria: Exposição “Plano e Linha: Marcos

1.2 Sobre a docência e o tempo da pesquisa: Recorte temporal e

5

Quinta dimensão?

empírico......................................................................................................39

5.1

Estado (da arte) atual ou a Arte no contexto da contemporaneidade

1.3

A sala de aula como obra de arte: Definição de conceitos................43

5.2

A sala de aula: vigiar e punir?

2

O campo bidimensional: O desenho da linha

5.2.1

2.1

Primeiros passos: A estética originária (ou traço primordial) dos

Estágio de docência na disciplina de Teoria da Comunicação - 2

Semestre de 2020/2021

povos primitivos

5.3

A sala de aula: Pesquisa de campo experimental

2.2

5.3.1

Estudo de caso da Escola Bauhaus

5.3.2

A pedagogia Freinetiana

5.4

A arte-educação ou a educação por meio da arte

Processos e Procedimentos artísticos em sala de aula: o desenho da

linha 2.3

A sala de aula como galeria: Exposição M.A.R. - Música e Artes em

[Re]visão” (Galeria do IA – vernissage 01/07/2019, finissage 05/07/2019)

5.4.1 Um estudo sobre Regio-Emilia

3

O campo tridimensional: a apropriação do espaço

5.4.2 A pedagogia Waldorf

3.1

O aspecto originário na tridimensionalidade da Arte Egípcia

5.4.2.1 Cursos realizado como discente: Pós Graduação em Artes Waldorf

3.2

Apropriação da tridimensionalidade como obra de arte na sala de

aula 3.3

na Faculdade Rudolf Steiner 5.5

Trabalhos em Anais de Congressos: Jornada de Pesquisa em Arte

A Casa como Ateliê-Galeria: (RE) Conexão com os ambientes de

afetos com os ambientes de criação

UNESP PPG / IA (2019)

5.5.1 Perspectiva da Janela: propostas para além da tela

3.3

“Exposição L.A.R – Laboratório-Ateliê Residente” (05-17/7/19)

5.6

3.4

Mostra de Artes Visuais da Jornada de Pesquisa em Arte UNESP

34 Bienal

A estética originária dos povos primitivos na contemporaneidade da

PPG IA 2019 (08 a 16/10/19)

5.6.1 Arte dos povos primitivos no Brasil e a BIENAL

4

6.

A quarta dimensão na Arte

Apropriações Artemidiáticas / Convergências Múltiplas: tecnologia,

4.1

O aspecto originário grego na história da educação

arte e cultura na formação profissional

4.2

Anotações sobre o cubismo e a quarta dimensão

6.1 Publicação de trabalho completo em anais de congresso: VII

4.3

Experimentações no Espaço em Instalação e Site Specific

SEMTEC: Simpósio dos Ensinos Médio, Técnico e Tecnológico – Centro

Paula Souza (2020) Erro! Indicador não definido. 6.2

Disciplina: Tópicos Especiais: “A-tele-iê de Artemídia no contexto de

pandemia de covid-19”. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS ANEXOS

Introdução Este trabalho propõe um aprofundamento conceitual da dissertação de mestrado em Artes Visuais defendida no Instituto de Artes intitulada “Artemídia Urbana: Reflexão e Análise Perceptiva da Parada Inglesa” (IA/UNESP, 2017) (fig. 01) que propôs diversas ações realizadas no site specific da Parada Inglesa, por meio de uma reflexão poética do espaço urbano e a percepção artística como instrumento didático-metodológico. A dissertação de mestrado disponível no site: https://taisabap.wixsite.com/ taisabap teve como intenção principal a inter-relação dos conhecimentos perceptivos e metodológicos entre artes e arquitetura por meio de uma leitura não-linear que culminou na elaboração de um “Livro de Artista” (fig.02). Uma das experimentações elaboradas no mestrado, tendo como metodologia o flanar e a serendipidade (fig. 03) culminou em uma exposição artística e oficina de tsuru intitulada “Pequenos Prazeres” (fig. 04), propôs a produção de origamis com a participação de discentes das escolas onde leciono. De modo espontâneo, aprendendo e multiplicando o modo-de-fazer a dobra, numa sensibilização artística dos participantes e transeuntes da praça, o espaço se transformou e o ambiente urbano se transformou em uma sala de aula. Mas afinal, o se intitula por Apropriações Artemidiáticas: Convergências Múltiplas, ou a sala de aula como obra de arte? Por definição “apropriação” é ação ou efeito de apropriar, de tomar algo para si, de se apossar de algo, legal ou ilegalmente; apoderamento, empossamento: apropriação do espaço público. Esse trabalho traz em si os conceitos de apropriação referentes à apropriação do espaço público, desenvolvidas no trabalho de mestrado. Entende-se a apropriação também como um tipo de acomodação ou adaptação a um determinado pensamento, ou a um determinado objetivo a ser alcançado.

Portanto o conceito de apropriação se dá por meio de identificação (se apropria de algo ou de um espaço quando se identifica-se com ele) e esse ambiente, seja ele físico ou virtual, possibilita uma comunicação de ensinamentos e compreensões de forma artemidiática, ou seja, utilizando de recursos artísticos de forma a melhor comunicar-se e ser mais bem compreendido, tentando romper barreiras físicas e simbólicas. A proposta artemidiática, compreendese de forma literal, aos trabalhos realizados com mediação tecnológica nas artes visuais e audiovisuais, literatura, música e artes performáticas. Por definição, artistas que se utilizam das artes midiáticas tem por critério modificar e se posicionar contra todo um sistema já imposto. No projeto, a proposta artemidiática se apoia nas referências bibliográficas e nas definições de “Artemídia” do grupo de pesquisa “Artemídia e Videoclip”, sob orientação do líder do grupo Pelópidas Cypriano (PEL).

27 27

Figura 01 - Dissertação de mestrado disponível no site: https://taisabap.wixsite.com/taisabap

Convergência múltiplas se equivalem à compreensão de uma direção para um ponto comum. Aqui entendido como convergência tecnológica, ou seja, é a utilização de um único terminal para acesso a múltiplas redes, em tecnologia da informação também entendido por “HUB” (onde todos os circuitos se encontram). Em sala de aula cada estudante, aqui entendido como um “HUB” pronto para difundir conceitos, estratégias e pensamentos (múltiplos) que convergem em um único ser. A sala de aula é definida por ser um espaço, que pode ser físico ou espaço virtual. Mas de fato, o que define uma aula? Conceitualmente, compreendemos por aula a troca de informações e conhecimentos entre alunos e professores independente do ambiente (seja físico e ou virtual). Portanto, a sala de aula é um espaço que, por pressuposto, depende e necessita da interação entre as pessoas por meio de conexões que podem favorecer e estreitar as relações humanas e de que forma a contemplação artística pode colaborar para a apropriação de novos conhecimentos como instrumento didático-metodológico.

Figura 02 – Livro de artista. Fonte: Foto da autora.

29

Figura 3 – Imagem obtida no Flanar da Parada Inglesa (Av. Tucuruvi) vista para a região central da cidade de São Paulo. Fonte: Foto da autora.

No contexto da contemporaneidade, a reestruturação dos espaços físicos e virtuais e do entendimento dos novos modelos de precarização das condições de educação e trabalho à uberização são os desafios dessa nova concepção formal artística estética é o cenário da experiência aqui decodificada como “sala de aula como obra de arte”. Um acontecimento muitas vezes planejado, mas a observação nos leva a um dado por vezes caótico, imprevisível em sua estreita ligação como o conceito vital da potência criativa. Os processos e investigação de pesquisa e o progresso da pesquisa passaram por diversas mudanças na atualidade, dadas as mudanças de paradigma em situações extremas, como na contenção e fechamento de ambientes relacionais dado pelo Covid-19 e da multiplicidade de formas de produção criativa e apropriação do espaço (física e virtual) quando enfocados na perspectiva da interação entre edu-

30

cação, trabalho e cultura podemos evidenciar a modificação dos espaços físicos e virtuais e torna-se urgente analisar como se configuram as novas produções artísticas neste novo contexto. A mudança de paradigma dada a situações extremas, como o Covid-19, nos espaços de trabalho, educação e cultura são o escopo metodológico para a definição conceitual desse novo ambiente. Este projeto se inicia por um modo de ver os processos e procedimentos artísticos, buscando descrever a simplicidade dos elementos visuais e as amplas possibilidades de significação em ambientes e visões no cotidiano e na produção artística de modo restrito e limitado. A partir da situação pandêmica do Covid-19, o processo metodológico do projeto ressignificou: constituindo novos sentidos, significados, contextualizações e produzindo interdisciplinaridade. A compreensão da múltipla concentração de tarefas num ambiente único (a casa) também deixa questões em aberto, resultantes as patologias neurais da sociedade contemporânea, e suas consequências: depressão, transtorno do déficit, síndrome de burnout, também serão abordados, num recorte empírico-temporal da pesquisa.

O projeto de funde por meio de relatos a situação epidêmica a e a necessidade urgente de mudança dos paradigmas nos processos educacionais, artísticos e relacionais. O trabalho apresenta as propostas desenvolvidas neste período apoiados metodologicamente no processo de serendipidade e flanar nos diversos ambientes estudados. Pretende-se então apresentar metodologias artísticas compreendidas como facilitadores a apropriação de conteúdos didáticos e propostas que favorecerão a potencialidade da produção artística em sala de aula. As atividades propostas serviram de base para a reflexão do trabalho, de forma ampla e aberta, sem intenção de ser um modelo de aplicação didática em sala de aula, como uma apostila ou manual de estudo, mas sim um desdobramento reflexivo de abordagem artística e suas múltiplas possibilidades em sala de aula.

mos m, pode e g a m i a Em uma ideogram m u r a e t d resga njunto o c o n ovos presente kra dos p n i d A s o l símbo dental: o i c O a c i r por acã da Áf e traduz s e u q A o para SANKOF o passad a r a n r o nte “ret o prese r a c fi i o”, ressign o futur r i u r t s à n e co retorno m u , da e ou seja nária i g i r o forma aprender e d a i c 05 importân o. (fig. d a s s a p com o

Figura 4 - Instalação dos Tsurus na Praça Nossa Senhora dos Prazeres. Foto: Bruno Souza para a autora. Dissertação de mestrado em Aretes, 2017.

Figura 05: Ideograma Sankofa. Disponível em: https://periodicos. ufpe.br/revistas/CD/article/download/245918/35258 e https://africadoladodeka.wordpress.com/2014/05/29/adinkras/sankofa-1/

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A ressignificação das potencialidades artísticas se manifesta na ampliação do conceito do ateliê de artes com ênfase principalmente no desdobramento do ensino em artes no contexto geral. Numa proposta de análise qualitativa, na união do pensamento abstrato e a concepção de formal, ampliando a compreensão dos processos artísticos nas relações interpessoais, sejam no espaço de trabalho e ou de estudo. O acontecimento da experiência da aula aqui é definido por obra de arte. O conceito de obra de arte refere-se à contemplação, ao ato de concentrar-se, reter a atenção em algo. Esses momentos serão conceituados aqui por “momentos kairós” ou “aha-moments”. Esse trabalho tem como intuito de propor uma reflexão sobre a abordagem artística e sua relação direta com a aprendizagem. A proposta da presente tese não se pauta na modificação conceitual do que é aula, mas sim uma proposta de conceituar um processo fruto da observação ao longo deste percurso, numa analogia à sintaxe visual aos campos dimensionais da arte. A reflexão estética aqui delimitado em campos artísticos dimensionais de representação: do desenho bidimensional, passando pela tridimensionalidade da escultura e da arquitetura, passando à conceituação da quarta dimensão em artes. Alcançar o conceito de quinta dimensão em artes é a proposta mais desafiadora desta tese. O contexto da história da arte é abordado de forma não linear, entendidos aqui apenas como recortes temporais importantes para o desenvolvimento das reflexões propostas neste trabalho com o intuito de ilustrar e facilitar a compreensão dos fenômenos no contexto artístico. Esta tese visa a convergência dos conhecimentos de artes em sala de aula e as confluências, que numa visão abrangente, possibilitem introduzir conceitos artísticos, que numa leitura aberta, múltipla e ampliada da cultura sob o aspecto originário e primordial, numa proposta antroposófica, onde de fato, segundo Goethe, a humanidade como um todo pode ser vista como um verdadeiro ser humano. Na convergência do pensamento e a uma reflexão sensível sobre a abordagem de temas históricos e culturais na busca pelo traço original e essencial, por meio de reflexões, experiências e possibilidades criativas que trazem o aprofundamento dessa pesquisa na ancestralidade e na busca32 pela quarta e quinta dimensão da arte.

Figura 6 – Mapa de Amsterdã desenhado em uma folha da artista Nils Westergard. Disponível em: https://www. boredpanda.com/amsterdam-map-paper-art-leaf-cutoutnils-westergard/?utm_source=google&utm_medium=organic&utm_campaign=organic

1 Diário de Bordo

Figura 7 – Autorretrato (ou sobre o Flanar). Fonte: Foto da autora.

Este texto provém da vivência profissional de uma professora-artista e na busca de aprofundar a compreensão de problemas criativos. Esta tese destina-se sugerir caminhos sem ter, de fato, respostas definitivas, mas fornecer elementos para que se enfrente melhor uma época como a nossa, com uma mudança paradigmática de distanciamento físico e isolamento social. Deixando, porém, a questão em aberto.

Figura 8 – Livro de artista. Fonte: Foto da autora.

33

1.1 Sobre Chronos e Kairós na pesquisa O plano de trabalho para a presente pesquisa se assenta nas etapas definidas pela metodologia, organizando-as e agrupando-as, de acordo com as afinidades, dentro de uma sequência lógica, onde as informações de uma etapa subsidia a realização das demais. Além disso, algumas das etapas podem ser desenvolvidas concomitantemente. O projeto foi dividido ao longo de todo o processo, de acordo com suas funções, tarefas e cronogramas a serem seguidos, para que uma estratégia de ação seja traçada e os resultados sejam maximizados. A produtividade e a gestão do tempo, podem ser alcançados por meio de metodologias ativas e táticas de organização, visando a melhoria de performance, por priorização na definição de objetivos e planejamento, no que concerne o foco, hábito e disciplina, por meio de um raciocínio de organização espaço-temporal bidimensional. Neste modelo, podemos compreender o projeto dividido nas seguintes atividades e etapas a serem concluídas:

Figura 34 09 - Plano de Trabalho no Trello Disponível em: https://trello.com/b/VTFCLMkl/plano-de-trabalho-sala-de-aula-como-obra-de-arte

O plano de trabalho para a presente pesquisa se assenta nas etapas definidas pela metodologia, organizando-as e agrupando-as, de acordo com as afinidades, dentro de uma sequência lógica, onde as informações de uma etapa subsidia a realização das demais. Além disso, algumas das etapas foram desenvolvidas concomitantemente. No processo de pesquisa, são utilizadas técnicas de investigação, metodologias e conceitos teóricos relativos a outros campos de conhecimento. Processos sobre produtividade e gestão do tempo colaboram para a organização e priorização de atividades e tarefas, hábitos e disciplina, buscando otimizar e amplificar a sensação de conseguir gerir várias atividades ao mesmo tempo, por meio de um raciocínio de organização espaço-temporal bidimensional. Listas e auxiliadores de tarefas como “Post-It” ou visuais como “To-Do List”, agenda do Google e/ou gestão de projetos no Trello (modelo Kanban) e ou quadros de performance em gráficos (painel de performance) (fig 09). O desafio é propor dentro da rotina de atividades diárias, tal como na imagem da lista de afazeres de Benjamin Franklin (fig. 10) momentos de descontração, propondo experiências sensoriais e inspirações dentro do próprio cotidiano, refletindo sobre as ações desenvolvidas e sobre o que foi experimentado, tomar decisões espontâneas e permitir que os encontros aleatórios resultem em ações que não podemos prever nem controlar.

Figura 10 - Benjamin Franklin’s to-do list. Fonte: https:// writingcooperative.com/benjamin-franklins-simple-

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A orientação do professor Pelópidas colabora para elucidar palavras para designar o tempo da pesquisa: Chronos e Kairós. O primeiro refere-se ao tempo cronológico ou sequencial. Kairós é o deus do tempo oportuno, possui natureza qualitativa, o tempo em potencial, não linear, em sentido amplo, segundo CHAUÍ, p. 503, significa a justa medida conveniente. Com relação ao tempo, é o tempo como algo rápido e efêmero que deve ser agarrado no momento certo, no instante exato, porque, do contrário, a ação não poderá ter sucesso e fracassará. Na mitologia, Kairós era considerado um filho menor de Zeus e da deusa da prosperidade Tyche. Kairós era rápido e só era possível agarrá-lo pelos cabelos. Associava-se aos outros deuses como a manifestação de um momento específico. Em nenhum momento Kairós refletiria o passado ou pressentiria o futuro. Ele simboliza o melhor instante no presente. Segundo CHAUÍ, p. 144, a métis dos gregos é uma inteligência prática que depende da habilidade ou da capacidade de quem a exerce; é um dom ou talento para encontrar um caminho onde parece não haver nenhum. Seus traços principais são: golpe de vista (perceber instantaneamente a unidade do diverso e a multiplicidade da unidade, sabendo distinguir, num todo, o que é essencial e o que é dispensável); expediente ou engenho (capacidade para encontrar rapidamente um caminho engenhoso ou uma solução inesperada, isto é, para resolver uma dificuldade com habilidade e sutileza); astúcia (capacidade do mais fraco ludibriar o mais forte); talento para imitação e dissimulação (imitar uma coisa para dominá-la ou fingir alguma coisa para conseguir outra), capacidade de prender o que é fugidio (saber “armar laços”, isto é, saber prender ou enlaçar o que escapa); facilidade para estabelecer analogias (ser capaz de estabelecer comparações entre coisas visíveis para, da comparação, conhecer coisas invisíveis, ou ir do conhecido ao desconhecido); rapidez para tomar decisão e senso de oportunidade (percepção do momento oportuno para realizar a ação, momento que, se for perdido, a ação jamais poderá ser realizada). Oportunidade ou ocasião ou momento oportuno se diz em grego Kairós, o tempo certo, o instante extremamente rápido, fugidio e imprevisível, decisivo de uma ação Afinal, o que é o tempo? Segundo Santo Agostinho, se o tempo presente nunca se tornasse passado, não seria mais tempo e sim eternidade. Podemos compreender que um elemento atemporal incide na corrente do tempo como ideia como evento do destino ou como encontro.

36

Para os cristãos (fig, 11) o tempo Kairós até hoje se estabelece como uma teoria para explicar que os bons e maus momentos não são neutros, e que, alguns eventos sinalizados em nossas vidas, se bem observados, podem se tornar oportunidades para um crescimento espiritual pessoal e emocional. Quando esses eventos acontecem, são seguidos de três passos de mudança de pensamento (observação, reflexão e discussão) e três passos de crença, ou fé, passando a agir sobre (plano, responsabilidade e ação). Esses princípios se aproximam do conceito de “epifania”, ou seja, um “pensamento iluminado”, tido como uma inspiração divinal que surge em momentos de impasse e complexidade. Para Ina Catrinescu, pesquisadora palestrante no TEDxTirguMures (2019), “Aha-Moment” ou “Eureka Effect” pode ser entendido como um meio para alcançar os desafios. De forma resiliente, uma ideia plantada num cérebro tem a força suficiente para remodelar o futuro e transformar a humanidade. Mas não qualquer ideia, são as ideias que valem a pena divulgar, as ideias que animam a imaginação, são as ideias que nos fazem subir acima das limitações que atualmente nos retêm.

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Ainda segundo Ina Catrinescu, “Aha-Moment” são ideias que nos emocionam e nos movimentam. São os aceleradores das possibilidades que dissolvem as fronteiras e nos fazem ver as coisas de forma diferente. Depois de uma mente “sofrer” um alargamento perceptivo, por um momento “Aha”, as ideias jamais voltarão ao seu estado original. Deste modo, consideramos “Aha-Moments” podem ser entendido como ciência de descobertas, já que descobertas relacionam-se tanto com a ciência como com arte. Figura 11: Kairós Learning Circle. Disponível em: https://pastorrobin.com/2015/08/06/discipleship-through-the-kairos-circle/

sím bolo olo Um outro ya é sím b A o , a r k Adin afio ncia, des ê t s i s e r de es, dificuldad contra as nça, persevera ncia e independê ura, nos desenvolt cos etodológi m s o s r u c re balho se desse tra rão no ) apresenta . (fig. 12 A Y A a m a r ideog

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1.2 Sobre a docência e o tempo da pesquisa: Recorte temporal e empírico Sobre o tempo, posso dizer que continuo lutando enquanto tempo e saúde estão cada vez mais escassos. Estou sobrecarregada demais, não tenho tempo suficiente, já pela manhã sinto falta de força e coragem. Tenho de confessar a mim mesmo que só estou reagindo às exigências externas e que, por isso jamais consigo satisfazê-las. Assumi muitas atividades ao mesmo tempo e isso traz a exaustão ao corpo físico. Minhas forças se dissolveram frente ao desafio da docência e não há perspectiva de um ambiente próspero e tranquilo. As relações na plataforma virtual, problemas de conexões, a falta de troca e os diálogos abertos em sala de aula são fundamentais e estão fechados em vídeos apenas conectados, logados, sem e/ou com pouca ou mínima interação. Os livros, anotações e textos de ensino, pedagogia e artes se acumulam entre os trabalhos de arquitetura, provas não corrigidas, desenhos das crianças e boletos a serem pagos, tudo junto, um único ser. A sobrecarga, cansaço, falta de tempo e a quantidade de tarefas e atividades aumentam quando a pressão do tempo cresce – se a exigências excederem perdemos a necessária soberania. Byung-Chul, em seu livro “Sociedade do cansaço” (2015), apresenta com clareza as patologias neurais resultantes do excesso de “positividade” da sociedade contemporânea, e suas consequências: depressão, transtorno do déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou a Síndrome de Burnout (SB) que determinam a paisagem patológica do século XXI. Tais estados patológicos são devidos à um exagero de positividade: a comunicação generalizada, a superinformação ameaça todas as forças humanas de defesa. A violência da positividade que resulta da superprodução, superdesempenho ou supercomunicação. A rejeição frente ao excesso de positividade não apresenta nenhuma defesa imunológica. O esgotamento a exaustão e o sufocamento frente à demasia são manifestações de uma violência neuronal que é sistêmica, ou seja, uma violência imanente do sistema. A violência da positividade desenvolve-se numa sociedade permissiva e pacificada. Por isso ela é mais invisível que uma violência viral. Byung-Chul inclusive já abria discussões a respeito de uma pandemia gripal com o

surgimento de uma época viral, com m o retorno reto ettorno de uma época imunológica e um m sistema sistem si e a em eg gra alm lme en nte te análogo e bipolar, dualista, integralmente dominado pelo vocabulário da Guerra Gue uerra rrra Fria F ia Fr a (entre dentro e fora/ amigo e inimigo/entre mig igo/ o en ntrre próprio e estranho). Todos esses es eventos eve vent n os sendo vivenciados no decorrer rer desta re d st de sta pesquisa. A dialética da negatividade vida ade e é o traço fundamental da imunidade. n da ni ade. de e O imunologicamente outro é o negativo, gattiv ivo, o, que que penetra no próprio e procura negá-lo. neg egáá lo o. A profilaxia imunológica, a vacinação, çã ão, o segue seg e ue a dialética da negatividade. Introduz-se odu duzdu z-se e no no próprio apenas fragmentos do outro ro o para provocar a imunorreação. Nesse se caso cas a o a negação da negação ocorre sem perigo p rigo pe go o de e vida, viso que a defesa imunológica óg ó gicca não não é confrontada com o outro, ele e mesmo. mes esmo o. Deliberadamente, faz-se um pouco pou o co co de de autoviolência para proteger-se de de uma um u ma violência maior, que seria mortal. Sobre a docência e o plano de trabalho traba b lho apresenta as atividades definidas id da as pela pela pe a metodologia que passou por reorganizações gan aniz izzaççõe ões e modificações dadas as condições es de Covid Cov ovid id 19, que não tem apenas uma sequência seq equê ênccia lógica, e passam pela experiência perceptiva perc pe rcep ep ptitiva v va

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e sensorial de tempo e espaço. Porém o excesso de trabalho e desempenho agudizam-se numa auto-exploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com a liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado. Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos que se transformam em violência psíquica da sociedade de desempenho, entendidas como manifestações patológicas dessa liberdade paradoxal. A satisfação e o prazer pelo trabalho, pelo labor, pela docência nos transportam de modo natural ao trabalho durante as férias e/ou aos finais de semana. A técnica temporal e de atenção multitasking (multitarefa) não representa nenhum progresso civilizatório. A multitarefa, segundo ByungChul, trata-se de um retrocesso, pois trata-se de uma técnica de atenção da vida em estado selvagem (ocupar-se de se alimentar, vigiar sua prole, manterse atento contra outros inimigos etc.), ou seja, na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas atividades e por esse motivo não é capaz de um aprofundamento contemplativo. Portanto é necessário que haja espaços livres emp m de contemplação para o flanar e a serendipidade meto me t dolo to o (duas metodologias que serão postas em prática aqui te trabalho) trab tr abal alho ho)) a fim de poder otimizar a realização neste o trabalho. tra raba balh lho. o. Sono Son ono o e tédio também abrange um do revi re vigo gora rame ment nto o necessário nece ne cess ssár ári ao indivíduo. revigoramento A o fa fala larm rmos os de de espaço, espa es p Ao falarmos que envolvem os conc co on ncei eito toss de tempo tem emp po e lugar, po lug u ar ar,, e refletindo sobre o conceitos espa es p ço da pa da sala sala a de de aula, aula la,, a resistência resi re sist stên ên espaço e os desafios e as fformas orma or m s fí ma ffísicas, ísi sica sic cca ass,, p olít ol ític icas as e iideológicas as deol de ológ óg políticas precisam

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ser enfrentadas para que se torne um espaço, um local, ou até mesmo apenas um momento de acontecimento estético do saber que nos permita pensar a aula como obra de arte. O professor orientador Pelópidas sugere nesse mar intempestivo, a metodologia por meio da serendipidade. A serendipidade é considerada uma forma especial de criatividade, ou uma de muitas técnicas de desenvolvimento do potencial criativo, que alia perseverança, inteligência e senso de observação (fig.13). A metodologia se apropria inicialmente no conceito de serendipidade, considerada uma forma especial de criatividade, ou uma de muitas técnicas de desenvolvimento do potencial criativo, que alia perseverança, inteligência e senso de observação. Por meio de técnicas que possibilitam estímulos a funções criativas como o flanar e o brainstorm, busca-se elaborar novas abordagens artísticas na dicotomia educação-trabalho, exercitando a contemplação e estabelecendo relações com o lugar (cheiro, barulho, cores, desenhos, massas). O flanar e a serendipidade aqui são entendidos como processos metodológicos que aprimoram o processo criativo, possibilitando criar em mim espaços dentro do qual a obra de arte possa ser vivenciada em suas diversas manifestações (artísticas e/ou pedagógicas) pela sensação de arrebatamento e vivificação do prazer estético. Segundo MENDES (2019), é preciso que o professor saiba passear no caos, ou antes, flanar. O conteudismo desenfreado, o frenesi enérgico em lançar matérias no quadro, em encher cadernos e cabeças com regras gramaticais que logo serão esquecidas, esvazia as almas, expulsa a vida e o devir da sala de aula. Mata o pensamento porque não produz afeto, apenas repetição estéril e histérica.

Figura 13 - Conditions for Serendipity. Fonte: https://buffer.com/ resources/productivity-vs-seredipity/

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1.3 A sala de aula como obra de arte: Definição de conceitos

“O objeto de sua busca não é o objeto material concreto a que o artista se prendia exclusivamente na época precedente-etapa superada-, mas será o próprio conteúdo da arte, sua essência, sua alma, sem a qual os meios que a servem nunca serão mais do que órgãos lânguidos e inúteis”. Wassily Kandinsky. Do Espiritual na Arte. (p 38-39)

Definido esse recorte temporal da pesquisa, passamos a definição de um conceito bem complexo: o que é ARTE? Tentaremos aqui esboçar algumas definições sobre ARTE que serão importantes para um fio condutor dentro do processo de investigação. Segundo COLI (1991, p. 15), a ARTE pode ser definida como certas manifestações da atividade humana que nos causa ADMIRAÇÃO (aqui identificado na relação espaçotempo como “kairós” ou “aha-moment”), ou seja, podemos não conseguir definir, de fato, o que é arte, mas sabemos o que corresponde à ideia do que é arte. Podemos compreender ARTE como um elemento de ligação entre a realidade universal e a realidade individual, o mundo objetivo e o mundo subjetivo. A arte é um processo da experiência da percepção que se manifesta de formas bem variadas. E para nos envolvermos com a arte é necessário observação atenta, fruição, que pode possibilitar

uma aproximação sensível transformada em admiração. Para CAVALCANTI (1963, p.08), a arte é uma atividade humana que está necessariamente submetida às contingências históricas e sociais que influem em todas as demais atividades humanas, espirituais e materiais. Os fatos artísticos ou os estilos de arte refletem, de modo imediato, nas condições históricas e sociais em que são produzidos, tanto na técnica, isto é, no modo de fazer, como na expressão, ou seja, nos sentimentos que despertam e comunicam por meio da cultura. A palavra cultura aqui é entendida como um conjunto complexo dos padrões de comportamento, das crenças, instituições e outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade. A arte toma significados diferentes em tempos e lugares diferentes. Para GOMBRICH, (1950, p.39) a história da arte poderia ser mais bem contada a partir da história dos artistas. Antigamente, os “artistas” utilizavam terra colorida para pintar suas figuras rupestres.

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Hoje, os artistas podem usar tintas industriais e recursos técnicos avançados em diferentes modalidades artísticas como: grafismo, moda, cinema...Para os construtores do passado a arquitetura, a pintura e a escultura eram a expressão de valores, antes de tudo, utilitários. É, portanto, impossível compreender a arte do passado sem conhecer o fim a que deveria servir, e tais fins são mais estranhos quanto mais recuarmos no tempo. De acordo com Rudolf Steiner, partindo de linhas diferentes de evolução, é possível entender os diversos estilos de toda a história da arte, desde suas origens até a arte contemporânea. Apesar da complexidade e da variedade de estilos – especialmente hoje, com todas as denominações diferentes -, vemos que é possível localizar elementos característicos oriundos dessas linhas primordiais, pois esses elementos refletem, basicamente, o que o ser humano sempre conseguiu articular: o aspecto acadêmico-

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formal e o aspecto lúdico-pictórico. (ZAESLIN, 2017, p.49) Segundo ARGAN, para a compreensão da memória dos fatos artísticos, o processo de pesquisa em arte julga que o único (ou melhor) modo de os objetivar e explicá-los seja o de “historicizá-los” (ARGAN, 1989, p. 14). Assim as classificações estilísticas, as definições de estilos nos quais artistas e obras são encaixados segundo critérios estilísticos, muitas vezes, são fadados a serem determinados a classificações gerais por elementos próprios de sua época os reúnem. Porém, as obras de arte não se reduzem ao estilo, nem tão pouco a classificações estilísticas, apesar de nos utilizarmos delas, e sempre tentaremos “quebrá-las” de modo a fazer comparativos do cotidiano contemporâneo. Desse modo, uma obra de arte não apenas resulta de um conjunto de relações, mas determina todo um campo de relações que provoca uma ruptura espaçotemporal, propondo novas leituras que exercem uma influência mesmo à distância de séculos. (ARGAN, 1989, p.15) Segundo ARGAN, (1989, p.19) uma história da arte só é possível e legítima se explicar o fenômeno artístico em sua globalidade; não se pode fazer uma história da arte se não se admite a existência de uma relação entre todos os fenômenos artísticos, qualquer que seja a dimensão espaço-temporal em que foram produzidos.

Ainda segundo GOMBRICH, (1950, p.39), nada existe realmente a que possa se dar o nome de “arte”, existem somente “artistas”. Provavelmente a conclusão desse historiador na primeira frase de seu livro “História da Arte” refere-se diretamente ao primeiro tratado redigido sobre arte de Giorgio Vasari, intitulado Vite ou Le vite de´piú eccellenti pittori, scultori e architettori (1568), onde incluía, além das biografias de artistas florentinos da época, um valioso tratado das técnicas empregadas por estes, seus escritos possibilitaram uma compreensão do processo artístico. O tratado de Giorgio Vasari contempla minuciosas descrições sobre as técnicas e o modo de elaboração criativa, bem como um breve histórico da vida dos artistas nas três artes: arquitetura, pintura e escultura - de acordo com os tempos que as realizavam. Para Vasari, a arte é acima de tudo a representação da natureza, assim, o progresso da pintura consistia no aperfeiçoamento dos meios dessa representação. Mas o que dá a um determinado desenho, objeto, tela, o seu status de Arte ou de Obra-Prima? O termo “obra-prima” vêm dos ateliês de artes e ofícios do séc. XIV, onde o mestre ensinava seus truques aos aprendizes, por meio de regras precisas, e para que o aprendiz tornasse mestre, ele deveria apresentar aos outros mestres da corporação uma obra inteiramente de sua autoria, que pudesse ser considerada

perfeita, demonstrando assim um domínio de todas as técnicas necessárias. (COLI,1991, p.15) Desse modo, a educação é incluída na prática social e histórica como integrante do processo de humanização e até mesmo na própria compreensão do termo “Arte” ou “Obra-Prima”, frutos de uma prática social, entendida como a forma e como estão sintetizadas as relações sociais em um determinado momento histórico, que direciona os processos pedagógicos, possibilitando trocas entre aprendiz e mestre, na transformação de conhecimentos científicos e artísticos em suas formas mais elaboradas. Aqui cabe a definição de ateliê como “sala de aula”. Mas afinal o que é sala de aula? No sentido etimológico da palavra “aula”, segundo o dicionário Aulete, grego aulé, es, pelo latim aula, ae, 1. ensinamento sobre determinada área de conhecimento, dado pelo professor a alunos ou a um auditório; 2. Local (ger. uma sala em um estabelecimento de ensino) onde se leciona. Segundo MENDES (2019, p.15), a palavra aula tem em sua etimologia forte relação com espaço, fechado ou aberto, tanto no termo grego quanto no latino (pátio, morada, palácio, sala em que se leciona, curral, gaiola), o que revela a íntima relação que tal termo, ainda em

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seus primórdios, já guardava com a base onde se assenta o conceito em foco, o espaço, mesmo em seu ramo etimológico mais antigo, na Grécia. Numa digressão histórica, podemos dizer que o conceito de educação remonta a própria história colaborando até na compreensão de suas elaborações mais complexas na sociedade. A proposta aqui está intimamente ligada a desmaterialização do ateliê “sala de aula” como um espaço físico para uma conexão virtual e ampla no sentido de espaço expandido. Segundo Kandinsky, em “Do Espiritual na Arte”: “Compreender a obra de arte é educar. Introduzir o espectador a compartilhar o ponto de vista do artista. O próprio conteúdo da arte, sua essência, sua alma”. A essência espiritual da arte de Kandinsky revela que “A atividade criadora artística tem uma função de revelar à humanidade os novos parâmetros do progresso espiritual. A arte deve corresponder à uma necessidade interior em ressonância espiritual – cor/olho/alma.” Deste modo, podemos compreender que a desmaterialização da sala de aula em ateliê e a visão do professor-pintor onde a arte deve corresponder à uma necessidade interior em ressonância espiritual. Atualmente na arte contemporânea quais paradigmas devem ser quebrados para a efetiva desmaterialização da obra de arte? Para

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Kandinsky, o momento decisivo da mudança de rumo espiritual na arte se deve por uma tendência “não realista”, a tendência para o abstrato, para a essência interior. Conscientemente ou não, voltam-se cada vez mais para essa essência da qual a arte surgirá no universo interior a arte imaterial. A desmaterialização da arte contemporânea pode ser vivenciada com a retomada pela forma inicial, pelo do originário, pela ancestralidade dos povos tradicionais. Assim podemos compreender que a arte é um método-catalizador por diferentes maneiras de aprender, se comportar, se mobilizar frente aos acontecimentos e estímulos para estudos dos ambientes em questão e indicadores fundamentais para a tomada de resoluções de problemas de forma criativa. O desafio proposto pelo ensino por meios artísticos é contribuir para a construção do conhecimento por meio de uma nova realidade interpessoal. A arte, entendida como um instrumento pedagógico propõe novas leituras no meio em que as diferenças culturais são vistas como recursos que permitem ao indivíduo desenvolver seu próprio potencial criativo. Segundo OSTROWER (1983, p.23), “O ambiente artístico é entendido como um espaço complexo: múltiplo e aberto, ou seja, artes visuais são compreendidas como estruturas abertas, expansíveis, sem limites, dos sentidos e processos da arte na contemporaneidade.” Em 1989, no Brasil, Ana Mae Barbosa denuncia a falta de oportunidade dos professores em estudar as teorias da criatividade ou disciplinas similares nas universidades porque estas não são disciplinas determinadas pelo currículo mínimo em artes, bem como a falta de

apreciação artística foram denunciadas de modo a “dar voz” ao segmento ampliado à situação da educação geral no Brasil da década de 1980. A arte-educação tem um objetivo maior que a formação de profissionais dedicados a esta área de conhecimento. Das discussões surgiu a necessidade do trabalho criativo a fim de abrir o diálogo nos âmbitos políticos e de diversidade cultural no país. No âmbito da escola regular o ensino em artes busca oferecer aos indivíduos condições para que compreenda o que ocorre no plano da expressão e no plano do significado ao interagir com as artes, permitindo sua inserção social de maneira mais ampla. O objetivo dos estudos em artes e a necessidade de recursos e instrumentos didáticos aos professores não tem como função primordial em formar artistas ou somente trabalhar aptidões. A proposta principal consiste em formar indivíduos conscientes para exercerem a cidadania, desenvolvendo suas capacidades de reflexão e crítica. Por isso, a formação artística deve-se estimular a criação, invenção, produção, reconstrução e reinvenção como meio de um processo, e não como um produto artístico final. Sobre dificuldade da caracterização de pesquisa em arte, Silvio Zamboni, ainda na década de 1980, evidencia que a arte não se

consolidava como uma área de pesquisa no Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), posto dado apenas às áreas científicas estabelecido por critérios técnicos bem objetivos. O esforço em postular uma definição de pesquisa em artes de Silvio Zamboni congrega um problema que (até hoje) gera dúvidas e indefinições em artistas-pesquisadores sobre como caracterizar a pesquisa em linguagens visuais. Para ZAMBONI (1998, p. 30) a criatividade está intimamente ligada à sensação de descoberta, e muitas vezes, só depois de encontrado é que se percebe qual foi o caminho adotado. Porém, a especulação ou o acaso da desordem experimental prescinde de hipóteses ou expectativas, tendo como foco a delimitação do objeto de estudo. (fig. 14)

Figura 14 - Fases da Pesquisa em Artes (Quadro 3, p.60). Fonte: ZAMBONI, S. “A Pesquisa em Arte”, 2 ed. Campinas, 2001. Ed. Autores Associados.

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O estudo parte das linguagens artísticas e suas inter-relações com a cultura em seus diversos aspectos, por meio de uma prática crítica e mediadora do educador. A proposta principal é trazer novas possibilidades por meio de metodologias artísticas, buscando novas formas de ensinar, ampliando o repertório cultural e criativo. Portanto, a arte é entendida como instrumento facilitador para o entendimento educacional e sua relação com o ambiente educacional. Este trabalho tem com intenção um convite aos processos artísticos da arte, de forma a conhecer os princípios estéticos originários de diversas culturas, com um espírito crítico de que o assunto não está esgotado em poucas linhas, mas que possa nos inspirar, seja pelo tema, pelas técnicas ou seja pelas propostas artísticas que serão descritas como um método processual, articulador que amplia as possibilidades contemporâneas em sala de aula. Assim, o desafio de aprofundar suas investigações por meio das linguagens artísticas, buscando novas formas de ensinar, seja por meio de pesquisas ou formações visando aprimorar o repertório cultural e a utilização de meios audiovisuais de modo didático. Deste modo, podemos compreender a sala de aula como um ambiente de múltiplas possibilidades de aprendizagem. A sala de aula passa a ser compreendida de modo aberto e colaborativo, onde o tutor pode utilizar de diversas metodologias e modos artísticos visando estimular os sentidos e a criatividade. A investigação, a criação, a invenção, a produção e a reconstrução de um processo, um meio, e não necessariamente um produto é mais interessante que a finalização do trabalho. E por fim, sala de aula como obra de arte é definida como um PROCESSO

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ou um ACONTECIMENTO que tem por consequência um alargamento perceptivo da relação (espaço-tempo) que definiremos por ADMIRAÇÃO. O conceito de sala de aula como obra de arte foi um gancho temático e uma aderência com o orientador, entendido como um laboratório de observação e pesquisa dada minha condição de professora em três instituições diferentes: de aulas de artes no Ensino Fundamental em uma escola de pedagogia Waldorf, em aulas de desenho técnico no Ensino Médio em uma escola de ensino técnico e em aulas de projeto num curso Superior em Design e Arquitetura. Entender meu ambiente de trabalho como um laboratório de pesquisa de

possibilidades empíricas e de trabalho de experimentação e observação foi fundamental para a viabilidade do processo de pesquisa do doutorado, já que grande parte de meu tempo me dedico nesse campo de pesquisa que é a sala de aula, e suas múltiplas possibilidades e recursos para viabilizar essa pesquisa dentro do próprio ambiente de atuação. A sala de aula é entendida num primeiro momento como um laboratório, ou um ambiente de ateliê expandido. E logicamente, dada as questões de Covid-19, a sala de aula entendida como ambiente virtual dentro das casas, e o trabalho de forma remota, se tornou um grande desafio, que possibilitou novas observações de que algumas metodologias que funcionavam na vida presencial precisaram ser totalmente reelaboradas rediscutidas e analisar de fato a pertinência dessas práticas metodológicas remotas. Por meio de reflexões, partiremos para experiências e possibilidades criativas e a compreensão dimensional da obra de arte, suas convergências múltiplas trazem o aprofundamento dessa pesquisa no campo experimental/ relacional da escultura social. Sobre os conceitos aqui definidos, cabe, portanto, abrir alguns questionamentos: A arte visual está modificando a linguagem? A comunicação verbo-visual está cada vez mais presente nos meios de comunicação e na transformação do conteúdo verbal em imagens (formas gramaticais se transformando em ideogramas visuais). Estamos vivendo uma transformação no modo de pensar e representar a linguagem? E como se dá (ou se darão) as novas relações no ambiente do ateliê / sala de aula? Relação espaço-temporal e apropriação dos espaços tridimensionais e o tempo (a quarta dimensão): a representação visual sairá definitivamente do plano bidimensional e tomará uma amplidão sensório espacial? A relação dimensional da obra de arte como “ponte” de ligação ao movimento aqui compreendida como campo relacional e suas convergências múltiplas? O modelo experimental da escultura social: a quinta dimensão em arte pode ser entendida como um campo relacional em movimento resgatado pela memória? O acesso da quinta dimensão por meio da arte pode ser entendido como esse reencontro da arte contemporânea com a forma originária (ideogramas visuais)? O cinema e a relação espaço-temporal (registro e memória) são pontes de acesso (catarse) a quinta dimensão? Tentaremos resgatar essas questões nos próximos capítulos, deixando, porém, algumas indagações em aberto....

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