Revista Expectação - 2022 Festcimm Flipbook PDF

A Expectação é um esforço de pesquisadores, artistas e jornalistas para produzir mediações culturais em várias frentes d

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Autora: Socorrinho Gueiros. Título: Ex votos. Ano: 2019. Dimensão: 100 x 80 cm. Técnica: Acrílico sobre tela. Gênero: Impressionista. Obra tema do Festcimm 2022.


Socorrinho Gueiros, natural de Paranatama, PE, é uma Artista plá stica auto didata que iniciou a carreira artí stica em 1989. Dentro de um estilo impressionista - defi nindo as formas com borrõ es de tinta e absorvendo os mais diversifi cados aspectos vinculados a temá ticas variadas. A artista elabora suas obras com traços que marcam a sua singularidade forjado por um dialogismo religioso e temas da natureza morta. Desde 2023 Socorrinho tem produzido trabalhos com artesanatos e executado também atividades de curadora em artes visuais.


Pixote Mushi, é um artista visual bastante eclético que iniciou sua trajetória artística nos anos 90. Considerado um dos expoentes da arte urbana brasileira, seu trabalho possui identidade poética inspirada em suas raizes nordestinas, caracterizado pela simetria, traços fortes e cores puras. Sua criatividade orbita pelas areas do grafi te, xilogravura, pintura à oléo, acrílica e mista, esculturas e arte digital. Atua como arte educador e produtor cultural em Diadema-SP. Autor: Pixote Mushi. Título: Seu Zé. Ano: 2019. Dimensão: 595 x 842 pixels. Técnica: Ilustração digital. Gênero: Xilogravura. Obra tema do Festcimm 2019.


Jader Cysneiros, manifestando sua inclinação para as artes plásticas desde os 14 anos, é um artista autodidata de estilo moderno que mistura o Cubismo, o Abstrato e o Figurativo em suas aspirações; sempre trazendo à tona as características do povo brasileiro com seu olhar criativo. Reside e é natural da cidade de Garanhuns, PE. Autor: Jader Cysneiros. Título: Zé. Ano: 2020. Dimensão: 30 x 50 cm. Técnica: Acrílico sobre tela. Gênero: Contemporâneo. Obra tema do Festcimm 2020.


Renan Bal-Heitz, artista que atua em diversos universos da arte, como: pintura, gravura, desenho, grafi te, xilogravura, cenografi a, entre outros. Seu trabalho em pintura é expressado através da possibilidade de composição com cores vibrantes e personagens marcantes, que ligados de maneira afetiva e simbólica, nos transmitem beleza e força. Autor: Renan Bal-Heitz. Título: “seu Zé”. Ano: 2021. Dimensão: 30 x 50 cm. Técnica: Mista sobre papel. Gênero: Contemporânea/Fig. Obra tema do Festcimm 2021.


su má rio


Editorial – 10 Expediente - 11 FESTCIMM - Festival de Cinema no Meio do Mundo – 12 A chegada do FESTCIMM no Nordeste-Mundo – 14 O Tema 2022 – 16 Por que um FESTCIMM híbrido no Nordeste? – 17 Construindo territórios criativos – 19 WEbCinema: festivais audiovisuais on-line – 20 Prêmio Seu Zé – 23 Homenageados – 24 O Zé de Socorrinho – 26 Da Paraíba a Pernambuco – 28 Ações formativas – 32 Experimentos fílmicos – 34 Oficinas e mesas-redondas – 36 Curadoria FESTCIMM 2022 – 38 -Mostra Brasil – 38 -Mostra Longa-metragem – 40 -Mostra Animação – 43 -Mostra Internacional – 47 CIMM – 48 Nordeste Alhures - 49


Nesta edição seguimos o audacioso percurso intercultural do Festival de Cinema No Meio do Mundo – FESTCIMM: A Revolução Modernista no Cinema que mobilizou-se durante todo o ano de 2022 por várias cidades dos vizinhos estados da Paraíba e Pernambuco. A moldura do temário que atrelou às interfaces do movimento modernista de 1922 ao cinema nacional, destacaram imagens e brasis produzidos pela moderna cinematografia nacional, que apontam para um inexorável diálogo com as postulações indicativas do movimento de 22. As mostras de filmes que o festival exibe para um público diversificado, são, em conjunto, um notável encontro com a identidade brasileira através de filmes. Vale destacar a justa homenagem do festival aos octogenários Zezita Matos e Fernando Teixeira, atores cuja pujança expressa-se pelas suas vidas artísticas. Mesmo infante, o FESTCIMM já apresenta um forte poder de articular diálogos, promover, compartilhar e celebrar aprendizados coletivos, esmerando a cada edição as significações que o cinema nos presenteia. Boa leitura! Editorial Nivaldo Rodrigues Editor Fernando Teixeira e Zezita Matos. 10


EXPECTAÇÃO: Itinerários Estéticos - Grupo de pesquisa Observatório de Crítica Literária e Criação (CNPq-PPGLI/UEPB) 2023. ÁGORA-Produção e execução de projetos. CORPO EDITORIAL Prof.ª Dr.ª Patrícia Gomes Germano. Prof.ª Ms. Aline Ferreira Durães. Prof. Dr. Nivaldo Rodrigues da Silva Filho. Prof.ª Dr.ª Elisabete Borges Agra. Prof.ª Dr.ª Manuela Aguiar Damião de Araújo. Prof.ª Dr.ª Maria Cezilene Araújo de Morais. Prof.ª Ms. Jacykelly Renata França de Oliveira. PUBLICAÇÃO SEMESTRAL Tiragem 400 exemplares. EDITOR RESPONSÁVEL Nivaldo Rodrigues da Silva Filho-ME. Campina Grande-PB. JORNALISMO E COMUNICAÇÃO Sarah Cristinne Firmino Paulino. CONSULTORIA TÉCNICA Dra. Amanda Diniz Medeiros. DESIGNER GRÁFICO Erick Marinho. FOTOGRAFIAS Arquivos CIMM - Cinema no Meio do Mundo. Erik Clementino. EXPECTAÇÃO: Itinerários Estéticos é o periódico do Grupo de Pesquisa do “Observatório de Crítica literária, Ensino e Criação”, vinculado ao CNPq e PPGLI-UEPB. A Expectação é um esforço de pesquisadores, artistas e jornalistas para produzir mediações culturais em várias frentes de objetos artísticos e propostas estéticas para o público não especializado. O periódico visa ainda divulgar, traduzir e socializar refl exões teóricas interartes, propiciando às discussões acadêmicas um formato mais ameno e oferecendo ao leitor o autoaprendizado de “expectar” diante da produção artística e cultural contemporânea. O Observatório tem como principal eixo de suas atividades a literatura, em particular a literatura contemporânea. Partimos de um conceito aberto e em constante devir do que venha a ser a literatura, sua inserção em variados contextos e épocas, bem como seus diversos diálogos e interfaces com outras artes, gêneros do discurso e áreas de conhecimento. A crítica literária, o ensino da literatura e os condicionantes e potenciais da criação são os focos específi cos de pesquisa do Grupo. Expediente Ano VI - Edição 01 - janeiro/fevereiro de 2023. ISSN:2595.5136. 11


OFestival de Cinema no Meio do Mundo 2022, vem ao um só tempo, confi rmar a pujança da colaboração coletiva de realizadores independentes articulados pelo ICIMM – Instituto Cinema no Meio do Mundo, Cine Agreste, Toco Filmes, Ágora-PEP, Focus Mídias Filmes, produtoras, produtores e festivais cuja premissa é desvelar as barreiras territoriais e culturais em prol da construção de dialogismos, aprendizagens e mediação da produção audiovisual de territórios produtivos nacionais e internacionais. Como indicado em seu programa, o Festival de Cinema no Meio do Mundo (FESTCIMM) tem caráter independente, cultural e educacional com fi lmes de curta e longa metragens, nacionais e internacionais; visando proporcionar encontros, refl exões e trocas entre realizadores (as), fomentando o cenário local e colocando o público em contato com obras de diversos países e estados brasileiros que se destacam pela inventividade e diversidade de temas e abor12


Festival de Cinema no Meio do Mundo - 2022, vem ao um só tempo, confi rmar a pujança da colaboração coletiva de realizadores independentes articulados pelo ICIMM – Instituto Cinema no Meio do Mundo, Cine Agreste, Toco Filmes, Ágora-PEP, Focus Mídias Filmes, produtoras, produtores e festivais cuja premissa é desvelar as barreiras territoriais e culturais em prol da construção de dialogismos, aprendizagens e mediação da produção audiovisual de territórios produtivos nacionais e internacional. Como indicado em seu programa, o Festival de Cinema no Meio do Mundo (FestCiMM) tem caráter independente, cultural e educacional com fi lmes de curta e longa metragens, nacionais e internacionais; visando proporcionar encontros, refl exões e trocas entre realizadores (as), fomentando o cenário local e colocando o público em contato com obras de diversos países e estados brasileiros que se destacam pela inventividade e diversidade de temas e abordagens estéticas. No Meio do Mundo propõe olhar para dentro, onde o centro do universo é onde você está, tudo aquilo que enxerga, narra e absorve é o seu “mundo”, a sua visão a respeito dele, convertida em cinema e compartilhada; logo, um fi lme é um pequeno olhar sobre um aspecto do todo, um recorte visual e narrativo da vida que nos leva ao “meio do mundo” dos realizadores (as), apresentando tendências, temáticas, narrativas e estéticas. Esta edição do FestCiMM celebra os 100 anos da Semana de Arte moderna de 1922 e sua repercussão no cinema, contemplando uma grade de fi lmes relacionados à modernidade do cinema nacional (Cinema Novo) e uma programação educativa voltada para refl exão desta modernidade no Fórum: CINEMA E OUTRAS ARTES: A REVOLUÇÃO MODERNISTA NO CINEMA NACIONAL, com mesas, debates, comentários, publicações e análises fílmicas sobre o temário. Ao viabilizar um alcance interestadual nos estados irmãos: Paraíba e Pernambuco. O Festival perpassa, na Paraíba, do litoral ao sertão: no histórico município de Princesa Isabel; no Cariri do estado, na icônica cidade de Cabaceiras e em Ouro Velho, e por fi m, na capital João Pessoa. Já no estado de Pernambuco, o FestCiMM se realizou no friozinho cultural de Garanhuns. dagens estéticas. No Meio do Mundo propõe olhar para dentro, onde o centro do universo é onde você está, tudo aquilo que enxerga, narra e absorve é o seu “mundo”, a sua visão a respeito dele, convertida em cinema e compartilhada; logo, um fi lme é um pequeno olhar sobre um aspecto do todo, um recorte visual e narrativo da vida que nos leva ao “meio do mundo” dos realizadores (as), apresentando tendências, temáticas, narrativas e estéticas. Esta edição do FESTCIMM celebra os 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922 e sua repercussão no cinema, contemplando uma grade de fi lmes relacionados à modernidade do cinema nacional (Cinema Novo) e uma programação educativa voltada para refl exão desta modernidade no Fórum: Cinema e outras artes: A Revolução Modernista no Cinema Nacional, com mesas, debates, comentários, webnários, publicações e análises fílmicas sobre o temário. Ao viabilizar um alcance interestadual nos estados irmãos: Paraíba e Pernambuco. O Festival perpassa, na Paraíba, do litoral ao sertão: no histórico município de Princesa Isabel; no Cariri do estado, na icônica cidade de Cabaceiras e em Ouro Velho, e por fi m, na capital João Pessoa. Já no estado de Pernambuco, o FESTCIMM se realizou no friozinho cultural de Garanhuns. 13


Tendo iniciado na região sudeste, em Diadema, SP. O Festival de Cinema no Meio do Mundo abarcou no nordeste pelo estado de Pernambuco em 2020, quando coletivos de produtores e festivais de audiovisuais realizaram o II Festival de Cinema no Meio do Mundo - Edição Garanhuns, tendo como parceiros o Sesc-Garanhuns e o Núcleo de Design e Comunicação (NDC), através do curso de Design, e, com o Laboratório Usina/UFPE; a Coordenadoria de Comunicação da Universidade Estadual da Paraíba e; dos Festivais Curta Taquary, Comunicurtas Itinerante e Festival de Rua de Remígio, PB; além do apoio cultural da TV Rádio Jornal. Naquele ano, devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19 o FestCiMM foi realizado dentro do projeto WebCinema, da empresa Ágora: Produção e Execução de Projetos, e da Coordenadoria de Comunicação da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB. A versão on-line do FESTCIMM mostrou-se bastante exitosa e fez cumprir o diálogo com as novas produções no mundo e na região, além de estabelece e agregar novos signifi cados por meio das trocas de experiências; formações e capacitações; e, principalmente, possibilitar o acesso da população a uma qualitativa programação de fi lmes e novos conceitos de arte e cultura. O FESTCIMM de 2020 homenageou ao ator Pedro Wagner, artista de teatro e cinema natural de Garanhuns. O objetivo desta homenagem foi resgatar a memória de produtores, atores e produções audiovisuais de Garanhuns e região. Já ali o Festival inaugurou junto às universidades parceiras a proposta de executar ações extensionistas de aproximação do conhecimento produzido na universidade com a sociedade, abordando temas culturais e artísticos conforme as demandas técnico-sociais dos cursos de comunicação social, letras e artes, da UEPB e; Designer da UFPE. Integrando, desse modo, A CHEGADA DO FESTCIMM NO NORDESTE-MUNDO Diadema, SP. Garanhuns, PE. 14


aspectos culturais, de pesquisa e extensão à produção audiovisual e demais artes. Assim, desde a segunda edição o evento busca contribuir com o desenvolvimento local, com a democratização das manifestações culturais e com o engajamento das comunidades periféricas. No âmbito da articulação do festival com demais regiões do Brasil e países, o FESTCIMM mobilizou artistas, produtores e fi lmes dos mais diversos lugares através da participação de um corpo de júri nacional e internacional, além da mostra Internacional de longa-metragem e debate, com a participação de produtores da China, dos E.U.A e países da Europa. Após a realização do festival os organizadores, coordenadores e equipe produziram demonstrativos e reunidos virtualmente (Live) apresentaram a prestação de contas e debateram os êxitos e difi culdades do festival. 15


A temática: A REVOLUÇÃO MODERNISTA NO CINEMA norteou toda a programação do FESTCIMM e suas mostras, apresentações artísticas musicais, intervenções, exposições, debates, webnários e palestras. Notadamente, qualquer realização artística que se deseje atribuir como brasileira, mesmo na contemporaneidade, traz intrínseca a consanguinidade das sendas abertas pelas propostas modernas, iniciadas na semana de 22. A herança daquele movimento, que trouxe a modernidade artística às artes no país, faz-se problemática - enquanto impulso criativo-, na produção audiovisual brasileira das décadas de 1930 e sobremaneira as produções de 1960 – Cinema Novo -, que compõem um quadro estético de grande relevância para a história do cinema nacional. Em conjunto, atrelar ao cinema nacional uma verve ou herança modernista é também refl etir sobre como os atos da Semana de Arte moderna de 1922 foram materializados em variadas propostas fílmicas. Ainda que abertas, as veias dessa interação, precisam ser trazidas à luz, tanto para tentar compreender os meandros colaborativos do movimento, quanto dos rumos e inspirações que o cinema nacional teve deste importante marco estético. Neste sentido, o Fórum Cinema e Outras Artes: A revolução Modernista no Cinema, realizado pelo FESTCIMM buscou estreitar esta colaboração, fazendo visibilizar produções, projetos e itinerários cuja marca modernista é de longe uma pujante presença. O Tema Cartaz criado por Di Cavalcanti 2022 16


A proposta de realizar em 2022 edições interestaduais do FESTCIMM no Nordeste, justifi ca- -se pela premissa de que o movimento audiovisual desenvolvido no interior dos estados da região, revigora-se com ações compartilhadas de trocas de experiências e de oferta como se notabilizou as edições virtuais e semi-presenciais anteriores, no momento de isolamento social impostos pela Convid-19. Em que tanto as edições on-line quanto as presenciais confi rmaram o ótimo engajamento de público e a excelente participação de audiência das mostras e em todas as demais atividades do festival (ofi cinas, debates, webinários, mesas redondas e shows). Ao longo dessas edições o festival aprimorou e pôde redesenhar sua missão e objetivos, sintetizados a seguir: Missão: Promover a afi rmação solidária entre realizadores e festivais da região Nordeste. Objetivos: Construir uma agenda internacional de produtores, realizadores e festivais na região nordeste, junto à produtoras e realizadores, atores e curadores estrangeiros: na África (Tommy Germain); na América do Norte (Will Roberts) e na Europa (Oliver Stiller). A construção desse laço cooperativo internacional, certamente fortalecerá e possibilitará várias ações conjuntas, colaborando para a sistematização da produção audiovisual. Portanto, a realização do festival em formato híbrido e interestadual vem consolidar a inovação e ineditismo de ações propostas pelo FESTCIMM, que vão 1) desde sua concepção de enlaçar produtivamente territórios e culturas a partir do audiovisual e construtos interartes; 2) passando pela pujança e criatividade estética de “fi lmes fora-do-eixo”; 3) até a articulação colaborativa entre produtores e festivais, esses vetores, em conjunto, garantem as características de nossa pauta original: o audiovisual como celebração e aprendizado. Neste intento, destacam-se duas exitosas ações originadas no FESTCIMM, que têm sido modelo em diversos festivais de cinema: 1 - A análise técnica e premiação de cartazes dos filmes selecionados como elemento de leitura e composição fílmica; 2 - A realização do projeto WebCinema e o desenvolvimento de plataforma digital própria: o “PLAYCIMM.COM”. FESTCIMM Por que um híbrido no Nordeste? .COM 17


Então, em 2020, o Festcimm - Garanhuns implementou uma ação oportunamente seguida por vários festivais Brasil afora. Trata-se da análise dos cartazes dos fi lmes. Desenvolvida pelo Núcleo de Design e Comunicação (NDC), através do curso de Design, em parceria realizada com o Laboratório Usina/UFPE. Que resultou e instituiu a categoria de premiação: MELHOR CARTAZ, promovendo a valorização do discurso imagético mais primal de uma produção audiovisual que é o cartaz. Além disto, foi ofertada a ofi cina: “Design de Cartazes no Cinema” com a participação de acadêmicos e discentes. A outra ação evocada pelo FESTCIMM em 2020 foi a implementação do projeto WebCinema. Diante do cenário mundial imposto pelo isolamento social para conter o avanço do Covid-19, abraçamos o desafio de realizar um festival totalmente online. Nesse esforço, prevaleceu a parceria, a união e a vontade de estar colaborando para que todos possam ter a oportunidade de usufruir na íntegra do FESTCIMM. E, em parceria com a empresa ÁGORA-P.E.P, foi realizado um festival totalmente online, implementando o WebCinema, onde cada um possui um singular lugar e modo de ser espectador. Esse esforço conjugado oportunizou a produção da plataforma de fi lmes online do festival, o “PLAYCIMM.COM”, possibilitando a audiência interativa e promovendo os fi lmes e as mostras do festival para espectadores de todo o mundo. do Mundo “O Meio 2020 2021 18


Construindo Territórios Criativos está em todo Lugar!” A celebração e aprendizado que o festival promove, advém da grande capacidade do Festcimm em fazer-se agente ativo da cultura local, ocupando a cada realização as ruas, as praças, os prédios históricos e outras áreas das cidades, confi gurando-se como um importante ato de cidadania cultural da cidade e região. Possibilitando o intercâmbio de saberes entre artistas, grupos, instituições e profi ssionais do audiovisual; e de diversas áreas e localidades - inclusive do exterior - com trabalhos em diferentes linguagens e estéticas cinematográfi cas. 19


Em 2021 o FESTCIMM integrou-se à rede de festivais online através do projeto Webcinema que possibilitou a realização e transmissão online de um circuito de festivais. Nesse ano, o Festcimm realizou-se mais uma vez em Diadema-SP, articulando demandas de realizadores, produtoras e fi lmes da região; e, conseguiu também implementar uma edição no Agreste Meridional de Pernambuco, na cidade de Alagoinha, no primeiro Festival de Cinema de Alagoinha. Onde desenvolveu-se atividades e artistas locais numa grande festividade virtual. O panóptico olho que se entrevê nas infovias Embora, naquele momento, o Webcinema tenha remodelado a reconfi guração do consumo audiovisual, adaptando-se às difi culdades e muito colaborando para a permanência em seus lares de milhares de pessoas no Brasil e no mundo. O FESTCIMM buscou intervir, no contexto emergencial, em produzir motivações legitimas para o diálogo entre fi lmes e pessoas, e, diante do imenso desafi o já posto pelo streaming que se erigiu como forma, função e sentido de interações e consumo entre o cinema e seus espectadores. Assim, com o WebCinema, o evento postulou para o ano de 2021 edições cujo temário fosse capaz de consolidar o dialogismo fílmico nas infovias. O texto curadorial da Mostra Brasil de Curta-Metragens daquele ano delineia essa provocação que o WebCinema propunha: buscar os sentidos, evocar memórias, extrair composições possíveis à vida subjetiva no assombro do isolamento social. WebCinema: Festivais audiovisuais on-line 2021 20


A curadoria da Mostra Brasil de curtas- -metragens enfrentou o desafi o de se desviar da elaboração de sessões simplesmente temáticas. Isso signifi ca, na prática, que buscamos aproximar as obras a partir da comparação de elementos formais entre os fi lmes, não apenas estabelecendo pontos de ressonâncias entre os curtas, mas também produzindo dissonâncias pontuais em cada sessão. Nossa proposta oferece ao público uma perambulação entre emaranhados de fi lmes que se aproximam mas também se confrontam, possibilitando por meio dessa série de choques, que o público produza refl exões insuspeitadas a partir de sua jornada de fruição. Esta escolha pode causar desconforto àqueles que preferem caminhar em linha reta, mas é uma aposta que levamos em frente como um gesto experimental de curadoria. Experienciamos agora um tempo histórico em que nossas memórias e interações são cada vez mais mediadas pelo audiovisual, o que não nos leva necessariamente à formas harmônicas de rememoração e ação. Diante de um mundo em que grandes empresas de comunicação ditam as regras de nossa relação com as imagens, fi lmes de curta duração enfrentam a tarefa sisífi ca de disputar a atenção das pessoas em meio à miríade de vídeos em plataformas como Instagram, Youtube e Tik Tok. Trata-se de um campo de batalha não anunciado, ainda que existente. Essa programação é organizada a partir da convicção de que o curta-metragismo pode se apresentar como uma contra-ação ao vício formal de nossas formas expressivas contemporâneas, capturadas massivamente por tais plataformas. A mostra é dividida em quatro sessões: 1. Clausura: fi lmes de pandemia; 2. Naturalismo; 3. Mnemosine; 4. Hiper-Realidades. São 16 fi lmes ao todo, sendo 7 obras realizadas por mulheres e 9 por homens. 5 curtas são de Minas Gerais; 4 de São Paulo; 3 do Rio de Janeiro; 1 da Paraíba; 1 do Paraná; 1 do Amazonas; e 1 realizado entre Minas Gerais e São Paulo: A sessão 1. Clausura: fi lmes de pandemia acolhe obras realizadas no contexto de isolamento social imposto pelos desdobramentos da pandemia de covid-19 no Brasil. A sessão 2. Naturalismo apresenta fi lmes narrativos construídos ao estilo naturalista de mise en scène. A sessão 3. Mnemosine é composta por curtas-metragens que nos oferecem perspectivas em torno do compartilhamento de memórias pelo cinema. A sessão 4. Hiper-realidades, oferece ao público fi lmes que fabulam ludicamente a partir da realidade, o que inclui não apenas ensaios fílmicos, mas também obras narrativas que instauram espaços de meditação em torno da vida social. Com essa mostra, pretendemos oferecer ao público uma viagem por diferentes lugares e histórias para que possamos, no atual momento de isolamento social, imaginar futuros possíveis para a vida, em geral, e para a criação artística, em particular. Precisamos, a todo custo, continuar criando imagens para o amanhã. Caso contrário, o que nos espera é a contínua desmemória de nós mesmos, acelerada a todo momento por um funcionamento social que, apesar de perdurar longiquamente, sempre se fantasia com o véu da novidade. João Paulo Campos Gustavo Maan 21


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Dentre tantos nomes de especial signifi cado no imaginário popular brasileiro, existe um que se destaca notoriamente, a abreviação de José, o santo casado com Maria, mãe de Jesus, que nomeia milhares e milhares de cidadãos país a fora, geração pós geração. Quantos Zés nós conhecemos? Zé Pedro, Zé Milton, Zé Maria, Zé-ninguém, Zé, apenas Zé, existe um Zé perto de cada um de nós, na família, na “fi rma”, no bairro, na cidade, quem não é fã de um Zé? Pode- -se dizer que esse talvez seja, o nome mais brasileiro dos nomes brasileiros que circulam os lares da nação. Trata-se ao mesmo tempo de uma homenagem a todos os “Zés” do Brasil e uma referência a outros importantes prêmios de cinema mundiais, como Oscar (EUA), David (IT), Cé sar (FR), que levam nomes pró prios de pessoas e devido à popularidade da alcunha “Seu Zé ” no imaginário popular brasileiro, o FESTCIMM institui o Prêmio Seu Zé. Além desse imaginário cultural, o prêmio Seu Zé do FESTCIMM retrata a fi gura ímpar do cineasta popular José Fernandes. Natural de Limoeiro-PE e atualmente residente em Diadema-SP; Seu ZÉ imprime em seu fazer de pesquisa-ação fílmica um cortejo autodidata e de educação coletiva proposta por Paulo Freire. Ao encaminhar seu olhar fílmico como poesia de si, Seu Zé busca ressignifi car as paisagens, os momentos e a vida social àquilo que ele chama de “o registro vivo da vida” em meio à organicidade de sua trajetória de seu entorno, que é a cidade de Diadema e seu respirar comPRÊMIO SEU ZÉ plementar à grande São Paulo. 23


Esse prêmio busca valorizar artistas e profi ssionais locais que têm contribuído para o engrandecimento do setor audiovisual bem como à identifi cação do talento dos artístas nas telas. Nessa edição de 2022, o FESTCIMM homenageia com o “Prêmio Seu Zé” três artistas paraibanos: o dramaturgo, diretor e ator Fernando Teixeira, por ocasião dos seus 80 anos de vida e 60 de atividade artística. A atriz Zezita Matos, também comemorando 80 anos de vida e de grandes realizações no teatro e cinema paraibano; estes dois premiados em sessão especial no Cine Bangüe, em João Pessoa, PB. E ainda, a atriz paraibana Mayana Neiva, na etapa do FESTCIMM em Ouro Velho, também na Paraíba, por representar o talento paraibano nas telas do Brasil e do mundo. Homenageados Zezita Matos A atriz Zezita Matos nasceu em Pilar-PB, iniciou a carreira aos 16 anos e atualmente é considerada a Primeira-Dama do teatro paraibano. Zezita acumula vários prêmios que dão conta de seu talento nos palcos e telas de cinema do Brasil. Destacando-se no cinema: Menino de engenho, A canga, Baixio das bestas, Cinema aspirinas e urubus, Reza a lenda, Pacarrete e Remoinho. 24


Fernando Teixeira Mayana Neiva Nascido em Conceição do Piancó-PB, Fernando Teixeira tem uma longa história como diretor e ator. Dirigiu Papa-Rabo, O Auto da Compadecia, A Donzela Joana; fundador do grupo Bigorna de teatro. Seu trabalho mais recente em teatro foi o premiadíssimo monólogo Esparrela, que ele dirige e atua. Tem se destacado na TV, séries e no cinema com grandes atuações: Aquários, O nó do diabo, Velho Chico, O desejo do Morto, Deserto, Ilha, entre outros. Mayana Neiva nasceu em Campina Grande. Durante a adolescência foi morar nos E.U.A, onde descobriu a vocação para as artes e o teatro. De volta ao brasil, Mayana foi eleita em 2003 Miss Paraíba. Em São Paulo aprimorou o seu talento como atriz e recebeu o convite da Tv Globo para estrear na minissérie A Pedra do Reino (2007). Formada em Filosofi a, hoje se dedica a um projeto pessoal o Podcast Palavras que curam com temas signifi cativos e profundos à vida das pessoas. 25


A cada edição a coordenação de mídia e designer do FESTCIMM estabelece uma identidade visual para o festival a partir do imaginário do Seu Zé - que dá nome às premiações - propondo aos artistas locais uma leitura visual para o “Seu Zé” do festival. Neste ano, quem deu imagem à identidade visual do festival foi a artista visual SOCORRINHO GUEIROS. Natural de Paranatama (PE) Socorrinho é artista plástica autodidata, tendo iniciado a carreira em 1989. Socorrinho desenvolve trabalhos em estilo impressionista, defi nindo formas com borrões de tinta e absorvendo os mais diversifi cados aspectos, vinculados à temáticas variadas. A artista defi ne em suas obras traços que marcam a sua singularidade forjada por um dialogismo religioso e temas da natureza morta. Desde 2013 Socorrinho tem produzido trabalhos com artesanatos e executado também atividades de curadora em artes visuais. O Zé de Socorrinho foi extraído da coleção de 2019 que aborda e fi gura os ex-votos, representando cabeças que se intercedem como ato de fé popular. A coleção é composta por três obras, uma das quais serviu de modelo à criação da identidade visual da edição do FESTCIMM 2022. 26 O Zé de Socorrinho


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A proposta de incursionar por várias cidades durante 2022 articula-se às ações de experimentação e diálogos criativos que a equipe do CIMM - Cinema no Meio do Mundo desenvolve em parceria com realizadores, pesquisadores, festivais e produtoras. A escolha por adentrar em todas as regiões da Paraíba e no Agreste Meridional de Pernambuco acolhe a necessidade dessas localidades quanto ao desenvolvimento, acesso e produção audiovisual. Possibilitando que esses territórios se convertam em polos de produção, difusão e atividades de formação em cinema. Da Paraíba a Pernambuco Edição João Pessoa FESTCIMM Paraíba Em João Pessoa, Paraíba, o FESTCIMM em parceria com a Funesc e o Cine Bangüê proporcionou a volta às sessões presenciais, pós-pandemia. Através do festival o público pôde voltar à sala de cinema do Cine-Bangüê e celebrar os 80 anos do grande Fernando Teixeira e da incrível Zezita Matos e participar de ações formativas. Cely Farias Zezita Matos Fernando Teixeira 28


Edição Edição Princesa Isabel Areia FESTCIMM Paraíba FESTCIMM Paraíba Na histórica Princesa Isabel, situada no sertão paraibano, o FESTCIMM promoveu o primeiro festival de cinema da cidade, onde foi exibido o primeiro longa-metragem produzido em Princesa, fruto de uma ação formativa desenvolvida durante 3 meses e que atuou com grupos culturais locais. O experimento conta fi ccionalmente a história da cidade cruzando a memória histórica com a história de uma mulher que decide transformar sua vida em meio ao luto do esposo. O FESTCIMM visitou a cidade de Areia promovendo a realização de mais um experimento fílmico, desta vez, com locação no secular Teatro Minerva. Palco de grandes festivais de arte, Areia possui grande vocação cinematográfi ca. 29


Edição Edição Cabaceiras Ouro Velho FESTCIMM Paraíba FESTCIMM Paraíba Cenário natural do cinema brasileiro, Cabaceiras recebeu muito bem o festival, que realizou mostras temáticas e duas ações formativas. A vocação natural do munícipio à produção audiovisual contou com irrestrito apoio da prefeitura e da secretaria de cultura, que viabilizaram o festival no município, possibilitando sessões em praça pública e ação formativa para a juventude local. Em Ouro Velho o FESTCIMM implementou a criação da I Mostra de Cinema de Ouro Velho, em parceria com o Coletivo Gambiarra. Além do impulso à difusão, o festival realizou duas ofi cinas técnicas voltadas para o setor audiovisual, proporcionando à juventude do munícipio o contato e à motivação audiovisual. 30


Edição Garanhuns FESTCIMM Pernambuco O festival fi nalizou o ano de 2022 com a realização do FESTCIMM na cidade de Garanhuns, disponibilizando uma programação especial e a produção de um experimento fílmico/documentário sobre a vida e as obras do artista plástico Jader Cysneiros. Por fi m, o encerramento foi transmitido pelo canal do Youtube do FESTCIMM onde foram revelados os fi lmes vencedores do Prêmio Seu Zé e anunciado a abertura das inscrições para a edição de 2023. Realizado em dezembro, o festival ladeou uma vasta programação de ações locais, como o Natal Iluminado, atraindo grande público. A ofi cina “Experimento Em cena”, planejou, produziu e executou na prática, junto à alunos do ensino fundamental da Escola Municipal Jaime Luna, uma ação fílmica documental que registra o trabalho magistral do artista Jader Cyneiros. Alexandre Araújo 31


Para além da mediação e difusão do campo audiovisual, o FESTCIMM desenvolve processos de ações formativas em audiovisual, objetivando o aprendizado e o aprimoramento de cursistas iniciantes e de profi ssionais. Para tanto, as atividades de formação e mediação audiovisual buscam, de forma prática, gerar saberes técnicos (nas ofi cinas) e estéticos (em experimentos fílmicos) no campo audiovisual. As atividades de formação objetivam produzir mediações pedagógicas em area técnica e artística em audiovisual, reunindo professores, estudantes, curadores e jurados. Além disto, o Festcimm desenvolve o Fórum: “Cinema e Outras Artes”, propiciando a participação de diversos agentes culturais, pesquisadores e acadêmicos, fomentando a pesquisa, o ensino e a extensão do audiovisual através do diálogo interartes. Ações Formativas 32


Erik Breno Marcelo Quixaba 33


Experimentos Fílmicos Os experimentos fílmicos oportunizam realizadores, roteiristas e diretores exercitaram pesquisa prática em audiovisual. Em geral, são produzidos curta metragens que entrelaçam trocas de linguagem de roteiro e direção audiovisual. Esses experimentos são fruto Festival com ações parceiras como o Cimm Convida e a Ocupação Criativa audiovisual, ambas ações do CIMM - Cinema no Meio do Mundo. Com roteiro e direção de Verônica Cavalcanti o curta-metragem foi produzido durante o FESTCIMM João Pessoa-PB e conta a história do poeta Felix Di Láscio em sua busca para incorporar a poesia em seu cotidiano e no corpo da cidade. Direção/roteiro: Verônica Cavalcanti. Documentário. Ano 2022. Seu Félix 34


Nesta parceria o ator, dublador e diretor Nill Marcondes lançou-se no desafi o de dar imagens ao roteiro de Erick Marinho sobre o drama de um casal, interpretado por Buda Lira e Gal Cunha Lima, que tenta superar a morte recente de sua fi lha mais velha. O roteiro vencedor da Ocupação Criativa Audiovisual, realizada no Cine-Teatro São José, em Campina Grande, discute o bulling homofóbico sob a ótica de um aplicativo de mensagens. Direção: Nill Marcondes. Roteiro: Erick Marinho. Ficção. Ano 2022. Roteiro: Arthur Lima. Ficção. Ano 2022. Suspiro What’sUp 35


Ofi cinas e Mesas-redondas Produzir é resolver problemas MInistrante: Alexandre Araújo. Corpo em cena MInistrante: Erik Breno. Expressão vocal no cinema MInistrante: Taila Albuquerque. Câmera no doc. de guerrilha MInistrante: Marcelo Quixaba. A produção audiovisual é uma das maiores frentes de trabalho nos diversos meio de comunicação. A ofi cina preparou os participantes para atuar desde a elaboração até a execução da produção do fi lme. O corpo em cena é a pré-expressividade na construção de arquétipos e personagens no teatro e no cinema. A ofi cina objetivou captar e reconhecer as partituras corporais do ator visando desenvolver as presencialidades do corpo semiótico e criativo. Esta ofi cina foi um verdadeiro experimento prático sobre o entendimento dos mecanismos fi siológicos da produção vocal. Os participantes puderam conhecer e compreender os recursos corporais e vocais. O departamento de câmera no documentário independente. Questões técnicas, confi gurações e montagem de câmeras. Voltado para cineastas, fi lmmakers, estudantes de comunicação e entusiastas do cinema. 36


A Revolução modernista no cinema Mesa-redonda. Do jogo à cena MInistrante: Cely Farias. Edição DaVinci Resolve MInistrante: Lucas Marinho. Experimento em cena. MInistrante: Nivaldo Rodrigues. Pensar nos modernismos que eclodiram diante os novos contextos no cinema nacional; a herança que a semana de 1922 trouxe para a estética e política audiovisual. Uma conversa franca sobre os ecos de nossa “Cine modernidade”. Com o objetivo de alinhar a atuação e consciência corporal na potencialização da criatividade, a ofi cina realizou jogos, improvisações e técnicas de construção de personagens, que cominaram em criativos exercícios de cenas. Ministrada pelo produtor, diretor e roteirista Lucas Marinho; os participantes tiveram a oportunidade de aprender sobre os processos básicos de edição de vídeo através do software DaVinci Resolve. O objetivo da ofi cina foi vivenciar de forma prática os conceitos da linguagem do cinema para a realização de um experimento fílmico em que os participantes puderam apreender elementos estudados à medida que produzem um fi lme. FESTCIMM Ligando cada vez mais pessoas, histórias e territórios; criando novas narrativas e horizontes no Meio do Mundo. 37


Curadoria FESTCIMM 2022 Mostra Brasil Curta-metragem Por Gustavo Maan e Victoria Okubo Nesta edição, a proposição das ações de curadoria acompanhou o itinerário temático do festival e teve como diretriz as áreas artísticas de atuação ligadas a cada curadoria, assim como aspectos conceituais que envolvem cada proposta das Mostras, valorizando as diversidades, à contribuição nas formações, à conservação da memória, à busca das inovações e ao permanente compromisso de inclusão do campo audiovisual e suas interfaces. Com uma simples ressonância numérica, 2022 fez rememorar nossa dita independência de 1822 e as experimentações modernistas de 1922. Palco dessa encruzilhada, em que vimos sobrepostas as exaltações de um passado inexistente, a conclamação de fantasmas adormecidos e o travar de batalhas no presente, vivemos um ano de contato íntimo com nossa história, tendo ao mesmo tempo — e não coincidentemente — um momento defi nidor do futuro do país. Procuramos na curadoria da Mostra Brasil de Curtas-Metragens do FESTCIMM 2022 compor esse momento limiar, entre memória e ação, exagero e política, propondo um diálogo transversal com as diversas camadas de tempo que pesavam sobre nós no Brasil contemporâneo. O curta-metragem sempre foi reconhecido por oferecer um espaço de livre experimentação dentro do cinema brasileiro, acolhendo a produção de corpos dissidentes e da efervescência da juventude. O curta constrói, em sua duração evanescente, uma estética do riscar- -de-fósforos, daquilo que vaza, que chama pra dança o tempo presente. Essa característica formal é também o que torna esse tipo de fi lme uma boa plataforma para se fazer política: um campo que sempre nos exige um certo jogo de cintura e que frequentemente evoca a necessidade de uma experimentação radical — ressonante ao estilo curta-metragista. Os fi lmes de curta duração respondem mais diretamente ao contemporâneo não só pura e simplesmente porque são mais rápidos de serem feitos, mas exatamente porque essa velocidade, essa modulação temporal específi ca, permite uma dialética do tempo presente com outros tipos de tensionamentos que 38


surgem com a imagem. Por isso mesmo um curta que se assume como tal parece sempre estar efetuando o convite para uma próxima imagem ou ação, como se sua existência conclamasse por uma comunidade de outros fi lmes. Foi respondendo a esse convite, feito pelas próprias obras, que tecemos as sessões da presente mostra. A seleção de curtas foi feita não tanto com o intuito de corroborar com uma fantasia de “melhores fi lmes”, apesar da expressividade estética de cada um deles ser evidente, mas sim organizada pela vontade de produzir uma experiência sensorial e refl exiva que fosse capaz de ativar no espectador algum tipo de faísca. Nesse sentido, foi prezado em nossas constelações fílmicas uma composição entre confl uências e dissonâncias que permitisse que os fi lmes pensassem entre si, criando dentro de cada uma das sessões um grupo vivo e em movimento. Ao todo foram selecionadas 18 obras, sendo elas organizadas em 4 sessões distintas. Na sessão “I Pátria-delírio, Brasil” trouxemos fi lmes que dialogam diretamente com a tradição latino-americana de um realismo delirante, que evocam a brutal realidade social do Brasil — nossa história de recalques e anistiamentos — por meio de um estilo que se baseia na alegoria, na metáfora e no transe. São obras que escovam a contra pelo as fábulas da pátria. Fazem isso operando deslocamentos estéticos, manipulando a imagem para fazer eclodir na tela as contradições e violências que são fundantes do país. Em nossa segunda sessão, “II Na encruzilhada da cidade”, agrupamos curtas-metragens que criam com seus enquadramentos uma cartografi a dos espaços urbanos, evidenciando a partir dessas imagens certas dinâmicas de poder que são matéria prima para a formulação das cidades. Já nossa terceira sessão, “III Exagero, desejo e extravagância” , conecta uma série de fi lmes não tanto pelo compartilhamento de um espaço material, como o último caso, mas por uma coexistência em um campo estético. São obras evocativas da antropofagia modernista e a irreverência do cinema marginal, que pautam o compasso da imagem pelo exagero, pelo desejo e pela ironia. Encerramos nossa mostra com a sessão “IV Encontros no mundo de fora”, celebrando a retomada dos espaços públicos após o abrandamento da pandemia de COVID-19. Aqui tentamos amalgamar afetos variados que são produzidos pelo encontro, pela conversa e pela festa — esferas da nossa vida social que foram diretamente impactadas pelo distanciamento. Com essa mostra procuramos construir uma experiência que oferecesse ao público ferramentas para fabular futuros e transformar o presente, usando das sombras da imagem para acessar novas formas de ser e estar no Brasil contemporâneo. Nossa independência ainda não foi proclamada — como nos lembra o Manifesto Antropófago de 28. Que sejam os sons e imagens desta terra que um dia nos levem até lá. 39


Mostra No Meio do Mundo Longa-metragem Por Clarissa Kuschnir Quando Tiago A. Neves me convidou pela primeira vez para ser júri no FESTCIMM – Festival de Cinema no Meio do Mundo (sim, eu já gostei do nome do festival de primeira), em 2019, eu não hesitei em aceitar. Primeiro, porque era um festival da região do ABCD Paulista, na cidade de Diadema e segundo, que eu fi quei muito feliz de ver um festival novo, independente e com uma proposta diferente nascendo (inclusive com fi lmes internacionais), bem pertinho de casa. Eu digo isso porque, para participar da maioria dos festivais independentes de curtas e longas, tive que rodar alguns muitos mil quilômetros nesse Brasil, para ver de perto as diversas produções, feitas nesses últimos anos em nosso país. Não que eu ache ruim. Muito pelo contrário. Foi graças as minhas viagens que pude conhecer muitos bons fi lmes, que não chegariam de jeito nenhum, aos circuitos comerciais. Tive e continuo tendo a oportunidade de conhecer muita gente bacana entre realizadores e idealizadores, de vários festivais independentes. E aprendi muito mais sobre o cinema brasileiro, saindo dos grandes centros. Sem deixar de mencionar sobre os curtas que infelizmente, ainda fi cam restritos apenas aos festivais. Apesar desses últimos anos difíceis enfrentados pelo nosso setor (por causa de um Governo que enxerga a Cultura como inimigo), os realizadores continuam fazendo, e os festivais continuam acontecendo e crescendo. E depois de dois anos pandêmicos, os festivais enxergaram uma oportunidade durante o isolamento de levar esses conteúdos tão restritos, ao formato online. Se de uma forma esse formato alcança muito mais gente, nada substitui o presencial, os encontros e os abraços dos amigos cinéfi los. E no meio disso tudo, o FESTCIMM continuou sua trajetória em 2020 (edição Garanhuns online), 2021 (Diadema online) e 2022 voltou no formato híbrido, expandindo suas fronteiras entre diversas cidades da Paraíba (incluindo João Pessoa) e Garanhuns, em Pernambuco. Essa paulistana aqui, fi ca muito honrada de ter feito parte de todas as edições até agora. Foram três edições como júri e essa quarta edição, como curadora de longas metragens da Mostra Nacional (tanto documentários quanto fi cções). E nesse desafi o procurei trazer fi lmes de temáticas universais e que dialogassem com o público. São dramas como “King Kong en Asunción” que apesar de trazer um diretor Pernambucano, é um fi lme universal. Universal e internacional, já que tem mais três países como coprodutores (Bolívia, Paraguai e Argentina). O longa, foi o grande vencedor de melhor fi lme, no Festival de Cinema de Gramado em 2020 (tanto do júri ofi cial quanto do popular), dentre outros tantos prêmios, por outros festivais. Em seu segundo longa de fi cção, Camilo Cavalcante prova competência atrás das câmeras, em um road movie que narra a história de um assassino de aluguel, querendo mudar de vida. Entre belas paisagens e diversas passagens pelos lugares mais inóspitos dessa nossa América do Sul é mais um intenso fi lme do diretor, que estreou em longas com o poético, “A História da Eternidade”, um dos meus fi l40


mes prediletos, da cinematografi a nacional. Do Nordeste para o Sul escolhi dois longas de dois cineastas em seus primeiros trabalhos, na direção. “Bia Mais Um” de Wellington Sari, de Curitiba aborda de uma forma muito acolhedora, o drama de uma jovem que precisa conviver com uma gravidez indesejada. É um fi lme que consegue falar para seu público-alvo, retratando todos os dramas e melancolias das questões pós-adolescência. Bia Mais Um é um tema muito presente e faz com que o público possa refl etir o tempo inteiro, sobre os desafi os da passagem da adolescência, para a vida adulta. Já “Achados Não Procurados” da realizadora Fabi Penna (fi lha do veterano e falecido cineasta Penna Filho) também é um drama, porém a cineasta consegue abordar de uma forma muito sarcástica, temas como: corrupção, mentiras e traições, da alta sociedade em Florianópolis. Ou seja, mais atual impossível. Ambos os fi lmes estrearam em dois importantes festivais do Sul, em 2021. “Bia Mais Um” no Olhar de Cinema de Curitiba e “Achados Não Procurados” no FAM (Florianópolis Audiovisual Mercosul) onde inclusive recebeu o prêmio de melhor fi lme, pelo júri popular. O último longa de fi cção da mostra competitiva é a comédia “Álbum de Família”, do jovem cineasta, escritor, roteirista e ator carioca Daniel Belmonte. É um longa dessa nova leva de fi lmes pandêmicos, onde o realizador e também personagem, resolve reunir vários atores (cada um de sua casa) para ensaiarem a homônima peça que leva o nome do fi lme, de Nelson Rodrigues. No elenco encabeçam (além de Belmonte) veteranos como Otávio Muller, com participações de Renata Sorrah e Lázaro Ramos. Esse é mais um título que estreou no Festival de Cinema de Gramado em 2021, de um jovem promissor cineasta, repleto de ideias na cabeça. Da fi cção para o mundo real Um dos gêneros que mais têm se destacado nos últimos anos nos festivais, são os documentários. A concorrência foi grande, e escolher quatro fi lmes para a mostra competitiva do gênero, não foi nada fácil. Dos infi nitos temas em que se pode abordar um documentário, o primeiro fi lme da mostra é “Máquina do Desejo – 60 Anos de Teatro Ofi cina”, de Lucas Weglinski e Joaquim Castro. Quando assisti ao fi lme no É Tudo Verdade, lembro como o longa consegue trazer para as telas a efervescência das seis décadas de espetáculos e lutas, desse templo teatral sagrado, da cidade de São Paulo criado e comandado, por Zé Celso. É uma experiência sem dúvida muito rica e de muita informação, para os amantes das artes e da dramaturgia. Em uma combinação de imagens de diversos fi lmes do cinema marginal brasileiro escolhi o bem amarrado e experimental documentário “Ozu Piroclástico”, de Well Darwin. E no centro dessa experimentação, está um dos ícones desse cinema tão contestador que é Ozualdo “a Margem Candeias”. E a Paraíba não poderia fi car de fora com o documentário “Toada para José Siqueira”, de Eduardo Consoni e Rodrigo T. Marques. O longa que esteve no Fest Aruanda em 2021 e retrata de uma forma muito poética a vida e a obra do maestro José Siqueira (que foi homenageado no festival paraibano) fundador da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, entre muitas outras realizações nacionais e interna41


cionais, na área da música. É um documento de extrema importância, de um músico que nasceu na Paraíba é que ainda é desconhecido por muitos brasileiros. O longa que demorou duas décadas para fi car pronto é narrado pelo ator e diretor paraibano, Fernando Teixeira, que inclusive também faz parte do elenco de “King Kong en Asunción”. E para encerrar a seleção competitiva de documentários nacionais tem “Lula Lá: De Fora Para Dentro”, da carioca Mariana Vitarelli Alessi, que traça um panorama da trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva (presidente eleito pela terceira vez, nesse ano de 2022). A diretora e jornalista percorre desde a primeira eleição como presidente, em 2002 até sua condenação e pós prisão, em 2019. O longa traz depoimentos como: da ex-presidente Dilma Rousself, Leonardo Boff, Benedita da Silva, Chico César, Eduardo Suplicy, Oscar Niemeyer entre outros, além do próprio Lula. Ou seja, é um fi lme atual e deixa aberto, para refl exões políticas. Fora da Competição Como eu falei, selecionar os longas e principalmente, na categoria documentários é uma tarefa difícil. Mas o FestCimm tem em sua programação, uma mostra paralela que é o “Festcimm em Cartaz”. Escolhi mais quatro longas que achei muito relevantes a começar por “Trem do Soul”, de Clementino Júnior, do Rio de Janeiro. O documentário musical apresenta um dos movimentos mais importantes dos jovens negros no Rio de Janeiro através de uma extensa pesquisa sobre a origem do baile Soul no início dos anos 70, até os dias atuais. Do interior paulista, o diretor Rodrigo Campos traz “Serráqueos”, no qual retrata a vida de moradores que decidiram trocar a cidade grande, pela vida simples, porém saudável, na bela Serra do Itapeti, área de proteção ambiental, e uma das poucas preservadas no Estado de São Paulo. Ainda nessa seleção, também escolhi mais um fi lme feito durante a pandemia. Com o título “Estamos Te Esperando em Casa”, os diretores Cecília da Fonte e Marcelo Pedroso acompanham uma terapeuta ocupacional, que trabalhou na linha de frente em um hospital de referência no Recife. Ajudar os pacientes de UTI e levar um alívio para seus parentes através das ligações feitas pela terapeuta, era a função da profi ssional. E muitas das cenas, foram fi lmadas pela própria terapeuta orientada pelos cineastas, de dentro da UTI. Os diretores também foram além, acompanhando a terapeuta em suas atividades fora do hospital. Esse, foi um dos primeiros longas feitos durante a fase crítica da pandemia e é uma importante documentação, sobre a Covid 19. E encerro essa mostra com mais um documentário. O histórico “Trilha dos Ratos – A Fuga Nazista Para as Américas”, de Marcelo Felipe Sampaio (que inclusive é natural de Diadema) é um longa que conta a saga da fuga dos dirigentes nazistas da SS para a América, principalmente para a Argentina e Brasil, ao verem seu sonho de uma raça ariana não triunfar, perante as forças aliadas, da Segunda Guerra Mundial. 42


Fantásticos os curtas-metragens que foram inscritos para a IV edição do FESTCIMM - que teve seu formato híbrido por causa da pandemia da Covid-19 que atingiu todo o mundo. Diante desse contexto, muitos realizadores não se abalaram com o isolamento imposto pelas “quarentenas”. Utilizaram o conforto de suas residências para desenvolver importantes e excelentes roteiros. O curta “É tudo culpa minha”, de Mila Milanesa, destaca a impotência da sociedade frente ao colapso que vem atingindo, cada vez mais, o planeta Terra, principalmente durante a pandemia. As pessoas estão interligadas pela internet e pelo mundo digital, mas nada podem fazer para frear o crescente aumento da taxa de desemprego, das doenças, com destaque para a Covid, da crise fi nanceira, além de se depararem com questões emocionais e subjetivas. Uma outra temática que veio à tona com o avanço da pandemia foi a ausência de apoio efetivo do governo aos moradores de rua, como também a falta de empatia por parte daqueles que possuem um certo poder aquisitivo. É assim que “Despertar invisível”, de Luciano Mello, revela a história de uma garotinha e seus amigos, todos moradores de rua, que tentam sobreviver em meio ao caos instalado pela Covid. Como se proteger deste vírus mortal e contagioso, estando em situação de vulnerabilidade social? Como é possível “fi car em casa”, usar máscara e álcool em gel, sem ter uma casa para morar ou dinheiro para comprar kits de proteção e higiene? Sem falar da fome que os assolam. Outra animação que me chamou bastante a atenção foi “Saindo com estranhos da internet”, do diretor Eduardo Wahrhaftig, que retrata a forma prática e, ao mesmo tempo, mecanizada das novas relações interpessoais. Dentro das ferramentas utilizadas por jovens, adultos e idosos, tem-se o TINDER, ainda considerada como a principal rede social de paquera e namoro da atualidade. O curta mostra como o Tinder tem sido utilizado para conhecer novas pessoas, marcar encontros aleatórios e, muitas vezes, descompromissados. Ele também é uma excelente alternativa para os tímidos de plantão, afi nal de contas, é muito mais fácil marcar para sair com alguém através dele que procurar por tal pessoa nas baladas e nos barzinhos. O fi lme me lembrou as Mostra Animação Curta-metragem Por Igor da Nóbrega 43


primeiras salas de bate-papo que tive acesso, em 2001, na extinta América Online (AOL). Na época, tínhamos até namoro virtual. Saindo do universo virtual, vamos acompanhar “Dois peixinhos”, de Gabi Etinger, animação que retrata o companheirismo, os sonhos e o amor existente entre duas pessoas. A ideia lembra a força da natureza existente entre Yin e Yang (fi losofi a chinesa), com a união entre o feminino (água, frio, inverno, escuro, a passividade) e o masculino (quente, a energia, claro, ativo, o fogo). Meu destaque vai para a excelente e expressiva trilha sonora, que desenha toda a história de maneira inteligente e original. Quem não gosta de um bom fi lme de suspense e terror? “O sinistro caso dos irmãos gêmeos”, das diretoras Thais Oliveira e Bárbara Almeida, chamou minha atenção pela autenticidade do seu roteiro, totalmente fi ccional, que prende o telespectador do primeiro ao último minuto. Dois irmãos provocam acidente fatal numa estrada, perto de casa de ambos, após uma brincadeira de extrema irresponsabilidade. O que eles não contavam é que seriam assombrados por uma garotinha, uma das vítimas deste acidente, no mesmo local. Lembra muito as histórias antigas que meu avô paterno contava, quando eu ainda era criança. Quem ainda não imagina ver um fantasma ao lado de uma daquelas cruzes simbólicas colocadas nas beiras das estradas? A trilha sonora também está de parabéns. A quantidade de animações maravilhosas enviadas para a curadoria não foi brincadeira. Uma das mais enigmáticas e fi losófi cas é “Afronautas”, de Rogério Farandóla, um curta que vai na contramão da ideia do “Deus branco” imposto pela Igreja Católica da Idade Média. Dessa forma, um “astronauta” à deriva envia uma mensagem no espaço sideral, que viaja 200 anos luz, carregada de crises de existencialismo, simbolismos e, ao mesmo tempo, refexão sobre a vida, a morte e o renascimento (reencarnação). Uma bela crítica sobre a forma de se enxergar e encarar o mundo físico e espirutual. Provavelmente, você também é da mesma época das máquinas de fotografi a analógicas, não é? Então se identifi cou com o curta “Negativo”, de Larissa Lisboa, que traz toda a expectativa que era gerada antes da revelação das fotos. Batia aquela ansiedade. O fi lme mostra ainda a impotência da personagem, diretora e produtora Larissa Lisboa, que não teve acesso ao álbum de sua festa de 15 anos. O serviço foi pago, mas ela nunca recebeu as imagens. Ainda sobre a pandemia, “A menina e o velho”, de Luciano Fusinato, fi lme viabilizado por meio da lei emergencial Aldir Blanc, sensibiliza o isolamento de uma jovem criança, que, durante uma ida ao mercado, foi abordada por um idoso que estava na janela de sua residência, para que lhe fi zesse algumas compras. Ele não podia sair de casa por conta do alto contágio provocado pela Covid. Mas o que a menina não esperava é que seu isolamento ganhasse cores e vida, já que, diariamente, recebia poemas de varal do solitário idoso. Um dos curtas mais premiados no último ano, “Flor no quintal”, de Mercicleide Ramos, revela o sofrimento de uma jovem criança acometida por alopecia, condição que resultou na queda dos seus cabelos. A menina, que não se aceita, acaba criando uma fantasia para pôr fi m ao seu drama: ela acredita que seus cabelos irão nascer novamente caso plante uma fl or no quintal de casa. Triste e sob a companhia de sua única amiga, uma cabra, ela avista um menino, sem os cabelos e com a mesma doença, bastante feliz e sob gargalhadas descontraídas com um idoso (provavelmente seu avô). Ali nascia uma esperança de autoaceitação dentro de si. A animação é baseada em uma história real. Vale salientar que, recentemente, a esposa do ator Will Smith, Jada Pinket Smith, que também sofre de alopecia, foi ridicularizada pelo humorista Chris Rock pela sua condição. O fato aconteceu durante a cerimônia do Oscar 2022 e causou revolta em todo o mundo. O público infantil vai curtir a conscientização ambiental abordada na animação “Lucy solta os bichos”, de Sergio Martinelli e Billy Fernandes. Uma menina - Lucy - é adotada 44


por dois ambientalistas idosos, que terão suas vidas transformadas pelo dom da jovem criança. Lucy consegue entender e conversar com os animais e toda a fauna e fl ora, criando um vinculo de amizade fraterna. Vale salientar que a fl oresta amazônica teve o maior desmatamento dos últimos 15 anos. Com um aumento de 3% em relação a agosto de 2020 e julho de 2021, a Amazônia perdeu 10.781 km², o equivalente a sete vezes a área da cidade de São Paulo. Isso aconteceu em apenas 12 meses. Os dados são decorrentes de um estudo realizado pelo Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON). Falando ainda em conscientização ambiental, o curta “Parem aquele pinheiro”, dos diretores Felipe Goulart e Gabriel da Mata, mostra um pinheiro fugindo de ser cortado por um lenhador, que estava em busca de sua “árvore de Natal”. A animação infantil traz toda uma carga emotiva para demonstrar o sofrimento vivenciado pela pobre árvore, que vivencia um constante luto pela “morte” de outros pinheiros derrubados pelo mesmo lenhador, como também por outro lenhador idoso. Diante de tantos casos de desmatamentos no Brasil, o fi lme traz um importante apelo e conscientização ao público infantil. Na era do crescente avanço do agronegócio em todo o país, “Tapajós: uma breve história da transformação de um rio”, dos diretores Alan Schvarsberg e Cícero Fraga, nos revela algo extremamente preocupante: a falta de assistência pública com a população de Miritituba, cidade paraense localizada no coração da Amazônia. O motivo: benefi ciar o escoamento dos grãos de milho e soja. Com a falsa promessa de que a instalação dos portos iria movimentar a economia da cidade, gerar emprego e promover responsabilidade social e sustentável, quatro grandes portos (multinacionais) foram instalados na beira do Tapajós, sem qualquer indenização ou consulta prévia com os ribeirinhos, com os índios Mudurunku e com a população local. Além disso, as empresas proibiram a realização da pesca nas beiradas do rio e até mesmo a livre circulação de pessoas em áreas anteriormente públicas, aumentando o nível de pobreza. Os locais são comandados por segurança privada e armada. O comportamento agressivo do agronegócio, que transporta toneladas e mais toneladas de cargas de soja, milho e agrotóxico, vem poluindo o rio e intoxicando os peixes, ao mesmo tempo em que os portos destroem as matas da região. Para piorar a situação, o distrito vê seus jovens serem atraídos pelo tráfi co de drogas e pela prostituição, com o aliciamento de meninas a partir dos 12 anos. Destaco também a importância de “Cuna”, das diretoras Gabi Etinger e Camilla Campos, para as questões ambientais, já elencadas em outros curtas escolhidos pela curadoria. Sem utilizar qualquer fala de personagem, o curta- -metragem faz uma correlação entre relações interpessoais, meio ambiente e Covid. A pandemia trouxe uma profunda refl exão sobre o resultado de como estamos agindo com o planeta e as pessoas: queimadas de fl orestas, aquecimento global, poluição dos rios e ausência de cidadania e humanidade com o próximo. A animação clama pela necessidade de uma renovação urgente da mentalidade humana, através da adoção de medidas como o refl orestamento, a reciclagem e o uso consciente de nosso ouro branco, a água. No país que trava uma luta antiga contra o mosquito do Aedes Aegypt, responsável pela dengue, chigungunya e zica, a animação “As moscas” de Wayner Tristao, mostra um pouco do cenário vivenciado na maior parte do Brasil. O curta evidencia a invasão de mosquitos na cidade de Juazeiro (BA), obrigando a população a modifi car seus hábitos cotidianos. Ao fi nal, o fi lme revela que a cidade foi polo experimental de um programa de eliminação do mosquito Aedes Aegypt, em fevereiro de 2011, através da liberação de 18 milhões de mosquitos transgênicos, até o momento. O curta “Aurora - A rua que queria ser um rio”, de Radhi Meron, traz um roteiro gostoso de acompanhar e lança uma pergunta que nem eu e nem você já fi zemos: uma rua pode 45


morrer? A história narra questionamentos feitos pela rua Aurora, que lembra nostalgicamente do seu nascimento e passado, quando ainda compartilhava experiências com a fauna, a fl ora e as tribos indígenas. Com a chegada do homem branco e o crescimento de uma cidade no lugar em que estava inserida, Aurora percebe que as pessoas se tornam “invisíveis” e passam a ter outras prioridades, deixando de lado velhos hábitos, como sentar numa calçada para conversar com os vizinhos ou caminhar pela rua, por exemplo. Nem as crianças brincam mais a céu aberto. Apesar de tudo e das constantes transformações, “Aurora” nos ensina que uma rua não pode morrer, pois ela sempre estará ali. É sempre importante fi car por dentro das histórias dos primeiros povos que habitaram as Américas e o Brasil, os índios, até porque temos uma dívida histórica com eles. Mais interessante ainda é acompanhar um fi lme sobre o ponto de vista dos povos nativos. “Um conto indígena”, de Rodrigo Soares, retrata a luta pela sobrevivência dos índios frente à colonização do homem branco. Apesar de terem sido expulsos de suas próprias terras, quando não dizimados aos milhões, nossos antepassados ainda continuam preservando seus costumes, transmitindo sua cultura de geração a geração. O ponto chave do curta-metragem é o amor e o respeito que os nativos têm com a natureza (fauna e fl ora), fato que vai na contramão da ação dos criadores de gado e empresários do ramo do agronegócio não sustentável. Falando ainda dos contos, mas partindo para o âmbito ficcional, encontramos “Cem Pilum – A história do dilúvio”, de Thiago Morais, que retrata a ordem dada por Deus Criador para conter um passado violento e perigoso. Vendo que os homens eram mortos e devorados por grandes bichos, como cobras, onças e até fantasmas (lembrou-me o abominável homem das neves), Deus decidiu promover um grande dilúvio, matando todos os animais . Meu destaque vai para a originalidade do roteiro. Como é bom recordar fotografias antigas de parentes e amigos, não é verdade? “Aqueles que estamos esquecendo”, dos diretores R.B. Lima e Rebeca Linhares, nos faz sentir aquela nostagia boa de momentos passados, através da conexão com pessoas queridas e até mesmo desconhecidas. Todos nós temos imagens antigas, mas raramente temos tempo ou damos a devida importância de relembrar ocasiões especiais. A lindíssima trilha sonora encerra a animação com chave de ouro. Nostalgia boa é para sempre ser relembrada. “Apague quando sair”, dos diretores Lucas Miranda e Allan Reis, aborda a fobia que muitas crianças e, até mesmo, adultos já sentiram ou ainda sentem: o escuro. A animação traz o tema sob a ótica do conflito interno existente em todos nós, ao enxergarmos a luz ser devorada pela imensa escuridão, uma espécie de trevas. Você já sentiu desespero e ânsia de encontrar a famosa luz do fim do túnel? Qual o maior medo que faz você cair no vazio da escuridão? Um dos curtas mais enigmáticos que já assisti é “A raiz de um”, de Pedro Henrique Lima. Se você também já o assistiu, creio que concorde comigo. Em meio a um mundo tão corrido e que nos impõe tanta coisa e tantos desafi os cotidianos, acabamos deixando de lado os nossos sentimentos e as nossas emoções. Mas quando decidimos olhar para dentro de nós, podemos despertar a velha e conhecida crise de existencialismo. A partir daí, passamos a nos perguntar: qual é o real sentido de nossa interação com o jogo da vida? O saudosismo também marcou presença no FESTCIMM. A animação “Ausência”, de Alexia Araújo, nos traz o drama vivenciado por Helena, que sofre com a partida de Marília para outro universo espiritual. Provavelmente, você também já sentiu uma dor imensa no peito e na alma, após perder alguém muito especial. Mas como é possível se libertar deste vazio e seguir com a vida adiante? Como é possível sentir apenas uma saudade boa, sem aquele peso do luto? E assim encerro minhas palavras nessa maravilhosa curadoria. Desde já, agradeço por contribuir um pouco com minha visão sobre a sétima arte. Viva o cinema nacional, viva o Festival de Cinema no Meio do Mundo! 46


O fi lme “One of us left the Photo”, dirigido pelos irmãos Malas Twins, refl ete os confl itos da sociedade síria após a guerra, que podem passar por famílias, até mesmo por uma irmandade gêmea. Desenvolve-se para um fi lme poderoso cuja emoção o agarra no centro da cena - um confronto que faz explodir todas as emoções. Pınar Göktaş dirigiu “The Flag“ sobre uma mulher lutando para ser atriz. Um sutiã sacode um mundo e mantém uma delegacia inteira ocupada: onde existe isso? Na comédia incrivelmente engraçada com um personagem principal simpático que no fi nal ri da vida com a atitude de: “não dou a mínima”. O fi lme “Unborn“ ensina a humanidade na hora mais amarga, depois que os personagens principais sofreram violência sexual e gravidez indesejada como mulheres Yazidi sob o ISIS. Naz Salih mostra aqui os confl itos das mulheres que se tornaram mães neste momento difícil, que entram em confl itos sérios onde podem se apoiar, mas cada uma tem que lidar com o problema e as decisões por conta própria. “Autoquarz“, é um fi lme de gênero, como um thriller sobre um resgate. É excelentemente realizado por Nicolas Cambier, emocionante e também cuidadosamente triste e comovente com um fi m poético. É sobre poder confi ar em alguém, defender um ao outro. “A World free of Crisis“ descreve uma utopia que se revela como uma distopia na França de hoje: amor e parceria têm o mesmo valor que o trabalho e são a base da vida em sociedade. O diretor Ted Hardy-Carnac faz com que o espectador, com ferramentas simples, se sinta inevitavelmente transportado para um mundo de pressão e coerção social, tal como descrito por Aldous Huxley ou George Orwell. Carlos Meléndez dirigiu “Hunger“, que parece uma saga dos astecas ou da mitologia grega, na qual as pessoas lutam contra monstros. Mas o monstro aqui é a fome. A história é simples, engraçada, mas se torna brutal e não tem um fi nal feliz. Considerando que devido à fome e à necessidade as pessoas são obrigadas a matar, a violência não é um fenômeno, mas um refl exo de muitas realidades. O horror da guerra é mostrado em “When the Night Comes“, da diretora Katarzyna Sikorska, de uma maneira diferente. O protagonista não se lembra, ou não quer lembrar, de suas ações. A lógica parece se dissolver em tempos de guerra. A alma não cura, a dor é grande, nem o amor pode ajudar. O fi lme mostra, especialmente nestes tempos, como é importante ter paz. Mostra Internacional Curta-metragem Por Oliver Stiller *traduzido por Tommy Germain. 47


Redobrar um festival nas veredas da Paraíba e Pernambuco puxado pela intensidade dos ecos modernistas que buscou reagendar a cultura nacional, possibilitou de um lado, refl etir sobre a presença do modernismo no cinema brasileiro, por meio da realização de mesas redondas, debates, exibição e análise fílmica dentro do Fórum Cinema e Outras Artes: “A Revolução Modernista no Cinema”, e por outro, promover o acesso audiovisual às comunidades de públicos, c omo na implementação da I Mostra de Cinema de Ouro Velho-PB. O Festcimm continua sua intinerância pelo meio do mundo, parando aqui e ali, buscando na imagética do cinema polular interações de nossa própria cultura entre nós e os muitos outros que também nos habita. E, nesses contornos de territorialidades criativas o festival completa em 2023, cinco anos de estradas, janelas e encontros de tela em tela. Estrategicamente o FESTCIMM fi ncou duas intercessões de sua intinerância no Brasil, ligando o país numa ponte simbólica, construída por fi lmes, encontros criativos e muito aprendizado no audiovisual. Uma ponta dessa infovia audiovisual do festival, situa-se na região sudeste, exatamente em seu nascedouro primal: a cidade de Diadema, que simboliza o entrelugar do “campo e da cidade”, pois que ali, nos recantos de Diadema mescla-se uma cultura do encontro do Nordeste que se emprenha na cidade grande. Na outra ponta está a pujante cidade de Garanhuns, lugar que acolheu o festival e que se articula como território criativo na região Nordeste. Esses dois entrepostos territoriais, sinalizam o traslado do FESTCIMM pelo meio do mundo do Brasil para fazer prevalecer a memória de sua missão em ser e estar porta- -voz de encontros audiovisuais para celebrar aprendizados solidários. UM NORDESTE DORAVANTE NO MEIO DO MUNDO Fruto do ideário do Coletivo Magote e de realizadores nordestinos ora estabelecidos no Sudeste, notadamente na cidade de Diadema-SP, o FESTCIMM alude sempre ao estatus de migrância, descoberta e encontros interculturais. Por isso, o imaginário nordestino compõe os fl uxos que intercruzam o devir território-não-demarcado, na noção de pertencimento singrado por migrâncias desejantes, prenhe de alteridades entre o Nordeste e suas múltiplas formas de existências (do bios e dos socius; do étnico e da ética). Partindo dessa premissa a V edição do FESTCIMM 2023 recebe como platô conceitual: NORDESTE ALHURES. 48


Os processos de integração e interação culturais, “in-formam” respostas e criam margens à identidade cultural local-global. Nesse sentido, a “Invenção do Nordeste” vem-se pautando na produção cultural deste do século XIX, no persistente binarismo do exotismo e do etnocentrismo. O desafi o estético e curadorial do FESTCIMM 2023 é produzir dobras, desterritorializar, refundir e celebrar o Nordeste e toda miríade a ele atrelada. E o tema desta edição: Nordeste Alhures, traz luz e objetiva o diálogo à extraordinária produção simbólica e de arte dos continentes nordestinos de pertencimento que se dilatam e se fazem presentes na produção audiovisual contemporânea. FESTCIMM Diadema 2023 A cidade de Diadema-SP, primeira coordenada do festival em 2023, berço do FESTCIMM, protagoniza como símbolo maior a atual presença do Nordeste e seus entrelugares, seja na intimidade de sua cultura, no vigor da ancestralidade ou na vida de sua gente. Diadema e o Festcimm nos servirá de janelas audiovisuais para ver o brilho e a boniteza, os festejos e laços do Nordeste para o Brasil. Nordeste Alhures Diadema, SP 49


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